Ficha Corrida

25/04/2011

Lula, e quem mais?

Filed under: PIG — Gilmar Crestani @ 6:00 am
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Lyra com Tancredo e Campos – esse vê longe !

O Conversa Afiada tem o prazer de publicar entrevista que Fernando Lyra concedeu ao Jornal do Commercio de Pernambuco:

“Fora Lula, quem é líder no PT?”
Gabriela Bezerra e Paulo Augusto
Acreditando que na vida – principalmente na pública – é importante saber a hora de sair, Fernando Lyra deixou a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), na última segunda-feira, após oito anos na presidência da instituição. Agora sem ocupar cargos públicos, o ex-deputado federal e ex-ministro do governo Sarney se encontrou numa antiga atividade: dar pitacos na política. Tido por muitos como um hábil articulador político – sendo, inclusive, um dos responsáveis pela candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República –, Lyra concedeu entrevista ao JC na última quinta-feira. Na conversa, falou sobre diversos temas. Elogiou o governo Dilma, fez duras críticas aos partidos políticos e defendeu a necessidade da reforma política.
PARTIDO
“Eu tenho a tese que nunca houve nem haverá partidos políticos no Brasil. Hoje, você tem alguns realmente com formação ideológica, como o PSB. São exceções. Você vê que não tem partido. Quem são os militantes? A militância partidária no Brasil está zerando. Hoje são tendências e só. Não tem mais a militância e não há um processo dos partidos, porque não são partidos, para se entrosarem com a juventude. Você conversa com um jovem hoje e ele fala sobre tudo, menos sobre política. Não há nenhuma conscientização na juventude brasileira com o processo político. Ninguém quer saber. Você tem que se adaptar à sua realidade. A mobilização em torno da Ficha Limpa foi uma tentativa de resgate dessa conscientização. Foi importante, mas eu acho que tem que ser uma coisa mais contínua. E a reforma política precisa disso (de mobilização popular) também. Inclusive, tem muito ‘ficha suja’ decorrente das falhas desse processo eleitoral. Agora só se fala na eleição de 2012. Mas quem está falando? São os políticos, com seus interesses pessoais. O povo está se lixando. Nós estamos atravessando uma fase de apatia política popular nunca existente no Brasil. Eu falo isso aqui, mas entusiasmo mesmo eu não tenho.”
PT
“O PT não é um partido, nunca foi. O PT é um conjunto de tendências e é por isso que ele defende a lista (voto em lista fechada, na reforma política). O PT não tem liderança. Fora Lula, que está fora, que é extra, quem é o líder do PT hoje? E por que o PT não é um partido? Porque o PT foi criado pelos operários do ABC paulista, que naquela época não tinham nada a ver com o operariado brasileiro, com o apoio da intelectualidade da época, que não tem nada a ver com os operários, e com o apoio da base da igreja, de (o papa) João XXIII, que não tem nada a ver com os intelectuais nem com os operários. A partir daí, ele começou a formar tendências da base operária, da base intelectual e da base da igreja e foi crescendo. Foi crescendo por falta de opções e Lula deu ao PT essa grande coisa que foram as vitórias e o governo dele. Ele é 10 vezes maior do que o partido. Tanto é verdade que ele foi buscar Dilma para ser candidata a presidente da República, porque nenhuma liderança do PT, naquela época e nem hoje, tem condições de ser presidente. E Dilma não é PT, Dilma é Lula. E pra quê esse partido quer fazer lista? Porque ele tem o nome, por causa de Lula. Para disputar com os outros que não têm nome. Quem danado sabe o que é PSC? Quem é que sabe o que é PPS? Quem é que sabe o que é PRTB? Quem é que sabe o que é PMN? Quem é que vai votar em PMN? Ninguém sabe o que é o PSDB. Você tem nomes, mas você não sabe o que é que é. Porque o PSDB não existe. O PSDB hoje é quem? É de um lado Aécio, do outro lado Serra e no meio Alckmin. Pronto, acabou. Não tem mais nada.”
