Ficha Corrida

25/11/2011

Grêmio, fonte de inspiração!?

Filed under: Grêmio,Ronaldinho — Gilmar Crestani @ 8:45 am
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Como fazia aquela famosa empresa que emprega Ali Kamel e vive da venda de informações, estou apenas testando hipóteses. Uma das hipóteses diz que Ronaldinho estava olhando o jogo do Grêmio com o Ceará. Ronaldinho, desde o mundial de 2006, fica excitado sempre que houve a palavra Ceará… A outra versão, menos popular, é de que estava comemorando a contratação do gladiador… Há também quem diga, deve ser gremista, que ficou excitado por saber que Rodrigo Moledo vai marcá-lo no domingo.

Na Itália, irmão de Ronaldinho diz desconhecer vídeo, mas suspeita de montagem

borges_luciano às 17:22

Terra

O ex-jogador Assis é observador técnico do Milan e está na Itália Foto: Terra

Por Luciano Borges

Assis Moreira, irmão e empresário de Ronaldinho Gaúcho, evitou falar sobre o vídeo postado na internet que mostra o jogador supostamente se masturbando, nu, com um gorro na cabeça. “Não sei exatamente o que é isso. Estou na Europa, não estou no Brasil. Já me informaram pelo celular que este vídeo está aí, mas não vou falar nada porque não sei do que se trata”, disse.

Ele levantou a possibilidade de se tratar de uma edição que colocasse o irmão mais novo em uma situação constrangedora. “Não sei se isso aí é uma montagem”, falou o ex-jogador formado no Grêmio nos anos 80. O representante do atleta do Flamengo comentou: “Alguém que botou isso aí, alguma menina”.

Assis está em Milão. Garante que não foi ä Itália para tratar de assuntos referentes a Ronaldinho. No Brasil alguns veículos de comunicação divulgaram que o meia do Flamengo poderia voltar ao exterior. Dois clubes (Los Angeles Galaxy, dos EUA, e Panathinaikos, da Grëia) já o teriam procurado.

Assis nega. “Vim para cá para trabalhar”, falou. Ele é observador técnico do Milan, com quem tem contrato até 2014. Sua missão é ficar de olhos em jogadores do Brasil mandando vídeos e observações sobre quem pode vestir a camisa milanesa. “São relatórios sobre novos talentos, que estão se destacando. Tudo é feito em sigilo”, contou.

O vídeo atribuído a Ronaldinho Gaúcho aparece num momento em que o atleta anda na mira da torcida do Flamengo. O time carioca está na briga por uma vaga na Libertadores da América de 2012, mas tem alternado bons e maus momentos em campo. Nesta semana, representantes de uniformizadas tentaram falar diretamente com atletas. Conseguiram um contato rápido com o zagueiro Alex Silva e se reuniram com dirigentes rubro-negros.

Ronaldinho foi trabalhar no Ninho do Urubu com proteção de seis seguranças. Não houve nenhuma tentativa de alguns torcedor tentar abordá-lo de maneira mais ríspida. Além disso, no meio da semana passada, o jogador se recusou a participar de uma ação com o patrocinador levado pela 9ine, empresa de Ronaldo Nazário, ao Flamengo.

Segundo informações publicadas em jornais do Rio, Ronaldinho estaria com boa parte de seus salários atrasada.

Blog do Boleiro – por Luciano Borges » Na Itália, irmão de Ronaldinho diz desconhecer vídeo, mas suspeita de montagem

13/11/2011

USP, universitários não querem volta aos tempos da ditadura

Filed under: Invasão da Reitoria da USP,Isto é PSDB! — Gilmar Crestani @ 10:14 am
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Tags:Como nos tempos da ditadura, USP – walterfm1 às 11:17

–1.Os universitários da Universidade de São Paulo continuam a se mobilizar e muitos insistem no fim do Convênio com a Polícia Militar e a volta de um corpo próprio  de funcionários para manter a segurança no campus.

–2.  Como no tempo das ditaduras. Só para lembrar.

No dia 27 de outubro, a Polícia Militar, no campus da Universidade de São Paulo, desnudou a política de segurança pública do governador Geraldo Alckmin. Uma política de matriz filo-fascista conhecida desde o chamado massacre da Castelinho. Embora violenta, tal política foi desmoralizada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), que se espalha e difunde o medo, sem ser contrastado com eficácia, pela periferia da capital paulista.

Enquanto o Rio de Janeiro, depois da chegada de José Mariano Beltrame à secretaria e sua decisão de pôr fim ao populismo bélico do governador Sérgio Cabral, investe na pacificação, o governador de São Paulo, ainda que sem Saulo de Castro a papaguear máximas malufistas na pasta da Segurança Pública, insiste na militarizada, direitista e populista linha conhecida por Lei&Ordem e as derivantes Tolerância Zero e  War on Drugs (Guerra às Drogas).

Nelas sucumbiram Felipe Calderón, presidente mexicano, e George W. Bush, que perseguia com a polícia federal usuários terapêuticos de maconha e bateu à porta da Corte Suprema de Justiça para postular a declaração de inconstitucionalidade de leis estaduais que permitiam aos doentes o uso de maconha para finalidade terapêutica, por indicação médica. E não deve ser esquecido Rudolph Giuliani, morto politicamente por colocar, quando no segundo mandato de prefeito de Nova York, sob permanente suspeita de autoria de crimes, negros e latino-americanos e por encetar perseguições cotidianas, com prisões de bebedores de cerveja apanhados ou por embriaguez ou por terem urinado nas ruas.

A war on drugs de Alckmin ataca no varejo, ou seja, mira no ilícito de menor potencial ofensivo, sujeito a juizados de pequenas causas criminais. O último solar exemplo acaba de acontecer com a detenção de três universitários que consumiam, para fins lúdicos recreativos (não medicinal), maconha do campus da USP. A polícia não reprime os grandes traficantes e adere ao truísmo bushiano-religioso de que sem consumo não haveria oferta. Assim, sai atrás dos maconheiros, e não dos traficantes.  Um dos maiores traficantes do planeta, Juan Carlos Abadia, fixou residência e operou durante anos em São Paulo, sem ser molestado pela polícia paulista.

Após a consumação por pessoas estranhas ao campus da USP de crimes graves, celebrou-se um acordo, pelo prazo de cinco anos, voltado “a reforçar a proteção” à população do campus da USP. Esse acordo foi firmado pelo comando da PM e por Grandino Rodas, aquele que não encabeçava a lista de selecionados para o múnus de reitor,  mas acabou escolhido pelo então governador José Serra, apesar das inúmeras trapalhadas à frente da Faculdade de Direito.

À época o acordo contou com a aprovação da maioria dos universitários, ainda sob comoção decorrente do latrocínio (matar para roubar) do estudante Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos. Hoje, e sabedores da política de segurança do governo Alckmin, os universitários e os trabalhadores do campus desejam a revisão do tal acordo e cogitam uma greve geral.

Com a detenção dos três estudantes surpreendidos a fumar maconha em estacionamento para automóveis, houve reação desproporcional, radical, por parte dos colegas dos detidos. O exagero daqueles que se sentiram ameaçados por policiais num território tradicionalmente livre de ideais libertários. Outro caminho deveria ter sido trilhado pelos universitários que estão legitimados a postular a revisão do acordo com a PM e a exigir segurança por meio de um adequado corpo de funcionários da própria USP, ainda que Grandino Rodas prefira a PM.

Do confronto entre estudantes e policiais, chegou-se à ocupação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, à migração, por uma minoria enfurecida e derrotada em assembleia, para o prédio da reitoria e a reintegração coercitiva da posse. Aí, a Polícia Civil Judiciária perpetrou a ilegalidade de enquadrar os universitários como criminosos organizados em quadrilha e bando.

Uma PM despreparada para tratar com universitários foi a causa imediata de tamanho tumulto. Em agosto de 2007, a mesma PM invadiu a Faculdade de Direito da USP e isso levou o saudoso professor Goffredo da Silva Telles a elaborar e anunciar a famosa Carta aos Brasileiros, onde advertiu sobre os resquícios autoritários e proclamou o Território Livre.

A causa do desacerto no campus, frise-se, decorre da política eleita por Alckmin, num tempo em que o direito penal se humaniza. Até para crimes graves usam-se institutos que isentam de processos, condenações ou penas: plea bargaining, pattegiamento, delação premiada, desassociação, bagatela-insignificância.  Além disso, ensina a máxima romana que “de minimis non curat praetor”.

Pano Rápido: “Todos os estudantes foram conduzidos à delegacia, sem que fosse necessário nem um disparo”, vangloriou-se o secretário da Segurança. Pelo que disse, disparos de arma de fogo tinham sido previstos. Só faltou o grito do anauê integralista.

Sem fronteiras » USP, universitários não querem volta aos tempos da ditadura

12/11/2011

Ainda sobre Lula e o SUS

Filed under: Câncer,Lula,SUS — Gilmar Crestani @ 9:16 am
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Aloisio Mauricio/15.set.2011/Terra Magazine

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e o prefeito, Gilberto Kassab, em passeio simbólico de metrô na inauguração de nova estação

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e o prefeito, Gilberto Kassab, em passeio simbólico de metrô na inauguração de nova estação

José Luiz Teixeira
De São Paulo

O fato de Lula estar se tratando no Hospital Sirio-Libanês, e não no SUS, ainda está gerando discussão pela internet.

De um lado, muita gente pergunta por que o ex-presidente não recorreu ao serviço público.

Os petistas contra-atacam, acusando essas pessoas de preconceituosas, pois não admitiriam um ex-operário usar um hospital da elite.

