Ficha Corrida

22/10/2011

Colonialismo: velhas práticas de velhos aliados

Filed under: A$$oCIAdos,Kadafi,Líbia,OTAN,Rede Globo de Corrupção — Gilmar Crestani @ 6:32 am
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Otan e mídia de mercado estão vibrando

Muammar Kadhafi morreu em combate. Foi coerente, porque desde o início da guerra civil incentivada pelo Ocidente dizia que resistiria até a morte. A mídia de mercado, juntamente com dirigentes de países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ficaram exultantes. Criticam Kadhafi por ter resistido.  

A mídia tupiniquim para variar fez das suas. Para ficar em alguns veículos, os âncoras da CBN, uma das primeiras emissoras a informar a morte/assassinato, vibraram com o acontecimento e não escondiam nos comentários. O Globo também não escondeu sua euforia nos editoriais e no próprio noticiário. Os demais veículos impressos e eletrônicos repetiram a dose.  

Até a presidenta Dilma Rousseff, mesmo afirmando que não se deve comemorar a morte de Muammar Kadhafi, escorregou ao afirmar que a Líbia está em fase de transição para a democracia. Não está, até porque vem logo a pergunta: que democracia é esta que surge através de pesados bombardeios diários durante cerca de sete meses? Isso nada mais é do que democracia armada da OTAN.

Os opositores do antigo regime líbio queriam preparar um show midiático exibindo um troféu ao estilo Saddam Hussein, mas não conseguiram. O que está fazendo agora o Conselho Nacional de Transição é tentar de todas as formas convencer a opinião pública mundial que Kadhafi estava escondido numa tubulação de esgoto e pedia para não o matarem.

Aí surge a primeira contradição entre os que derrotaram Kadhafi. Dirigentes europeus, como o Ministro do Exterior francês Allan Juppée, revelaram logo de saída que a OTAN tinha atingido um comboio onde estava Kadhafi fugindo de Sirte, a sua cidade natal. Confirmaram então o bombardeio, que o Conselho Nacional de Transição tentou esconder.

Falta ainda esclarecer o que fizeram os “democratas” da nova Líbia com o corpo do dirigente deposto.  As imagens apresentadas nada esclarecem e foram feitas mais com o objetivo de evitar que a verdade aparecesse, ou seja, de que o fim de Kadhafi foi lutando, diferente do acontecido no Iraque com Saddam Hussein. A ONU pediu uma investigação sobre as circunstâncias em que ocorreu o confronto que o levou a morte.

A TV Al Jazzeera e a CNN entraram no jogo dando crédito às versões que tentavam a todo custo ridicularizar Kadhafi e evitar a versão verdadeira. Os opositores de Kadhafi, que seriam pé de chinelo se não fosse a OTAN, pegaram o corpo do dirigente deposto e o levaram para um frigorífico em Misrata,onde ele estava sendo objeto de curiosidade de líbios que o fotografavam.

Vamos aguardar para ver como Kadhafi será enterrado, pois seu túmulo sendo localizado  poderá se tornar um local de peregrinação de cidadãos líbios inconformados com o processo de recolonização que está sofrendo o país norte africano, mas que a mídia de mercado tenta a todo custo esconder.

Valem algumas perguntas que o tempo responderá com maior precisão. Empresas de que países ocidentais vão lucrar com a reconstrução da Líbia, cuja infraestrutura foi severamente afetada com os bombardeios da OTAN? Até o Brasil já se ofereceu para esta empreitada, mas antes os países que destruíram terão prioridade.

O petróleo deverá ficar sob controle não mais do Estado líbio, mas totalmente em poder das transnacionais do setor, que conseguirão muito mais concessões do que já tinham conseguido na Era Kadhafi?

O Pentágono não vai querer abrir mão do Africom (Comando Militar dos EUA para a África), incrivelmente com sede em Stutgart, na Alemanha, para se instalar na Líbia, área estratégica para o controle do continente africano? Por sinal, o economista egípcio Samir Amin considerou esse detalhe como o motivador do surgimento dos rebeldes em Benghazi e o apoio dos EUA a esses grupos. 

Dirigentes da OTAN anunciaram o fim das operações militares no próximo dia 30 de outubro, mas isso não significará que a Líbia estará livre da influência dos países que a bombardearam. Claro que não. 

Maiores detalhes sobre esses e outros fatos relacionados com os acontecimentos mencionados podem ser encontrados no livro Líbia, Barrados na Fronteira – o que não saiu na mídia sobre a invasão na Líbia, que será lançado no próximo dia 11 de novembro, na sede da ABI, rua Araújo Porto Alegre 71, as 18,30, com um debate.

Quando, com o passar do tempo, se analisar os acontecimentos na Líbia, um dos destaques caberá à cobertura midiática. Para analistas independentes que acompanharam a guerra civil, a mídia deixou até de ser mídia para se tornar protagonista da guerra, a própria guerra, manipulando imagens e fazendo o jogo de um dos lados, exatamente o dos opositores de Kadhafi. Assim foi, por exemplo, a cobertura da Al Jazzeera, o canal estatal do Catar, que colocou imagens de grupos rebeldes de forma a parecer que eles tivessem grande apoio popular, o que nunca aconteceu ao longo de todos os meses.

Com a morte/assassinato de Kadhafi estão surgindo analistas de áreas acadêmicas dos mais diversos quadrantes prevendo o futuro da Líbia. Na mídia de mercado de um modo geral falam que agora a Líbia conhecerá a democracia e coisas do gênero. Vamos ver.

Mas, em suma, guardem o que está sendo dito pelos analistas de sempre e aguardem as próximas semanas e meses para constatar quem erra ou acerta mais. Eis um exercício recomendável para as escolas universitárias de comunicação, claro, se houver interesse de que na formação dos futuros jornalistas o espírito crítico fique aguçado, como requer o jornalismo propriamente dito. 

Otan e mídia de mercado estão vibrando | Direto da Redação – 10 anos

21/10/2011

Os amigos de Kadafi

Filed under: Kadafi — Gilmar Crestani @ 9:16 am
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Morte de Kadafi é um alívio para potências ocidentais, dizem especialistas

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A captura e morte do líder líbio Muamar Kadafi pelas forças armadas do CNT (Conselho Nacional de Transição) nesta quinta-feira (20/10) fechou, de certa forma, um ciclo para o país. Mais do que isso, representou também um alívio para as potências ocidentais que nos últimos meses contribuíram com sua caça. Esta é a opinião de especialistas ouvidos por Opera Mundi a respeito da morte do líder líbio.

Leia mais:
OTAN: com morte de Kadafi, fim de missão na Líbia está ‘muito mais próximo’
Filho de Kadafi é detido por rebeldes em Sirte, diz porta-voz do CNT
Kadafi foi capturado e morto, diz conselho de transição líbio
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‘Agora a guerra na Líbia acabou’, diz Berlusconi
Charge: A morte de Kadafi

“Se Kadafi tivesse sobrevivido e tivesse sido levado a julgamento, ele teria destacado a proximidade que tinha com os governos ocidentais sobre questões de energia e contra-terrorismo nos últimos anos de seu governo”, afirma Richard Gowan, diretor do Centro de Cooperação Internacional da Universidade de Nova York.

Até a contaminação da Líbia pela chamada Primavera Árabe, no início deste ano, Kadafi mantinha boas relações com diversos países ocidentais, como a Itália de Silvio Berlusconi e a França de Nicolas Sarkozy. A França, inclusive, vendeu armas para o regime líbio antes de se tornar, ao lado do Reino Unido, a principal força de apoio aos rebeldes depois da aprovação da zona de exclusão aérea pelo Conselho de Segurança da ONU.

Wikicommons

Kadafi em reunião com o premiê espanhol José Luiz Rodriguez Zapatero em novembro de 2010

Além de evitar a exposição dessas relações ambíguas, segundo Gowan, a morte de Kadafi serviu também para reduzir os temores de que seus partidários poderiam montar uma campanha de guerrilha a longo prazo contra o novo governo.

“No entanto, se algum de seus filhos ou companheiros mais próximos sobreviver e não for capturado, o risco de uma insurgência permanecerá”, completa o norte-americano, em entrevista por telefone.

