Ficha Corrida

04/10/2011

O Anticristo

Filed under: José Serra,PSD — Gilmar Crestani @ 7:04 am
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Porque o PSD não quer Serra

Enviado por luisnassif, seg, 03/10/2011 – 14:36

Autor: Luis Nassif

Há uma lista infindável de fatores que desaconselham o PSD a receber José Serra

O primeiro, é que Serra não tem nada a oferecer.

Certa vez, nos anos 80, Guilherme Afif Domingos – um dos melhores quadros políticos da direita – me esclareceu a respeito da capacidade de Paulo Maluf em arregimentar seguidores: "Ele tem credibilidade no mercado político futuro", disse ele. A credibilidade decorria de dois fatores: tinha potencial político e cumpria a palavra empenhada.

Serra não tem mais futuro político nem se distingue pela lealdade partidária e pessoal. Na verdade, é um ególatra altamente desagregador – conforme o PSDB está testemunhando.

O segundo fator é a falta de discurso político.

Um partido vive de bandeiras. Desde início dos anos 90 Serra é um vazio cercado de ghost writers – que já debandaram. Não tem noção mínima sobre nenhum dos temas portadores de futuro: gestão, inovação, educação, desenvolvimentismo. Sua retórica atual consiste em analisar qualquer ato de governo e apontar o que a medida não contempla – recurso de um primarismo intelectual clamoroso -, com uma superficialidade tal que é incapaz de entender as contraindicações das medidas que abraça por efeito-oposição.

Hoje em dia, a imagem de Serra está indissoluvelmente ligada ao obscurantismo religioso, à intolerância, à dissimulação, tudo o que o PSD quer esconjurar para se firmar como um centro-direita civilizado.

O terceiro fator é a incapacidade de agregar mais quadros técnicos ao partido

Kassab já tem o que queria, os quadros tucanos que Serra legou quando deixou a prefeitura. E que continuarão com ele simplesmente porque Serra não lhes oferece mais nenhuma perspectiva política.

Por outro lado, o que menos Kassab deseja é a volta dos quadro barras-pesadas que fazem parte do círculo íntimo de Serra – como Andrea Matarazzo e a ex-vereadora Soninha Francine. Nos tempos em que assumiu a subprefeitura da Lapa, Soninha tinha o hábito de desfeitear Kassab na frente de outros subprefeitos, para mostrar que estava acima dele e do lado direito de Deus Pai – Serra. O mesmo comportamento, aliás, de Andréa.

Além disso, quando a campanha eleitoral desnudou o político infame que era, Serra perdeu também qualquer capacidade de aglutinar pensadores social-democratas ligados à Universidade, sem nunca ter conseguido convencer os pensadores mais conservadores.

As ligações com Serra tornaram-se tão comprometedoras que o próprio FHC teve que se afastar dos seus maus fluidos, para não afetar definitivamente sua imagem.

O quinto fator é que a influência de Serra sobre a velha mídia é declinante. Ele nada mais tem a oferecer além de dossiês sobre adversários, esquemas de espionagem e aliados incômodos.

Como não existe vácuo em política, em breve a velha mídia estará caminhando rumo a Aécio Neves ou outro pré-candidato que venha a preencher o espaço da oposição.

Por tudo isso, o habilidoso Kassab certamente já deve ter definido sua estratégia. Não se afasta formalmente de Serra, aguardando que as próprias indecisões dele o confinem e a seus seguidores ao seu espaço político real, que não é maior que uma Kombi.

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10/06/2011

Teoria da Dependência vive, no STF

Filed under: Isto é PSDB! — Gilmar Crestani @ 9:50 am
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Não poderia vir de outros magistrados a ideia de que a grandeza do Brasil está na sua dependência. Teoria cara ao prof. Cardoso, que levou ao Supremo o supremo despreparo jurídico. Os indicados do PSDB expuseram aos estudantes de direito do Brasil e do mundo um despreparo do tamanho da Nação que representam.

Gilmar e Ellen: a politização do saber jurídico

Enviado por luisnassif, qui, 09/06/2011 – 11:35

A ampla exposição dos julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) pela Internet, a possibilidade de confrontar votos e posições dos ministros têm permitido entender de forma didática o que em direito se chama de chicana – o uso abusivo de recursos protelatórios nos julgamentos, ou a utilização do pretenso saber jurídico para impor a vontade pessoal do julgador. Quando todos os membros da corte possuem saber jurídico, facilita o trabalho de entender essa forma de ditadura do especialista.