No fim, o tema acaba se transformando em bate-boca e deixa em segundo plano a verdadeira discussão sobre o assunto, que é a relação entre autoridades e serviços públicos no Brasil.

De qualquer forma, ganhou corpo entre internautas uma proposta que, apesar de romântica, não deixa de ser interessante.

Trata-se da sugestão de que todos os homens públicos usem os equipamentos públicos pelos quais têm obrigação de zelar.

Nesse caso, Lula teria de enfrentar a fila do SUS e torcer para ser atendido enquanto ainda fosse tempo.

O governador paulista Geraldo Alckmin dirigiria seu próprio carro sem seguranças pelas perigosas ruas do bairro do Morumbi, onde fica a residência oficial.

O prefeito paulistano Gilberto Kassab faria seu trajeto para o trabalho, no centro da cidade, de ônibus.

Deputados, vereadores e senadores colocariam seus filhos nas escolas públicas. E assim por diante.

É o que propõem internautas notadamente apartidários, que não querem saber se o político em questão é tucano ou petista.

Os mais otimistas sonham que só assim as coisas funcionariam melhor em nosso País.

A maioria, porém, vê na proposta um castigo àqueles que malversam o dinheiro público.

Por bem ou por mal, é uma ideia a se considerar.

José Luiz Teixeira é jornalista. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais as rádios Gazeta, Tupi e BBC de Londres, e os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Folha da Tarde.

Fale com José Luiz Teixeira: jl.teixeira@terra.com.br

Ainda sobre Lula e o SUS – Terra – José Luiz Teixeira

09/11/2011

No Chile, Pinochet; e na USP?

Filed under: Chile,Invasão da Reitoria da USP,Miguel Littín,Pinochet — Gilmar Crestani @ 9:15 am
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Littín: Repressão a estudantes mostra que violência de Pinochet reapareceuDawson Ilha 10, de Miguel Littín, conta a história dos ex-ministros de Allende confinados num campo de concentração, após o golpe militar de 1973

"Dawson Ilha 10", de Miguel Littín, conta a história dos ex-ministros de Allende confinados num campo de concentração, após o golpe militar de 1973

Claudio Leal

O presidente chileno Salvador Allende, deposto por um golpe militar em 11 de setembro de 1973, retorna espectral no filme "Dawson Ilha 10 – A verdade sobre a ilha de Pinochet", do cineasta Miguel Littín, 69 anos, um dos mais importantes diretores latino-americanos. Inspirado no diário do ex-ministro Sergio Bitar, Littín reconstitui o confinamento dos membros do governo Allende num campo de concentração, onde gramaram maltratos e amarguras de "prisioneiros de guerra". Humilhados pelos militares, os ex-ministros se revelam atarantados com a morte de Allende, um vulto recorrente na formação política do diretor.

Protagonista de "Clandestino no Chile", do romancista Gabriel García Márquez, Miguel Littín dirigiu "El Chacal de Nahueltoro" (1969), "Alsino y el Condor" (1981) e "Acta General de Chile" (1986), entre outras obras, e permanece vigoroso em "Dawson Ilha 10", um relato que não deixa de refletir sobre a violência irrompida em regimes militares de países sul-americanos como Brasil e Argentina. Ele compara a eclosão irracional de ódios às ratazanas de "A Peste", de Albert Camus: depois de aparentarem sumiço, recobram a vitalidade e infestam as ruas.

– Há um Chile que o mundo quer: o Chile de (Pablo) Neruda, de (Gabriela) Mistral, dos poetas, de Roberto Matta… E há o Chile com os militares de Pinochet, que ainda está presente. No Chile há uma grande manifestação estudantil, que reivindica todos os direitos humanos progressistas e tolerantes. Ao mesmo tempo, há uma força policial que é tão repressiva quanto a de antes. Pensávamos que isso houvesse desaparecido, mas ela volta a aparecer, como os ratos de "A Peste", de (Albert) Camus. Estavam escondidos por aí – analisa Littín, em entrevista a Terra Magazine.

Coprodução do Chile, Brasil e Venezuela, o filme incorporou dois atores brasileiros: Bertrand Duarte e Caco Monteiro, que atuam com competência e sutileza na narrativa. Na ilha da costa do Estreito de Magalhães, ressurge Orlando Letelier, o diplomata chileno assassinado em Washington, num célebre atentado da Operação Condor (uma aliança político-militar, com os dois pés na delinquência, das ditaduras militares da América do Sul). O protagonista do próximo longa-metragem de Littín será o próprio Salvador Allende. O diretor procura esvaziar a tese do suicídio no Palácio La Moneda:

– Questiono, sim. Penso que há uma lógica que não se explica através da tese do suicídio. Por que um homem fica sete horas resistindo? Das sete da manhã até as duas da tarde, lutando e resistindo, no La Moneda? Porque queria inscrever os princípios de sua luta na memória humana.

No Brasil, o filme será exibido em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Confira a entrevista.

Terra Magazine – Em "Dawson", o senhor oscila entre o preto e branco e o colorido…
Miguel Littín – Na natureza mesmo do relato cinematográfico, há uma mistura, uma química entre o documentário e o relato…

E a memória dos personagens.
É uma unidade estética para exprimir os acontecimentos que ocorreram e que estão na memória do protagonista.

O roteiro foi construído a partir do diário de um dos prisioneiros da ilha Dawson?
Sim, Sergio Bitar foi ministro de Minería e escreveu um diário que se chama "Isla 10". Tomei como base esse diário e fiz uma pesquisa profunda com as pessoas que viveram essa experiência. Baseia-se nas coisas que aconteciam todos os dias: o frio, a chuva, a solidão, a comida, o humor, buscando uma linha muito delicada, com a memória sobre Allende. Porque Allende está sempre presente em todos. É um governo inteiro que foi transferido para um campo de concentração. A memória de Allende está sempre presente. É uma linha muito sutil: Allende, Allende, Allende… Incorporei essa linha dramática.

Por baixo dessa camada há uma violência e uma revolta dos derrotados…
Existe uma tensão, que está presente até hoje. Vivemos uma sociedade tensionada. Foi um momento que marcou a fogo.

O narrador se pergunta: "Onde erramos?". O senhor arrisca uma resposta?
Não tenho resposta. Creio que existem muitas coisas. A economia, um ponto mais, um ponto menos… Mas este assunto da sociedade é muito complexo para responder ligeiramente. Por que erramos? Não tenho resposta. Toda sociedade erra, permanentemente. Para o personagem, no primeiro momento, o "onde erramos" se refere à possibilidade de conquistar aquilo que queríamos: fazer uma aliança com a compreensão do outro. Mas isso só faz ampliar, ampliar (a questão)… Não tenho resposta. Quem sabe, no próximo filme, apareça uma resposta. É o mesmo que a pergunta: Quantos Chiles existem dentro do Chile? Claro, há um Chile que o mundo quer: o Chile de (Pablo) Neruda, de (Gabriela) Mistral, dos poetas, de Roberto Matta… E há o Chile com os militares de Pinochet, que ainda está presente. No Chile há uma grande manifestação estudantil, que reivindica todos os direitos humanos progressistas e tolerantes. Ao mesmo tempo, há uma força policial que é tão repressiva quanto a de antes. Pensávamos que isso houvesse desaparecido, mas ela volta a aparecer, como os ratos de "A Peste", de (Albert) Camus. Estavam escondidos por aí.

Que é uma questão presente em toda a América Latina. No Brasil, na Argentina… No filme, um dos generais chega a dizer: "Vocês não são mais chilenos, são prisioneiros de guerra". É como se, de repente, brotasse um sentimento irracional?
Sim, é isso. Para eles, não eram mais chilenos. Há um personagem, o Orlando Letelier, que diz: "Eu sou chileno, nasci chileno e serei chileno". Tiraram Orlando Letelier da ilha e o mataram em Washington (o diplomata e ativista político foi assassinado nos Estados Unidos, em 1976. A morte é atribuída à Operação Condor). Efetivamente, essa força não pensa. Essa força ofensiva que corresponde ao grande capital, aos grandes monopólios… Não pensa se é asiático, árabe, brasileiro, chileno, boliviano… Não. É um inimigo a ser extirpado.

Seu filme reflete muito melhor a ditadura chilena do que o cinema brasileiro conseguiu fazer com sua respectiva ditadura, iniciada em 1964. Os filmes brasileiros costumam ser rasos ao abordar esse período. O senhor percebe diferenças na forma como os países latino-americanos encaram suas mazelas políticas?
Eu diria que há um movimento no cinema que, de alguma maneira, persiste. Há cineastas em toda a América Latina fazendo documentários, ficções, e permanecem nessa linha. Não é um problema nacional. É universal. Em todos os países, diria, existe isso. No Chile, durante muito tempo, se dizia que não deveríamos falar disso, porque não era bom…

Pra pacificar o País.
Contudo, permanecemos insistindo, insistindo, insistindo… A estética é a ideologia. Esteticamente, vivemos um mundo que está tendo problemas. A profunda desigualdade da nossa sociedade tem um caráter de violência.

O cinema que o senhor faz é também uma resistência?
Em toda a América Latina há uma geração que está buscando uma poética da resistência. A política é do partido político. O cinema é uma estética, uma arte em que o homem tem que pensar, de acordo com os sentimentos. A arte cresce na medida em que se compromete com a realidade, com o homem, com sua relação com a natureza.

Alllende é uma figura fantasmagórica na cabeça dos ex-ministros presos na ilha. Para sua geração, no Chile, o que representa Salvador Allende?
Para mim, é um sentimento vivo. Não concebo a realidade emocial sem Allende. Porque está presente. Cada vez que defendo os direitos dos outros, cada vez que vejo um gesto de solidariedade, está ele presente.

