Hoje de manhã, como faço todas as manhãs, me deparei com a manchete fora de contexto da Folha sobre a Copa. Confesso que fiquei atônico, sem entender o que estava se passando. Fui conferir se não não era um site fake, uma Falha de São Paulo. Não. Não era. Por razões diversas, outros blogs sujos também fizeram leituras diferentes sobre o mesmo fenômeno sobrenatural. A pergunta que subjaz a todos os que acompanham a histeria hidrófoba da mídia em relação à Copa é como foi possível uma campanha obcecada contra a Copa sem qualquer lastro com a realidade e tenha sido engolida sem qualquer análise pela manada que segue bovinamente tudo o que a velha mídia manda fazer. Tanto o Nassif como o Tijolaço tiveram a mesma perplexidade. Embora tenhamos enveredado pelos vias diversas, o ponto de chegada é o mesmo: quem vai se responsabilizar pelos imensos prejuízos causados à imagem do Brasil, à conta do psiquiatra do Paulo Coelho, a todos os imbecis que ficam imprecando contra a Copa sem apresentar um único argumento com fundamento senão a repetição daqueles que torcem contra a Copa com o único sonho de, como isso, tentar prejudicar Dilma. Se preciso fosse, e se resolvesse em dividendo eleitoral, jogariam novamente Bomba no Riocentro…
A seguir, o que publiquei esta manhã. Abaixo, na sequência, o texto do Tijolaço:
As empresas de mídia atreladas aos partidos de oposição vislumbraram nos tumultos contra a Copa uma forma de alavancar o peso morto de seus candidatos. O IBOPE de ontem sepultou de vez os morto-vivos como Aécio Neves. Hoje, a Folha saiu de sua contumaz crítica aos gastos para a Copa. Em nenhum momento a Folha divulgou que não há dinheiro público nos investimentos dos estádios, apenas empréstimos, que por serem empréstimos devem ser pagos, do BNDES. Até aí, as cinco famiglias (Civita, Frias, Mesquita, Marinho & Sirotsky) do Instituto Millenium também se valem dos empréstimos do BNDES. Os investimentos públicos das três esferas (Federal, Estaduais e Municipais) estão voltados às obras de mobilidade urbana. As ruas, viadutos, calçamentos continuarão existindo depois da Copa. São o legado. A Folha nunca publicou, por razões óbvias, que não há nenhum centavo do orçamento Federal destinado à construção dos Estádios. Pior do que a manipulação dos grupos mafiomidiáticos atrelados à direita hidrófoba é a manada que não usa nenhum dos dois neurônios antes de distribuírem desinformações.
Quando um Ministro do Governo Dilma dá alguma declaração que possa ser explorada politicamente pela oposição, como aquela do Guido Mantega dizendo que o Governo trabalha para que os preços não subam, a Folha dá em manchete para acusar o governo de “intervencionismo econômico”. Quando os eventuais futuros ministros do candidato Aécio Neves falam que está muito alto o salário mínimo, ou que precisam privatizar a Petrobrás e o Banco do Brasil e provocar mais arrocho salarial, aí a Folha fecha-se em copas.
Se o custo da Copa equivale a um mês de gastos com educação, os milhões sonegados pela Globo e pelo Itaú, custeariam a educação por quantos meses?!
Quando se cai na real, a conversa sobre a Copa é outra
23 de maio de 2014 | 08:55 Autor: Fernando Brito
Com anos de atraso, a Folha publica hoje um levantamento feito pelos repórteres Gustavo Patu, Dimmi Amora e Filipe Coutinho que, como e diz nas conversas informais, “baixa a bola” dos “gastos absurdos com a Copa do Mundo”.
É o que dá ter raros momentos de jornalismo correto na mídia brasileira, porque não é nenhum “furo”, mas apenas a compilação de dados que são e sempre foram públicos.
A começar pela abertura do texto escrito pelos três:
Mesmo mais altos hoje do que o previsto inicialmente, os investimentos para a Copa representam parcela diminuta dos orçamentos públicos.
Alvos frequentes das manifestações de rua, os gastos e os empréstimos do governo federal, dos Estados e das prefeituras com a Copa somam R$ 25,8 bilhões, segundo as previsões oficiais.
O valor equivale a, por exemplo, 9% das despesas públicas anuais em educação, de R$ 280 bilhões.