No julgamento de ontem, do caso Battisti, não estava em jogo o mérito do caso, a culpa ou inocência de Battisti, mas uma questão constitucional: o poder do Executivo para autorizar ou não uma extradição, que é um ato de política diplomática.

Com mais de duas horas, o voto de Gilmar Mendes levantou questões que não estavam em julgamento – o mérito de livrar ou não Battisti – ou questões genéricas – o questionamento do poder absoluto do presidente da República, quando o que se discutia era seu poder específico para definir questões diplomáticas.

A Ministra Ellen Gracie endossou a posição da República da Itália a um ato soberano da República do Brasil.

Todo esse imenso estardalhaço foi destruído por dois argumentos tão óbvios que desnudam totalmente a hipótese das divergências jurídicas, para revelar a motivação de ambos, Ministros que buscam contornar a lei e a constituição para aplicar sua própria justiça:

1. Sobre se é justo ou não impedir a extradição de Battisti, mostrou-se que a questão em jogo é o direito ou não que tem o presidente da República de tomar decisões no campo diplomático. E a corte decidiu que sim.

2. Quando a incrível Ellen alegou que o presidente pode tomar decisões diplomáticas, desde que se atenha aos termos dos acordos bilaterais firmados, foi fulminada pelos demais Ministros: cumprimento de tratados entre países é matéria de análise do Tribunal de Haia, não do STF. Mais ainda: que a posição da Itália colocava em xeque o próprio conceito de soberania nacional.

Gilmar e Ellen: a politização do saber jurídico | Brasilianas.Org

13/03/2011

Os “melhores quadros” eram falsos

Filed under: Isto é PSDB!,WikiLeaks — Gilmar Crestani @ 8:33 pm
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Diogo_e_a_anta_planaltina-300x202A anta e a involução da espécie

Cansei de ler, ver e ouvir na velha mídia que o PSDB era um partido de quadros. Dos melhores quadros. Não tinha povo, mas tinha quadros. Era um discurso que iludiu até o brilhante professor José Hildebrando Dacanal. Logo ele que foi engambelado por um editor picareta tucano (desculpe a redundância). Dacanal se achava um bom quadro, por isso chegou a se filiar. E quando se desfiliou, publicou o pedido e me enviou o recorte por carta. Está guardado. A Dacanal deve ser debitado parte do um desastra político e administrativo de um quadro que chegou a ficar pendurado junto ao cartão-ponto da RBS, Yeda Crusius. De fato, como diria o prof. Dacanal, o PSDB vendia como sendo os melhores quadros, quem comprou agora descobriu que eram falsos. Mas como pagaram caro, continuam vendendo a ideia de que eram bons. Originais, sim; bons, nunca!

Agora vem o WikeLeaks provar que os tucanos não só eram incompetentes, mas tinham o dom de se relacionarem com pessoas e eleitores idem. Não só eram piores para si mesmos, como para o Brasil. E também como fonte de informação diplomática.

Estava na cara, o cruzamento de anta com tucano só poderia resultar em bestas apocalípticas!

WikiLeaks e o sanatório geral da campanha de 2010

Enviado por luisnassif, qua, 09/03/2011 – 15:17

Os novos documentos do WikiLeaks, sobre as eleições de 2010, mostram o enorme despreparo do corpo diplomático norte-americano em acessar as fontes corretas.

Os diplomatas se deixaram envolver pelo coro da velha mídia como um leitor classe média desinformado.  Nenhuma visão estratégica, nenhuma discernimento para separar torcida de análise e a inacreditável ingenuidade de considerar Diogo Mainardi como “renomado colunista político” – apenas um repassador de recados e de dossiês de Serra, utilizado por ele para atacar inimigos e jornalistas.

Mas dá uma boa ideia de como a vontade se impõe sobre os fatos e gera erros rotundos de análise.