No caso dos estudantes também?
Claro, no caso dos estudantes agora. A cada cinco bandeiras, quatro correspondem à imagem de Allende. Ele está absolutamente vivo. É incrível, maravilhoso, impressionante. E eles (os estudantes) foram educados para não saber o que significa Allende. Não é um culto à personalidade, mas é um culto aos valores e aos princípios democráticos, solidários, amorosos. É um movimento contra os lucros na educação e pelos direitos de todos.

O filme questiona a versão do suicídio de Allende. É sua convicção?
Questiono, sim. Penso que há uma lógica que não se explica através da tese do suicídio. Por que um homem fica sete horas resistindo? Das sete da manhã até as duas da tarde, lutando e resistindo, no La Moneda? Porque queria inscrever os princípios de sua luta na memória humana.

O suicídio não fazia sentido nesse contexto?
Não tem nenhum sentido. Se ele acorda às sete da manhã, sabe que há um golpe militar, toma um avião e se vai, não estaria dentro dos princípios que ele defendeu. Se ele se mata, tampouco estaria defendendo seus princípios. Ele era um homem desarmado. Ele não queria a via armada, queria a via desarmada, pelo voto, para defender os princípios da paz e da convivência humana. E o outro atua irracionalmente: queima, assalta e mata.

Seu próximo projeto será sobre Allende. É um documentário?
Não, uma ficção. É uma trilogia. Dawson, Allende… E a outra ainda não sei. É uma coprodução com Argentina, Chile, Venezuela e Brasil.

Terra Magazine

Littín: Repressão a estudantes mostra que violência de Pinochet reapareceu – Terra – Cinema

07/11/2011

Alckmin e os universtiários

 

Confusão com universitários deixa Alckimin acuado e com risco de a PM transformar o campus da USP numa nova Casa de Detenção

Tags:Invasão da reitoria da USP, maconha, Riscos – walterfm1 às 16:04

A Ciência Vence a Pol�cia Militar  ?

A Ciência Vence a Polícia Militar ?

Por causa de um delito de menor potencial ofensivo, chamado crime de bagatela pela doutrina penal italiana, a Polícia Militar de São Paulo deu causa, no campus da Universidade de São Paulo, a uma “pantagruélica” confusão.

Em vez de proteger o campus com  repressão a criminosos  perigosos que, em áreas não movimentadas do campus,  matam, estupram, sequestram, roubam e traficam drogas proibidas, agentes da Polícia Militar resolveram, num estacionamento, revistar universitários e apreender três cigarros de maconha. A propósito, o porte de drogas proibidas para uso próprio não leva à condenação de prisão.

A reação desproporcional, ocupação de prédios, foi a resposta de momento por parte dos  universitários que, com toda a razão, não desejam ações policialescas e fascistóides, como a ocorrida na quinta-feira passada que deu causa à mobilização estudantil. Mais um complicador diz respeito ao reitor, Grandino Rodas, pessoa bem conhecido pela falta de habilidade no trato com estudantes.

Uma Polícia Militar educada para legalidade democrática, e treinada de forma adequada para tratar com  estudantes em ambiente universitário, teria evitado tamanha confusão. Estudantes da Universidade de São Paulo, no campus, devem merecer consideração, respeito, proteção. Não pode o universitário ser  objeto de presunção de criminoso, pela mera condição de universitário de cursos superiores.

A atuação imprópria num campus universitário, como a de suspeitar e revistar estudantes pacíficos e em saída de aula, ocasiona reações previsíveis, ainda que desproporcionais à afronta cometida pelos policiais militares.

Para piorar o quadro no campus da USP, um grupo de universitários, derrotado em assembléia, deixou o prédio invadido da faculdade para migrar para o da Reitoria, onde se instala o odiado Rodas: o grupo derrotado cumpriu a vontade da maioria no sentido de deixar o prédio da faculdade. Só que, a demonstrar  inconformismo não democrático, invadiu a  Reitoria.

A liminar judicial de desocupação voluntária da Reitoria abre ensejo a uma  grande preocupação.

No caso de não desocupação no prazo judicial conferido, que o governo resolveu prorrogar até a próxima segunda-feira,  medidas coercitivas deverão ser iniciadas. Medidas coercitivas que vão implicar em nova ação da Polícia Militar, com apoio do secretário da Segurança, um ex-policial militar que se mantém na pasta contra a vontade do governador Alckimin.

O governador Geraldo Alckimin sabe bem a respeito do reitor Grandino Rodas: ele foi escolhido por Serra, apesar de ser o último da lista tríplice. Mais ainda, Rodas restou escolhido por Serra após ter realizado inúmeras trapalhadas quando  diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Alckimin não  esqueceu, certamente, da ação assassina do batalhão de choque da Polícia Militar na Casa de Detenção. Assim, deverá o governador ter cautela redobrada e se aproximar dos professores com bom trânsito entre os alunos, tudo para recolher conselhos.

PANO RÁPIDO. O momento é delicado e espera-se que prevaleça o bom-senso, com posterior revisão do convênio com a Polícia Militar, obra do reitor Rodas.

Wálter Fanganiello Maierovitch

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06/11/2011

La donna è mobile

Filed under: Liberalismo,Marco Maciel,Neoliberalismo — Gilmar Crestani @ 9:34 am
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“La donna è mobile
Qual piuma al vento.”

O Caruso da política veio da Arena, passou pelo PFL e estacionou no DEMo. Como o Lobo para Chepeuzinho Vermelho, Marco Maciel quer que vemos em suas orelhas, em seu nariz, sua boca e voz a vovozinha em pessoa. Ora, se não se pode ligar neoliberalismo a liberalismo, pode-se conectar que alguns pais fogem de criança feia. Os oportunistas são assim. Ele poderia pelo menos responder porque demorou tanto para fazer tamanha constatação. Ele tem mais dez anos para responder…

O verdadeiro liberalismo

Marco Maciel
De Brasília (DF)

Considerado um dos idealizadores do projeto da União Europeia, ao lado do alemão Konrad Adenauer e do francês Robert Schuman, o intelectual e estadista italiano Alcide De Gasperi dizia que o democrata tem ideias, e não ideologias.

Sem pretender interpretar a sentença, é provável que De Gasperi considerasse a ideologia como um dogmático sistema de ideias, uma hermética cosmovisão, mesmo porque não se pode ignorar os muitos pontos de intersecção política entre poder e ideologia.

No Brasil, desde que os partidos políticos foram alçados à condição de entes constitucionais – e fomos um dos primeiros países a fazê-lo -, deles se exige, para seu registro, tão-somente manifesto e programa.

Com relação ao partido de cuja fundação participei, nascido de um movimento histórico que ensejou a transição para a democracia, caberia, preliminarmente, recordar que ser liberal, antes de um ideário ou doutrina, é uma conduta existencial, uma atitude de vida. Como apontou Karl Flach, na obra O Futuro da Liberdade, "o liberalismo não conhece verdades políticas absolutas, a liberdade de espírito é ponto fundamental e, nesse sentido, a tolerância é condição necessária".

Nem toda democracia, como se sabe, é liberal, mas só é liberal um regime que seja democrático. Esse silogismo parece deixar claro considerar-se democrático qualquer sistema político que respeite o princípio da maioria, calcado em eleições livres, competitivas; conviva com a renovação periódica dos mandatos; e pratique o pluralismo. Mas também resulta inquestionável que mesmo um sistema com essas características pode não ser liberal, na medida em que o liberalismo transcende a democracia.

Isso não significa afirmar que o liberalismo criou o Estado democrático de Direito e, menos ainda, a democracia. Ajuda, porém, a explicar porque o liberalismo se aloja em pressupostos mais amplos que a democracia.

Mencione-se, a propósito, nossa própria evolução política. O império no Brasil, desde a outorga da Constituição de 1824 até sua revogação, em 1889, constituía um Estado de Direito. Havia eleições periódicas que atendiam ao princípio competitivo da época e se admitiu o pluralismo político e doutrinário, como era corrente nas principais democracias do começo do século 19. Entretanto, um sistema que convivia com a escravidão jamais poderia ser caracterizado como liberal.

O que diferencia o liberalismo da democracia é o fundamento ético de ambos. Os valores fundamentais e permanentes da democracia são a liberdade e a diversidade, entendida a primeira como princípio sobre o qual deve fundar-se a organização política da sociedade, e a segunda, como corolário que leva necessariamente ao pluralismo.

Sob o ângulo político, parece claro que esses valores podem existir em qualquer regime ou sistema democrático, sem que isso prefigure um modelo liberal, cujos fundamentos partem do pressuposto de que não existe liberdade sem igualdade, nem pluralismo ou diversidade sem equidade.

Etimologicamente, igualdade e equidade se equivalem. Contudo, a ideia de equidade difere da ideia de igualdade. O ideal da justiça liberal, de que fala John Rawls, por exemplo, é permitir que todos tenham um tratamento equitativo, o que não significa igual, mas, ao contrário, diferenciado.

Igualdade é o princípio de acordo com o qual todos devem contribuir com a mesma parcela para o bem comum. Equidade é o princípio pelo qual as contribuições são repartidas de forma proporcional, e não igual. Logo, sob a ótica liberal, igualdade e equidade são princípios éticos e políticos distintos, na medida em que o último é compensatório, e não meramente regulatório.

Nessas condições, enquanto o princípio utilitário da democracia é a garantia da liberdade e a igualdade de tratamento para todos, o do liberalismo é não só a garantia da liberdade com as mesmas oportunidades, mas algo mais transcendente: a busca da equidade.

