Ficha Corrida

12/06/2013

Diversionismo

E por aí também se entende o espaço que a Folha deu ao assunto. Umas duas linhas na coluna de fofocas seria o suficiente para informar sobre o evento. O cheiro que está no ar é a jogada para dissociar Carlinhos Cachoeira de seu parceiro, Marconi Perillo. O ensaio da dissociação, ou distrato, contou com a participação dos grupos mafiomidiáticos goianos e paulistas, como a Folha. Quem acredita na briga entre Perillo e Cachoeira, ganha uma nota de três reais… Por falar em falsidade, por onde anda Policarpo Junior?!

Em defesa da mulher, Cachoeira desafia governador a um duelo

DE BRASÍLIA

Condenado a quase 40 anos de prisão sob a acusação de comandar um esquema de jogo ilegal, o empresário Carlos Cachoeira publicou ontem artigo em um jornal de Goiás em que chama o governador Marconi Perillo (PSDB) para a briga e o ameaça com a revelação de supostas irregularidades de seu governo.

A atitude de Cachoeira –que recorre da condenação em liberdade– se deu após ele afirmar que a mulher, Andressa Mendonça, foi tratada pelo governo de Goiás como "penetra" em uma solenidade no Estado.

"Se quiserem saber onde estão os maiores problemas e as principais sangrias dentro desse governo, é só encarar a briga que estou pronto para o embate. Em bom brasileirês’ falo com a cabeça erguida e com o peito arfante: cai pra dentro quem quiser que eu sustento o desafio. Escolham as armas."

Segundo a versão descrita por Andressa nas redes sociais, a assessoria de imprensa de Perillo divulgou que ela entrou sem ser convidada em um desfile beneficente na sexta-feira no Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás. Os ingressos para o evento custavam R$ 350.

"Estou pronto para o embate e não medirei esforço nem terei compaixão para defendê-la [Andressa] e desde já aviso que o céu será meu limite. Depois de entrar na arena para digladiar não permitirei recuo de quem quer que seja e só sairei dela vitorioso ou morto", diz Cachoeira no artigo publicado no jornal "Diário da Manhã".

No mesmo texto, ele ameaçou abrir a "caixa de Pandora" contra o tucano.

A referência é à investigação da Polícia Federal de 2009 — batizada com o nome do mito grego sobre a origem dos males da humanidade– que investigou irregularidades no governo do Distrito Federal. O caso resultou na queda do governador José Roberto Arruda, então no DEM.

"Minha esposa é uma mulher digna e honesta, que encara a vida e as dificuldades de cabeça erguida. Quando estive recluso na violência do cárcere, ela não me negou amparo, apoio, auxílio e sobretudo amor", escreveu.

Cachoeira foi o pivô de uma CPI no Congresso criada para investigar o envolvimento de políticos com o jogo ilegal. Em 2012, ele ficou preso durante 266 dias.

A assessoria de imprensa de Perillo negou que tenha tratado Andressa como "penetra". Segundo o governo, "essa senhora deve ter comprado um convite de uma das patronesses. Mas nenhuma se identificou".

(CATIA SEABRA)

09/06/2013

FMI, agora é tarde

Filed under: FMI — Gilmar Crestani @ 11:26 am
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JANIO DE FREITAS

Pinga-fogo

Talvez nenhuma instituição civil tenha feito tanto mal a tantos países, famílias e pessoas quanto o FMI

Um fato mantido nas sombras por sua importância incomum: o FMI reconhece que "graves erros" contidos em sua "política de austeridade" subestimaram o estrago que ela poderia causar na Grécia. E causou: a Grécia sofre a mais terrível situação econômica e social na atual crise europeia.

Talvez nenhuma instituição civil tenha feito tanto mal a tantos países, famílias e pessoas quanto o FMI. A política que impôs à Grécia, o FMI exigiu de muitas nações, inclusive o Brasil, desde os anos 50 do século passado. É, ainda, a receita que muitos economistas promovidos por meios de comunicação cobram hoje do governo brasileiro.

Não foi sem fortes motivos que o FMI pretendeu guardar o estudo do seu feito como "estritamente confidencial" –no entanto vazado para o "Wall Street Journal".