Até agora é o melhor documento sobre a loucura que tomou conta da velha mídia, indo comer nas mãos de Serra. Uma fantasia na qual se meteu uma dúzia de jornalistas, julgando que com seus veículos à mão – em uma fase de transição em quase todos eles – se tornariam os novos donos do Brasil.

ra se cercou de um conjunto de jornalistas, para jornalistas, políticos sem conhecimento mínimo sobre o jogo político, meros torcedores sem capacidade de análise prospectiva, sem discernimento para entender sua (do Serra) própria incapacidade analítica, e, com eles, criou um mundo virtual. Machado de Assis se esbaldaria com essa versão contemporânea de "O alienista".

Quando se deu conta de que os fatos não batiam com as análises, a corte de Serra passou a espancar os fatos resultando na campanha jornalística mais irracional da história recente do país. Só restaram escândalos diários para suprir os erros de análise.

Em seu “Ciência e Demência” Olavo de Carvalho traça um cenário clássico desse tipo de piração coletiva de intelectuais  e subintelectuais, quando os fatos teimam em desmentir suas teses. Por não pode abrir mão da teoria – porque ela os consagrou – passam a desenvolver teses para provar que os fatos não existem, são meras alucinações.

Por exemplo, Serra – cuja incapacidade de análise política hoje em dia é uma unanimidade (especialmente no seu partido) – diz a Mainardi, durante um almoço, que Marina Silva seria a vice de seus sonhos, porque tem uma história bonita como a de Lula. Pronto. A embaixada informa que Mainardi reproduziu todos os argumentos de Serra em sua coluna na Veja – aliás, foi um dos pontos ridículos da campanha, na qual um colunista sem familiaridade com a política recebe a receita do bolo de Serra e se propõe a ser o padrinho de uma chapa presidencial impossível. Era o poder que emanava de quem considerava estar falando com Deus.

Desde meados de 2009, qualquer analista político competente sabia que Aécio jamais aceitaria ser vice de Serra. Esse quadro ficou óbvio em dezembro, quando Aécio anunciou oficialmente sua desistência de qualquer tentativa de impor seu nome – a presidente ou a vice – e  lançou sua campanha para senador. Ainda se poderia acreditar nele para presidente, jamais para vice de seu verdugo.

No entanto, a embaixada se baseia em “insiders” – Mainardi e Merval Pereira (!) – para sustentar que Aécio aceitaria ser vice, sim.  Aécio anuncia formalmente estar fora da disputa. Mas a embaixada, em conversa com o notável analista político Mainardi, sustenta que ele irá aguardar até… março para aceitar a indicação para vice.

Qual a outra grande fonte da embaixada que confirma a informação? O delegado Marcelo Itagiba, claro. No início de 2010, também garantiu que Aécio terminaria vice de Serra. O brilhante Itagiba é mais contundente: se Aécio perceber que a vitória de Serra não está assegurada, aí ele aceitará ser o vice. Só um completo alienado poderia supor um Aécio indo para o sacrifício por Serra.

Ou seja, um conjunto de pessoas intimamente ligadas a Serra, despidas de qualquer capacidade mais profunda de análise, comendo na mão de Serra e tratando como análises definitivas o que não passava de sonhos desconjuntados e impossíveis do próprio Serra. E essa loucura tornou-se o fio condutor da cobertura da velha mídia.

Por aí dá para entender a maluquice da velha mídia de jogar todas suas fichas no desastre político de Serra. Eles acreditavam piamente no que escreviam sobre as possibilidades de Serra porque só no final da campanha perceberam que estavam nas mãos de um alienado.

Muitas vezes escrevi como esse desequilíbrio da informação era um dos principais fatores do custo Brasil, por conduzir a erros decisões empresariais e políticas. No episódio em si, as maiores vítimas foram os próprios jornais.

Quando sai das fontes midiáticas e passa a falar com deputados, como Otávio Leite Rio (PSDB-RJ) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) os relatos ganham um pouco mais de consistência. Eles mostram a quase impossibilidade de Aécio aceitar a vice candidatura ou de Marina apoiar Serra no segundo turno.