Wikicommons

Mutassim Kadafi, conselheiro militar do regime líbio, em encontro com Hillary Clinton em abril de 2009. Filho do coronel também morreu nesta quinta

Fim do primeiro capítulo

O pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade de Campinas, Mohamed Ezz El-Din Mostafa Habib, concorda com a opinião manifestada por Gowan. Segundo o egípcio, que também é vice-presidente do Icárabe (Instituto da Cultura Árabe), a morte de Kadafi representa o término de um capítulo inicial para as mudanças do país.

“Todas as instituições do Kadafi foram destruídas. As forças armadas, organizações políticas e sociais, a mídia estatal, os ministérios, enfim, tudo foi extintos por esta guerra civil que assolou a Líbia”, afirma.

Ainda segundo o pró-reitor, o país terá que desenvolver, a partir de agora, um pensamento político livre e racional, proibido anteriormente pelo regime do ex-líder líbio. “A Líbia é virgem em termos políticos”, complementa.

“O país seria para a comunidade europeia, o que o Iraque foi para o EUA. Ou seja, a partir de agora, deverá haver concessões para empresas provenientes desses países para obras e construções em território líbio”, completa o egípcio.

Final da missão

O secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, afirmou após a morte de Kadafi que o final da missão no país está “muito mais próximo”. Classificando o governo do ex-líder líbio como “regime do medo”, ele pediu ainda que os membros do CNT evitem represálias contra as forças derrotadas.

Segundo Rasmussen, o governo provisório deve prevenir “qualquer represália contra os civis”. Além disso, é necessário mostrar “contenção ao tratar com as forças derrotadas”, completa.

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticia/MORTE+DE+KADAFI+E+UM+ALIVIO+PARA+POTENCIAS+OCIDENTAIS+DIZEM+ESPECIALISTAS_16108.shtml

OTAN

Filed under: Kadafi,OTAN — Gilmar Crestani @ 9:14 am
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otan=nato

NATO = OTAN

Tirano morto não fala

Filed under: Kadafi,Líbia,OTAN — Gilmar Crestani @ 8:37 am
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Os gangsters imperialistas

Kadafi foi assassinado para que não fosse levado a nenhum tribunal, onde poderia contar tudo o que sabia sobre as relações entre seu governo e a CIA, o governo e os serviços de inteligência britânicos, Sarkozy e seus “barbudos”, Berlusconi e a máfia, e poderia também lembrar quem são Jibril e Jalil, principais líderes atuais do Conselho Nacional de Transição e, até bem pouco tempo, seus fieis agentes e servidores. O artigo é de Guillermo Almeyra.

Guillermo Almeyra (*)

Um vídeo, publicado pelo Le Monde, mostra Muammar Kadafi capturado vivo e lichado por seus inimigos. Ele não morreu, portanto, em um bombardeio da OTAN quando fugia em um comboio nem em consequência das feridas recebidas quando o levavam em uma ambulância.
Ele foi simplesmente assassinado para que não fosse levado a nenhum tribunal porque aí poderia contar tudo o que sabia sobre as relações entre seu governo e a CIA, o governo e os serviços de inteligência britânicos, Sarkozy e seus “barbudos”, Berlusconi e a máfia, e poderia também lembrar quem são Jibril e Jalil, principais líderes atuais do Conselho Nacional de Transição e, até bem pouco tempo, seus fieis agentes e servidores.
A lista dos limões espremidos é longa: o panamenho Noriega, agente da CIA convertido em um estorvo, salvou-se do bombardeio ao Panamá que tentava assassiná-lo e jamais foi apresentado em um tribunal legítimo. Saddam Hussein, agentes dos EUA durante a longa guerra de oito anos contra os curdos e contra o Irã, teve sim um processo em um tribunal, mas composto por funcionários dos EUA e carrascos, nada de sua defesa política ganhou repercussão e terminou enforcado de modo infame.
Bin Laden, agente da CIA junto com os talibãs durante toda a guerra contra os soviéticos no Afeganistão e sócio do presidente George Bush na indústria petroleira, foi assassinado desarmado em uma grande operação típica de gangsters e foi lançado ao mar para que não falasse em um processo e para que nem sequer sua tumba pudesse servir como ponto de encontro a todos os que no Paquistão e no Afeganistão repudiam o colonialismo dos criminosos imperialistas.
Agora, os imperialistas franco-anglo-estadunidenses acabam de utilizar a barbárie e o ódio inter-tribal para se livrar de Kadafi que, como prisioneiro, era um perigo para eles. O novo governo líbio que surgirá depois de uma luta feroz entre os diversos clãs e interesses que integram o atual CNT, poderá renegociar assim a relação de forças entre as diferentes regiões e tribos sem o kadafismo e sob a tentativa imperialista de submetê-lo, mas afogou o passado em um banho de sangue e nasce coberto de horror e de infâmia perante o mundo.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Kadafi não será lembrado pelos líbios como um novo Omar Mukhtar, o líder da resistência ao imperialismo italiano enforcado pelos fascistas, porque antes de ser assassinado por seus ex-sócios e servidores também foi responsável por inúmeros crimes e enormes traições. Mas seu linchamento cairá como uma mancha a mais sobre seus executores e sobre os mandantes da turba feroz que o despedaçou aplicando-lhe a pena de morte selvagem que os imperialistas decretam contra seus agentes que precisam despachar.
(*) Professor de Relações Sociais da UNAM ( Universidade Autônoma do México) e colaborador do jornal mexicano La Jornada.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Carta Maior – Internacional – Os gangsters imperialistas

Sarkozy, senhor da guerra

Filed under: Kadafi,Líbia,OTAN,Sarkozy — Gilmar Crestani @ 8:30 am
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Agora que o tirano já foi assassinado, as verdades começarão a aparecer. Foi assim também no Iraque. O ditador que eles criam, eles assassinam. Os terroristas que eles treinam, eles matam. Tudo dentro do que se convencionou chamar de “civilização ocidental”.

Sarkozy, senhor da guerra

21 de outubro de 2011 | 3h 03

É CORRESPONDENTE EM PARIS, GILLES LAPOUGE, É CORRESPONDENTE EM PARIS, GILLES LAPOUGE – O Estado de S.Paulo

Duas notícias felizes para Nicolas Sarkozy: Carla Bruni deu à luz uma menina e o coronel Muamar Kadafi foi morto, o que simboliza o triunfo da guerra empreendida pela comunidade ocidental e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra o tirano líbio, graças, em parte, à energia inesgotável do presidente francês.

Sarkozy, que há alguns meses vem colecionando apenas escorregões, deve dar mais brilho a essa vitória. Ele adora se apresentar como senhor da guerra. O engajamento do presidente francês na primeira fila da coalizão formada contra Kadafi é ainda mais maravilhoso porque ocorreu após longos anos de deslumbramento da França com o ex-ditador da Líbia.

Mesmo antes de assumir a presidência, Sarkozy mantinha relações afetuosas com Kadafi, que começaram em 2005, quando ele era ministro do Interior. Claro que Kadafi era um personagem nauseabundo. Já havia entrado em guerra contra a França no Chade.

Protetor do terrorismo internacional, ele explodiu um DC-10 da UTA sob o Níger, em 1989, matando 170 pessoas. No entanto, há alguns anos, um novo Kadafi havia surgido, mais gentil, humanista, tolerante. E o líbio não se contentava apenas em dizer belas palavras. Ele agia.

Em 2003, renunciou às armas nucleares. Rompeu com os terroristas. E chegou até a apoiar a guerra de George W. Bush contra o Iraque depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Portanto, foi esse Kadafi, completamente mudado, branco como um lírio do campo, que Sarkozy, então ministro do Interior, procurou atrair em 2005.

O braço direito de Sarkozy, Claude Guéant (que depois tornou-se ministro do Interior), entrou em negociações com o ditador e estabeleceu vínculos estreitos com a polícia da Líbia para lutar contra um inimigo comum: a Al-Qaeda.

A França teve um papel fundamental na formação das "forças especiais líbias", que prenderam e torturaram os opositores de Kadafi, incluindo um grupo de enfermeiras búlgaras acusadas por Trípoli de contaminar as crianças líbias com o vírus da aids.

Em 2007, Sarkozy assumiu a presidência e sonhou em criar uma "União Mediterrânea", da qual a Líbia seria um dos pilares. Ele quis vender tecnologia a Trípoli, tanto as centrais nucleares da Areva e como os aviões Rafale.