Por fim, é apropriado lembrar que, como na lição bíblica, o joio cresce com o trigo. Assim, não é correto associar o liberalismo com liberismo, um distorcido modo de aplicação do ideário liberal à economia; menos ainda transformá-lo em "neoliberalismo". Aliás, como afirma Vargas Llosa, na obra "O Liberalismo entre Dois Mistérios", neoliberalismo "equivale a dizer semi ou pseudoliberal, ou seja, um puro contrassenso".

Marco Maciel foi senador e é membro da Academia Brasileira de Letras. Foi vice-presidente da República (1995-1998 e 1999-2002), ministro da Educação e ministro-chefe da Casa Civil (governo Sarney) e governador de Pernambuco (1978-1985).

Fale com Marco Maciel: marco.omaciel@terra.com.br

O verdadeiro liberalismo – Terra – Marco Maciel

02/11/2011

A euforia com a doença é pior do que um câncer

Equipes de TV em frente ao Sírio Libanês. Ex-presidente deixou o hospital nesta terça (1º) e seguirá com tratamento contra câncer na laringe

Equipes de TV em frente ao Sírio Libanês. Ex-presidente deixou o hospital nesta terça (1º) e seguirá com tratamento contra câncer na laringe

Marcelo Semer
De São Paulo

A revelação da grave doença do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva trouxe, infelizmente, bem mais do que uma onda de solidariedade.

A ira, o rancor e até um inacreditável entusiasmo ultrapassaram todos os limites do bom senso, descortinando um ódio de classe que, descobriu-se, ainda continua exageradamente impregnado.

O líder da juventude do PSDB usou o Twitter para equiparar jocosamente a luta de Lula contra o câncer a suas disputas eleitorais, lembrando sintomaticamente de "duas derrotas para FHC".

A jornalista Lúcia Hipólito não se constrangeu ao atribuir, sem qualquer autoridade, a doença a um suposto alcoolismo do ex-presidente -que estaria pagando agora o preço por todas que tomou.

No Facebook, uma hipócrita campanha se alastrou pela classe média bem nutrida provocando Lula a se tratar em hospitais do SUS, que pouquíssimos deles frequentam, aliás.

Com uma indisfarçável satisfação e a suprema ironia da desgraça, utilizaram a mais drástica das oportunidades para menosprezar a importância social do ex-presidente. Depois, é lógico, de terem comemorado a derrota do financiamento para a saúde pública.

A euforia com a doença alheia é ainda pior do que o próprio câncer.

O cálculo político também.

Não demorou nada desde que o diagnóstico se tornou público, para que os astrólogos da grande imprensa passassem a fazer suas assombrosas previsões.

Lula estará afastado das campanhas municipais, prejudicará os resultados de seu partido em 2012 e aqueles que dele dependerem vão ficar à míngua. Enfim, uma nova história política começando a ser escrita.

São os mesmos futurólogos, no entanto, que cravaram o mensalão como sua morte política, que desprezaram as chances de Dilma no começo da campanha e sepultaram o kirchnerismo na Argentina junto com o ex-presidente Nestor.

O que há de tão errado nas análises é que são frutos do desejo, não do conhecimento. Apostas da esperança, não da lógica.

Não se viu campanha para que o empresário José Alencar, que tratou de seu câncer na vice-presidência, frequentasse os hospitais públicos.

Fernando Henrique Cardoso criou a CPMF em seu governo para vitaminar a saúde, mas quem teve coragem de exigir que sua esposa fosse tratada no SUS, destinatário daqueles impostos?

Para muitos, Lula deve honrar sua origem pobre.

Não na hora de estimular transferências de renda ou impulsionar acesso dos mais humildes às universidades públicas -que incomodam ou dificultam o caminho da classe média.

Deve honrar sua origem de pobre vivendo como um pobre, vestindo-se como um pobre, tratando-se como um pobre.

A trajetória de Lula deveria ser um orgulho para o país. Um daqueles exemplos de como até um capitalismo mal ajambrado e uma democracia censitária como a nossa permitem, vez por outra, tal ascensão.

Mas para quem está no andar de cima, é um ultraje que ele tenha deslocado o foco do Estado para a pobreza, valorizado tanto os carentes, estimulado, sobretudo, as regiões e as populações mais incultas.

Afinal, as entradas social e de serviço não podem jamais se confundir num país de tantas casas-grandes e senzalas.

O recrudescimento do discurso dos colunistas do ódio, a campanha eleitoral que beirou o terrorismo, a xenofobia rediviva, enfim, colheram seus frutos.

E muitos daqueles que estimularam a política do tudo-ou-nada, demonizando a figura de Lula, acostumando o público aos ataques pessoais mais repulsivos, de repente se assustaram com os ecos de seus próprios leitores.

Lula não é um semideus. Não está isento de críticas por causa da doença e não traz consigo uma história de vida sem defeitos ou perversões -como, de resto, nenhum de nós.

Mas a delicada situação em que se encontra não é a melhor oportunidade para que nos divorciemos de nossa humanidade.

Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos: essência do Direito do Trabalho" (LTr) e autor de "Crime Impossível" (Malheiros) e do romance "Certas Canções" (7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.

A euforia com a doença é pior do que um câncer – Terra – Marcelo Semer

O título do milênio

Filed under: Grêmio,José Pedro Goulart,Ronaldinho — Gilmar Crestani @ 9:41 am
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É pensar pequeno demais para se contentar com isso só. No século XXI, é o primeiro “título” de expressão comemorado pela torcida gremista: a derrota Ronaldinho. Peninha… A defesa gremista deve ter ido beber nas fontes cearenses. Explico. No verdadeiro jogo do milênio, para os gaúchos, ocorrido em 2006, foi Ceará que parou Ronaldinho. E o Inter venceu o Barcelona. O que o Grêmio fez no domingo foi uma imitação barata do Inter de 2006. Afinal, o Flamengo está longe de ser um Barcelona. E não havia nenhum outro título em jogo senão o de curar a dor de corno…

O umbigo do R10

Itamar Aguiar/Vipcomm/Divulgação

Ronaldinho em disputa de bola durante jogo entre Grêmio e Flamengo no domingo (30)

Ronaldinho em disputa de bola durante jogo entre Grêmio e Flamengo no domingo (30)

José Pedro Goulart
De Porto Alegre (RS)

Domingo último dei uma voltinha pelos aspectos sombrios da minh¿alma. Deixei de lado o caminho em direção à compreensão e ao equilíbrio, o qual gosto de pensar que me oriento, e provei um gole do veneno inebriante da vingança. Já sóbrio como agora estou diria, se acreditasse que seria ouvido: "Pai, afasta de mim esse cálice". Julgamentos públicos são perigosos, deixam marcas eternas, isso quando não são letais.

Se qualquer paixão tem preço, imagine no futebol. A paixão é um sentimento brutal de fé. Esperamos por parte de quem depositamos nossa paixão que nos seja devolvido, se possível com juros, toda energia gasta com nosso desprendimento amoroso. Ídolos não deveriam envelhecer, errar, muitos menos nos trair.

A arquitetura dos sentimentos tem pilares conhecidos. A família, por exemplo, por mais que se tenham razões em rompimentos o coração resiste em manter o vínculo afetivo que assegure um certo alento. Há também as amizades de infância, nossa rua, cidade, comunidade: as tais raízes.

Há dez anos, quando Ronaldinho escapou do Grêmio pela porta dos fundos a mãe dele justificou o desaforo: "Os filhos pertencem ao mundo". Nunca esqueci. E agora, sob vaias ensurdecedoras, disse o R10, "Perto do som da torcida do Flamengo, isso não é nada". Duas lógicas parecidas, duas distorções fraudulentas. Ninguém – o poeta sabe, todas as mães deveriam saber – pertence ao mundo, isso é uma generalização paroquial. A gente pertence ao umbigo.

E ao falar da torcida do Flamengo, Ronaldinho apela por proteção. Imagina que pode substituir o chá que é fervido com a raiz da árvore genealógica dele por outra alquimia. Mas não pode. O Flamengo é o umbigo do Zico, o Galinho de Quintino; a casa do Júnior; e até do Fio Maravilha. A bandeira rubro-negra já tem passista e mestre sala, o samba do Flamengo já tem autores. R10 no Flamengo nunca será.

O roteiro do jogo de domingo foi como os bons roteiros devem ser, teve prenúncio de tragédia e reviravolta. Começou parecendo que daria razão aos pragmáticos, os tolos do ouro; mas terminou com a poesia ilusória de que certos ajustes de contas insinuam. Assim, mesmo o chute do jogador mais improvável saiu preciso quando foi preciso e o goleiro tomou o gol quando deveria, como se fossem atores cumprindo um papel. Em todos havia uma sede de remissão dostoievskiana. A torcida lavou a alma.

No final os personagens saíram de cena e cada um foi para o seu canto, ruminando verdades sobre honras e circunstâncias. Outros, os que não tinham canto, foram pro limbo.

José Pedro Goulart é cineasta e jornalista.

O umbigo do R10 – Terra – José Pedro Goulart

08/10/2011

PIG, onde estás que não responde?

Enquanto só em futricas, em ditabranda e qualquer coisa mais contra os movimentos sociais, embaixo do nariz da Folha, Estadão, Veja aconteciam as maiores barbaridades em termos de corrupção. Não que não houvesse denúncias. Mas como se tratava de roubo perpetrado pelos aliados do PIG, tudo era silêncio. O roubo foi tanto que nem os ladrões aguentaram mais. Se os a$$oCIAdos do Instituto Millenium fazem-se de surdos, cegos e mudos, os Blog estão pondo a sujeira a limpo.