PMDB
“Ele não existe. Vou dar alguns exemplos. Quem é o PMDB de São Paulo hoje? (Era) Orestes Quércia. Temer não é líder em nada. Gosto até dele, pessoalmente, mas ele não é líder de nada. Quem é o PMDB do Rio Grande do Sul? Pedro Simon. E de Pernambuco? Jarbas, que é PMDB, mas não é PMDB, porque o PMDB dele não é PMDB. Assim como Simon, de certa forma… Um partido como PMDB, que precisa criar um núcleo de Afirmação Democrática, mostra o que é. E copiando, de uma forma que não tem nada a ver com nada, os ‘autênticos’ do MDB, do qual eu fiz parte. Mas do MDB. Porque teve uma hora que o governo militar não tinha jeito de acabar o MDB, então obrigou todo mundo a botar um ‘P’. A partir desse ‘P’ complicou tudo. A fragmentação de hoje não tem nada a ver com aquela época. Era uma outra hora. Eu mesmo criei os ‘autênticos’ e teve uma época que eu fiquei queimado com os ‘autênticos’ e com os ‘moderados’ (os dois grupos em que o MDB se dividia). Porque eu apoiei Tancredo, que os ‘autênticos’ não queriam. E os ‘moderados’ não gostaram da minha intromissão com Tancredo (que era da ala moderada). Mas eu achava que era a solução e não liguei para o resto.”
PSD
“Depois da Constituinte, ou melhor, depois da criação dos novos partidos, partido virou negócio. Todo mundo se acha no direito de criar um partido. Agora mesmo você vê o Kassab, que foi candidato apoiado pelo Serra. Ele era do DEM, foi apoiado pelo Serra contra o Alckmin e sai agora do DEM para criar o PSD, que era PDB e virou PSD, que é um partido que não é de esquerda, nem de centro, nem de direita. É o partido do oportunismo (que nasce) para se ter chance de ter financiamento e para aparecer na mídia como se fosse uma coisa nova, mas que já nasce velha. Um partido que já nasceu totalmente obsoleto. Um partido que não tem lideranças, que não tem filiados, tem é um corpo de oportunistas… Eu estou falando desse aí (o PSD), mas eu estou na política há 40 anos e 50% ou mais dos partidos que aparecem na televisão, eu não sei o que são, de onde vieram nem o que fazem.”
RENOVAÇÃO
“Aécio é competente, é carismático, mas está sem conteúdo para evoluir na política como liderança nacional. Eu vi o discurso dele (no Senado, há duas semanas) e não tem nenhuma proposta. (*) Eu acho que Eduardo Campos passou na frente. Eduardo está sendo um excelente governador, é renovador e inovador. Ele assume hoje o papel de liderança nacional. Sendo de um Estado pequeno como é Pernambuco e de um partido pequeno como é o PSB.”
DILMA
“Ela está indo muito bem… Porque não se choca com o passado recente de Lula, mas avança em alguns setores importantes, como o gerencial, o da participação real das diversas políticas, tanto econômica como estrutural. Acho que ela está indo muito bem. Agora mesmo, por exemplo, ela está tendo uma participação muito positiva na política externa. Tem planejamento. A visita dela à China é calcada em diversos itens de planejamento real, você vê que não tem floreio na visita.”
RECIFE
“Eu moro em Jaboatão. E lá Elias vai bem. (risos)”
OPOSIÇÕES
“O grande problema da oposição brasileira, seja federal, estadual ou municipal, é que não tem opções. Quem é o candidato a prefeito aqui? Vai sair do núcleo do governo. A disputa vai ser interna. João Paulo, só perguntando a ele. Eu não conheço ninguém que tenha opinião sobre o futuro de João Paulo. Eu gosto muito do Raul Henry, do Mendoncinha. Mas esses nomes não têm respaldo para ser candidato. Mas é muito cedo ainda.”
REFORMA