Kadafi estava radiante e deu "de presente" as enfermeiras búlgaras, entregues à então mulher de Sarkozy, Cecília, e a Claude Guéant. O ditador cobrou pela gentileza, exigindo uma visita de Estado a Paris. Sarkozy não via malícia nisso.

Kadafi desembarcou na capital francesa com seu séquito de esplêndidas mulheres negras com adornos carnavalescos. Exigiu ficar em sua tenda das "mil e uma noites" instalada no gramado do Hotel Marigny, no centro da cidade. Sarkozy ficou "à beira de uma crise de nervos". Mesmo assim, o presidente cedeu aos caprichos do amigo Kadafi. A humilhação foi terrível, tanto que Kadafi renegou as promessas feitas e assinou contratos de algumas centenas de milhões de euros, não de 10 ou 15 bilhões como previsto.

Reviravolta. Alguns anos mais tarde, em 2011, irrompe a primavera árabe. As populações da Tunísia e Egito se libertam de seus tiranos. A França não entende nada. Balbucia. É importante dizer que os franceses eram amigos dos dois ditadores. Em 2010, a chanceler Michèle Alliot-Marie foi convidada pelo tunisiano Ben Ali para passar o Natal em Túnis. No momento das revoltas, ela propôs o envio de tropas da França para reprimir "os agitadores".

Em seguida, o primeiro-ministro francês, François Fillon, voltou do Egito, onde foi hóspede de Hosni Mubarak. Tudo indicava que Paris não se envolveria na primavera árabe, mas a providência às vezes é sábia e uma nova revolta explodiu na Líbia.

Foi um francês, um filósofo de esquerda, Bernard-Henri Lévy, quem telefonou de Benghazi para seu amigo Sarkozy, que percebeu uma oportunidade de se recompor e assumir dois papéis ao mesmo tempo: o de libertador e o de senhor da guerra.

Ele se animou. Correu para Londres para convencer David Cameron. Juntos, conseguiram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU. Uma semana depois, Sarkozy e o amigo Lévy estavam na escadaria do Palácio do Eliseu. O presidente reconhecia oficialmente o Conselho Nacional de Transição (CNT), de Benghazi. A chancelaria nem mesmo tinha sido avisada.

Para Sarkozy, o ganho seria duplo. A Líbia apagaria todas as baixezas de duas relações com Kadafi. Ele se transformaria no amigo dos "povos oprimidos". E lá estava ele, liderando a coalizão internacional contra o mesmo Kadafi que ele, há muito tempo, tentava loucamente seduzir.

No início de setembro, foi realizada em Paris uma conferência de 60 países para debater o futuro de uma Líbia sem Kadafi. No mesmo Hotel Marigny. Através das vidraças, os participantes puderam ver o histórico gramado onde, três anos antes, acompanhado de seus vizires, mordomos, guardas, oficiais, espiões, policiais e amazonas, Kadafi instalou sua bela tenda. Um sucesso para Sarkozy. Depois de vários saltos perigosos no vazio, ele se recompõe. Salve o artista! Salve o acrobata! / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Sarkozy, senhor da guerra – internacional – versaoimpressa – Estadão

20/10/2011

“Gaddafi estava certo”

Filed under: Juliana Medeiros,Kadafi,Líbia — Gilmar Crestani @ 9:28 am
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No dia 12 de outubro, publicamos o artigo de Juliana Medeiros, que quase todos dias fala (por Skype) com a Líbia. É o relato pessoal de uma guerra estúpida.

O leitor Alberto postou o seguinte comentário:

Hoje, Juliana Medeiros postou a resposta a esse leitor do leitor. Segue na íntegra. 

por Juliana Medeiros, no Substantivo Comum

Falo quase todos os dias (pelo Skype) com a Líbia. Amigos em Trípoli, Sirte, Bani Walid, Sebha, Misrata.. também muitos refugiados em Túnis, no país vizinho.

Dentre os vários comentários que o post Líbia – Um relato pessoal gerou depois de publicado no site Viomundo, um em especial (do Alberto) me obrigou a responder, já que com ele responderia a vários questionamentos de pessoas diferentes, gente que já me fez as mesmas perguntas. Publiquei lá, mas reproduzo aqui a minha resposta.

Me sinto na obrigação de responder a alguns questionamentos:

1 – Sim, a maior parte do armamento foi oferecido pela OTAN e pelos “aliados”. Há dezenas de fotografias com as imagens das coletas dos armamentos que eram jogados por pára-quedas ou chegavam de navio. Aliás, quando estávamos na Tunísia, o porto de Túnis tinha acabado de interceptar um navio que vinha do Qatar carregado de armamentos a serem entregues em Benghazi. As autoridades portuárias que entrevistamos disseram que vários passaram antes, mas com o bombardeio das fronteiras, decidiram não mais permitir esse “apoio” à guerra contra o país vizinho.

Mas, veja, se parte disso era mesmo arsenal militar do governo, que tal se alguns de nós (do movimento “contra a corrupção” por exemplo), ao invés de nos limitar à passeatas, invadíssemos os quartéis e arsenais militares brasileiros e avançássemos contra o Congresso Nacional e órgãos públicos, além de civis, atirando em tudo e todos.. qualquer reação dos militares brasileiros seria considerada “massacre de civis”?

Aliás, o governo brasileiro deveria reagir ou admitir que esse grupo representa “legitimamente” uma “maioria” opositora, chamá-los de “Conselho de Transição” e, quem sabe, posteriormente, Dilma abriria mão de seu cargo voluntariamente em respeito aos “manifestantes”.. foi exatamente isso que aconteceu na Líbia. É que é mais  fácil imaginar no quintal dos outros, não no nosso.

2 –  A cova coletiva da prisão de Abuh Salim (assim como várias outras denúncias) é notícia falsa, sim. Foi desmentida em vários canais, exceto nos que já conhecemos. Era uma cova com OSSOS DE CAMELOS… procure, está disponível na internet.

3 – Até o momento, as acusações contra Gaddafi de contratação de “mercenários” não encontrou provas. Os negros imigrantes que trabalhavam nas construtoras estão sendo dizimados  com essa alegação (de que seriam mercenários pagos por ele), fato já denunciado pela Anistia Internacional algumas vezes. Por outro lado, já há registros, fotografias, provas documentais, da participação de mercenários blackwaters e de várias outras origens, ao lado dos “rebeldes”. Em jornais como o Guardian e o Independent já foram publicadas até entrevistas  com alguns deles, muitos incorporados às forças especiais britânicas para entrar por terra e se misturar aos “rebeldes” pela semelhança física (a cara de muçulmano).

Aliás, foi exatamente assim que ocorreu o “milagre da multiplicação” dos pouquíssimos rebeldes para os muitos que vimos depois. Eram estrangeiros, está no meu texto acima e já foi confirmado pelos porta-vozes rebeldes: “tivemos ajuda por terra de soldados aliados vestidos como civis e misturados a nós”.

4 – A Al Jazeera inventou sim inúmeras cenas. A principal delas, também já demonstrada em reportagens e ADMITIDA pelo Abdul Jalil, porta-voz rebelde, foi o cenário montado no Qatar para “simular” a invasão de Trípoli. Eu colocava no twitter, enquanto víamos aquelas cenas, que os colegas que estavam no hotel em Trípoli JAMAIS viram aquela multidão na Praça Verde e ninguém acreditava. Isso JAMAIS existiu, aquela festa, aquela multidão comemorando. Eles estão desde aquele dia, fazendo o mesmo que fazem ainda agora, entrando e “fatiando” o ambiente e atirando e conquistando bairros aos poucos. Quando várias TVs (como a RT da Russia) começaram a mostrar as falhas entre a verdadeira Praça Verde e a que usaram para simular isso, Jalil deu uma coletiva e admitiu que houve um “equívoco” e que a cena jamais existiu, apenas que estavam começando a ocupação de Trípoli. Isso mostra o apoio midiático dado pela Al Jazeera na conquista não só da capital, mas de mentes e corações dos cidadãos líbios, que estavam sendo convencidos desta invasão e mentirosa “adesão em massa”.