A falta que a Imprensa faz

José Luiz Teixeira
De São Paulo

O escândalo das emendas na Assembleia Legislativa de São Paulo é um forte exemplo de como a ausência da Imprensa permite a proliferação dos desmandos nos poderes públicos.

Para quem não sabe, trata-se das declarações do deputado estadual Roque Barbiere (PTB-SP) de que boa parte de seus colegas cobram propinas de prefeituras e empreiteiras para apresentar emendas de seu interesse ao orçamento estadual.

Essas acusações criaram uma crise política que há muito tempo não se via no Poder Legislativo de São Paulo, há anos relegado a segundo plano pela mídia.

Quando aparece no noticiário, geralmente é por causa de um escândalo como este, levantado por um dos seus integrantes.

Frequentei muito o Palácio Nove de Julho, como se chama aquele recinto, à época da abertura política.

Apesar de governado pela maioria arenista (partido de apoio à ditadura), mantinha-se ali uma sala de imprensa com todas as condições necessárias para o trabalho dos jornalistas – inclusos água e café frescos.

Cada veículo de comunicação importante, fosse jornal, rádio ou TV (ainda não existia internet e seus portais), tinha lá seu setorista para cobrir não apenas o plenário e as comissões, mas também os bastidores políticos.

Seria exagero dizer tudo, mas quase tudo o que ocorria naquela casa era sabido na sala de imprensa.

Com o tempo, porém, provavelmente por economia, os jornais começaram a retirar seus setoristas da Assembleia.

Os deputados passaram a não ter o mínimo de acompanhamento por parte dos repórteres.

Suas excelências, então, sentiram-se tão à vontade que, emblematicamente, acabaram até com a sala de imprensa; desmontaram-na, literalmente.

Assim, falcatruas como a atual só passaram a vir a público quando denunciadas por alguém de dentro do organismo.

Resumo da ópera: a Assembleia Legislativa de São Paulo tornou-se, hoje, prova relevante da falta que faz a presença fiscalizadora do outrora chamado Quarto Poder.

José Luiz Teixeira é jornalista. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais as rádios Gazeta, Tupi e BBC de Londres, e os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Folha da Tarde.

Fale com José Luiz Teixeira: jl.teixeira@terra.com.br

A falta que a Imprensa faz – Terra – José Luiz Teixeira

Vinho brasileiro. Além da Serra Gaúcha

Filed under: Serra Gaúcha,Vinho — Gilmar Crestani @ 9:39 am
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Mauricio Tagliari
De São Paulo


Fotos: Daniela Villar/Divulgação

Uma das agradáveis surpresas do tour pela Serra Gaúcha a convite do Ibravin foi conhecer produtores de outras regiões do Rio Grande do Sul que não Bento Gonçalves e adjacências. Ao menos três painéis trataram do assunto de um modo ou de outro.

As principais apostas estão no sul do estado, na região da Campanha, fronteiriça com o Uruguai. Mas a Serra do Sudeste, um pouco mais ao sul da Serra Gaúcha, os Campos de Cima da Serra, região de altitude um pouco mais ao norte, quase na fronteira de Santa Catarina e a região do Alto Uruguai, mais a oeste, também trazem surpresas.

Assim como a Miolo investe na Campanha, a Valduga aposta na Serra do Sudeste ou, como preferem chamar, Encruzilhada da Serra. Mas destes gigantes teremos outras chances de falar. Quero focar nos produtores menores ou mais novos.

A primeira vinícola instalada na Encruzilhada da Serra é a Coppeti, de quem tomei um excelente espumante charmat feito com 70% de chardonnay e o restante de cabernet sauvignon e merlot, vinificados em branco. Passa três meses em contato com as leveduras, o que lhe dá aroma de miolo de pão sutil, frutas cítricas, ótima perlage, leveza, frescor, acidez delicada. Deve chegar ao consumidor por R$ 30.

A Lidio Carraro traz da mesma região o excelente Dádivas Chardonnay 2010. Com 13% de álcool, não passa por madeira. Tem aroma lácteo, floral, acidez delicada, muita untuosidade, mineralidade e belo corpo. Sua elegância é rara em se tratando de brancos do novo mundo. R$ 45 para o consumidor final é pechincha.

Da região dos Campos de Cima da Serra, mais especificamente do município de Muitos Capões, situado entre 800 e 1.000m de altitude, a simpática Aracuri, um projeto jovem, iniciado em 2005, traz um corte de cabernet sauvignon e merlot na proporção 60/40, safra 2009, com 13,4% de álcool, sem madeira, de cor vermelho-rubi translúcida, aroma de especiarias, frutas vermelhas, equilibrado, elegante, sem nenhum defeito. Um vinho direto e honesto por R$ 38.

Da vizinha Caxias do Sul, mas com vinhedos plantados no ano de 2000 em Santa Lúcia e São Francisco, a Quinta Don Bonifácio, única a produzir vinhos finos na cidade, e com uma gama enorme de produtos que inclui suco, vinhos brancos e tintos, em garrafas e em bag-in-box, apresentou um ótimo espumante charmat rosado brut, feito com um interessante corte de merlot, sangiovese e chardonnay, safra 2010, 12% de álcool, com perlage correta, cor rosa pálido, aroma de frutas vermelhas e banana, acidez agradável, sem traço de amargor, muito equilibrado.


Fotos: Daniela Villar/Divulgação

Já citada nesta coluna, o Antonio Dias Tannat 2008, produzido na região de Alto Uruguai, Três Palmeiras, Rio Grande do Sul, vale ser lembrado. Com produtividade de apenas 1,33 garrafas de 750 ml por planta, 14% de álcool, amadurece por dez meses em barris de carvalho francês. De cor vermelho-rubi intenso, nariz ótimo, com aromas de frutas vermelhas maduras, chocolate e café. Na boca é bem estruturado, potente, com bom corpo, taninos macios, boa acidez e um retrogosto prolongado. R$ 48,90.

A Campanha parece ser, realmente, um novo Eldorado para o vinho brasileiro. O Quinta do Seival Castas Portuguesas já o demonstrava e sua versão na casta tannat foi uma das grandes estrelas da Avaliação Nacional de Vinhos 2011.

No painel sobre a região, encontramos nosso conhecido Cordilheira de Santana Chardonnay 2005 Reserva Especial, 14% de álcool. Com 30% de passagem em madeira, tem aroma delicioso, ótima acidez, na boca é potente, untuoso e de ótima persistência. Um branco brasileiro de seis anos ainda inteiro. Completamente íntegro. Para calar a boca dos descrentes. R$ 50 a R$ 60.

A jovem Dunamis, que aposta em vinhos diretos, descomplicados e, principalmente, no seu espumante charmat, trouxe da Campanha um ótimo corte de sauvignon blanc e chardonnay, batizado com o filosófico nome Ser. Safra 2010, leve e elegante, tem 11,5% de álcool, aromas tostados, cítrico delicado e final muito agradável. Ser simples neste caso é uma qualidade. R$ 29,90 em todo o Brasil.

E, por fim, a vinícola Província de São Pedro traz uma das histórias e um dos vinhos mais sui generis da região. Parceria da família Darricarrère, franco-argelina, com dez gerações de experiência no mundo do vinho e espalhada hoje entre França, Califórnia, Uruguai e agora Brasil, com o fruticultor canadense Michel Routhier, o projeto se iniciou em 2002.

Adeptos do slow food, apresentaram um interessante cabernet sauvignon cuveé feito com 20% da safra de 2008, 14% de álcool e 80% da safra de 2009, com 12% de álcool, que resultou num vinho de 12,5%. De cor vermelho rubi translúcido, aroma de frutas vermelhas, compota, café, na boca tem paladar macio e toques de especiarias.

Ninguém pode dizer que não seja a mais francesa das jovens vinícolas brasileiras. E isto, com certeza, é sua grande contribuição ao vinho brasileiro, tão embasado na cultura do imigrante italiano. Infelizmente, o consumidor de fora de Porto Alegre terá de se esforçar para encontrar uma das 5 mil garrafas produzidas deste ótimo tinto que custa, por lá, em torno de R$ 40. Nada é perfeito.

Terra Magazine

Vinho brasileiro. Além da Serra Gaúcha – Terra – Mauricio Tagliari

30/04/2011

Quem tem Hildebrando pode falar de Delúbio?

Filed under: Direita,PIG — Gilmar Crestani @ 9:26 am
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O DEMo, siamês do PSDB, satanizou Delúbio Soares, do PT. Mas eles precisam prestar contas do carniceiro do ACRE. Quando falam em Delúbio logo o associam ao PT. Por que não fazem o mesmo com Hildebrando Pascoal. Ah, sim, Hildebrando é gente deles. O PIG, que adora uma chicana, esquece o partido do Jason das florestas. O esquartejador, de moto Serra empunho, ao invés de ser tratada como um esqueleto da direita no armário, é revelado quase como um fato da natureza, sem história, sem parentesco político, sem relações pessoais. Ninguém lerá uma reportagem no Estadão mostrando o monstro do Acre em cores naturais. Por que será?

No Acre, Hildebrando Pascoal é julgado em seu último processo

Altino Machado às 11:29 am

Preso há 14 anos por liderar um grupo de extermínio e por envolvimento com o narcotráfico, o coronel aposentado da Polícia Militar do Acre e ex-deputado Hildebrando Pascoal voltará ao banco dos réus na segunda-feira (2), quando será julgado em Rio Branco no último processo que tramita contra ele na justiça do Estado.