2) Mais uma correnteza de dinheiro em direção ao Congresso. A grita contra os dez vetos de Dilma Rousseff à nova lei dos portos, aprovada pelo Congresso, a rigor é motivada por um só deles: o que derruba a renovação automática, portanto sem licitação, das concessões existentes. Este item já entrara no projeto ao embalo de cifrões privados. Vale ainda mais, agora que sua última oportunidade é a derrubada do veto presidencial no Congresso.

3) No mínimo, resolveu-se uma ilegalidade. Nela Renan Calheiros entrou, com a habitual falta de cerimônia, e consigo arrastou o Congresso, ao decidir não sancionar a criação de quatro novos Tribunais Regionais Federais aprovada por Câmara e Senado. Pendurado em ação no Supremo, deu a garantia ao ministro Joaquim Barbosa, ferozmente contrário ao projeto. Mas Renan não tem o poder de engavetar o que, aprovado, depende da sanção do presidente do Congresso para vigorar.

O ato (só) aparentemente desafiador do presidente interino do Congresso, André Vargas, de sancionar a criação dos TRFs tem um aspecto negativo: o engavetamento abusivo era um exemplo importante da desordem legal imposta ao Congresso, a exemplo também da dos três mil vetos cujo exame está relegado.

Na oposição, parte não citava a ilegalidade do engavetamento para não criar um escândalo em torno do Congresso, e parte para não forçar a sanção indesejada por Joaquim Barbosa. A ilegalidade, portanto, era o de menos.

Em tempo: várias associações de juízes federais, a OAB, o ex-ministro Ayres Britto e o ministro Marco Aurélio Mello são alguns dos muitos apoios aos novos TRFs.

4) Ficou para quarta-feira a conclusão do Supremo Tribunal Federal sobre o projeto que dificulta a criação de mais partidos, além de impedir que parlamentares levem, para os novos, dinheiro do fundo partidário e tempo de propaganda dos seus partidos anteriores. É o projeto em cuja tramitação o ministro Gilmar Mendes interferiu, sustando-a a meio do caminho no Congresso.

Na sessão inicial do caso, quarta passada, a vice-procuradora-geral Deborah Duprat discordou do parecer do procurador-geral Roberto Gurgel, a quem substituía. Duprat centrou-se em argumento tão simples quanto forte: "O Congresso Nacional é o lugar apropriado para decidir projetos de lei, não o Judiciário", por ser aquele, em questões políticas, o "espaço democrático de decisão".

Daí seu acréscimo: "Quanto a isso, me desculpem, mas não posso me calar". Ora, não há o que desculpar, há o que agradecer, por lembrar a Constituição democrática na casa que só deveria defendê-la.

São nada menos que 27 os partidos que buscam legalizar-se.

30/03/2013

Em 1964, havia o Ipes e o Ibad. Hoje, o Millenium

Filed under: Golpismo,IBAD,Instituto Millenium,IPES,PIG — Gilmar Crestani @ 8:33 pm
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Laurindo Leal: Em 1964, havia o Ipes e o Ibad. Hoje, o Millenium

publicado em 30 de março de 2013 às 12:45

Não é mera coincidência a preferência dos integrantes do Instituto Millenium pela subordinação do Brasil aos grandes centros financeiros internacionais e sua ojeriza diante das relações harmônicas entre governos latino-americanos.

por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil, via Carta Maior

O economista Cristiano Costa foi recebido em fevereiro pelo pessoal do grupo A Tarde, em Salvador. A companhia de comunicação, que tem provedor e portal na internet, agência de notícias, jornal impresso, emissora de FM, gráfica, reuniu seus profissionais para servirem-se de uma palestra da série ‘Millenium nas Redações’.

Blogueiro e professor de uma universidade capixaba chamada Fucape Business School, Costa é também colaborador cativo do Instituto Millenium, articulador desses eventos destinados a “aprimorar a qualidade da imprensa no Brasil”.

A base de sua explanação são seus artigos reproduzidos no site do instituto, em que critica duramente a política econômica do governo e ataca sem rodeios o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Em um deles, cita o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’ como um dos responsáveis por inflacionar o setor imobiliário. Isso num ambiente em que até os preços de imóveis de alto padrão dispararam.

As pessoas estão mais seguras no emprego e foram comprar, a queda dos juros levou mais gente a ter acesso a crédito, ou mais gente a tirar dinheiro de aplicações financeiras para investir em imóveis. Há muitos fatores em jogo, mas lá vai o programa federal destinado a famílias de baixa renda pagar o pato da especulação.