5 – As tribos líbias, várias, sempre viveram em conflito entre elas, independente do Gaddafi (inclusive a dele). É uma história bem mais complexa, impossível de simplificar aqui sem falar em toda a história de formação do país. Mas uma coisa é certa: ele foi o único a mantê-las por anos convivendo pacificamente. E sim, foi a tribo de Benghazi e uma das que havia em Misrata a iniciarem os conflitos (ataques que eles mesmos fizeram a órgãos públicos e residencias de partidarios de Gaddafi). Sem ajuda estrangeira, jamais teria passado disso. Teriam sido reprimidos, como seriam se fosse em qualquer país.

6 – O argumento de guerra civil é real, desde o início em função do que foi dito. As tribos iniciaram esse conflito e os cidadãos estavam se atacando. A acusação de que Gaddafi bombardeou áreas civis e que por isso era necessário a zona de exclusão aérea foi DESMENTIDA pela Anistia Internacional, infelizmente, meses depois de iniciada a guerra. Ele bombardeou os arsenais no deserto para evitar que fossem saqueados. E tentou sim, com força militar, impedir que os próprios cidadãos se matassem.

A Líbia podia estar necessitando de uma transição, mas quando os conflitos iniciaram, o governo Gaddafi propôs isso de inúmeras maneiras. Sugeriram a realização de plebiscito para perguntar à população que regime gostariam de ter, se gostariam de ter eleições, sugeriram que uma nova organização de governo fosse feita com membros do anterior e do CNT, enfim, muitas propostas.

A única coisa que ele não abriu mão e jamais fará, é que apenas pegasse o banquinho e saísse para a ocupação que acontece agora. Ele identificou a movimentação da Al Qaeda nas fronteiras, das tropas estrangeiras após a zona de exclusão aérea, dos porta-aviões parados em frente ao litoral líbio e a cada avanço desse tipo, ele também endurecia sua posição de não se entregar. Aliás, de não entregar a Líbia de bandeja para Cameron, Sarkozy, Obama e cia. E agora vemos que ele estava certo. Arrasaram a Líbia, destruíram grande parte do país, estão brigando entre eles e entre as empresas que querem explorar o petróleo líbio, estão cometendo uma série de violações com nosso silêncio.  Queriam apenas se apropriar da Líbia, não era um movimento de “liberdade”, era um movimento de “traição” ao país, iniciado por poucos cidadão líbios, apoiados inicialmente por jihadistas. Gaddafi estava certo.

Juliana Medeiros: “Gaddafi estava certo” | Viomundo – O que você não vê na mídia

02/10/2011

A OTAN humanitária…

Filed under: Kadafi,Líbia,Revolução Jasmim — Gilmar Crestani @ 7:17 am

Os otários acreditam. A OTAN iria proteger os civis e levar ajuda humanitária à Líbia. Claro, se não há problemas para a OTAN solucionar, ela cria só para poder “ajudar”. Ah, essa superioridade da “civilização ocidental”!

Situação em cidada natal de Khadafi é horrível, diz Cruz Vermelha

Atualizado em  1 de outubro, 2011 – 21:37 (Brasília) 00:37 GMT

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha descreveu a situação na cidade de Sirte, a cidade natal do coronel Muamar Khadafi e um de seus últimos bastiões na Líbia, como horrível.

Os combates violentos entre forças do Conselho Nacional de Transição e os partidários de Khadafi continuaram neste sábado durante a visita de uma equipe da organização ao principal hospital da cidade.

Segundo o porta-voz da Cruz Vermelha, Hichem Khadraoui, a equipe levava suprimentos médicos e embalagens de plástico para colocar corpos ao hospital de Ibn Sima. O porta-voz afirma que pacientes estão morrendo devido à falta de oxigênio e combustível para os geradores do hospital.

Khadraoui afirmou ainda que foguetes atingiram o hospital durante a visita da equipe da Cruz Vermelha.

BBC Brasil – Radar de Notícias – Situação em cidada natal de Khadafi é horrível, diz Cruz Vermelha

01/09/2011

A verdade sobre a Líbia

Filed under: Kadafi,Revolução Jasmim — Gilmar Crestani @ 8:59 am
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Já não se usa mais subterfúgios. O Petróleo ainda é o principal álibi da “civilização  ocidental”.

Potências definem em Paris futuro da Líbia, de olho em contratos e petróleo

Cúpula decidirá sobre status do CNT, fundos de Kadafi antes congelados e volta da democracia

Jamil Chade, correspondente

GENEBRA – Emissários de pelo menos 60 países discutirão nesta quinta-feira, 1º, em Paris a nova página da história da Líbia, o status do Conselho Nacional de Transição (CNT) e como organizar a reconstrução da nação africana. Ao mesmo tempo, governos disputam contratos para o fornecimento de produtos e serviços para a Líbia pós-Kadafi e a influência sobre o novo regime de Trípoli.

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ESPECIAL: Quatro décadas de ditadura na Líbia
ARQUIVO: ‘Os líbios deveriam chorar’, dizia Kadafi

Parte do dinheiro nas contas congeladas do ditador Muamar Kadafi está sendo usada para fechar contratos justamente com os governos que lideraram a ofensiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Convocada pela França, a reunião deverá formalizar a liberação de quase US$ 5 bilhões em ativos de Kadafi, os quais agora serão destinados à "reconstrução" da Líbia. A União Europeia deverá ainda revogar as sanções unilaterais contra portos e companhias petrolíferas líbias. Um calendário para o estabelecimento da democracia em Trípoli deverá ainda ser divulgado. O encontro foi organizado por europeus, sob críticas do Brasil, China e Rússia. Os emergentes defendem que o tema seja tratado no âmbito da ONU.

Diplomatas brasileiros disseram ao Estado que um dos pontos centrais dessa reconstrução será a liberação da fortuna de Kadafi. China e Rússia não escondem a irritação com a cúpula convocada pelos europeus. Mas os emissários de Brasília, Pequim e Moscou admitem que um de seus objetivos na reunião é garantir que os contratos da era Kadafi sejam mantidos.

Líderes como o presidente francês, Nicolas Sarkozy, o premiê britânico, David Cameron, a chanceler alemã, Angela Merkel, e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, querem transformar a cúpula no "nascimento internacional" da Líbia pós-Kadafi.

Eldorado

Na quarta, a França anunciou que mantinha bloqueados US$ 7,5 bilhões em seus bancos e pediu que a ONU já libere US$ 1,5 bilhão. A Grã-Bretanha já tinha feito isso dois dias atrás – um voo com o equivalente a US$ 211 milhões partiu para a Líbia – e a Itália anunciou ontem a liberação de mais US$ 500 milhões. Esse dinheiro está beneficiando justamente os países que haviam promovido resoluções na ONU pedindo que a fortuna fosse descongelada – europeus, alguns países árabes e os EUA.

Nesta semana, por exemplo, rebeldes líbios usaram US$ 44 milhões de Kadafi para comprar trigo de produtores franceses. O pacto fechado com Paris prevê que alimentos e gêneros de primeira necessidade sejam comprados de empresas francesas. A França também emplacou a venda de escolas pré-fabricadas. O ponto mais sensível, porém, continua a ser a indústria do petróleo.

Franceses

No regime de Kadafi, 35 empresas estrangeiras operavam no país. Em abril, o CNT havia prometido a Sarkozy que um terço dos contratos de petróleo ficaria com empresas francesas. A esperança de Paris é que a França seja "recompensada" por ter liderado os ataques da Otan.

Na semana que vem, uma missão com empresários da Total, Alstom e outras empresas francesas vai desembarcar em Trípoli para debater com a nova administração contratos para ajudar na reconstrução da Líbia. Em julho, executivos da Total já tinham visitado Benghazi e, com o apoio do governo em Paris, fecharam contatos com rebeldes.

O Estado apurou que os novos "ministros" líbios voltarão a Paris no dia 6 para uma reunião com empresários.