O ex-deputado responde pelos crimes de seqüestrado e cárcere privado contra Clerisnar dos Santos, mulher de José Hugo Alves Júnior, o Mordido, que matou a tiros o tenente da PM Itamar Pascoal, em 1996, por desavenças envolvendo dinheiro de propina para libertação de um traficante.

Leia mais:

Ex-deputado do crime da motosserra é acusado de degolar homem no Piauí

Entrevista histórica com Hildebrando: “A vida é uma dádiva divina”

Clerisnar, que morreu há 10 anos, foi seqüestrada juntamente com dois filhos. A mulher e as crianças ficaram três dias em poder do bando liderado por Pascoal. Ela foi amarrada e espancada para que revelasse o destino de José Hugo após o assassinato do imão do ex-deputado.

Após os dias de torturas, no quartel da Polícia Militar e na casa de Hildebrando Pascoal, a mulher e os filhos foram embarcados em avião com destino a São Paulo, acompanhados pelo policial Manoel Maria Lopes, o Coroinha, um dos homens mais violentos do bando liderado pelo ex-deputado.

Clerisnar e os filhos foram resgatados e Coroinha preso pela polícia de São Paulo logo que desembarcaram, graças  a ação de procuradores do Ministério Público Federal. O bando estava presente em todas as esferas da vida pública do Acre ameaçava de morte quem surgia no caminho.

O coronel aposentado Aureliano Pascoal Duarte Pinheiro Neto, primo de Hildebrando, comandava a Polícia Militar. Além de Aureliano, foram acusados de participação direta no seqüestro o ex-sargento da PM, Alex Fernandes Barros, o soldado Marco Antonio César da Silva e o empresário Nei Ari Bandeira Roque .

Os irmão Arelc e Hávila César Santos Alves, filhos de Clerisnar, atualmente com 22 e 25 anos de idade, possivelmente serão apresentados pelo Ministério Público do Acre como testemunhas de acusação.

O último processo contra Hildebrando Pascoal foi aberto em 1999. A defesa tentou impedir o julgamento sob a alegação de que a justiça teria perdido prazos. O juiz Leandro Gross, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio, indeferiu o pedido de extinção da punibilidade.

Segundo o magistrado, os prazos que constam no processo são inferiores ao previsto para a prescrição da pretensão punitiva, não havendo lapso temporal para o reconhecimento da prescrição em abstrato.

Hildebrando Pascoal ainda falta ser julgado na Justiça do Piuaí, onde é acusado de ter degolado o assassino do irmão dele com uma faca.

De acordo com a denúncia do Ministério do Piauí,  José Hugo Alves Júnior foi localizado e seqüestrado por Hildebrando Pascoal, em janeiro de 1997, na fazenda Itapoã, no município de Parnaguá. De lá, foi levado para o município de Formosa do Rio Preto (BA), onde foi torturado e assinado, sem chances de defesa e com requintes de crueldade.

Blog da Amazônia por Altino Machado » No Acre, Hildebrando Pascoal é julgado em seu último processo

16/04/2011

Llosa e FHC: sob fogo cerrado

Filed under: Isto é PSDB! — Gilmar Crestani @ 10:22 pm
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Sábado, 16 de abril de 2011, 08h09

Vitor Hugo Soares
De Salvador (BA)

Crivado de flechas impiedosamente – como o São Sebastião da música de Chico Buarque -, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso anda atônito e desolado. Sobre ele desabam saraivadas de críticas, partidas indistintamente de adversários e aliados. Entre estes (o que mais dói como dá para sentir nas reações de FHC) combatentes da primeira hora do PSDB – políticos e intelectuais de mais rica plumagem no tucanato brasileiro.

O mais espantoso: o fogo cerrado começou imediatamente depois do presidente honorário do PSDB produzir – em tempo de muita intriga e pensamento ralo e rasteiro – um dos mais brilhantes, completos e elevados textos políticos em forma e conteúdo sobre os descaminhos e equívocos das oposições no Brasil.

Aparentemente, uma única frase, que inclui a palavra "povão", fez explodir toda a arenga: "Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os movimentos sociais ou o povão, isto é, sobre as massas carentes, e pouco informadas, falarão sozinhos", escreveu Fernando Henrique Cardoso no ensaio "O papel da oposição", produzido para a revista "Interesse Nacional", que começa a circular esta semana.

Pronto, estava aceso o estopim de uma das maiores e mais ácidas polêmicas de que se tem notícia no País ultimamente. Pouca gente (petistas "e tucanos principalmente", como se queixa o autor), pareceu interressada de verdade em seguir adiante na leitura do texto. Repita-se, escrito exemplar no estilo e conteúdo didaticamente elucidativo sobre métodos, estratégias e jeito de fazer oposição atualmente.

No Decálogo do Estadista, Ulysses Guimarães, o oráculo do antigo MDB, de cuja costela nasceu o PSDB de Fernando Henrique, ensina no sétimo mandamento: em política deve-se evitar ao máximo "proferir palavras irreparáveis".

Se o termo irreparável for escrito e divulgado para milhões, então, tudo fica muito mais complicado e avassalador, pois obriga, algumas vezes, a uma das tarefas mais inglórias da comunicação: "o autor precisar explicar no dia seguinte o que escreveu na véspera para seus leitores", como ensinava na redação do Jornal do Brasil e em seus livros preciosos de jornalismo, o saudoso editor nacional Juarez Bahia.

A Paciência é o sétimo mandamento do Decálogo do Estadista criado por Ulysses Guimarães. Parece ser esta a virtude que FHC precisará exercitar nos próximos dias – em lugar de tantas e tão dispensáveis explicações para alguém com sua biografia. Alem, é claro, de lamber as feridas, como o cão de São Roque ou de São Lázaro, para curar as chagas causadas principalmente pelo fogo amigo destes últimos dias.

Saber escutar é um dom político, pregava Ulysses: "A santa paciência de escutar! A misericordiosa paciência de ouvir os redescobridores da roda, os inventores da quadratura do círculo, os chatos ‘que não o deixam ficar só e não lhe fazem companhia’, como lamentava o filósofo Benedetto Croce".

Paciência, principalmente, para lidar com "homens-moluscos", que se moldam sofregamente à palma da mão dos poderosos da vez, aves de arribação de todas as tendências e partidos, que grassam como praga na política brasileira destes dias. A triste descoberta que FHC parece estar fazendo ao avaliar vários de seus companheiros, alguns meio trêfegos sempre, mas outros insuspeitos até aqui.

Agora, antes do ponto final, uma rápida passagem pela costa do Pacífico, por onde tem apanhado feio também nas últimas semanas o outro personagem desta crônica: Mario Vargas Llosa, doublé de fantástico escritor laureado com o mais recente Nobel de Literatura, e, ao mesmo tempo, apressado e agressivo guerrilheiro do liberalismo econômico e político na América Latina.

Derrotado como candidato na disputa presidencial que levou ao poder Alberto Fujimori e o Peru a uma das fases mais trágicas e deprimentes da historia, Vargas Llosa não teve a paciência necessária para deixar passar a mágoa pelo insucesso eleitoral. Retornou ao seu país – e isso é mais que justo e elogiável – para a campanha em curso, mesmo sem ser candidato. Veio com ganas de vingador de discursos ácido e palavras irreparáveis.

No primeiro turno, as eleições presidenciais tiveram um resultado inesperado para muita gente, mas principalmente para Vargas Llosa, considerado pela mídia, analistas e políticos aliados, como um dos maiores perdedores na etapa inicial. O Nobel votou declaradamente e fez campanha para Alejandro Toledo, o liberal ex-presidente que começou a campanha como o preferido em todas as pesquisas e acabou como quarto colocado na primeira volta eleitoral.

Vargas é flechado no Peru não por sua defesa do liberalismo, perfeitamente legítima, mas sim, apontam seus críticos, pelo fanatismo que respinga do seu discurso de palanque, o desprezo pelos adversários, e não raro pelos aliados também. "Se um mérito cabe atribuir ao liberalismo político – não ao econômico – é justamente a tolerância, virtude que Vargas Llosa parece desconhecer. Seu dogmatismo esquerdista da juventude, se transferiu para o outro extremo, sem sofrer alterações", escreveu o crítico e ex-diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, Silvio Juan Maresca, em artigo publicado na prestigiosa revista semanal "Notícias".

Resultado: vão disputar o segundo turno o candidato das esquerdas Ollanta Humala (mais votado no primeiro turno) e a direitista Keiko Fugimori, filha do corrupto ex-presidente do Peru. Segundo Mario Vargas Llosa, "é como escolher entre o câncer e a AIDS".

Palavras irreparáveis do político. Que viva o escritor Vargas Llosa!

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site-blog Bahia em Pauta ( http://bahiaempauta.com.br/).

Fale com Vitor Hugo Soares: vitor_soares1@terra.com.br

Llosa e FHC: sob fogo cerrado – Terra – Vitor Hugo Soares

10/03/2011

Pau de sebo, essa o Bolsonaro engole

Filed under: Cultura — Gilmar Crestani @ 8:07 pm
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Oscar Gay premia Bolsonaro, Datena e torcida do São Paulo

José Cruz/Agência Brasil

O deputado federal Jair Bolsonaro é um dos grandes vencedores do Troféu Pau de Sebo, do Oscar Gay 2011, organizado pelo Grupo Gay da Bahia

O deputado federal Jair Bolsonaro é um dos grandes vencedores do Troféu Pau de Sebo, do Oscar Gay 2011, organizado pelo Grupo Gay da Bahia

Claudio Leal

A vida é dura para o apresentador Datena, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e a torcida do São Paulo. O Grupo Gay da Bahia (GGB), pioneiro na defesa dos direitos dos homossexuais no Brasil, irá premiá-los com o Troféu "Pau de Sebo" na 21ª edição do Oscar Gay (um cacófato proposital), sempre anunciado após a festa de Hollywood. Os três são apontados como "inimigos dos homossexuais".

