O seu Ratzinguer resolveu meter o bedelho na política brasileira. Fiel companheiro de Sílvio Berlusconi, que misturou máfia, mídia, igreja e a putaria na política italiana, o Papa resolveu chamar no cilício os religiosos brasileiros para que passem a opinar sobre política a partir do púlpito. O Papa hóstia nunca conclamou da igreja italiana a se insurgir contra as políticas de segregação racial do atual primeiro ministro. Os extracomunitari, como os italianos chamam os imigrantes, são metidos em verdadeiros campos de concentração. Uma prática muito bem conhecida por Ratzinguer, quando fez parte da juventude nazista.
O mais incrível nesta intromissão, é que a linha do Bento XVI é exatamente aquela que puniu Leonardo Boff por ter opinião política. São os mesmos aliados da Opus Dei que sempre condenaram a Teologia da Libertação por tratarem as pessoas como parte de um todo dentro de um mundo real.
A hipocrisia não tem limites. Não chega a nos surpreeender que o Papa seja enfático na questão do aborto mas reticente quando se trata da pedofilia. Pela lógica obtusa da igreja conservadora, a condenação do aborto, e, via de consequência, a diminuição da natalidade, seria uma maneira manter o mercado da pedofilia. Como diriam os pedófilos, vinde a mim a criancinhas… É como usar o escudo político para fazer pregação para salvar a própria horta. Da mesma forma quanto a eutanásia. É tudo em benefício próprio!
O uso de antolhos impede a Igreja de se situar no tempo. Está sempre mil anos atrás. Nós só temos a lamentar que Átila, o Huno, tenha preservado somente os monumentos religiosos. Sabe-se lá com que preço… Nunca foi divulgado como a Igreja negociou. Ao preservar, Átila foi cristão, mas o Papa da época, que negociou a destruição de Roma pela preservação de seus domínios, foi bárbaro.
O Vaticano nunca se pronunciou contra a corrupção, até porque a Loja P2 e o Banco Ambrosiano, sob sua benção, sono cosa nostra! O Poderoso Chefão III ilustra muito bem as relações pecaminosas do Vaticano.
Menos mal que daqui a 100 anos a Igreja Católica, se ainda existir, poderá vir a público, e como no caso da Inquisição, pedir desculpas por suas posições equivocadas.
Sobre o mesmo assunto, mas sob outro ângulo, confira a opinião do Tomando na Cuia.
Há os que não têm papa na língua, e os que tratam a língua com maestria, como Luis Ferando Veríssimo. Como a situação é crônica, fique com ela:
Bárbaros

As civilizações costumam ter problemas com seus limites. Sempre há uma questão na fronteira, uma civilização diferente e portanto perigosa, ou um bárbaro sujo. Sempre há um bárbaro do outro lado, um autêntico marginal. Sempre há um marginal. Contam que o Papa Leo, para salvar Roma, concordou em ir ao acampamento de Átila, o rei dos Hunos, o Flagelo de Deus, o sujo, e pedir clemência. Pois os marginais nem sempre respeitam as margens e esse sujo rompera os limites do santo império romano e ameaçava um dos seus dois corações. Apesar da idade e do cansaço com a longa viagem o Santo Padre concentra toda a sua santidade num pedido a Deus para que o levite, a fim de que ele possa vencer a faixa de lama e esterco que separa sua liteira da boca da tenda de couro sem sacrificar sua dignidade, ou pelo menos suas sapatilhas. Mas Deus não o ouve e o Papa desliza para dentro da tenda onde Átila, que rói o que parece ser um fêmur humano, o recebe com uma salva de gases.
– Átila…
– Eu prefiro Flagelo.
– Flagelo, este é um encontro histórico. Você sabe o que é a História?
– Sei. Um monte de estrume. O que sobra da experiência depois que nós a digerimos. Lixo.
– Gosto do seu latim.
O huno mostra o fêmur seboso que acabou de limpar com os dentes.
– Preparei-me para o nosso encontro comendo um dos seus escolásticos. Ruct!
– O que foi isso?