Potências definem em Paris futuro da Líbia, de olho em contratos e petróleo – internacional – geral – Estadão

23/08/2011

OTAN, o verdadeiro rebelde líbio

Filed under: Kadafi,Líbia,OTAN — Gilmar Crestani @ 7:19 am

E só otário acredita no que a mídia amestrada pela CIA diz. Neste fim de semana todos os grandes grupos mafiomidiáticos subalternos de Murdoch pareciam ter sido escritos com o sangue de Kadafi. Venderam a morte de Kadafi mas as Parcas não entregaram. Hoje aparece até um filho que teria sido preso pelos “rebeldes da OTAN”. O que discuto não é se Kadafi é um ditador ou não. A questão é a seletividade dos “democratas ocidentais”. Por que, por exemplo, a OTAN não entra na Síria, onde o também ditador daquele país vem massacrando os civis? E se é para proteger os civis, por que a Somália continua abandonada. Lá na Somália, a fome é, ao mesmo tempo, causa e consequência, mas é pobre, não tem petróleo. O problema da Líbia, assim como da Síria, Iraque e Irã, se chama PETRÓLEO. Isto é, dinheiro, aquilo que move o intere$$e informativo dos veículos a$$oCIAdos ao Instituto Millenium.

El decisivo papel de la OTAN

La Alianza, que lanzó la operación en marzo para proteger a los civiles, ha enviado asesores militares y armas a los rebeldes con el objetivo de derribar el régimen

J. M. MUÑOZ – París – 23/08/2011

Que los combates sigan en Trípoli sorprende poco, pero lo que no esperaba ni el más optimista de los rebeldes era una entrada tan sencilla en la capital de Libia. El domingo, la temida Brigada 32, comandada por Jamis Gadafi, salió de estampida de sus bases alrededor de esta ciudad de dos millones de habitantes y los sublevados ondeaban, caída la noche, la bandera tricolor (roja, verde y negra) en la plaza Verde (ahora de los Mártires).

Francia ha arrojado armas en paracaídas a los sublevados

La organización ha anulado primero la fuerza aérea y luego los blindados

Cazabombarderos y ‘drones’ han llevado a cabo 7.500 misiones de ataque

Los aliados se implicaron más en abril para acelerar el avance insurgente

¿Prefirieron los soldados de Gadafi replegarse a la capital para continuar luchando? ¿Están derrotados? En poco tiempo se sabrá. Pero lo cierto es que los alzados contra Muamar el Gadafi, estancados desde hace meses en el frente oriental, han logrado avances fulgurantes en las últimas jornadas en la montañosa región occidental. Las operaciones de la OTAN han sido cruciales. Probablemente tenía razón Musa Ibrahim, portavoz del Gobierno de Gadafi, cuando aludía a la capacidad militar de sus enemigos: "Sin la OTAN, los rebeldes no son nada".

Los insurgentes eran una banda de muchachos y hombres desesperados que creyeron por algún tiempo que con solo voluntad, osadía y la ayuda de Alá derrotarían a unas fuerzas armadas bien adiestradas y equipadas. Se montaban en sus camionetas y se lanzaban a la guerra sin el menor adiestramiento, con los enseres a cuestas como si fueran a un fin de semana de camping. El 19 de marzo se convencieron de que por las bravas nada lograrían.

Ese día los aviones franceses -pocas horas antes el Consejo de Seguridad había aprobado la zona de exclusión aérea en Libia- bombardearon columnas de tanques que estaban a las puertas de Bengasi. El bastión de los insurrectos se libraba de una matanza. Y, paulatinamente, las cosas empezaron a cambiar. Empezando por la OTAN, que pasó de encabezar una operación que en teoría solo buscaba la protección de los civiles para dedicarse, sin esconderlo, a perseguir el derrocamiento de Gadafi. Desde aquel día de marzo, los cazabombarderos y aviones no tripulados (drones) han ejecutado más de 7.500 misiones de ataque.

Decenas de cuarteles, almacenes de armamento, bases militares, puertos, lanzaderas de misiles, centros de comunicaciones y aeropuertos han sido arrasados por los misiles aliados. Inutilizada la aviación y bloqueados los barcos de guerra, los tanques de Gadafi también dejaron de moverse. Sin embargo, eso no era suficiente para revertir la situación. Pronto entraron en acción los aparatos no tripulados, especialmente los enviados por Washington, que permiten destruir objetivos difíciles de localizar minimizando las bajas de civiles, una obsesión de la OTAN. Tampoco era suficiente, o no se lograban resultados con la rapidez deseada, y los aliados decidieron implicarse un poco más. En abril, Reino Unido y Francia enviaron asesores militares a Bengasi y los rebeldes empezaron a comportarse de modo diferente.

Tímidamente, los milicianos comenzaron a obedecer órdenes una vez que se decidió que Abdel Fatah Yunes, asesinado recientemente, sería el jefe de estas fuerzas armadas; se organizaron campos de entrenamiento de reclutas y brigadas; se acreditó a los combatientes rebeldes para que no se repitieran escenas de chavales aupados en las camionetas con apenas un cuchillo en sus manos; y se impidió el acceso a la prensa, libre hasta entonces, al frente de batalla. Pero, sin duda, la labor callada de los consejeros militares extranjeros jugó su papel, como lo hizo la entrega de equipos de comunicación y chalecos antibalas que proporcionó el Gobierno de David Cameron a los rebeldes. De uniformes, y algunos fondos, fueron abastecidos por Catar. El frente oriental se empantanó en abril y el oriental se alzó en armas después de sufrir bombardeos las ciudades de Zintan, Nalut, Yefren y varias más en las montañas de Nafusa. Repentinamente, los rebeldes iniciaron su ofensiva y reconquistaron terreno. En junio se reveló que Francia había proporcionado armamento a través de un aeropuerto improvisado cerca de la frontera con Túnez -también envió armas con paracaídas-, como se supo hace unos 10 días que Estados Unidos había proporcionado a la OTAN más drones. La batalla de Trípoli se aproximaba y anteayer llegó la hora del asalto final. Y de la sorpresa. La feroz Brigada 32 no lo fue. Se esfumó y se guareció en la capital. De los 126 despegues de aviones, 46 de ellos ejecutaron misiones de ataque, y 20 destruyeron objetivos militares en las proximidades de Trípoli. Allanaron el camino.

La OTAN, en todo caso, niega que coordinara los ataques con los insurgentes en su marcha hacia Trípoli. "Lo que sucedió", comentaba ayer un portavoz de la alianza a Reuters, "fue que la ofensiva rebelde forzó a los militares de Gadafi a sacar su equipamiento pesado a campo abierto, un equipamiento que estaba escondido. Cuando perdieron terreno, lo utilizaron para bombardear los pueblos que habían perdido". Con o sin coordinación con los insurrectos, para la OTAN resultó más sencillo destrozar esos equipos. Y los rebeldes, que meses atrás se quejaban del escaso apoyo militar de los países occidentales, lo habrán agradecido.

El decisivo papel de la OTAN · ELPAÍS.com

22/08/2011

Quem salva a Líbia dos seus salvadores ocidentais?

Filed under: Democracia made in USA,Kadafi,Líbia — Gilmar Crestani @ 12:14 pm

por Jean Bricmont e  Diana Johnstone, no Le Grand Soir ,via Resistir.Info

Em março, uma coligação de potências ocidentais e de autocracia árabes uniram-se para promover o que era apresentado como uma espécie de pequena operação militar para “proteger os civis líbios”.

A 17 de março, o Conselho de Segurança da ONU adoptou a resolução 1973 que dava a esta “coligação de voluntários” um tanto particular o sinal verde para começar a sua pequena grega, controlando primeiro o espaço aéreo líbio, o que permitiu a seguir bombardear o que a NATO quis bombardear. Os dirigentes da coligação esperavam manifestamente que os cidadãos líbios reconhecidos aproveitariam a ocasião fornecida por esta “protecção” vigorosa para derrubar Muamar Kadafi o qual, pretendia-se, queria “matar o seu próprio povo”.

Baseando-se na ideia de que a Líbia estava dividida de modo claro entre “o povo” de um lado e “o mau ditador” do outro, esperava-se que este derrube ocorresse em alguns dias. Ao olhos ocidentais, Kadafi era um ditador pior que Ben Ali na Tunísia ou Mubarak no Egipto, que caíram sem intervenção da NATO. Kadafi deveria portanto cair muito mais rapidamente.

Cinco meses mais tarde, tornou-se evidente que todas as suposições nas quais se fundamentava esta guerra eram mais ou menos falsas. As organizações de defesa dos direitos do homem não conseguiram encontrar provas dos ditos “crimes contra a humanidade” cometidos por Kadafi contra “o seu próprio povo”. O reconhecimento do Conselho Nacional de Transição (CNT) como “único representante legítimo do povo líbio” por parte dos governos ocidentais, que era no mínimo prematuro, tornou-se grotesco. A NATO empenhou-se numa guerra civil, exacerbando-a, e sem fazê-la sair do impasse.