Em outras palavras, é o suficiente para custear aproximadamente um mês de gastos públicos com a área.
E eles próprios se encarregam de dizer que nem sequer é assim, porque estes gastos diluíram-se pelos últimos sete anos e, sobretudo, porque uma parte ( a maior parcela, 32%) é feita com financiamentos de bancos públicos (quase toda do BNDES) e vai retornar.
Adiante falarei dela.
Bem, do gráfico publicado, conclui-se que o Governo Federal gastou R$ 5,8 bi diretamente com a Copa: R$ 2,7 bi na modernização e ampliação dos aeroportos, R$ 1,9 em segurança pública – quase tudo equipando, a fundo perdido, as polícias estaduais -, R$ 600 mil em portos, R$ 400 mil em telecomunicações e R$ 200 milhões em gastos diversos.
Aeroportos e portos, além de serem serviços públicos essenciais ao desenvolvimento econômico, geram receitas de tarifas e concessões.
Nenhum tostão, como você vê, em estádios.
Do dinheiro dos estádios, um total de R$ 8 bilhões, perto da metade veio de financiamentos federais, através do BNDES, de duas formas: debêntures e empréstimos.
Debêntures são “letras” financeiras e, no caso do estádio, seus tomadores pagam 6,2%% de juros mais a inflação do período.
No caso dos empréstimos, os tomadores, além de oferecer garantias, têm de pagar TJLP (taxa de juros de longo prazo), que de 2009 para cá variou entre 6,25% e 5%, mais 1,4% (taxa BNDES + intermediação financeira), mais risco de crédito (até 4,18%), além da taxa que o o tomador pagará a o banco operar o crédito. No total, portanto, pagam juros muito semelhantes (em geral um pouco maiores, em alguns momentos frações de centésimo menores) que a taxa de juros com que o Governo capta dinheiro no mercado.
Isso quer dizer que não houve empréstimo subsidiado pelo Governo Federal?
Sim, houve, maiores. E continuam existindo, independente de Copa.
São os recursos para obras de mobilidade urbana que, só nos empreendimentos ligados à Copa, receberam R$ 4,4 bilhões.
Como é isso: o BNDES financia contrando TJLP + 2% no caso de o empréstimo ser tomado por Estados e Municípios ou por TJLP + 1% + risco de crédito de até 4,18% no caso do financiamento ser feito por empresa privada.
Convenhamos que é uma forma muito mais adequada de o banco usar seus recursos em favor da população do que, como fez em 2002, aplicar R$ 281 milhões (R$ 1 bilhão, hoje, corrigidos pela taxa Selic) na Net, então propriedade dos Marinho (a família mais rica do Brasil), que estava enforcada de dívidas.
No caso dos Estados e Municípios, a grande maioria, boa parte dos gastos vem das contrapartidas locais para obras de mobilidade (R$ 2,4 bi, ou 41%) e os restantes R$ 3,3 bilhões em gastos diretamente com obras dos estádios e com as do seu entorno (ruas, praças, pátios, passarelas).
Os números insuspeitos publicados pela Folha vêm na mesma linha daquilo que ontem se comentou aqui.
Tirando os gastos imprevistos de três governos estaduais (Sérgio Cabral , com o Maracanã, Agnelo Queiroz, com o Mané Garrinha e Aécio Neves-Anastasia como Mineirão, que começou as obras ainda na gestão do atual candidato do PSDB à Presidência), os outros dois estádios que custaram muito mais do que o inicialmente previsto, o Beira-Rio e o Itaquerão, foram tocados pela iniciativa privada.
Há uma hidrofobia de direita implantada na mídia e em parte da classe média que eclipsa qualquer capacidade de exame racional dos fatos.
Se eu fosse um obtuso irracional, que não reconhecesse o direito de uma categoria profissional essencialíssima , como a dos professores, poderia dizer que se gastou muito mais que aquele “um mês” de Educação que a Copa custou com as greves e paralisações (em geral, justas) do magistério.
E isso seria uma apelação, porque eu estaria colocando nos direitos dos professores a “culpa” das nossas históricas carências no setor.
Colocar na Copa a “culpa” pelos problemas da educação, da saúde, da assistência social, da habitação é, igualmente, uma estupidez.
Que só tem um fundamento, embora a maioria dos que fazem isso não o percebam: as eleições.