O ultradireitista Bolsonaro receberá o "Pau de Sebo" em retribuição à sua campanha contra "a presença de gays no exército, contra o Programa Escola sem Homofobia" e por "estimular aos pais darem palmada em seus filhos como corretivo para impedir tendências homossexuais". Apesar de ser chamada de "bambi", a torcida organizada do São Paulo, Dragões da Real, também conquistou o troféu, "por matéria homofóbica veiculada no site".

Segundo os organizadores, o jornalista Datena, do programa Brasil Urgente (Band), ganhou a homenagem em resposta à sua "prática discriminatória contra travestis", denunciada pela Defensoria Pública de São Paulo.

No texto oficial da premiação, o fundador do GGB, Luiz Mott, lembra que o "pau de sebo" está integrado ao folclore brasileiro e serve para ridicularizar os inimigos dos gays. "Por mais que queiram destruir o movimento de libertação homossexual, nunca chegam a seu objetivo, caindo e se lambuzando no pau de sebo da intolerância", ataca.

Os amigos da causa recebem o Troféu Triângulo Rosa, uma referência aos distintivos usados pelos nazistas para identificar os homossexuais.

Entre as personalidades que se destacaram, em 2010, na defesa dos direitos dos homossexuais, a cantora Adriana Calcanhotto ("por tornar público seu casamento no cartório com Susana de Moraes"), a atriz Cláudia Raia e o escritor Luis Fernando Verissimo, defensores da "legalização do casamento gay", e a atriz Susana Vieira "por condenar as manifestações de homofobia no Big Brother Brasil 10". Os premiados receberão o diploma pelo correio.

Confira a lista dos vencedores do Oscar Gay.

"TROFÉU TRIANGULO ROSA

1) Na área Federal: os Governadores da Bahia, Piauí, Goiás, São Paulo, Pernambuco e Paraíba, pela institucionalização da Coordenadoria/Comitê LGBT, do Dia Estadual de Combate a Homofobia, Oficialização do uso Nome social para travestis, Ambulatório de saúde para transexuais, Delegacia para crimes homofóbicos. Também foram agraciados a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) por determinar que planos de saúde privados incluam como beneficiários os parceiros do mesmo sexo; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por incluir informações sobre casais homossexuais no Censo Demográfico e a Infraero, por conferir benefícios trabalhistas aos parceiros de funcionários; a Procuradoria Geral da República, por solicitar ao Supremo Tribunal Federal convocação de audiência pública para discutir o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo e o Tribunal de Justiça de Mato Grosso por conceder direito a retificação de registro civil de transexual; o Banco do Brasil por autorizar emissão de cartões com nome social das Travestis e Transexuais; Ministério da Educação e Cultura por permitir que o contrato de união estável entre pessoas do mesmo sexo sirva de comprovação de renda familiar para participação no ProUni; Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), por elaborar uma questão específica sobre homofobia na prova de Ciências Humanas; Ministério Público de SP, por autorizar a uma transexual o direito de mudança de nome em todos os documentos sem necessidade da cirurgia de transgenitalização, Ministério Público Federal do Piauí, por ajuizar ação para incluir o direito de inclusão do companheiro LGBT como dependente na declaração do Imposto de Renda; Vara de Registro Civil da Bahia, pela sentença favorável à mudança de nome da vereadora transexual Leo Kret do Brasil e 6ª Vara Cível da Comarca de Aracaju, por autorizar a mudança de prenome e sexo de transexual.

2) Na área municipal: a Prefeitura e Câmara Municipal de Maringá (PR), São Paulo (SP), Barra do Piraí e Maricá (RJ), Penedo (AL), Joinville (SC), Teresina (PI), Feira de Santana e Simões Filho (BA), pela Instituição do Programa Escola Sem Homofobia, Oficialização de 17 de Maio como Dia Municipal de Combate a Homofobia, Uso do nome social por transgêneros, Lei contra Homofobia, Coordenadoria e Conselho da Diversidade Sexual e da População LGBT, Oficinas sobre Diversidade Sexual, Reconhecimento de Direitos Previdenciários do Parceiro de funcionário público.

3) Na área da Justiça: o Supremo Tribunal Federal, Tribunal de Justiça do Amazonas, 3ª Câmara Civil do Rio Grande do Norte, Superior Tribunal de Justiça do RJ, 3ª Vara da Família de Porto Velho (RO), 1ª Vara Cível de Belo Horizonte (MG), Tribunal Regional Federal da 3ª região (SP/MS), Advocacia Geral da União (AGU) por reconhecerem o direito à união entre pessoas do mesmo sexo para o recebimento de benefícios previdenciários, pela aprovação de regras para lavratura de Escritura Pública de Declaração de Convivência e União Homoafetiva; por dar ganho de causa à adoção por casal gay em oposição à negativa do Ministério Público; a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará, por garantir o direito a visitas íntimas à detentos homossexuais e Justiça Federal de Goiás, por autorizar a um gay americano o direito de permanecer no Brasil com seu parceiro brasileiro; 5ª Vara de Fazenda Pública (SP), pela condenação do Estado a indenizar um gay agredido por grupo de skinheads no centro da capital; Juizado da Infância e Juventude de Goiânia, 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (RS), Superior Tribunal de Justiça (RJ), Tribunal de Justiça de Bagé (RS) e Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por conceder a adoção de criança por casal de lésbicas e gays, por conceder registro civil de adoção e paternidade a casal gay e de lésbicas; 5ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, por determinar a destruição de 289 exemplares da obra, "A Maldição de Deus sobre o Homossexual" de autoria de um pastor evangélico homofóbico de Campo Grande; Ministério Público Federal e 20ª Vara Federal de São Paulo (SP), por acatar ação contra o Plano de Saúde Omint por discriminar parceiro homossexual e Polícia Civil e Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (SP), pela quebra dos sigilos de "O Parasita", jornal homofóbico produzido por alunos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP; Tribunal Regional da 1ª Região (MG), por manter a inclusão de um funcionário aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como beneficiário de pensão vitalícia de seu finado companheiro e 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça (RJ), por reconhecer o direito de herança à professora após morte da companheira.

4) Conselhos: Conselho Federal de Medicina, por liberar cirurgia de redesignação genital para transexual maculino; Conselho Estadual de Educação de Alagoas, pelo apoio ao respeito do nome social das travestis e transexuais em documentos escolares; Conselho de Moradia Universitária da UFMG, por expulsar aluno homófobo que agrediu residente gay; Ordem dos Advogados do Brasil, pela criação da Comissão especial de Diversidade Sexual, Combate à Homofobia e Uniões Homoafetivas.

5) Secretarias: Secretaria de Trabalho, Cidadania e de Assistência Social do Piauí, pela criação do primeiro Conselho LGBT do Nordeste; Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos de Manaus, Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos da Bahia, Secretária Municipal de Assistência Social em Fortaleza, pela defesa e institucionalização do uso do nome social (feminino) para travestis e transexuais em diferentes instâncias públicas e particulares; Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso, pela criação do Centro de Referência de Combate à Homofobia LGBT.

6) Defensoria Pública: de Mato Grosso, Defensoria Pública de Bauru (SP) pela ação de retificação de registro civil a um transexual, sem que o mesmo precisasse se submeter à cirurgia de redesignação sexual; Defensoria Pública do Estado do Pará pela defesa do casamento gay.

7) Personalidades públicas: O Senador Eduardo Suplicy e Presidente da OAB Ophir Cavalcante, por condenarem as declarações homofóbicas do general Raimundo Nonato contra a presença de homossexuais nas Forças Armadas; Coronel Afonso Henrique Pedrosa, comandante do Forte de Copacabana do Exército brasileiro, por declarar não admitir qualquer conduta homofóbica entre seus comandados; Pedro Abramovay, Secretario Nacional de Justiça, por afirmar que o Ministério da Justiça não faz restrição de exibir beijo gay e cenas do tipo, em obras de dramaturgia na televisão, em qualquer horário.

8) Religião: Igreja Episcopal Anglicana de Goiânia, pela criação da Pastoral da Diversidade Sexual; Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Olinda e Recife, por denunciar que 16 presos homossexuais tiveram suas cabeças raspadas no Presídio Aníbal Bruno; Padre Fábio de Melo, da TV Canção Nova, por acolher cordialmente a um jovem gay que queria se matar e pela denúncia contra o "moralismo cego, que nos impede de ver o outro".

9) Academia: Universidade de São Paulo (USP), pela criação do Programa de Estudos da Diversidade Homossexual; Universidade do Estado da Bahia, Núcleo Diadorim de Estudos de Gênero e Sexualidade pelo projeto e ações de combate à homofobia; a Fundação Mineira de Educação e Cultura (BH), por disciplinar aluno que injuriou professor homossexual.

10) Artistas e cultura: Cantora Adriana Calcanhotto, por tornar público seu casamento no cartório com Susana de Moraes, diretora de cinema e filha de Vinicius de Moraes; Atriz Cláudia Raia e jornalista Luiz Fernando Veríssimo, por declarar apoio a legalização do casamento gay; Atriz Susana Vieira, por condenar as manifestações de homofobia no Big Brother Brasil 10; Escritor Walcyr Carrasco, pelo livro "Meus dois pais", obra pioneira com temática homossexual para crianças; Cartunista baiano Tomas M. pelo lançamento de tiras com personagens gays; Ator Buza Ferraz (1950-2010), in memoriam, por representar o primeiro casal gay da tv brasileira, ao lado de Ziembinski, na novela Rebu (Globo, 1975); Escola de Samba Imperatriz do Forte, (Vitória, ES), por incluir uma travesti como portabandeira.