Outras redações de jornais e revistas foram brindadas pelo Millenium com palestras sobre assuntos variados, da reforma do Judiciário à assustadora “crise econômica”.

O currículo dos palestrantes, colaboradores do instituto, explica o objetivo real das palestras: consolidar no meio jornalístico o papel oposicionista da mídia brasileira.

Há algum tempo os ambientes de redação eram conhecidos por ter profissionais críticos, independentes, e o direcionamento da informação era resultado da sintonia dos editores com os donos dos veículos.

Não era incomum a conclusão do jornal ou da revista acabar em atrito entre repórter e superiores. Agora, os donos dos veículos preferem formar “focas” que já cheguem às redações comprometidos com suas crenças.

Essas crenças, recheadas de interesses políticos e econômicos, vêm sendo difundidas de maneira afinada pelos meios de comunicação reunidos no Millenium. Resultado concreto desse trabalho pôde ser visto neste início de ano.

Três assuntos, alardeados como ameaças ao país, ocuparam as manchetes dos grandes jornais e foram amplificados pelo rádio e pela TV: apagão, inflação e crise na Petrobras.

Além do noticiário parcial, analistas emitiam previsões catastróficas. Como elas não se confirmavam, o assunto era esquecido e logo substituído por outro.

No dia 8 de janeiro, o jornal O Estado de S. Paulo estampou na capa: “Governo já vê risco de racionamento de energia”. Um dia antes a colunista da Folha de S. Paulo Eliane Cantanhêde chamava uma reunião ordinária, agendada desde dezembro, de “reunião de emergência” do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico convocada às pressas por Dilma para tratar do risco de racionamento.

Diante da constatação de que a reunião nada tinha de extraordinária, a Folha publicou uma acanhada correção. Como de costume, o tema foi sendo lentamente deixado de lado. O risco do “racionamento” desapareceu.

Pularam para o “descontrole” da política econômica e a ameaça de um novo surto inflacionário. “Especialistas” tentavam, a partir dos índices de janeiro, projetar uma inflação futura capaz de desestabilizar a economia.

Aproveitavam para crucificar o ministro Mantega, artífice de uma política que contraria interesses dos rentistas nacionais e internacionais: a redução dos juros bancários está na raiz da gritaria.

Não satisfeitos, colocaram a Petrobras na roda, responsabilizando a “incapacidade administrativa” dos dirigentes da empresa pela redução dos dividendos pagos aos acionistas.

Sem considerar que, dentro da estratégia atual de ação da Petrobras, os recursos de parte dos dividendos retidos passaram a contribuir para o desenvolvimento do país na forma de novos investimentos.

Variações de uma nota só

Aparentemente isoladas, essas versões jornalísticas são, na verdade, articuladas a partir de ideias comuns que permeiam as pautas dos principais veículos.

No site do Instituto Millenium elas estão organizadas e publicadas de maneira clara. O Millenium diz ter como valores “liberdade individual, propriedade privada, meritocracia, Estado de direito, economia de mercado, democracia representativa, responsabilidade individual, eficiência e transparência”.

Faz lembrar a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que chegou a dizer que só o indivíduo existe, a sociedade é ficção.

Fundado em 2005, o Millenium foi oficialmente lançado em abril de 2006 com o apoio de grandes empresas e entidades patronais lideradas pela Editora Abril e pelo grupo Gerdau.

Trata-se de uma liderança significativa, pois reúne uma empresa propagadora de ideias e valores e outra produtora de aços, base de grande parte da economia material do país.

A elas juntam-se a locadora de veículos Localiza, a petroleira norueguesa Statoil, a companhia de papel Suzano, o Grupo Estado e a RBS, conglomerado de mídia que opera no sul do Brasil. A Rede Globo, como pessoa jurídica, não aparece na lista, mas um dos seus donos, João Roberto Marinho, colabora.

Essa integração entre empresas de mídia e empresários faz do Millenium uma organização capaz de formular e difundir programas de ação política em larga escala, com maior capacidade de convencimento do que muitos partidos políticos. Com a oposição partidária ao governo enfraquecida, ocupa esse espaço com desenvoltura.

Apesar do apego declarado à democracia, alguns dos colaboradores não escondem o desejo de combater o governo de qualquer forma.

É o que está explícito na fala de outro de seus colaboradores, o articulista Arnaldo Jabor, quando num dos eventos promovidos pelo instituto disse: “A questão é: como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo?”

