Ficha Corrida

30/06/2013

A Classe Média “comprou” o direito ao ódio

Filed under: Classe Mérdia,Direita — Gilmar Crestani @ 10:04 am
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Todos meus amigos anti-petistas “estavam” a favor da passeatas. Mas só das passeatas que incluíam a condenação da política de cotas, do ENEM, e dos médicos cubanos. Também são contra a corrupção (petistas), mas não são contrários a pum em elevador ou contra a própria corrupção. Lembrei a eles de quando eram contra as passeatas dos professores e do MST. De nada adiantava. Eram e são, repetiam sem cessar, contra “isso TUDO”. Sob orientação da Globo e demais a$$oCIAdos do Instituto Millenium, queriam e querem “destruir” isso TUDO que está aí. Não conseguem avançar uma frase além dos argumentos fornecidos pela Globo. E é o que sabem fazer de melhor. DESTRUIR!

Se formos observar, ainda sentem saudades de FHC. Neste caso, basta perguntar: qual foi a obra que simboliza o governo de FHC? Qual foi o legado de FHC? Não ousam apontar. Basta que tire a corja petista. Qualquer corja é melhor que a petista. E sequer adianta dar fatos, como o ranking da corrupção, que aponta para uma vitória disparada dos outros partidos. O que só prova que, para esta classe média, a corrupção só existe se disser respeito a alguém fora do próprio espectro ideológico.

Então, quais são os medos que levaram os mesmos que usavam nariz de palhaço contra o ENEM para a rua? O que leva alguém tentar impedir que aqueles que hoje não tem qualquer profissional da saúde para os atender também não possam ter um médico cubano. Um dos argumentos é que já teríamos profissionais e bastaria salários para irem às grotas. Balela. Um médico prefere ganhar R$ 5.000,00 no Ernesto Dornelles do que 10 mil no interior de Iraí. O segundo argumento, ainda nesta questão dos médicos, é que no interior a receita do médico sequer poderia ser aviada numa farmácia.

Perguntei a um determinado interlocutor se ele conseguiria se colocar no lugar de alguém, com algum problema de saúde no longínquo interior,  se o relevante era ter farmácia ou a simples possibilidade de consultar um médico? Eles não conseguem se colocar no lugar de alguém que gostaria, sim, de contar com um médico mesmo que fosse para dizer que determinado sintoma não tem nenhuma relevância, ou então para fazer encaminhamento a um centro próprio para tratar de uma pneumonia. No meu tempo de criança, com dez anos, viajei a cavalo na garupa com meu pai por quinze quilômetros para saber porque minha dor de ouvido não passava. Levamos um dia inteiro para ir  e voltar, de Constantino a Progresso (podem conferir no google maps…) . E assim descobri, sem querer, que também tinha problema cardíaco. Informação que talvez tenha salvado minha vida. Será que é preciso ter passado por isso para poder pensar nos outros. A classe média não tem empatia, não consegue se colocar no lugar dos outros, não consegue imaginar que outras pessoas possam ter necessidades mais básicas? O que faz uma mulher grávida em Porto Alegre nas semanas que antecedem o parto? Toda semana vai ao médico para ver como a criança está. Que alternativas têm as mulheres que moram em lugares distantes dos centros para saber o andamento da gravidez? Uma farmácia resolveria?

Os que são contra a vinda de médicos cubanos tem medo. Só isso, medo atávico de perder algum tipo de privilégio. Ou seria apenas um medo atávico do comunismo…. Será que alguém, tirando o Olavo de Carvalho e o Percival Puggina, ainda acredita que comunista come criancinha? Em nenhum momento passa pela cabeça uma alternativa a quem hoje não tem acesso a médicos. São os mesmos que foram contra a CPMF para a saúde, que são contra os royalties do petróleo para a educação…