– Um arroto. Estranho não ter saído em latim. Mas, nas suas erupções, todos os homens falam a mesma língua. As conferências de paz deviam ser entre os mais mal-educados de cada nação. Talvez seja por isso que nunca dão certo: sempre mandam os diplomatas. Mas você falava da História.
– Este encontro ficará nos anais da nossa História.
– Os hunos não têm anais. Não têm nem um alfabeto. Nossa História é o que contam os nossos velhos, e cada um mente mais do que o outro, para disfarçar o esquecimento. Entre os hunos, só os cavalos sabem escrever. Nossa História está nos seus rastros, no que eles deixam para trás. Lixo. Esqueletos, ruínas, mulheres estupradas e gado carneado. Isso quando não estupramos o gado e carneamos as mulheres. Este seu perfume…
– Extrato das glicínias de Roma.
– Ah, Roma.
– Você já a viu?
– De longe. Suspensa no ar. Uma miragem.
– A Rainha das Colinas…
– A Eterna…
– Toda a História do mundo numa cidade só. Todas as cidades numa cidade só…
– Breve a pilharemos. Com a devida reverência.
– Você não pode falar sério! Por trás desse exterior rude e dessas peles nodosas tem que haver um homem bom e razoável, com sentimentos nobres e um coração altivo.
– Um romano, você quer dizer. Sinto decepcioná-lo, Vossa Redolência, mas não há. Pelo menos não havia, da última vez que tomei banho.
– Roma não é um lugar. Roma é uma idéia, um parâmetro, um sonho, um triunfo do espírito. Roma é a memória e o futuro da humanidade!
– Prometemos só roubar o que tiver valor material. A literatura fica.
– Átila…
– Flagelo.
– Flagelo, poupe Roma. Me ofereço em seu lugar. Fique comigo e deixe Roma!
– Obrigado, eu já comi. E Vossa Fragrância me surpreende, fazendo apelos à consciência de um bárbaro. Eu não tenho consciência. Eu sou tudo que Roma não é. Se Roma é uma conquista da razão, foi essa inconsciência que ela conquistou.
E Átila bate no próprio peito, fazendo saltar outro arroto.
– Me atribuir uma consciência, Vossa Untuosidade – continua Átila – é diminuir a glória de Roma. Roma só é grande em contraste com seus inferiores. A não ser…
E Átila cutuca o Papa com a ponta do fêmur, convidando-o para uma cumplicidade de sujos.
– A não ser que vocês reconheçam que não são muito diferentes de nós. Hein? Hein? Por trás desse exterior bem lavado e desses panos bordados tem que haver um Átila adormecido. Vocês, apesar do extrato de glicínias, também não são flor que se cheire. Admita isso e eu admito ter uma consciência. Troco uma boa consciência por uma má.
– Não negamos nossa História.
– Negam, negam. Seus anais mentem mais do que os nossos velhos. Vocês civilizaram meio mundo a patadas, como nós. Só que nós não chamamos de civilização. Chamamos pelo seu nome exato. Talvez seja a vantagem de não ter uma escrita…
– Nos regeneremos! Hoje somos um império cristão.
– Isso depois de passar trezentos anos perseguindo os cristãos e atirando-os aos leões. Sempre suspeitei que os leões se enojaram primeiro.
– Está bem! Reconheço a nossa má consciência. Agora reconheça a sua boa.
– Feito!
– O quê?
– Concordo
– Você poupará Roma?
– Claro que não.
– Mas…
– Vossa Ungüência, vocês levaram trezentos anos para se converter e querem que eu me converta em três minutos? Dêem-nos tempo. Ainda temos uns bons cem anos de pilhagem pela frente até termos o bastante para nos tornarmos civilizados, talvez até cristãos.
– Seu, seu…
– Pode dizer. Bárbaro. Tenho a pele grossa, sem falar nos cascões de sujeira. Ruct! Epa. O seu gramático não me fez bem. Volte para Roma e diga que eu sou pior do que ela pensa, mais sujo, o que só aumentará sua virtude. E que ela não se preocupe: sempre haverá um bárbaro rondando as suas fronteiras para sua maior glória e indignação. Sempre há.
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