Essa articulação faz lembrar a de organismos privados como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), fundado em 1959, e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), nascido em 1961. Ambos uniram empresários e mídia conservadora na formulação e divulgação de ideias que impulsionaram o golpe de 1964.

“Ipes e Ibad não eram apenas instituições que organizaram uma grande conspiração para depor um governo legítimo. Elaboraram um projeto de classe. O golpe foi seguido por uma série de reformas no Estado para favorecer o grande capital”, lembra o pesquisador Damian Bezerra de Melo, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

No cenário atual, de decadência do modelo neoliberal e de consolidação de políticas desenvolvimentistas no Brasil, o Millenium seria um instrumento ideológico para dar combate a esse processo transformador.

“Nos anos 1990 ocorreu a disseminação da ideologia do pensamento único, de que o capitalismo triunfou, o socialismo deixou de existir como projeto político”, afirma a historiadora Carla Luciana da Silva, da Universidade do Oeste do Paraná. “Quando surgem experiências concretas que podem desafiar essas ideias, aparece em sua defesa uma organização como o Millenium para manter vivo o ideal do pensamento único.”

A difusão dessas ideias não é feita por meio de manifestos ou programas partidários, observa a pesquisadora. “É muito difícil pegar uma revista como a Veja ou um jornal como a Folha de S. Paulo e conseguir visualizar os sujeitos que estão produzindo as ideias defendidas ali. Cria-se uma imagem do tipo ‘a’ Folha, ‘a’ Veja, como se fossem sujeitos com vida própria. É uma forma de não deixar claro em nome de que projeto falam, como se falassem em nome de todos.”

Contra as versões, fatos

Conhecendo as ações do instituto e seus personagens fica mais fácil compreender como certos assuntos tornam-se destaque de uma hora para outra. A presença nos quadros do instituto de jornalistas e “especialistas” com acesso fácil aos grandes meios de comunicação leva suas “notícias” rapidamente ao centro do debate nacional.

E fica difícil contra-argumentar com colaboradores do Millenium, não pela qualidade de seus argumentos, mas pela força de persuasão dos veículos pelos quais difundem suas ideias.

Como retrucar, com igual alcance, comentários de Carlos Alberto Sardenberg, na CBN, de Ricardo Amorim, na IstoÉ, na rádio Eldorado e no programa Manhattan Connection, da GloboNews, de José Nêumanne Pinto, no Estadão e no Jornal do SBT, de Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, entre tantos outros?

Não é mera coincidência a preferência dos integrantes do Millenium pela subordinação do Brasil aos grandes centros financeiros internacionais e sua ojeriza diante das relações harmônicas entre governos latino-americanos.

Trata-se de uma tentativa de ressuscitar um projeto político implementado durante a ditadura que só passou a ser confrontado, ainda que parcialmente, a partir de 2003, com a posse do governo Lula.

Mas parece não haver espaço para uma hipótese golpista, apesar do já citado dilema de Jabor. Para a professora Tânia Almeida, da Unisinos de São Leopoldo (RS) e diretora de relações públicas da Secretaria de Comunicação do Rio Grande do Sul, um dos ganhos da crise política de 2005, com a questão do chamado “mensalão”, foi ter forçado análises e estudos em busca de explicações de como o então presidente Lula conseguiu suportar tanta notícia negativa e manter elevados índices de aprovação.

“Não era só carisma. Desde 2003, havia uma gestão de governo em funcionamento. Não existia somente aquilo de que os jornais e revistas tratavam, não era só escândalo. Outra proposta política estava acontecendo”, observa Tânia. Para a professora, os avanços sociais alcançados não permitem crer em crise que leve a uma ruptura institucional.

“O Millenium é um agente articulador, social, político, que pode fomentar e aquecer debates, mas não teria potencial para causar uma crise nos moldes de 1964. O poder de influência da mídia ficou relativizado desde 2006 em função dessa política que chega lá na ponta e inclui quem estava fora.”

Damian Melo, da UFF, tem visão semelhante, mas com um pé atrás: “O Millenium não possui hoje estratégia golpista. Quer emplacar seu projeto, e isso pode ser pela via eleitoral mesmo. Muito embora nossa experiência nos diga que é melhor ficarmos atentos”.

*Colaborou Rodrigo Gomes

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

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