11) Imprensa e TV: Site de pesquisa Google, pelo alerta de noticias contra homofobia; Folha de São Paulo, pelo editorial "Uma questão de justiça", em defesa da cidadania LGBT; Clipping de Notícias do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, pela seleção de reportagens ligadas à temática homossexual; Jornalista Mahomed Saigg, do jornal O Dia (RJ), pela matéria sobre os danos da homofobia no abandono escolar de jovens LGBT; Jornalista Keka Werneck, de Cuiabá, pela defesa da cidadania das travestis; Programa Qual é o seu Talento (SBT), por exibir beijo de um casal gay de dançarinos; Programa Troca de Famílias, (TV-Record), por mostrar uma família que aceita com naturalidade um filho gay adolescente; apresentador Faustão Silva, por defender repetidamente o respeito à população LGBT; Rede de TV Globo, por exibir diversas entrevistas e matérias simpáticas à militância gay, pela cobertura do Fantástico sobre Homofobia em Uganda, pelas reportagens sobre agressões homofóbicas na Avenida Paulista.

TROFÉU PAU DE SEBO

1) Deputado Federal Jair Bolsonaro, por diversas declarações contra a cidadania homossexual e estimular aos pais darem palmada em seus filhos como corretivo para impedir tendências homossexuais

2) Câmara Municipal de Salvador, por ter dado nome de rua ao maior homófobo do Brasil dos anos 90, o jornalista baiano Berbert. "O mais chocante, diz Luiz Mott, é que na Câmara há uma vereadora transexual, uma "frente parlamentar LBGT" e nem por isto, impediram este acinte aos gays da Bahia. O homófobo homenageado defendeu duas vezes no principal jornal baiano: "Mantenha Salvador limpa, mate uma bicha todo dia!" A Bahia por dois anos consecutivos foi a campeão nacional de assassinados de LGBT, 30 homocídios em 2010!

3) Apresentador Datena, programa Brasil Urgente (TV-BAnd) condenado pela Defensoria Pública de SP por "prática discriminatória contra travestis" e o Apresentador Augusto Canário (Rede Massa-SBT, Paraná), por declarar-se contra a candidatura de gays a cargos eleitorais.

4) Justiça Militar do Exército pela condenação dos sargentos Laci Araújo e Fernando Alcântara, casal militar que se assumiu sua união homossexual em rede nacional; Superior Tribunal Militar, pela exclusão e aposentadoria compulsória de um tenente-coronel das Forças Armadas, por motivo de sua homossexualidade

5) 7ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo por defender a impossibilidade jurídica do reconhecimento da relação estável homoafetiva e a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça do RS, por negar o reconhecimento da união estável de dois casais gays; o Presídio Aníbal Bruno, Olinda e Recife por raspar a cabeça de 16 presos homossexuais.

6) Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pela oposição da instalação de máquinas de camisinhas em escolas de Ensino Médio da rede pública.

7) Torcida organizada do São Paulo Futebol Clube, Dragões da Real, por matéria homofóbica veiculada no site da torcida

8) Centro Acadêmico dos Estudantes da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, por incentivar estudantes através, de e-mail e do Orkut de "O Parasita", a jogar fezes em homossexuais na USP ;

9) Doceria Ofner, (SP), pela discriminação praticada por um segurança constrangendo um casal gay por se abraçarem.

10) Alexandre Frota e Gloria Perez por apoiarem declarações homofóbicas de Dourado, vencedor do programa Big Brother Brasil 10."

Terra Magazine

Oscar Gay premia Bolsonaro, Datena e torcida do São Paulo – Terra – Política

30/01/2011

Egito: Falta apoio de países a movimento, diz especialista – Terra – Mundo

Filed under: PIG — Gilmar Crestani @ 10:06 am
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Sábado, 29 de janeiro de 2011, 10h15

Egito: Falta apoio de países a movimento, diz especialista

Reuters

Homens colocam fogo em uma barricada durante protestos no Cairo, onde a polícia e os manifestantes se enfrentaram nas ruas

Homens colocam fogo em uma barricada durante protestos no Cairo, onde a polícia e os manifestantes se enfrentaram nas ruas

Dayanne Sousa

A explosão no Egito de uma verdadeira batalha nas ruas entre manifestantes e a polícia tem potencial para se transformar numa próxima grande revolução histórica, avalia o professor Reginaldo Nasser, especialista em relações internacionais no Oriente Médio pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Para ele, falta apoio internacional para que seja derrubado de uma vez o governo ditatorial de Muhammad Hosni Said Mubarak, há 30 anos no poder.

"Os Estados Unidos têm papel dúbio, para não dizer hipócrita", critica. "O Brasil está igual aos Estados Unidos… Diz que torce para as coisas saírem bem e pronto".

Nesta sexta-feira (28), o Egito viveu o dia mais tenso desde o início dos protestos contra o presidente Mubarak, somando ao menos 5 mortes, 800 feridos e ataques à sede do partido governista. Inspirados pela onda de protestos na Tunísia, os egípcios foram às ruas. Já nas primeiras horas do dia, o governo suspendeu a internet, com o objetivo de prejudicar os manifestantes. Até agora, a rede vinha sendo a principal forma de mobilização.

O professor Nasser avalia que há ainda receios no cenário internacional, uma vez que o Egito é um importante aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio. "Os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que são duros nas críticas com o Irã, são condescendentes com as violações de direitos no Egito, e o Egito sempre foi muito pior do que o Irã".

O especialista destaca ainda o papel da internet e, principalmente, a cara nova dos manifestantes. É a primeira vez, diz, que os protestos não têm "as vestes do islamismo". "Está aparecendo um outro ator da história, que não está vinculado a partido, a grupos religiosos", pondera.

Leia a entrevista.

Terra Magazine – Podemos considerar uma revolução histórica?
Reginaldo Nasser – Pelo que está se configurando, sim. A gente ainda não tem a dimensão do apoio. No caso da Independência da Argélia e da Revolução do Irã, foi um país inteiro mobilizado. Pelo que a gente tem visto até o momento no Egito, por enquanto são apenas as grandes cidades como Cairo e Suez. Mas pode vir a ganhar uma proporção de uma revolução tal como foi no Irã. E esse é o medo de Estados Unidos e Israel. Se os militares aderirem, o governo não se sustenta, não tem como. Os militares são bem vistos, diferentemente dos policiais.

Existe algo que justificaria o estopim no momento atual?
No curso da história é assim. O que eu acho um diferencial é que no mundo árabe, sempre que aparecia oposição, era sobre as vestes do islamismo. No caso do Egito, o grande opositor do regime era a irmandade muçulmana e que desta vez está participando apenas nos últimos dias. Está aparecendo um outro ator da história, que não está vinculado a partido, a grupos religiosos… São jovens. Acabou vindo à tona num país em que a ditadura existe há muito tempo.

A internet foi essencial para a construção desse movimento, não?
Sem dúvida. Nos eventos no Irã, na fraude eleitoral que houve, já apareciam como um fator importante o celular e a internet. Num regime como esse, a única forma de comunicação é essa. Não há imprensa livre. Se já é importante em regimes democráticos, tanto mais em regimes ditatoriais. Foi bloqueado o Facebook e o Twitter, mas mesmo assim foram para a rua.

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, chamou o Egito de "parceiro", embora tenha defendido a democracia e condenado a violência da polícia. Como fica o cenário internacional?
Como sempre, nestes aspectos, os Estados Unidos têm um papel dúbio, para não dizer hipócrita. Em termos de política externa, o Egito é a grande peça do tabuleiro de xadrez do Oriente Médio. O Egito é o maior país do mundo árabe em termos econômicos, militares e populacionais. O Egito é que foi à frente nas guerras com Israel em 1957, 67 e 73 – as guerras mais importantes. Justamente após a guerra de 73, o Egito mudou de lado. Essa foi a grande virada. Até então era aliado da União Soviética, passou a ser aliado dos estados Unidos e ao mesmo tempo fez as pazes com Israel. Desde então, o Egito é um país muito próximo dos Estados Unidos e de Israel. É a garantia contra os movimentos chamados radicais. Uma mudança de regime, mesmo que não seja por um viés ideológico, gera apreensão. Os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que são duros nas críticas com o Irã, são condescendentes com as violações de direitos no Egito. O Egito sempre foi muito pior que o Irã.

Pior do que o Irã?
Sem dúvida! O Irã tem eleição! Essa última eleição do Irã foi uma das únicas em que houve fraude. Tem partidos políticos, tem parlamento. Comparando, o Irã, antes desse endurecimento do (presidente Mahmoud) Ahmadinejad, é um dos mais democráticos!

E o Brasil – que até tentou diálogo com o Irã – como deve se posicionar?
Saiu uma nota diplomática no tom daquelas que o Itamaraty sempre dá. Diz que torce para as coisas saírem bem e pronto. Não precisaria romper relações com o país, mas acho que poderia ter uma nota mais contundente. As imagens estão mostrando a violência do que está acontecendo lá. Não dá para ficar numa posição formal e diplomática de simplesmente torcer para que fique tudo bem. O Brasil está igual aos Estados Unidos.

O senhor acha que essa seria uma posição para evitar se comprometer?
Sim. E nesse momento seria muito mais importante para o movimento do Egito ter apoio internacional.

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