Ficha Corrida

25/11/2012

Jura dizer a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade?

Filed under: Ombudsman Folha — Gilmar Crestani @ 8:55 am

OMBUDSMAN

SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

Em duas ocasiões, Folha modifica declarações de entrevistados e reluta na hora de admitir erros

Duas vezes, na curta semana do feriado, a Folha colocou indevidamente palavras na boca de personagens do noticiário. Os erros, graves, estavam na capa do jornal.

Na segunda-feira, o texto na "Primeira Página" que resumia a entrevista com o professor da Universidade Federal de Minas Gerais Claudio Beato dizia: "País deve negociar com criminosos, afirma sociólogo". "Um dos maiores especialistas em segurança no país (…) diz que, quando as mortes se acumulam numa guerra sem fim, é preciso negociar com o crime. Ele (…) defende que o Brasil torne institucionais acordos informais que faz com criminosos".

Não foi isso o que o sociólogo disse. Basta ler a entrevista publicada: ele afirma "não ser contra a negociação, eventualmente, e de forma pontual" e que, "se houve acordo [com o PCC em 2006], por que não fazer de forma transparente?".

O entrevistado sabia que estava entrando em terreno pantanoso. Ele avisa "vou falar uma coisa que será muito criticada", antes de discorrer sobre projetos de controle da violência no exterior que tiveram negociação com gangues. Mas ele não diz que o país "deve negociar" com o crime nem defende que se "institucionalizem acordos informais", como está na "Primeira Página".

Ouvindo toda a gravação da entrevista, fica mais clara a posição de Beato. Ele diz que a máxima "não se negocia com o crime" já está vencida, porque policiais fazem acordos pontuais com contraventores "para apagar incêndios, em determinados bairros". "Muitas vezes, o governo nem sabe", diz.

Em vez de reconhecer o erro e dar uma correção, como prevê o "Manual da Redação", a Folha publicou uma carta e um artigo de Beato ("Jornalismo, ética e segurança pública"), em que ele afirma que "jamais diria uma sandice dessas".

Ficou confuso: quem está dizendo a verdade? "Difícil acreditar que o jornalista publicasse algo que não foi dito, até porque as entrevistas são gravadas. Mais lógico seria afirmar que [o sociólogo] mudou seu pensamento", escreveu o leitor Reginaldo Salomão.

O problema surgiu no processo de produção do jornal: o repórter reproduziu o que está gravado, mas o sentido foi deturpado na edição.

O segundo erro, na mesma linha, foi a manchete de terça-feira: "Atraso em obras é ‘regra do jogo’, diz ministra do PAC".

A frase foi pinçada de uma fala de Miriam Belchior em entrevista coletiva. Questionada sobre o cronograma das obras, disse: "Atraso é da regra do jogo (…) o tamanho dele tem que se verificar proporcionalmente ao período previsto".

O jornal fez um link entre a frase dela e a do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, alguns dias antes, sobre preferir morrer a passar anos em uma cadeia no Brasil. Onde a Folha viu um surto de "sincericídio" na Esplanada dos Ministérios, havia apenas uma declaração banal da titular do Planejamento.

Belchior não disse que atraso é "a" regra do jogo, mas que é "da" regra do jogo -acontece, mas não é inevitável. A aspa correta estava no texto da reportagem, mas ganhou um "upgrade" no título do caderno "Mercado" e na manchete.

Desta vez, o jornal publicou uma correção, mas contrariado. Em resposta à carta do Ministério do Planejamento, classificou o erro de "detalhe irrelevante".

Outro erro. "Não é preciosismo a alteração de ‘a’ para ‘da’. Se a ministra disse ‘isso é da regra do jogo’, significa que é comum, constante. É como dizer ‘faz parte’. Já ‘isso é a regra do jogo’ equivale a dizer que essa é a única forma de se trabalhar", explica Sirio Possenti, 65, professor de linguística da Unicamp.

A Folha entendeu mal uma declaração e fez um carnaval em torno do nada. Depois da manchete, saíram um editorial ("A regra do atraso"), uma coluna Brasília ("No vermelho") e uma charge na página 2 descendo a lenha na ministra.

Boa parte do jornalismo consiste em fazer as pessoas dizerem o que elas preferiam manter para si. Arrancar segredos, inconfidências e afirmações polêmicas é um dos desafios de um bom repórter. Mas isso não implica carta-branca para interpretar o que alguém "quis dizer". Se a meta do jornalismo não for a exatidão, passaremos ao reino do vale-tudo.