“Na reforma política, essa coisa da lista (fechada) liquida qualquer coisa boa que ela (a própria reforma) possa ter. Mandato de cinco anos, eu acho perfeito. Agora eu sou contra a coincidência das eleições. Você tem que ter eleição para prefeitos, vereadores, deputados estaduais e governadores e depois eleição para deputado federal, senadores e presidentes da República. Pode ser nos meses de agosto e outubro, não sei, o importante é que não seja no mesmo dia. Porque é impossível você fazer uma campanha de prefeito a presidente da República. A lista fechada é uma ideia aparentemente boa, mas o Brasil não são os Estados Unidos do Brasil, diferentemente dos Estados Unidos da América. Nós somos um país só, com diferenças absurdas. Não tem coisa mais diferente do que as ideias do PT de Pernambuco e do PT de São Paulo. Não tem coisa mais diferente do que o PMDB daqui e do PMDB do resto do País – tanto é que o PMDB daqui não apoiou Dilma, mesmo sendo aliado nacionalmente. O que eu acho é que cada Estado deveria ser um distrito, o que eu chamei de ‘distritão’. O que é o ‘distritão’? Os vereadores mais votados formariam a Câmara. Os deputados mais votados formariam as Assembleias e a bancada na Câmara Federal. Com isso daí haveria a integração dos diversos segmentos e diversos partidos na Câmara Federal. Para não acontecer o que acontece hoje, as divergências da bancada. Cada bancada tem um pensamento diferente. Com o sistema de lista, quem é que vai para a cabeça da lista? Então com isso aí (o ‘distritão’), você dá uma nova forma de formação da Câmara, do Senado… Porque não é possível que você eleja um deputado federal com 1 milhão e 300 votos, como foi o Tiririca, e um outro, com 200 votos, seja eleito por causa dessa votação.”
REELEIÇÃO
“Cinco anos é um prazo bastante satisfatório e oito anos criam um problema sério porque é muito difícil você renovar um mesmo governo. Tem exceções. Por exemplo, Eduardo Campos é exceção, porque ele mudou a forma de governar. Ele tem feito coisas fantásticas, como essa participação popular nos projetos do governo (Todos por Pernambuco). Mas sem a reeleição é possível se fazer o que se faz em oito anos e, se não for feito, o seu sucessor pode ser o seu aliado. Taí Dilma. Também acho que o ex-presidente não pode mais se candidatar a nada, porque já foi presidente. Não é que acabou a vida pública, mas acabou a vida partidária para ele. Nos Estados Unidos não pode e eu acho que está certo. Vamos fazer uma pequena análise dos ex-presidentes que estão no Congresso. Estão lá Sarney, Itamar Franco e Fernando Collor. Fernando Henrique não está porque não quis.”
CAMPANHA
“Acho que o financiamento de campanha deve ser público, sai mais barato. O público sai mais barato do que o privado, porque no privado as contribuições, geralmente, são decorrentes de apoios financeiros com dinheiro público. As empresas que financiam as campanhas têm interesse no Estado. A população vai ter que entender (a necessidade do financiamento público), porque tem que ser explicado. Quem é que paga os programas eleitorais hoje nas televisões? É o governo. E o povo não sabe disso? Tem que saber. Tem que ser bem claro, bem transparente essa coisa.”
VOTO
“Eu ainda sou a favor do voto obrigatório no Brasil, porque não há ainda uma conscientização do valor da escolha pessoal. Eu acho que o Brasil ainda não tem isso. No futuro é possível, mas por enquanto eu acho que não tem sentido nenhum. Até porque é uma mudança radical num assunto que não tem importância maior na eleição. Se você tem o direito de se abster, você não é obrigado a votar, mas você tem que comparecer. Eu acho muito difícil você liberar. Isso vai fazer com que o voto que hoje ainda não é independente, mas financiado, aumente. Você não tem obrigação de ir, aí diz que não vai. Então vai dobrar o valor”.


