Se o Michel Temer, eu temo muito mais!
Os jornais comemoram, com uma dose de cinismo e outra de despeito, hoje a derrubada do decreto de participação popular como uma derrota da Dilma.
Esta primeira decisão do Congresso após as eleições encerra algumas lições que precisam ser melhor trabalhadas.
Primeiro, o condutor da derrota, Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, é do PMDB, aquele partido esponja que atrai e leva consigo qualquer coisa que encontra pelo caminho. Coincidentemente, perdeu a eleição no RN por adversário apoiado pelo PT… Horas antes de comandar a derrota da participação popular, Henrique Alves já cometia ato falho pelo site do Estadão: “Abandonado pelo PT, Alves descarta ‘revanchismo’”. O espírito da vindita/vendeta continua fresco na cabeça dos derrotados. O PT não vê isso porque não quer.
Segundo, a comemoração pelos a$$oCIAdos do Instituto Millenium indica que não basta apresentar propostas democratizantes para a sociedade. Faz-se necessário saber defende-las contra o aparato mafiomidiático. De novo, continua a inoperância dos partidos de esquerda na batalha contra o monopólio da informação. Não é só em relação à defesa do projeto, mas na linguagem, na forma de vender o projeto. Na velha mídia continua o espírito de nominar quando se trata do governo federal. Note bem, a derrota não foi do governo federal nem da participação popular. Foi da Dilma!
Terceiro, fechadas as urnas, a direita já se articula para impor todas as dificuldades ao governo. Todo e qualquer projeto será bombardeado. A prova disso foi e continua sendo a tentativa sorrateira de pedir o impeachment da Dilma. Ao contrário do que prometeram, a direita não foi, para nossa frustração, para Miami. Continua por aqui ruminando seu ódio ressentido. E não dará tréguas até que consiga se apropriar do Estado.
Quarto, Marina Silva já se articula com Neca Setúbal para uma nova tentativa de dar vida à Redecard. E virá com a faca entre dentes, com sangue nos olhos com o velho slogan do “novo na política”. Por onde passa Marina faz terra arrasada. E é exatamente isso que a direita busca. Uma herbicida para queimar os pastos, como faziam as forças alemãs nos campos ucranianos em direção a Estalingrado…
Quinto. Nas próximas eleições terão se passado 16 anos de PT. Jovens de 16 a 30 anos não terão mais como referência o que havia antes. Não terão ideia do que significaram os governos anteriores, nem o elevado grau de corrupção nos dois governos do PSDB. O desejo de mudança será ainda mais forte, e sem estes antídotos, as eleições, mesmo com Lula serão ainda piores e com tentativas de golpe ainda mais explícitas que esta Operação Boimate! A Veja pretendia que fosse uma Operação Valquíria, mas se revelou uma cafajestada de Pirro…
Sexto. O PMDB lembra a fábula da rã e do escorpião… Quando menos espera, lá vem a ferroada homicida, como dá provas a primeira estocada do Henrique Alves. O negócio é soltar desde já CGU, Polícia Federal e TCU onde quer que o PMDB venha a ocupar cargos. E daí que virão os escândalos, verdadeiros ou montados, para o golpe.
Conclusão. Alea jacta est, si vis pacem, para bellum (A sorte está lançada, se queres a paz, prepare-se para a guerra)!
Câmara impõe 1ª derrota de Dilma após a reeleição
Texto aprovado por deputados susta decreto que criou conselhos populares
Ação, liderada por Henrique Alves, teve apoio de siglas aliadas ao PT e da oposição; projeto vai ao Senado
MÁRCIO FALCÃODE BRASÍLIA
Dois dias após ser reeleita, a presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu sua primeira derrota na Câmara dos Deputados.
Os parlamentares aprovaram nesta terça (28) um projeto que susta os efeitos de um decreto da petista que vincula decisões governamentais de interesse social à opinião de conselhos e outras formas de participação popular.
O texto agora segue para votação no Senado.
A derrubada da medida foi capitaneada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), com apoio de seu partido, principal aliado do Planalto, de outras siglas da base e da oposição.
O PT, o PC do B e o PSOL, favoráveis à consulta popular, ficaram isolados. O projeto de Dilma foi rejeitado por votação simbólica, que não contabiliza os votos.
"É uma votação histórica, é a manifestação de altivez desta Casa", comemorou Alves logo após a votação.
A derrota de Dilma foi colocada por petistas na conta pessoal de Alves, que creditaram a movimentação ao ressentimento por sua derrota na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte.
O presidente da Câmara atribuiu ao PT, em especial ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gravou vídeo para seu adversário, seu desgaste nas urnas.
Nesta terça, o peemedebista negou que sua atitude seja um ato de retaliação ao governo. Mas aliados garantem que ele voltou da eleição sem disposição para o diálogo.
Antes de pautar a votação do decreto e marcar para os próximos dias a análise de propostas com impacto fiscal, a chamada "pauta bomba", o peemedebista cobrou o PT por ter manobrado para impedir o avanço de uma proposta de reforma política fechada no ano passado, após os protestos de junho.
O decreto sobre os conselhos gera polêmica desde sua edição, em maio deste ano. Partidos de oposição e alguns integrantes da base governista afirmam que o ato fere prerrogativas do Legislativo.
Além disso, críticos dizem que a intenção do governo é aparelhar o processo de decisão governamental.
INTERPRETAÇÕES
O texto determina que os órgãos da administração pública federal "deverão considerar" as novas regras, entre elas o desenvolvimento de mecanismos de participação dos "grupos sociais historicamente excluídos".
A expressão "deverão considerar" é central para o debate. O governo diz que não há obrigação do gestor de submeter os atos aos conselhos, apenas o estímulo. Críticos têm interpretação contrária.
Além disso, o decreto estabelece orientações genéricas de como se dará a composição desses conselhos. A norma instituiu a chamada Política Nacional de Participação Social (PNPS), com o objetivo de "consolidar a participação social como método de governo" e aprimorar "a relação do governo com a sociedade".
Atualmente, há 40 conselhos e comissões de políticas públicas no Brasil, formados por 668 integrantes do governo e 818 representantes da sociedade. As atribuições variam de acordo com cada conselho, que podem ser consultivos, deliberativos, ou os dois.
Para o líder do PT, Vicentinho (SP), a votação foi motivada por "birra pós-eleitoral". Autor do projeto que cancela os conselhos, o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), disse que era preciso reverter " esse decreto bolivariano".
O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) afirmou que a rejeição do decreto é educativa para Dilma. "Essa derrota é para manifestar que o discurso de diálogo, pregado pela presidente, não pode ficar só na teoria."