11/11/2012

Agora, cuidado

Filed under: Isto é PSDB!,Ombudsman Folha — Gilmar Crestani @ 9:09 am

Enquanto Marcos Valério substituía Carlinhos Cachoeira como repórter da Veja, a ombudsman da Folha manteve afastada. Bastou vazar que Marcos Valério passou a denunciar também membros do PSDB para que o pedido de cautela viesse a público. No entanto, ao que parece, Veja, Estadão e Folha, que ela cita, não usaram do mesmo critério nas declarações atribuídas a Valério. Se antes, quando seriam contra Lula, ganhavam manchetes, agora, quando atingiriam do PSDB, ficam apenas no registro da ombudsman. Judith Brito também manda na Ombudsman?!

Ameaças amplificadas

OMBUDSMAN

SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

A imprensa está servindo de alto-falante para os recados de Marcos Valério

A imprensa vem reproduzindo, com pouco cuidado e acriticamente, os recados ameaçadores de Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão.

Começou em setembro, quando a "Veja" publicou que o empresário mineiro disse a amigos e familiares que o ex-presidente Lula "comandava tudo". E advertiu: "Mas agora vai todo mundo para o ralo". As declarações foram reproduzidas nos jornais, inclusive na Folha, antes mesmo de a direção da revista dizer que estavam gravadas.

Há dez dias, foi a vez de o "Estado de S. Paulo" noticiar que Valério, em depoimento ao Ministério Público Federal, "citou Lula, Palocci e Celso Daniel", prefeito de Santo André assassinado em 2002. Mesmo sem saber bem o que ele disse, o jornal deu o assunto na manchete.

O depoimento é mantido em sigilo. O "Estado" explicou ter obtido as informações graças a investigadores. Revelou, em seguida, que Valério contou ter dado dinheiro para que o PT calasse pessoas que ameaçavam fazer revelações sobre o caso de Santo André.

No domingo passado, a "Veja", sem citar a fonte, acrescentou que os chantageados eram o ex-presidente Lula e o ministro Gilberto Carvalho. Só que na versão da revista, Valério se recusou a ajudar: "Eu falei assim: nisso aí eu não me meto". Ele seria uma testemunha inocente.

Há quatro dias, um novo recado foi enviado, desta vez para os tucanos. Marcelo Leonardo, advogado de Valério, lembrou que seu cliente também fez revelações importantes sobre o "mensalão mineiro", que não teriam sido devidamente investigadas em 2007.

No contexto do julgamento do mensalão, seria preciso muito sangue-frio para ignorar os petardos do "homem-bomba". Mais ainda para esperar por provas.

Mas dá para fazer uma cobertura muito mais crítica, explicitando os interesses de Marcos Valério e investigando se as suas denúncias fazem algum sentido.

É fundamental também deixar claro para o leitor que o empresário mineiro não falou com a imprensa -a "Veja" não diz que o entrevistou, o "Estado" não publicou transcrições do depoimento e a Folha reproduziu os concorrentes.

É muito diferente da entrevista que Roberto Jefferson deu à jornalista Renata Lo Prete, na Folha em 2005, e que deu origem ao escândalo do mensalão. O então deputado federal, mesmo tendo muito a perder, descreveu o esquema de corrupção de parlamentares. Jefferson foi gravado e fotografado.

O que está sendo divulgado agora é o que Marcos Valério teria dito a terceiros. Numa espécie de "telefone sem fio", a imprensa amplifica as ameaças de um homem já condenado a 40 anos de prisão.

14/10/2012

Ombudsman da Folha responde à Blogosfera Progressista

Filed under: Folha de São Paulo,Ombudsman Folha,Suzana Singer — Gilmar Crestani @ 11:03 pm

Posted by eduguim on 14/10/12 • Categorized as Crônica

No último sábado (13 de outubro de 2012), a ombudsman do jornal Folha de São Paulo, Suzana Singer, respondeu a questões da blogosfera sobre a primeira página daquele veículo que estampou a decisão do Supremo Tribunal Federal de condenar o ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, no âmbito do julgamento do mensalão – do PT.

Leia, a seguir, as questões da Blogosfera e as respostas que Singer deu. Em seguida, leia os comentários finais do Blog.

***

Blogosfera Progressista – No último dia 10 de outubro, a Folha estampou em sua primeira página uma foto pouco convencional do ex-ministro José Dirceu sob uma única palavra escrita em letra muito maior do que a convencionalmente usada para esse tipo de manchete no seu jornal. A senhora, encarregada de criticá-lo sob a ótica do leitor, aprova essa conduta?

Suzana Singer – Em dias especiais, a “Primeira Página” precisa mudar para mostrar que tem notícia importante. Subir o tom sem cair na histeria é um desafio que a Folha não venceu na quarta-feira passada.