Mas por mais absurda e destituída de justificação que esta guerra possa ser, ela continua. E quem é que pode travá-la?

Um dos melhores livros para ler neste Verão foi a excelente nova obra de Adam Hochschild, To End All Wars , sobre a Primeira Guerra Mundial e os movimentos pacifistas daquela época. Há muitas lições de actualidade que se podem encontrar neste livro, mas a mais pertinente é sem dúvida o facto de que uma vez começada uma guerra é muito difícil pará-la.

Os homens que começaram a primeira guerra mundial também pensavam que ela seria curta. Mas mesmo quando milhões de pessoas foram lançadas na tormenta assassina e quando o carácter absurdo do empreendimento tornou-se claro como água límpida, a guerra continuou durante quatro anos trágicos. A própria guerra engendra o ódio e uma vontade de retaliação. Quando uma grande potência começa uma guerra, ela “deve” ganhá-la, qualquer que seja o custo – para ela própria e sobretudo para os outros.

Até o presente, para os agressores da NATO o custo da guerra contra a Líbia é puramente financeiro e isso é compensado pela esperança de um pilhagem do país, quando ele for “libertado” e de que ele pagará para reembolsar aqueles que o bombardearam. Não é senão o povo líbio que perde vidas, bem como a sua infraestrutura.

Durante a primeira guerra mundial existia um corajoso movimento de oposição à guerra que enfrentou a histeria e o chauvinismo deste período e que advogava em favor da paz. Seus membros arriscavam-se a ataques físicos, assim como à prisão. O modo como Hochchild conta a luta pela paz destes homens e destas mulheres na Grã-Bretanha deveria servir de inspiração – mas para quem? Os riscos implicados pela oposição à guerra na Líbia são mínimos em comparação com os que existiam aquando a guerra de 1914-1918. Mas no momento, uma oposição activa é apenas visível.

Isto é particularmente verdadeiro em França, país cujo presidente, Nicolas Sarkozy, teve a iniciativa de começar esta guerra.

Acumulam-se os testemunhos das mortes de civis líbios, inclusive crianças, provocadas pelos bombardeamentos da NATO (ver por exemplo o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=vtS2qJeeXUA ). Estes bombardeamentos visam a infraestrutura civil, a fim de privar a maioria da população que vive na parte do país leal a Kadafi dos bens de primeira necessidade, da alimentação e da água, a fim de pressionar o povo a derrubar Kadafi. A guerra para “proteger os civis” já se tornou uma guerra para aterrorizá-los e atormentá-los de modo a que o CNT apoiado pela NATO possa tomar o poder.

Esta pequena guerra na Líbia mostra que a NATO é ao mesmo tempo criminosa e incompetente.

Mas ela mostra igualmente que as organizações de esquerda nos países da NATO são totalmente inúteis.

Provavelmente jamais houve uma guerra à qual fosse mais fácil opor-se. Mas a esquerda na Europa não se opõe.

Há três meses, quando a histeria mediática a propósito da Líbia foi lançada pela televisão do Qatar, Al-Jazeera, a esquerda não hesitou em tomar posição. Algumas dezenas de organizações de esquerda francesas e norte-africanas assinaram um apelo por “uma marcha de solidariedade com o povo líbio” em Partis, a 26 de Março. Mostrando a sua total ausência de coerência, estas organizações exigiram, simultaneamente, por um lado “o reconhecimento do CNT, único representante legítimo do povo líbio” e, por outro, “a protecção dos residentes estrangeiros e dos migrantes” que, na realidade, deviam precisamente ser protegidos dos rebeldes representados por este conselho. Apoiando implicitamente operações militares de ajuda ao CNT, estes grupos apelavam também à “vigilância” a propósito da “duplicidade dos governos ocidentais e da Liga Árabe”, bem como a uma “escalada” possível das operações militares.

As organizações que assinavam este apelo incluíam grupos de oposições no exílio da Líbia, Síria, Tunísia, Marrocos e Argélia, assim como os Verdes franceses, o NPA, o Partido Comunista Francês, o Partido de Esquerda, o movimento anti-racista MRAP, o partido dos Indígenas da República e o ATTAC. Estes grupos representavam praticamente tudo o que há de organizado à esquerda do Partido Socialista – que, pelo seu lado, (com excepção de Emmanueli) apoiava a guerra sem sequer fazer apelo à “vigilância”.

Agora que aumenta o número de vítimas civis dos bombardeamentos da NATO, não há nenhuma manifestação da vigilância prometida “a propósito da escalada da guerra” que saísse do quadro das resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Os militantes que, em março, insistiam em dizer que “devemos fazer alguma coisa” para travar um massacre hipotético hoje nada fazem para travar um massacre que não é hipotético mas sim muito real e visível, e perpetrado exactamente porque aqueles “fizeram alguma coisa”.

O erro fundamental daqueles que, à esquerda, dizem “nós devemos fazer alguma coisa” reside na ambiguidade da palavra “nós”. Se eles querem dizer “nós” literalmente, então a única coisa que poderiam fazer seria por de pé espécies de brigadas internacionais para combater com os rebeldes. Mas naturalmente, apesar das grandes declarações segundo as quais “nós” devemos fazer “tudo” para apoiar o “povo líbio”, esta possibilidade nunca foi seriamente considerada.

Portanto o “nós” significa na prática as potências ocidentais, a NATO e, sobretudo, os Estados Unidos, pois só eles possuem as “capacidades únicas” necessárias para travar uma tal guerra.

As pessoas que gritam “devemos fazer alguma coisa” geralmente misturam duas espécies de exigências: uma que podem esperar de modo realista ser aceite pelas potências ocidentais – apoio aos rebeldes, reconhecimento do CNT como único representante legítimo do povo líbio – e outra que não podem absolutamente esperar de modo realista que seja aceite pelas grandes potências e que são elas próprias totalmente incapazes de executar: limitar os bombardeamentos a alvos militares e à protecção dos civis, assim como permanecer escrupulosamente no quadro das resoluções da ONU.

Estes dois tipos de exigências contradizem-se uma à outra. Numa guerra civil, nenhuma das duas partes está preocupada principalmente com as subtilezas das resoluções da ONU ou com a protecção dos civis. Cada parte quer muito simplesmente ganhar e a vontade de retaliação leva muitas vezes a atrocidades. Se se “apoia” os rebeldes, dá-se-lhes na prática um cheque em branco para fazer o que eles considerarem necessário a fim de ganhar a guerra.

Mas dá-se igualmente um cheque em branco aos aliados ocidentais e à NATO, que talvez estejam menos ávidos de sangue que os rebeldes mas que têm à sua disposição meios de destruição muito maiores. E a NATO é uma imensa burocracia – um dos fins essenciais da mesma é sobreviver. Ela deve absolutamente ganhar, senão terá um problema de “credibilidade”, assim como os políticos que apoiaram esta guerra. E este problema poderia levar a uma perda de financiamento e de recursos. Uma vez que a guerra começou não há simplesmente nenhuma força no Ocidente, na ausência de movimentos anti-guerra determinados, que possa obrigar a NATO a limitar-se ao que é autorizado pelas resoluções da ONU. Em consequência, a segunda espécie de exigências da esquerda cai na orelha de um surdo. Estas exigências servem simplesmente para provar que a esquerda pró intervenção tem intenções puras.

Ao “apoiar” os rebeldes, esta esquerda matou de facto o movimento anti-guerra. Com efeito, não tem sentido apoiar numa guerra civil um campo que quer desesperadamente ser ajudados por intervenções externas e, ao mesmo tempo, opor-se a tais intervenções. A direita pró intervenção é bem mais coerente.

O que a esquerda e a direita pró intervenção têm em comum é a convicção de que “nós” (isto é, “o ocidente democrático civilizado”) temos o direito e a capacidade de impor nossa vontade a outros países. Certos movimentos franceses (como o MRAP) que vivem literalmente da exploração da culpabilidade a propósito do racismo e do colonialismo, parecem ter esquecido que muitas das conquistas coloniais foram feitas contra sátrapas, príncipes indianos e reis africanos que eram denunciados como autocratas (o que de facto eram) e não parecem dar-se conta de que há alguma coisa de um tanto incongruente, para organizações francesas, em decidir quem são os “representantes legítimos” do povo líbio.

