OBScena: Michel Temer vestido para assumir o butim do golpe paraguaio.
Golpe não é para amadores III
Golpe não é para amadores III – rdmaestri
dom, 24/04/2016 – 07:58 – Atualizado em 24/04/2016 – 08:04
Forças democráticas mais intelectualizadas começaram a se reagrupar em torno da conservação do governo Dilma
Há mais de um ano venho escrevendo uma série de artigos sobre golpe, e insisto no amadorismo tanto dos golpistas internos como os seus consultores internacionais, que não tem o mesmo brilho sinistro do Gen. Golbery do Couto e Silva e seus aliados civis bem como das eficientes agencias de inteligência que ficam agora só atrás dos computadores.
Os golpistas à medida que aproxima o golpe, que agora mais claro se define como o tendo o governo Temer como clímax (nos primeiros artigos não havia ainda a farsa das pedaladas vide Deem-me um estado de apoio que vos darei um golpe!, Golpe não é para amadores e Golpe não é para amadores (II) as armas eram outras mas o objetivo é o mesmo), o clímax está na dando ares de anticlímax.
As pessoas podem até pensar que a situação degenerou desde o primeiro artigo (03/03/2015) para cá, porém ao meu juízo o que degenerou foi à situação dos golpistas. Como não conseguiram as bases necessárias para um golpe convencional, que neste primeiro artigo ainda era a principal hipótese, partiram para o golpe mediático-jurídico, que não era a primeira opção dos golpistas brasileiros (talvez fosse dos assessores externos).
Porém para um golpe mediático-jurídico é necessário no primeiro momento uma base mais ou menos firme com uma parte da população apoiando e outra parte indiferente, que parecia estar dando certo, porém além de todas as ausências de pré-requisitos citadas nos artigos anteriores, como uma base territorial firme, apoio de amplos setores militares, um governo norte-americano sem vergonha de acolher golpistas, os capitalistas fechados plenamente em torno do golpe (ainda há, porém em breve desaparecerá este apoio) e, principalmente, uma coordenação central do golpe.
A falta de organização central do golpe e mais a necessidade de contar com qualquer um que fosse contra o governo, levou a alianças que mais pesam contra do que contribuem, por exemplo, Bolsonaro e Cunha. O primeiro criou uma resistência interna forte do lado feminino e dos movimentos negros devido ao seu comportamento misógino e racista, e esta resistência a figura de Bolsonaro está se propagando rapidamente ao exterior. Já Cunha o verdadeiro curinga dos golpistas no momento, como todo meliante, procurou cercar-se de garantias que fazem dele uma pedra no sapato que se grudou no solado e não conseguem retirá-lo. Além de tudo isto a falta de uma organização central única do golpe, obrigou a Temer fazer uma profissão de fé neoliberal exigida por setores do PSDB, que até no primeiro mundo está ficando fora de moda, e que encontrará resistências até nos quadros do PMDB.
Com todos estes erros estratégicos e com aliados inconvenientes as forças democráticas mais intelectualizadas começaram a se reagrupar em torno da conservação do governo Dilma, a última resistência a este reagrupamento, a Luciana Genro, foi enquadrada pelo partido e está entrando na linha partidária. Após este momento a resistência ao golpe vai se vascularizando engrossando as fileiras em torno de Dilma e retirando o ânimo dos que apoiavam o golpe por convicção pessoal.
Os golpistas pensavam que manteriam grande parte da população inerte sem forte rejeição ao processo, isto lhes daria tempo de governar até o fim das Olimpíadas e depois desta baixar o sarrafo na oposição incutindo o que os governos fascistas sempre fizeram, tomar o poder e depois conservar através do terror (atenção insisto em dizer, este golpe assim como os golpistas não tem nada de fascista, a não ser alguns de seus membros), porém veio o golpe final da desorganização, a famosa seção da câmara dos deputados, que impropriamente Cunha colocou num domingo para que toda a população e a imprensa internacional acompanhasse o fiasco, acordando a população com tamanho grau de cinismo e palhaçada, criando um grau de revoltada antes do tempo previsto (ou seja, não precisou maldades).
Agora o Senado tem duas saídas, não aprova o golpe ou segue no script falido e derruba a Presidenta Dilma. A primeira opção desmoraliza os seus aliados, porém ainda mantém o senado como uma arma a ser utilizada na luta contra a radicalização das reinvindicações que virão após o fim do golpe. Já a segunda opção pode parecer mais conveniente, mas tem pela frente o segundo grande problema, o governo Temer e o rescaldo do fim deste governo.
O problema de um governo tampão de Temer é que tanto o pacote de maldades como a entrada de capital estrangeiro, que estavam previstos para logo no início do mandato, antes das Olimpíadas. Estas hipóteses acalentadas pelos consultores está sendo barrada por dois fatores: Primeiro a população esta se acordando para a realidade e na primeira maldade o circo deles vai pegar fogo, e segundo a reação da imprensa estrangeira que enojada por comportamentos ridículos mais rapidamente compreendeu que o golpe é golpe. Por mais que o governo Norte-Americano apoiar por baixo dos panos no meio para o fim da campanha eleitoral indefinida se a candidata do establishment, a madame Clinton, fizer movimentos explícitos de apoio, pois pode pegar mal no eleitorado latino, um dos seus pontos fortes.
Ou seja, estão numa situação cada vez mais desfavorável, e isto pode simplesmente fazer o senado não apoiar o golpe ou mesmo a bagunça ficar tão grande que o Temer, terá duas saídas, ou renuncia, ou corre o risco, com alta probabilidade, de ser defenestrado do poder, junto tom toda a sua camarilha de forma violenta pela população em geral. Os golpistas nacionais não estão contando muito com este cenário, mas os seus consultores internacionais já estão fazendo as contas da tragédia.
As reações dos convidados a participar do governo Temer, que gentilmente declinam a "honra" de participar da “recuperação do Brasil”, mostra que vários já estão pondo as barbas de molho e vendo que quanto mais tempo demorar a Dilma retornar ao poder, maior será o movimento a esquerda que o governo seguirá numa segunda etapa do governo.
Muitos descrevem todos estes movimentos como uma ópera bufa, outros com outros qualificativos, mas o que é na verdade é tal desorganização nas hostes golpistas, pois se fosse ópera mesmo bufa pelo menos haveria uma só prima dona e um coral para apoia-la. O que temos na realidade são quase umas dezenas de prima donas (uma verdadeira contradição) cercadas não por um coral afinado, mas uma cantoria fora do tom e de compasso de um bando de palhaços que votam pela mulher, pelos filhos e pelas amantes.
São ou não são amadores?