A capa com a condenação de José Dirceu no Supremo Tribunal Federal lembrava jornal sensacionalista no dia seguinte à prisão de um assassino conhecido.

A fotografia enorme no alto mostra um Dirceu “fantasmagórico”, na definição de um leitor que gostou da capa. A luz vinda por baixo ilumina apenas o rosto do ex-ministro, em uma imagem obtida no domingo passado, quando ele foi votar.

As letras da manchete cresceram muito: de corpo 80 para 174, um aumento de 117%. Em vez de título, apenas uma palavra: “culpados” -e não “condenados”, que seria a reprodução fiel do que havia sido decidido no STF e não carregaria um juízo moral.

A composição parecia refletir um clima de comemoração. “Dava para ouvir os fogos de artifício estourando ao fundo”, disse outro leitor, este ofendido com a capa.

Quando houve o impeachment de Fernando Collor, fato histórico mais importante que o mensalão, a “Primeira Página” também “falou mais alto” e até deixou transparecer a satisfação com o ocorrido na tarja “vitória da democracia”.

O contexto era outro, havia mobilização de rua e a Folha torcia explicitamente pelo impeachment. Mesmo assim, o foco não estava no presidente deposto. A foto principal nem é a de Collor, mas a da festa dos deputados na Câmara.

Usados os mesmos parâmetros da quarta-feira passada, a capa de 30 de setembro de 1992 teria uma daquelas fotos em que Collor parece diabólico e apenas uma palavra em letras gigantescas: “Expulso”.

Resumir o escândalo do mensalão às figuras de Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e Marcos Valério é reduzir a importância do caso. O fundamental do julgamento no Supremo não é a punição de “fulano”, mas ter deixado uma mácula histórica no governo Lula. Seria melhor uma manchete que dissesse “José Dirceu, homem forte do governo Lula, é condenado por corrupção”.

A Secretaria de Redação diz que “a importância histórica do julgamento justifica o espaço dado à manchete”. “É a condenação por corrupção de políticos de mais alta patente já realizada pelo Judiciário brasileiro, que terá enorme repercussão em decisões futuras.”

Foi uma pena o jornal ter derrapado bem no ápice do julgamento, porque houve, durante a cobertura, um esforço de manter a neutralidade, diferenciando-se de outros jornais e revistas que embarcaram em uma campanha condenatória.

BP – Donde se deduz que a senhora enxerga uma tentativa de prejudicar o PT através da condenação de  José Dirceu, a menos que se possa imaginar que um jornal dessa importância faria uma primeira página como aquela apenas por não gostar do condenado – ou, como quer a Folha, “culpado”. A senhora concorda, então, que a Folha de São Paulo persegue o PT?

SS – Mas, apesar de desastrada, a capa de quarta-feira não prova, como querem muitos, que a Folha persegue o PT. Quem espalha essa tese esquece que o jornal bateu forte no governo Fernando Henrique Cardoso, como se pode aferir revendo as reportagens sobre a denúncia de compra de votos da emenda da reeleição (1997) e sobre o escândalo do leilão da Telebrás (1999).

BP – Perdão, mas as coberturas que a Folha deu a escândalos do governo FHC como aquele que tinha provas materiais de que deputados da base daquele governo foram pagos para votar pela reeleição do então presidente da República ou como o escândalo que tinha gravação daquele presidente de que o banqueiro Daniel Dantas estava sendo favorecido por  seu governo duraram semanas ou, no máximo, poucos meses. Já o mensalão – do PT –, não ficou uma só semana sem destaque na Folha nos últimos sete anos. Não lhe parece uma conduta partidarizada de seu jornal?

SS – Nesses 20 anos, o jornal não abriu mão do apartidarismo, mas parece ter se esquecido como ser eloquente sem perder a elegância.

***

Não se podia esperar muita coisa da jornalista Suzana Singer. Ela foi secretária de Redação da Folha quando o jornal divulgou em primeira página manchete que acusava o ex-presidente Lula de ter assassinado 200 pessoas por conta do acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas ou quando publicou, também na primeira página, ficha policial falsa da hoje presidente Dilma Rousseff, meses antes de ela e José Serra disputarem a Presidência.

Todavia, a entrevista que este Blog publicou acima não passa de uma representação do tipo de jornalismo que faz a Folha e o resto da Sociedade Interamericana de Golpe (SIG), como Paulo Henrique Amorim bem definiu a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que deverá contar com discurso da presidente Dilma Rousseff na cerimônia de encerramento de seu 68º Congresso, que ocorrerá no Hotel Renaissance, em São Paulo, no próximo dia 16, e que contará com a presença de ativistas pela democratização da comunicação como este blogueiro – ainda que do lado de fora do local do evento, claro.