Apesar dos esforços de alguns indivíduos isolados, nenhum movimento popular na Europa é capaz de travar ou mesmo enfraquecer o ataque da NATO. A única esperança poderia ser um colapso dos rebeldes, ou uma oposição nos Estados Unidos, ou uma decisão da parte das oligarquias dominantes de limitar as despesas. Enquanto isso, a esquerda europeia perdeu uma ocasião de renascer opondo-se a uma das guerra manifestamente mais injustificáveis da história. A Europa inteira sofrerá com esta derrota moral.

Mário Augusto Jakobskind: Delegação brasileira é barrada na Líbia

“Kadafi não é mais governo”, diz, de Trípoli, professor em telefonema para Natal

Rebeldes líbios lutam em Trípoli contra tropas de Kadafi

Quem salva a Líbia dos seus salvadores ocidentais? | Viomundo – O que você não vê na mídia

Assim caminham os recursos naturais

Filed under: Democracia made in USA,Kadafi,Líbia — Gilmar Crestani @ 7:58 am

Libia

OTAN, e não rebeldes, derrota Kadafi

Filed under: Kadafi,Líbia,OTAN — Gilmar Crestani @ 6:57 am

E mais uma vez a “Democracia Ocidental” derrota o eixo do mal para roubar o petróleo que nos sustenta. Alguém ainda precisa de explicação porque ocorrem distúrbios em Londres, cheia de líbios, indianos, paquistaneses, argentinos e colombianos refugiados? Se a OTAN enviassem armas para todos os presidiários brasileiros e bombardeasse as sedes do nossos exércitos, será que não haveria chances de “os rebeldes” derrotarem o Governo Federal?

De NY a Trípoli

21.agosto.2011 19:18:18

OTAN, e não rebeldes, derrota Kadafi

no twitter @gugachacra

Meu comentário completo na TV Estadão pode ser visto aqui

Se Muamar Kadafi cair nas próximas horas, como parece ser provável, terá sido a OTAN, e não os rebeldes, que o derrubou. Antes de a aliança militar ocidental intervir, em março deste ano, o líder líbio estava próximo de Benghasi para reprimir de uma vez por todas os levantes da oposição.

Graças aos bombardeios da OTAN, as forças do regime se enfraqueceram e não conseguiram chegar até Benghasi. E graças às armas concedidas pela alianca ocidental, os rebeldes foram capazes de lutar contra os homens de Kadafi. Sem esta ajuda, eles perderiam.

Desta forma, fica a pergunta se a ação da OTAN, ainda que desrespeitando a resolução 1973 da ONU, foi correta ou não. Afinal, derrubou do poder um dos mais sanguinários líderes políticos do mundo.  Além disso, também vale perguntar por que a comunidade internacional perdoou Kadafi depois de seu envolvimento em atentados terroristas nos anos 1980? Por que foi tolerada a repressão dele contra a oposição mesmo antes do início dos levantes árabes?

Ainda hoje, ditadores de diversas partes do mundo reprimem com violência a oposição. Além de Assad, podemos citar a monarquia Al Khalifa, em Bahrain, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, e o seu homônimo da Jordânia. Isso para ficar em apenas alguns dos países árabes. Podemos pegar exemplos na Coreia do Norte, em ex-repúblicas soviéticas no Caucaso e mesmo na China. Qual a regra para derrubar um ditador?

OTAN, e não rebeldes, derrota Kadafi « Gustavo Chacra

20/08/2011

O Grande Gaddafi

Filed under: Democracia made in USA,Kadafi — Gilmar Crestani @ 9:59 am

Pepe Escobar, Asia Times Online, Tradução: Coletivo Vila Vudu
20/8/2011

A noite vai avançada em Trípoli, e o Grande Gaddafi beberica seu White Russian[2], fumando um do bom, do Maghreb, enquanto sintoniza uma gigantesca televisão de plasma em sua tenda na fortaleza de Bab al-Aziziyah. Ninguém, nem alguma voluptuosa enfermeira ucraniana, conseguiria apaziguar sua alma em revolta.

Assiste, com ar de quem não acredita nos próprios olhos, à narrativa que avança naquela sopa de letras ocidentais conhecida como “noticiário”; juram que Muammar Gaddafi está “sitiado”, “exaurido”, “tentando achar alguma rota de fuga”, “preparando-se para fugir” (para a Tunísia) e que “é só questão de tempo” antes do “colapso” de seu governo.

Tudo isso, porque um bando de beduínos bárbaros apoiados pelas bombas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) decidiram mijar no seu tapete.

O Grande Gaddafi: “Aquele tapete era a base que mantinha em pé a sala”.

Não diria, de si mesmo, que esteja “sitiado”. Afinal, as pesquisas mostram que, na Líbia, a aprovação de seu governo no mínimo dobrou, nos últimos meses. E então um dos caras lá da Casa Branca disse ao pessoal lá que a Líbia aceitaria um acordo de cessar-fogo pelo qual a OTAN controlaria só alguns pontos da Cyrenaica – sim para Benghazi, não para Misrata – e abriria caminho para uma força de paz dos capacetes azuis da ONU.

Examina o calendário no seu iPhone; o mês do jejum santo dos muçulmanos, o Ramadã, estende-se até 29 de agosto. Faltavam só uns dez dias, para que o cessar-fogo entrasse em vigência. Mas os norte-americanos – como sempre – e sua cobiça sem limites! Queriam para eles todas as concessões de petróleo e gás, pôr as mãos em todas elas. E queriam que Gaddafi se aposentasse. Petróleo e gás são sempre negociáveis. Questão de acertar o preço. Quanto à aposentadoria, podem enfiar no seu rabo.

Guarda-costas do Grande Gaddafi: “E quando estivermos fazendo a entrega, eu pego um dos deles, arrebento o cara e arranco tudo dele, de volta. Que tal?”

O Grande Gaddafi: “Grande plano, porra, super engenhoso, se estou entendendo bem. Perfeito, porra, infalível como uma porra de relógio suíço, porra.”

Que tipo de guerra “popular” foi aquela? O pessoal do serviço secreto trouxe-lhe em bandeja de prata a mais recente pesquisa Rasmussen – segundo a qual, só 20% dos norte-americanos apoiam hoje o escandaloso bombardeio por EUA/OTAN, sobretudo porque aqueles panacas bombardearam civis e mais civis, até crianças. Os europeus – os que contam, gente de verdade, não os burocratas panacas de Bruxelas – estão ainda mais incomodados que os norte-americanos.

E dizer-se que os niilistas europeus tentaram vender a ficção de que ele, Gaddafi, seria um “ditador maléfico” que queria “matar o próprio povo”!

Guarda-costas do Grande Gaddafi: “Niilistas?! Agora, fodeu… Quero dizer, digam o que disserem dos princípios do nacional socialismo, Meu Chapa árabe, pelo menos era algum ethos”.

Os niilista europeus bombardearam a infraestrutura civil – privaram muita gente no oeste da Líbia, de água e comida, para que as ‘massas’ ‘se levantassem’ e derrubassem Gaddafi. É como funciona uma guerra para “proteger civis”, nessas cabeças ocidentais doentias: ensinar os civis a se borrarem de medo.

O Grande Gaddafi sempre soube que nunca esteve só. O povo de Trípoli não se borrou de medo. Estudantes, professores, cidadão comuns, todos armados com Kalashnikovs, lança-granadas e morteiros, todos prontos a escavar trincheiras, cercar a cidade, montar um cordão de pontos de controle, organizar a resistência casa a casa. Os ‘rebeldes da OTAN’ jamais tomariam Trípoli.

Guarda-costas do Grande Gaddafi: “Cara, recebi informações novas. Há mais merda no ar, do que pensávamos.”

Verdade. Gaddafi agora sabe com certeza que grandes tribos – Warfa’llah, Washafana, Tarhouna, Zlitan – todas sempre estiveram com ele. E que, ao contrário do que prega a propaganda dos “rebeldes da OTAN”, Zawiya, Gharian e Surman não caíram.