(*) A entrevista foi concedida no dia 17 de abril, antes, portanto, de uma certa blitz da Lei Seca, no Leblon, no Rio. PHA

Lyra: fora Lula, quem o PT tem ? | Conversa Afiada

20/03/2011

O Instituto Millenium em açõe$

Filed under: Estadão,FSP,Instituto Millenium,PIG,Rede Globo — Gilmar Crestani @ 11:32 am
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Dirigentes do PT-Rio atacam “manchetes mentirosas”

sábado, 19 de março de 2011

NOTA DE DIRIGENTES DO PT-RJ SOBRE A VISITA DE OBAMA AO BRASIL

A verdade sobre o PT e a visita do Obama

do blog Notícias do PT, por indicação do Flávio Loureiro

Nos últimos dias a imprensa golpista capitaneada pelas organizações Globo alimentou com manchetes mentirosas a polemica dentro do PT sobre a visita do presidente Obama e a promoção de manifestação contra a sua política no mundo.

É preciso deixar claro antes mais nada que é legítimo e correto que a presidenta Dilma, representante máxima do Estado brasileiro e seu povo, receba o presidente Barak Obama e demais presidentes das demais nações do mundo.

Não é verdade que o PT proibiu nada, assim como não apoiou. A reunião da Executiva Nacional do partido não aprovou nenhuma resolução a respeito. O Diretório Estadual do PT-RJ também não deliberou sobre o assunto.

Com o horizonte estratégico voltado para a construção de uma nova coexistência pacífica global nós, dirigentes do PT-RJ, entendemos a visita de Obama uma oportunidade para defender uma nova ordem mundial, baseada no desenvolvimento, na paz, nos direitos humanos e no respeito à soberania e autodeterminação dos povos.

Apoiamos manifestações de partidos de esquerda e movimentos sociais em favor do imediato fechamento da prisão em Guantánamo, da suspensão do bloqueio contra Cuba, da assinatura de convenções internacionais para barrar o efeito estufa e apoiar o desenvolvimento sustentável, da condenação do renascimento da IV frota dos EUA.

Olavo – membro da Executiva Estadual do PT-RJ
Antonio Neiva – membro da Executiva Estadual do PT-RJ
Bernardo – membro da Executiva Estadual do PT-RJ
Natalia – membro da Executiva Estadual do PT-RJ
Aloísio Junior – membro da Executiva do PT-RJ
Maria Alice – membro do Diretório Estadual do PT-RJ
Siron – membro do Diretório Estadual do PT-RJ
André Taffarel – DM-PT Mesquita
Danilo Funke – DM-PT Macaé
Ivan Paulo – DM-PT Seropédica
Luiz Carlos – DM-PT do Rio de Janeiro
Ricardo Quiroga – presidente da 1ª Zonal do PT da capital
Almir Barbio – DM-PT de São Gonçalo
Ronaldo – DM-PT Nova Iguaçu
Sergio – DM-PT Queimados
Malena – DM-PT Itaperuna
Álvaro Brito – DM-PT Resende
Helbson – DM-PT Barra Mansa
João Henrique – PT Vassouras

*****

A nota que havia sido divulgada pelo presidente do PT no Rio:

O Presidente Estadual do Partido dos Trabalhadores, Jorge Florêncio, torna público que não existe qualquer tipo de deliberação por parte desta instância partidária no que concerne a organização, participação e apoio a qualquer tipo de manifestação hostil a presença do Presidente Barack Obama em nosso Estado.

Sendo assim, desautoriza a qualquer membro manifestar opinião, em nome do Partido, que não reflita o posicionamento oficial do mesmo.

Neste momento em que o nosso País consolida-se como um estratégico interlocutor no cenário político internacional a vinda do Presidente Barack Obama ao Brasil, a convite da Presidenta Dilma, deve ser encarada como importante passo para afirmação dos nossos interesses políticos e comerciais.

Receber o Presidente Barack Obama na cidade do Rio de Janeiro no próximo domingo constitui-se importante oportunidade de consolidarmos a imagem da Cidade Maravilhosa, do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil no cenário internacional.

Aqui, como o Viomundo noticiou, a partir do Globo Online e da Agência Brasil.

Dirigentes do PT-Rio atacam “manchetes mentirosas” | Viomundo – O que você não vê na mídia

17/02/2011

O PT do Estadão

Filed under: PIG — Gilmar Crestani @ 9:33 am
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O editorial do Estadão revela primeiro a fixação pelo PT, depois mais uma tentativa vã de desconstrução. O Estadão não gostava do PT antigo e o combatia ferozmente. Não gosta também do PT novo, e continua combatendo com ainda mais gana. Não há nada de errado com o Estadão. Com o PT, sim, claro. Se o PT virou um partido igual aos demais, porque o Estadão só combate o PT e não os demais. Antes pelo contrário, combate o PT como forma de favorecer os seus partidos. É verdade que o PT, no poder, tornou-se o contrário do que sempre preconizou. Mas não era exatamente isso que o Estadão queria? Se o PT mudou tanto a ponto de se parecer com os demais, porque esta obsessão pelo PT? Por que o Estadão chama de coerentes (“militantes importantes”) aqueles fundadores do PT que ficaram pelo caminho só agora e não quando ainda eram do  PT? Por que os ex-militantes viraram importantes só agora?