Mais posts sobre o WikiLeaks:

No Blog Gonzum

No Maria Frô

 

WikiLeaks e o sanatório geral da campanha de 2010 | Brasilianas.Org

26/12/2010

Luis Nassif e a verdade suprema

Filed under: Cosa Nostra,PIG — Gilmar Crestani @ 5:11 pm
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A farsa do grampo sem áudio: um crime impune

Enviado por luisnassif, sab, 25/12/2010 – 11:05

Por comentador

As teses levantadas no blog ganharam um belo presente de Natal…

A POLÍCIA FEDERAL concluiu que não houve grampo ilegal nos telefones do então presidente do STF, Gilmar Mendes, no episódio em que foi divulgado diálogo com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Ilimar Franco – O Globo 25/12/2010

Comentário

Desde o primeiro momento sustentamos aqui: a história do grampo da conversa do Senador Demóstenes Torres com o presidente do STF Gilmar Mendes era uma farsa. Acusei nominalmente o Ministro Gilmar Mendes de endossar uma farsa. Sua desculpa – de que limitou-se a receber o material da revista – não se justificava. Acusou sem provas, ajudou a alimentar uma crise política e, principalmente, a criar a cortina de fumaça que permitiu barrar uma investigação criminal.

A farsa do grampo sem áudio entrará para a história política brasileira como um dos momentos mais vergonhosos. Não apenas pela farsa em si, mas por ter sido endossada pior toda a velha mídia, avalizada pelo presidente da Suprema Corte, com o objetivo de criar obstáculos a uma investigação que, em que pese diversos erros, tinha chegado ao cerne do crime organizado. É farsa da mesma natureza do Plano Cohen,das Cartas de Arthur Bernardes.

Como fica agora? Em cima de mentiras e mentiras criaram-se CPIs, blindaram-se agentes óbvios do crime organizado, desmoralizou-se o jornalismo. Depois disso, mais mentiras, mentiras sucessivas da revista sendo repercutidas pelo Jornal Nacional, Folha, Estadão.

Pergunto: quais os limites que a democracia deve criar para que publicações como a Veja não coloquem em risco a liberdade de imprensa?

A ABIN MANUSEOU ESCUTAS TELEFÔNICAS

Agentes da Abin confirmam que trabalharam com escutas telefônicas dentro das dependências do órgão em Brasília e em São Paulo. O material chegava em CDs, era transcrito e, depois, transformado em relatórios secretos de inteligência. Representante dos servidores da agência diz que os espiões do governo foram enganados

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Expedito Filho e Policarpo Junior

Fotos Rose Brasil/ABR, Joedson Alves/AE e Beto Barata/AE
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INVERSÃO DE PAPÉIS

Protógenes Queiroz (à esq.) chefiou a operação que contou com a participação informal" de pelo menos 56 agentes da Abin. O ministro Jorge Felix (no centro) e o diretor afastado da agência, Paulo Lacerda, participam juntos de reuniões S para definir estratégias da apuração do caso: suspeito investigando suspeitos

As investigações sobre a participação de espiões da Agência Brasileira de Inteligência na Operação Satiagraha já fizeram ruir praticamente todas as versões oficiais inventadas até o momento para tentar justificar a ação clandestina de um gigantesco aparato estatal e paraestatal que atuava à margem da lei. A "colaboração informal", a primeira das explicações oferecidas para justificar a presença de espiões em um caso policial, não resistiu à descoberta de que a ação movimentou um inusitado aparato de 56 agentes com vínculos funcionais com a Abin, número que pode ser bem maior. Agora, descobriu-se – oficialmente – que as atividades dos agentes nem sequer passaram perto da inocente versão segundo a qual eles faziam apenas consultas a bancos de dados. Além de seguirem, vigiarem, fotografarem e filmarem pessoas supostamente envolvidas com criminosos, os espiões do governo produziram relatórios secretos com base na audição de escutas telefônicas. Há um mês, VEJA revelou que arapongas a serviço da Abin grampearam sem autorização judicial conversas telefônicas de várias autoridades de Brasília. A prova do crime era um diálogo captado entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, repassado à revista por um servidor ligado à agência. A Abin nunca admitiu o envolvimento de seus agentes com grampos, mas as provas começam a aparecer.