Gaddafi sempre soube que aqueles sujeitos sem sal nem vergonha do Conselho Nacional de Transição [ing. Transitional National Council (TNC)] nunca superariam ou superarão as guerras tribais seculares que os separam; todas elas, de fato, miniguerras civis.

Impossível acreditar que norte-americanos e europeus tenham sido idiotas a ponto de pôr dinheiro na brigada Abu Ubaidah bin Jarrah. A brigada recusa-se a lutar sob comando dos “rebeldes da OTAN” e já assumiu a “segurança interna”, pelo mesmo método de sempre: eles degolam inimigos.

Gaddafi hoje conta, inclusive, com o apoio da furiosa tribo Obeidi – que inclui a família do general General Abdul Fatah Younis, que foi ministro do Interior de Gaddafi, antes de virar desertor comandante-em-chefe dos ‘rebeldes’ e ser assassinado lá mesmo, pelos mesmos “rebeldes da OTAN”.

Ocidentais imbecis, que ainda ontem beijavam barra de túnica africana, em visita que faziam, em fila, à tenda itinerante. Hoje salivam só de ouvir falar de sumarentos acordos comerciais, ainda mais sumarentas perfurações nos campos de petróleo, certos – perfeitos idiotas – que conseguirão evitar a inevitável, monstruosa guerra civil tribal que descerá sobre eles.

O Grande Gaddafi: “Ok. Certo, certo. Então, se assinarem meu cheque, 10% de meio trilhão… 50 bilhões… Eu me mando. Sumo.”

Gaddafi sempre soube por que vieram até ali, mijar no seu tapete. Porque nunca deu a britânicos, franceses e ianques as concessões de petróleo que queriam. Então eles, e os insuperáveis salafrários sauditas, puseram-se a financiar aqueles fanáticos que tinham contatos com a al-Qaeda – exatamente o que fizeram no Afeganistão nos anos 1980s.

Banqueiros-gânsteres inventaram um Banco Central ‘alternativo’ – com a prestimosa ajuda do HSBC – para assaltar a Líbia e roubar o dinheiro dos líbios. E também inventaram uma nova empresa de petróleo, nova, totalmente privada, administrada pelo Qatar, para roubar o petróleo da Líbia.

Ora, ora… Por que ele, Gaddafi, não pensou antes nesse lance de “guerra humanitária”? Que matança utilíssima, teria feito!

O Grande Gaddafi: “Vocês têm a história de vocês, eu tenho a minha. O que digo e provo é que confiei meu dinheiro a vocês e vocês – vocês! – roubaram o meu dinheiro que tinham sob sua guarda.”

A “Coalizão”: “Loucura! Como se algum dia tivéssemos SONHADO com roubar essa merda de dinheiro líbio!”

O que está sendo feito na Líbia terá troco – será horrível. De dar medo.

As bombas da OTAN já degradaram a indústria líbia de petróleo, que voltou ao ponto em que estava, no mínimo, há três anos passado. Mas os canalhas, covardes, não terão coragem de atacar Trípoli. Numa batalha por Trípoli, mulheres e crianças morrerão em massa.

O Grande Gaddafi: Ah, malditos! Fucking fascistas!

Terão de bombardear Trípoli até devolvê-la à idade da pedra – exatamente o que já fizeram em Bagdá. Ou usarão alguma arma biológica alucinada, que fará de Trípoli cemitério e deserto.

O Grande Gaddafi: “Não pode ser. Não será. Não vai ficar assim, ya know, essa violência não pode ficar sem castigo, man.”

OK. Seja. Se esse é o tipo de paraíso que a OTAN e os ‘democratas’ sauditas e qataris querem… o Nosso Chapa árabe lhes dará o que querem – e será como sobreviver no inferno. Mercado livre aberto para todos, uma base do Africom no Mediterrâneo, um governo fantoche, um Karzai da Líbia – e um exército de guerrilheiros fanáticos degoladores que os combaterão por muitas gerações, até o dia do Juízo Final. O Afeganistão remixed.

O Grande Gaddafi procurou The Chocolate Watchband[3] no seu iPod – “passei por aqui / só pra ver / em que condições / estava minha condição” – olhou em volta e andou diretamente para dentro da nem tão fresca noite norte-africana. Os jatos da OTAN circulavam no céu. Ouviram-se sete explosões em Bab al-Aziziyah.

O desconhecido: ‘Meu Chapa’ desapareceu na escuridão – “darker’n a black steer’s tookus on a moonless prairie night”[4]. Sem fundo.

_______

[1] Para ler pensando em “O Grande Lebowiski” [The Big Lebowiski, 1993, dir. irmãos Coen]. Todas as falas aí citadas de Gaddafi, são falas do Grande Lebowski, no filme; falas de outros personagens do filme aparecem atribuídas aí a outros ‘falantes’ (cf. IMDB).
O filme nara a história de Jeffrey Lebowski, apelidado “The Dude” [‘Meu chapa’, ‘meu camaradinha’, ‘o cara’; gíria], que vive em Los Angeles no início dos anos 90s. Uma noite, ‘Meu Chapa’ chega em casa e encontra à sua espera dois homens que lhe dizem que sua mulher deve uma enorme quantidade de dinheiro a um homem chamado Jackie Treehorn; e que ‘Meu Chapa’ tem de pagar a dívida, dado que Treehorn sabe que ‘Meu Chapa’ é riquíssimo. Os homens torturam ‘Meu Chapa’, espancam-no, metem sua cabeça no vaso sanitário e, na saída, urinam no tapete que há na sala e ao qual ‘Meu Chapa’ é emocionalmente muito ligado. A questão é que ‘Meu Chapa’ não tem mulher, nem dinheiro algum; é desempregado crônico e vive de bicos. Os agressores, afinal, vendo, de fato, a miséria da casa onde ‘Meu Chapa’ vive, dão-se contra de que apanharam o Jeffrey Lebowski errado. E vão-se.
Depois de alguma reflexão sobre o ocorrido, ‘Meu Chapa’ aceita a sugestão do amigo Walter, de irem em busca do outro Jeffrey Lebowski, para exigir dele algum tipo de indenização pelo tapete urinado. Para grande surpresa de ‘Meu Chapa’, o outro Jeffrey Lebowski é um velho, preso a uma cadeira de rodas e perfeito canalha ‘de filme’: vive em mansão imensa, com piscina gigante, é violento contra visitantes como ‘Meu Chapa’, tem um capanga-guarda-costas (que bajula o chefe) e uma sexy jovem esposa-troféu – Bunny –, além de muitos tapetes caríssimos. ‘Meu Chapa’ rouba-lhe um tapete e dá-se por bem indenizado. Tapete a mais, tapete a menos, para quem tem tantos…
A história muda de registro quando Bunny é sequestrada e o Lebowiski milionário pede que o Lebowiski-‘Meu Chapa’ lhe sirva de portador, para entregar aos sequestradores o resgate de um milhão de dólares. Daí em diante a coisa é praticamente inenarrável, senão como o filme narra: misturam-se objetos de diferentes planos de discussão – calcinhas, cuecas, um tapete de alto valor sentimental, pornografia, niilistas, carros destruídos, esmalte verde para unhas, um pedófilo, disputas de boliche, para citar alguns itens-ícones. O filme é interessantíssimo e pinta retrato miserável dos EUA onde nem os sobreviventes sabem exatamente porque sobrevivem ou como, e são capazes de vinganças exemplares [NTs].

[2] Coquetel adocicado de vodka. Mais na Wikipedia).

[3] Banda de rock psicodélico ‘de garagem’, criada em 1965. Pode ser ouvida aqui

[4] Ninguém por aqui conseguiu traduzir essa frase. A maioria aprovou que se deixasse como está, a frase intraduzível. Dificilmente seria mais claramente compreensível em português, do que em inglês. Talvez haja, mesmo, algum mistério imperscrutável, nessa frase. Mas, sim, qualquer ajuda é bem-vinda [NTs].

Nota do Maria Frô: O leitor Marcelo Fraga sugere a seguinte tradução: A frase quer dizer algo como “mais escuro que o traseiro de um boi preto em uma noite de pradaria sem lua.”  Tookus é uma corruptela de “tuchus“, uma palavra em iídiche (afinal, várias palavras em iídiche viraram gírias nos EUA).

Maria Fro

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