Os dois últimos parágrafos são paradigmáticos da esquizofrenia do editorialista:

De qualquer modo, há aspectos em que o PT é hoje, inegavelmente, um partido muito melhor do que foi: este ano, com base na contribuição compulsória de seus filiados, pretende recolher a seus cofres R$ 3,6 milhões. Apenas 700% a mais do que arrecadava antes de assumir o poder.

O PT está completamente peemedebizado.

Não sei em que galáxia um partido se torna igual a outro por arrecada 700% mais do que arrecadava. Quando foi que o PMDB arrecadou 700% a mais? Se sobra ojeriza, falta inteligência. Infelizmente, é o que mais cresce no Estadão.

Infelizmente o PT mudou! Infelizmente o Estadão não mudou! E a inveja continua sendo uma MERDA!

 

A trajetória do PT

17 de fevereiro de 2011 | 0h 00

– O Estado de S.Paulo

Quando foi fundado, o Partido dos Trabalhadores (PT) se proclamou agente das transformações políticas e sociais que, pautadas pelo rigor da ética e pelo mais genuíno sentimento de justiça social, mudariam a cara do Brasil. Trinta e um anos depois, há oito no poder, o PT pode se orgulhar de ter contribuído – os petistas acham que a obra é toda sua – para melhorar o País do ponto de vista do desenvolvimento econômico e da inclusão social. Mas nada no Brasil mudou tanto, nessas três décadas, como a cara do próprio PT. O antigo bastião de idealistas, depois de perder pelo caminho todos os mais coerentes dentre eles, transformou-se numa legenda partidária como todas as outras que antes estigmatizava, manobrada por políticos profissionais no pior sentido, e, como nem todas, submissa à vontade de um "dono", porque totalmente dependente de sua enorme popularidade. Esse é o PT de Lula 31 anos depois.

Uma vez no poder, o PT se transformou em praticamente o oposto de tudo o que sempre preconizou. O marco formal dessa mudança de rumo pode ser considerado o lançamento da Carta ao Povo Brasileiro, em junho de 2002, a quatro meses da eleição presidencial em que pela primeira vez Lula sairia vitorioso. Concebido com o claro objetivo de tranquilizar o eleitorado que ainda resistia às ideias radicais e estatizantes do PT no âmbito econômico, entre outras coisas a Carta arriou velhas bandeiras como o "fora FMI" e passou a defender o cumprimento dos contratos internacionais, banindo uma antiga obsessão do partido e da esquerda festiva: a moratória da dívida externa. Eleito, Lula fez bom uso de sua "herança maldita". Adotou sem hesitação os fundamentos da política econômico-financeira de seu antecessor, redesenhou e incrementou os programas sociais que recebeu, barganhou como sempre se fez o apoio de que precisava no Congresso e, bafejado por uma conjuntura internacional extremamente favorável, bastou manejar com habilidade os dotes populistas em que se revelou um mestre para tornar-se um presidente tão popular como nunca antes na história deste país.

E o balzaquiano PT? O partido que pretendia transformar o País passou a se transformar na negação de si mesmo. E foi a partir daí que começaram as defecções de militantes importantes, muitos deles fundadores, decepcionados com os novos rumos, principalmente com os meios e modos com que o partido se instalou no poder. O mensalão por exemplo.