A Polícia Federal tem em mãos uma lista de todos os agentes da Abin que participaram da operação. Parte deles já foi ouvida no inquérito aberto para apurar o caso. Os espiões contaram detalhes do seu trabalho, que envolveu setores da agência em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Os depoimentos são mantidos em segredo, mas dois espiões envolvidos já confirmaram ter manuseado grampos telefônicos e mensagens eletrônicas dentro das dependências da Abin. Um deles, encarregado de analisar o material, contou a VEJA que os grampos chegavam em CDs, eram transcritos e transformados em relatórios de inteligência. Depois, o material era encaminhado aos chefes dos respectivos setores. O grampo ilegal do ministro Gilmar Mendes percorreu todos esses estágios de produção dentro da agência, mas foi descartado porque não havia na conversa nada de relevante – nem para a investigação da Satiagraha, nem para consumo interno da Abin. Os outros – e havia muitos outros – viraram relatórios de inteligência.

Fotos Wilson Dias/ABR e Paulo Carvalho/CB
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AINDA EM AÇÃO

O ex-diretor adjunto José Milton Campana (à esq.) e o delegado Renato Porciúncula: afastados da Abin, o primeiro teria convocado os agentes para uma "missão presidencial"
e o segundo continua interagindo com os envolvidos

As escutas telefônicas circularam pelos gabinetes da Abin em Brasília e São Paulo. Em entrevista a VEJA, o presidente da Associação dos Servidores da Agência, Nery Kluwe, confirmou que, de fato, os agentes do órgão manipularam escutas telefônicas, mas que não cabia a eles questionar se elas eram legais ou não. Como a missão era oficial, subentendia-se que os grampos tinham origem em autorizações judiciais. Segundo ele, apesar de a operação ter sido completamente atípica, os agentes da Abin acreditavam estar participando de uma missão oficial. "Eles foram chamados para supostamente cumprir uma missão de interesse do presidente da República", diz. A tal ordem de missão, de acordo com o representante dos agentes da Abin, foi repassada pelo ex-diretor adjunto da agência José Milton Campana, afastado pelo presidente Lula depois da eclosão do escândalo (veja a entrevista abaixo). A se confirmar isso, os dirigentes da Abin cometeram um delito ainda mais preocupante. Além de atuarem nas sombras, interceptando ilegalmente telefones de autoridades, também teriam usado o nome do presidente da República para dar legitimidade às operações clandestinas.

Apesar da gravidade, a depender das investigações do governo, é pouco provável que as ações ilegais dos arapongas da Abin sejam desnudadas. Mesmo afastado da agência, o ex-diretor Milton Campana continua agindo nos bastidores. Há três semanas, ele se encontrou num restaurante com o delegado Renato Porciúncula e com o ex-diretor de Contra-Inteligência Paulo Maurício – ambos também afastados da Abin – para orientar o depoimento de Francisco Ambrósio, agente aposentado que participou da operação. Em depoimento à CPI dos Grampos, Ambrósio afirmou que os ex-chefões da agência o orientaram a depor na polícia tão logo surgiram suspeitas de que ele poderia ter conhecimento dos grampos ilegais. Campana teria ficado calado na conversa do restaurante, segundo relato do servidor. Ouvido por VEJA, o ex-diretor adjunto declarou que foi ao restaurante apenas para ouvir o que o ex-agente tinha a dizer. Também garantiu que nunca fez menção alguma a um eventual interesse presidencial na Operação Satiagraha. Possivelmente, essas circunstâncias serão esclarecidas. Há uma sindicância em andamento no Gabinete de Segurança Institucional, o órgão hieraquicamente superior à Abin, para apurar o caso dos grampos. Os diretores afastados pelo presidente Lula, incluindo o ex-diretor Paulo Lacerda, dão expediente no GSI, inclusive participando de reuniões sobre o caso. O general Jorge Felix, que comanda a pasta, parece não ter percebido ainda que existe um conflito elementar de interesses que impede investigados de participar da investigação.