São favoráveis à prisão de Lula e Dilma. Mas não dizem um ai sobre como FHC conseguiu a reeleição, nem sobre o que fez com o dinheiro das privatizações. Muitos, apesar de todas as informações que tem acesso, continuam achando melhor a ditadura que a democracia. Então, a questão não é de informação, mas de caráter. O caráter da nossa classe média não impede estacionar em lugar proibido, instalar AZBOX para pegar tv pirata, sonegar impostos ou usar de amigos influentes para ajudar a si próprios ou familiares a conseguirem acesso privilegiado a algum serviço. Dentro os que querem a prisão imediata de Lula e Dilma, conheço quem apresenta até atestado de licença de saúde falso para não ir trabalhar…

O segundo medo diz respeito ao acesso gratuito à educação superior. Aliás, são os mesmos que são favoráveis ao ensino privado. São os mesmos que tem ojeriza às greves de professores porque atrapalham as férias escolares. Em nenhum momento passa pela cabeça que o acesso à educação é uma forma de ascensão social. Quando um dos filhos de uma família de oito consegue curso superior, os demais aguardam a possibilidade de que isso venha ajudar. Não passa pela cabeça pedir ensino público universal. Apenas manter o privilégio para si.

E assim ficamos. Se lá nas grotas não há médico, não há ensino superior, não há acesso aos direitos mais elementares para a melhoria da condição de vida, problema de quem “escolheu viver lá”. A nossa classe média segue um axioma jurídico do século retrasado, de dar a cada um o que é seu: “aos ricos a riqueza; aos pobres, a pobreza”. Nunca ouviram falar na Era dos Direitos, de Norberto Bobbio, mas sabem de cor a última do Arnaldo Jabor. Pior de tudo é pensar que essa gente só tem de seu a arrogância, a empáfia. Muitos que conheço tem por patrimônio a assinatura de tv a cabo. Pirata! Pagam de aluguel o que poderiam pagar de prestação por um apartamento próprio. Mas viajam a Cancum, conhecem a Disney, mas não sabem onde fica a Grécia.

Coimbra: é a classe média anti-petista

A maior vítima é a Democracia

O Conversa Afiada publica impecável artigo de Marcos Coimbra na Carta:

O Sentido das Manifestações

Enquanto perdem fôlego e amainam as manifestações de protesto que afetaram o País nas últimas semanas, está na hora de procurar entender seu significado.
Uma das maiores dificuldades para compreendê-las é que não tiveram sentido único. Salvo, talvez, nos primórdios, quando usuários de transportes públicos foram às ruas em São Paulo para reclamar do aumento no preço das passagens. Lá, ainda tínhamos o cenário que explica as mobilizações sociais mais características: causa concreta, pessoas afetadas concretamente, reivindicações concretas.
Muito se diz que as manifestações seguintes foram novas. Diferentes, por exemplo, das que a direita fez pela deposição de João Goulart ou das que empurraram o governo Collor para a crise final.
Mas, será que a “horizontalidade” e a “difusão” das atuais as tornam mesmo originais?
Não terá existido, nas manifestações deste mês de junho, um segmento que desempenhou papel definidor análogo ao dos anticomunistas e dos conservadores católicos nas marchas de 1964? Dentre os muitos tipos de gente que foi às ruas, não houve um que forneceu personalidade ao “movimento”?   
Para identificar o sentido das que aconteceram agora, temos o perfil mais típico dos participantes, suas bandeiras mais características e as reações mais comuns que suscitaram.
Nada ilustra melhor a mudança do perfil socioeconômico dos manifestantes que a imagem veiculada pela TV Globo nos primeiros jogos do Brasil na Copa das Confederações: madames vestidas a caráter e cheias de balangandãs, brandindo cartazes sobre o “fim da corrupção” e fazendo propaganda de um endereço no Twitter. Os jovens que, no YouTube, se tornaram astros dos “insatisfeitos”, parecem seus filhos ou irmãos.
No conteúdo, o elemento central da “ideologia das ruas” foi a crítica à representação política e às instituições, particularmente os partidos políticos. Os manifestantes gritaram País afora que não se sentiam representados por ninguém, que estavam na rua para denunciar os “políticos” e “fazer política com as próprias mãos”. As vagas perorações em favor de “mais verbas para a educação e a saúde” ou contra os “gastos exagerados na Copa do Mundo” nada mais foram que pretextos para externar sua aversão ao sistema político e ao governo.     
Quem monitorou as redes sociais durante esses dias percebeu que os defensores mais entusiastas das passeatas foram os antipetistas radicais. Esses é que se sentiram em íntima comunhão com os participantes e torceram para que as manifestações escalassem, enfraquecendo o governo e prejudicando as chances de reeleição da presidenta.
Para dizer o óbvio, quem deu o sentido das manifestações foi a classe média antipetista, predominantemente de direita. Nem sempre, nem todos os participantes, mas em seu núcleo característico.
Ou seja: embora tenham participado do movimento desde punks neonazistas a adolescentes apenas curiosos (e mesmo gente genuinamente progressista), seu rosto é nítido.   
A classe média antipetista tem motivos reais para estar insatisfeita com a representação que tem. Ao contrário do cidadão que simpatiza com o PT e outros partidos de esquerda, e que majoritariamente aprova o governo, ela se sente mal representada.   
Faz tempo que Fernando Henrique Cardoso lhe dá razão. Em texto de 2011, em que tentava explicar a vitória de Dilma e definia novos caminhos para a oposição, propunha ao PSDB que deixasse o “povão” para o PT e fosse procurar a classe média: “É a essa que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente”. Dizia que  o partido precisava “mergulhar na vida cotidiana” e encontrar “ligações orgânicas com grupos que expressem as dificuldades e anseios do homem comum” (leia-se, de classe média).
Lembrava que havia “toda uma gama de classes médias”, empresários jovens, profissionais, “novas classes possuidoras”, que estariam “ausentes do jogo político-partidário, mas não desconectadas das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.”. Considerando seu “pragmatismo”, o discurso para atraí-las não deveria ser “institucional”, mas centrado em temas como a corrupção, o trânsito, os problemas urbanos, os serviços públicos.
FHC queria uma oposição que “suscitasse o interesse” da classe média e lhe “oferecesse alternativas”. Se não conseguisse ser “uma alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais confie”, sequer adiantaria “se a fagulha da insatisfação produzisse um curto-circuito”.
Falou, mas não fez. Nessa, como em outras oportunidades, as oposições brasileiras mostraram-se mais competentes na conversa que na ação. Perceberam os desafios, mas não lhes deram resposta.
Foram de Serra, quando precisavam renovar-se. Apresentam Aécio como prosseguidor da “herança de FHC”. Nada fizeram para “organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas”, como sugeria o ex-presidente.  
Presas de seus paradoxos, as oposições criaram a crise de representação dos setores da sociedade a quem pretendiam (e deveriam) expressar. Talvez principalmente, foi a impaciência das classes médias antipetistas com a oposição que as levou às ruas.
Depois, é claro, de um ano de ataque da mídia conservadora ao governo. Seus estrategistas acharam que conseguiriam, através de incursões cirúrgicas, eliminar somente as lideranças do PT. O que fizeram foi ferir valores fundamentais da democracia.

Coimbra: é a classe média anti-petista | Conversa Afiada

3 Comentários »

  1. Muito bom esse texto,bem o que eu pensei “sobre tudo isso que está aí”.estou lendo e relendo ..Acertou na mosca.parabéns!

    Comentário por Ana lucia tcatch — 01/07/2013 @ 9:52 pm | Responder

  2. Republicou isso em O LADO ESCURO DA LUA.

    Comentário por anisioluiz2008 — 30/06/2013 @ 3:46 pm | Responder

  3. Republicou isso em SUSCETÍVEL FEBRIL.

    Comentário por vieiraeuclidessantana — 30/06/2013 @ 12:57 pm | Responder


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