Os anais da recente história política do Brasil registram enorme quantidade de depoimentos de antigos petistas que não participaram da alegre festa de 31.º aniversário do partido – na qual o grande homenageado foi, é claro, ele – porque se recusaram a percorrer os descaminhos dos seguidores de Lula. Um dos dissidentes é o jurista Hélio Bicudo, fundador do PT, ex-dirigente da legenda, ex-deputado federal, ex-vice-prefeito de São Paulo. Em depoimento à série Decanos Brasileiros, da TV Estadão, Bicudo criticou duramente os partidos políticos brasileiros, especialmente o PT: "O Brasil não tem partidos políticos. Os partidos, todos, se divorciaram de suas origens. E o PT é entre eles – digo-o tranquilamente – um partido que começou muito bem, mas está terminando muito mal, porque esqueceu sua mensagem inicial e hoje é apenas a direção nacional que comanda. Uma direção nacional comandada, por sua vez, por uma só pessoa: o ex-presidente Lula, que decide tudo, inclusive quem deve ou não ser candidato a isso ou aquilo, e ponto final".

Bicudo tem gravada na memória uma das evidências do divórcio de seu ex-partido com o idealismo de suas origens. Conta que, no início do governo Lula, quando foi lançado o Bolsa-Família, indagou do então todo-poderoso chefe da Casa Civil, José Dirceu, os objetivos do programa. Obteve uma resposta direta: "Serão 12 milhões de bolsas que poderão se converter em votos em quantidade três ou quatro vezes maior. Isso nos garantirá a reeleição de Lula".

De qualquer modo, há aspectos em que o PT é hoje, inegavelmente, um partido muito melhor do que foi: este ano, com base na contribuição compulsória de seus filiados, pretende recolher a seus cofres R$ 3,6 milhões. Apenas 700% a mais do que arrecadava antes de assumir o poder.

O PT está completamente peemedebizado.

A trajetória do PT – opiniao – Estadao.com.br

10/02/2011

Éramos jovens e tínhamos cabelo – Marco Weissheimer

Filed under: Cultura — Gilmar Crestani @ 7:20 pm
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Éramos jovens e tínhamos cabelo

Feb 10th, 2011 by Marco Aurélio Weissheimer.

Por Selvino Heck (*)

“Nada como iniciar o ano e descobrir que um dia cada um de nós foi jovem e tinha cabelo.” Assim comecei minha coluna semanal na Folha do Mate, jornal da minha terra, Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, onde mantenho coluna semanal. No ‘Relembrando’, o jornal publicara notícia de janeiro de 1986, há 25 anos, quando o ex-governador e ministro Olívio Dutra, o hoje deputado estadual Raul Pont e eu visitávamos o município, num ato de filiação partidária.

E arrematei: “No meu caso, a publicação histórica serviu para duas coisas pelo menos. Mostrar aos menos avisados, ou aos que não me conheciam então, que, sim, eu tinha cabelos (e barba comprida) e, sim, não tinha barriga. Fez-me lembrar também que fui vice-presidente estadual do PT junto com figuras ilustres como Olívio Dutra e Raul Pont. E que, de alguma maneira, os fatos históricos relatados e a trajetória de suas figuras maiores explicam o sucesso posterior do PT em Venâncio Aires e região, no Rio Grande do Sul e no Brasil.”

10 de fevereiro de 2011. Estou na Secretaria Geral da Presidência da República, depois de ter ficado oito anos na Assessoria do Gabinete do Presidente Lula. Olho ao redor e vejo Dilma Roussef, do PT, primeira mulher presidenta da República, Tarso Genro, governador do Estado do Rio Grande do Sul, vice-presidente estadual do PT gaúcho quando eu fui seu presidente, Marco Maia presidente da Câmara Federal, que conheci com 18 anos, metalúrgico e participante de grupo de jovens em Canoas, RS, Adão Villaverde, antigo companheiro de jornada, presidente da Assembléia do Rio Grande do Sul.

Em 1986, o PT/RS elegeu a primeira bancada de 4 deputados estaduais, da qual eu fazia parte. Hoje tem 14 deputados estaduais. Elegeu 2 deputados federais, hoje tem 7, mais um senador. Elegeu 16 deputados federais no Brasil inteiro, hoje tem 88, nenhum senador, hoje tem 14. Elegeu os primeiros quatro prefeitos gaúchos em 1988. Hoje, só no Rio Grande tem cerca de 70 prefeitos, outros 70 vice-prefeitos em coligações e está presente em mais outros 70 governos municipais. E governa Venâncio Aires, com o PDT e outros aliados.