No extremo mais promissor da investigação, a Polícia Federal ouviu, na semana passada, o depoimento do juiz Fausto de Sanctis. Ele voltou a dizer que não autorizou a realização de nenhum tipo de interceptação contra o ministro Gilmar Mendes. Muito antes da revelação da existência do grampo contra o ministro, a desembargadora Suzana Camargo, vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, contou ter ouvido de De Sanctis um relato com detalhes sobre o que se passava no gabinete do presidente do STF, inclusive reproduzindo diálogos entre assessores do ministro. A partir do relato da desembargadora, transmitido a Gilmar Mendes, a segurança do tribunal realizou uma varredura nas salas da presidência e encontrou fortes indícios de grampo eletrônico. O episódio ocorreu no dia em que Gilmar Mendes revogou a prisão preventiva do banqueiro Daniel Dantas. De Sanctis é o juiz responsável pela Operação Satiagraha, comandada pelo delegado Protógenes Queiroz, também afastado do caso. A desembargadora Suzana Camargo alertou o presidente do STF de que ele estaria sendo alvo de um possível monitoramento – conclusão a que chegou após conversar com o juiz. Ela se colocou à disposição da polícia para, se necessário, participar de uma acareação com De Sanctis. Espera-se que seja feita.

Os grampos chegavam em CD

Dida Sampaio/AE
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DE DENTRO
Nery Kluwe não sabe se as escutas telefônicas eram legais ou não, mas garante que elas foram enviadas pela PF

O presidente da Associação dos Servidores da Agência Brasileira de Inteligência, Nery Kluwe, confirmou que os agentes da Abin envolvidos na Operação Satiagraha tiveram em mãos escutas telefônicas – não sabe ele se legais, ilegais ou os dois tipos – que eram transcritas e transformadas em relatórios secretos. Ele, no entanto, diz que os agentes não fizeram nada de ilegal e que foram enganados pelos superiores:

Qual foi a exata dimensão da participação dos agentes da Abin na Operação Satiagraha? Nossos profissionais foram envolvidos numa investigação acreditando que era uma missão presidencial. O presidente da República está resgatando nossa dignidade profissional. Nada mais natural, portanto, que houvesse uma empolgação dos agentes com a missão. Mas, ao que parece, a missão era uma coisa pessoal e nada tinha a ver com o presidente.

O que você quer dizer com missão presidencial? Os companheiros que participaram me disseram que receberam a tarefa como uma missão presidencial. Houve uma reunião em Brasília no fim do ano passado, com a presença de alguns diretores da agência, em que foi dito que nossa atuação na investigação da polícia era necessária para atender a uma ordem do presidente da República.

Quem transmitiu essa versão? Isso foi passado aos nossos servidores pela autoridade responsável pela área de inteligência, o doutor José Milton Campana (diretor adjunto da Abin, afastado pelo presidente Lula). Os chefes que ouviram isso do doutor Campana repassaram a informação a seus subordinados, que a transmitiram aos agentes. Embora muitos nem sequer soubessem exatamente o que faziam, acreditavam estar desempenhando uma missão legítima.

Foi dito então aos agentes que eles estavam sendo convocados para cumprir uma ordem do presidente da República? Exatamente. Uma ordem emanada do presidente. Um trabalho de interesse do presidente da República.

Por que você diz que muitos nem sabiam exatamente em que estavam trabalhando? Muitas vezes os nossos agentes não sabem nem detalhes do alvo que vigiam ou o objetivo da missão. Nosso trabalho é compartimentado. Por questões de segurança, cada um executa uma tarefa distinta sem saber a do outro. No início, a tal cooperação era apenas um trabalho de vigilância, levantamento de dados e acompanhamento de algumas pessoas. Depois, evoluiu para uma investigação policial propriamente dita. Aí aconteceu de tudo.

Tudo o quê? Existe um rol de atribuições legalmente definidas para os profissionais de inteligência. Nós temos a expertise de acompanhar alvos e levantar dados sobre pessoas. A missão, como eu disse, era, inicialmente, apenas observar os alvos definidos. Depois, nossos agentes foram destacados para missões de análise e perícia de documentos colhidos pela Polícia Federal.

Isso inclui escutas telefônicas? Nossos agentes produziram relatórios com base em escutas telefônicas que chegaram à Abin através da Polícia Federal. Se elas eram legais ou não, eu não sei. Ninguém estava ali para questionar isso. Chegavam em CD e o nosso pessoal apenas transcrevia e analisava o material. Repito: não fazemos escutas.

O diálogo grampeado do ministro Gilmar Mendes com o senador Demóstenes Torres passou pela análise da Abin? Não sei.

A farsa do grampo sem áudio: um crime impune

A farsa do grampo sem áudio: um crime impune

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