10 de fevereiro de 1980. Um grupo de abnegados militantes e lideranças sociais da Lomba do Pinheiro, conjunto de vilas entre Porto Alegre e Viamão, funda o núcleo do PT da Lomba. Concorre em 1982 com dois pedreiros a prefeito e vice em Viamão. Hoje governa o município de Viamão há 4 mandatos. 31 anos depois, o PT é governo em todos os níveis, é o maior partido brasileiro, o partido de esquerda mais importante do mundo.

Escrevo na Folha do Mate: “A vida passa, a história acontece. Se alguém em janeiro de 1986 (mais ainda em fevereiro de 1980) perguntasse a qualquer um dos participantes daquele ato em Venâncio Aires que o Partido dos Trabalhadores teria a trajetória que hoje, olhando para trás, ajudamos a construir, nenhum de nós imaginaria ou acreditaria, nem no melhor dos seus sonhos. É preciso ter ideais, perseguir sonhos e manter a coerência básica. Aí está a força do PT, de sua militância e o acerto da maioria dos seus governos.”

Mas será isso mesmo que aconteceu nestes 31 anos de história e luta? É possível dizer que o PT manteve a coerência básica, os ideais e os sonhos? Não é fácil construir um partido político no Brasil, um país onde a democracia ainda está em consolidação, onde partidos políticos pela primeira vez ultrapassam os 30 anos na legalidade, onde o povo sofrido começa a ter vez e voz no terceiro milênio e no século XXI, à base de muita luta, mobilização, ocupações, greves e protestos.

Todos os que participamos dessa construção certamente podemos afirmar com orgulho algumas coisas (e outras nem tanto). O PT ajudou a construir a democracia, nas Diretas-Já, na Constituinte, na conquista e ocupação de espaços institucionais. O PT ajudou a construir os movimentos sociais, com todo seu enraizamento na sociedade e construção de direitos para todos e todas. Nos governos, o PT chamou a atenção para a desigualdade social e econômica e colocou como prioridade os direitos dos trabalhadores e dos mais pobres, contribuiu na democratização do Estado e da sociedade com práticas como o Orçamento Participativo, a participação social, o diálogo e a parceria com a sociedade nas políticas públicas, apostou no desenvolvimento de um mercado interno de massas, afirmou a soberania nacional.

Mas se no seu início, anos oitenta, como dizia o saudoso deputado Adão Pretto, tinha um pé na luta social, outro pé na institucionalidade, com o passar dos anos o segundo pé foi ficando muitas vezes mais forte, às vezes até sufocando o pé da luta social e da construção coletiva. Nem sempre a ética, um dos princípios básicos de sua fundação, permaneceu como referência no trato com a coisa pública. Tampouco os sonhos de mudança e de transformação radical continuam todos vivos e presentes no dia a dia da ação política. Muitas vezes o pragmatismo tomou conta e sufocou a ousadia libertária e a construção democrática e coletiva.

O mundo mudou, é certo, nestes 31 anos e qualquer partido político precisa saber ler a realidade. Chegar ao poder, ou pelo menos ao governo, leva a novos compromissos programáticos e novas formas de prática política. No essencial, contudo e apesar de tudo, eu que sou um de seus fundadores e nele permaneço, não me arrependo de ter contribuído na construção do Partido dos Trabalhadores, com milhares ou milhões de lideranças sociais, lutadores da boa causa, companheiros de mística, sonhos e utopia. O que, em termos de Brasil, não deixa de ser uma referência e algum sinal dos tempos. A melhor idade se aproxima, os cabelos são ralos, mas o desejo e a necessidade de mudança permanecem.

(*) Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República

Foto: Campanha eleitoral para Prefeitura de Porto Alegre, 1988 (Acervo Centro de Informação e Memória do PT-RS)

Éramos jovens e tínhamos cabelo – Marco Weissheimer

ACRESCENTO EU:

O Silvino precisa contar, se é que já não contou e só eu não li, o episódio de que fez parte no Seminário Seráfico de Taquari, quando da visita do ditador Artur da Costa e Silva, nos anos 60. Teria sido em decorrência daquele episódio a razão pela qual que o Bispo de Porto Alegre, que não me recordo o nome, se recusara a ordená-lo padre.

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