Mas que fique bem claro: a entrevista que o título deste post anuncia, jamais existiu. Suzana Singer, por óbvio, não deu entrevista nenhuma à “Blogosfera Progressista”. Quando muito, respondeu veladamente ao colega de jornal e “decano do colunismo político brasileiro” Janio de Freitas, que, em recente entrevista ao programa Roda Viva afirmou que a grande imprensa funcionou como esquema de apoio político ao governo FHC.

Essas duas séries de reportagens que Singer cita tentam diferenciar a Folha do resto da grande imprensa durante o governo FHC, que se limitou a defender o governo tucano das denúncias daquele jornal. Todavia, o diário da família Frias, à época de tais escândalos, limitou-se a publicar fatos e a defesa do governo em absoluto equilíbrio jornalístico, como deveria ser, e não da forma obsessiva, exagerada e até distorcida como trata os escândalos petistas.

Este blog, então, enganou o leitor até este ponto do texto com a finalidade de demonstrar como é possível forjar uma grande farsa sem se comprometer mentindo claramente.

Senão, vejamos. O título do post não mente quando afirma que Singer respondeu a questões da Blogosfera Progressista. Pode não ter sido essa a sua intenção, pois parece mais provável que sua coluna tenha respondido a críticos como Janio de Freitas e a leitores que têm questionado o jornal através dela, mas seu texto respondeu, de alguma forma, ao que os blogs questionam.

Todavia, mesmo sem mentir explicitamente, o post mente ao impensável – mas só até que se autodenuncia –, pois induz o leitor a cogitar que a jornalista falaria a blogueiros que seu patrão e os políticos amigos dele tratam como criminosos. Se o post tivesse sido encerrado com a “entrevista” inventada, então, muita gente seria enganada, sobretudo se comentários de protesto fossem vetados.

Mas veja você, leitor, como é possível conferir ar de veracidade a uma mentira valendo-se de fatos legítimos. No primeiro parágrafo, digo que Suzana Singer deu as “respostas” no sábado, dia 13 de outubro, e a coluna dela saiu na edição do dia seguinte (domingo, 14), o que poderia levar o leitor a imaginar que a Folha apenas publicou texto de resposta da ombudsman a blogueiros.

É possível, pois, mentir descaradamente sem contar uma mentira. Foi o que a ombudsman fez ao citar escândalos de FHC que seu jornal divulgou, pois omite tom, intensidade e duração da cobertura e a débil cobrança ao “engavetador-geral da República” que o ex-presidente tucano manteve prudentemente no cargo durante os oito anos em que governou o Brasil.

***

Comunico aos amigos que, atendido no hospital, não foi necessário ser internado. Ainda padeço de cólicas de rins que, segundo mulheres que já deram à luz, chega a ser igual ou pior às dores do parto, mas conseguirei controlar a dor com medicamentos e comedimento de forma que não ficarei de fora da luta que Sampa travará nos próximos 15 dias para se libertar de um dos piores grupos políticos que já administraram a cidade.

Ombudsman da Folha responde à Blogosfera Progressista | Blog da Cidadania

23/09/2012

Overdose anti-Lula turbina manchete da Folha

Filed under: Folha de São Paulo,Lula,Ombudsman Folha — Gilmar Crestani @ 9:14 am

OMBUDSMAN

SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br

Manchete turbinada

Título da Folha coloca palavras na boca do candidato petista e ofusca mérito da reportagem

O noticiário político está pegando fogo com a disputa acirrada pelo segundo lugar na corrida eleitoral em São Paulo e com o julgamento do mensalão caminhando para a sua fase mais crítica.

Num momento de ânimos muito acirrados, a manchete da Folhade quarta-feira passada teve o efeito de uma bomba. No impresso: "Haddad diz que associá-lo a José Dirceu é degradante". No site: "Haddad diz que é degradante ser ligado a Dirceu e Delúbio".

Quem lesse só os títulos concluiria, como disse um leitor, que o candidato petista, num momento confessional, admitiu algo que estava entalado na garganta.

Não era isso. A campanha de Fernando Haddad tinha tentado proibir na Justiça Eleitoral uma propaganda de José Serra que afirmava que votar no adversário implica trazer de volta José Dirceu, Delúbio Soares e Paulo Maluf.

"Sabe o que acontece quando você vota no PT? Você vota, ele volta. Fique esperto. É o velho PT, agora em nova embalagem", dizia a inserção dos tucanos.

Os advogados da campanha petista argumentaram que o anúncio era "degradante porque promove uma indevida associação entre Fernando Haddad e pessoas envolvidas em processos criminais e ações de improbidade administrativa". A ligação seria "indevida", porque Haddad não é réu no mensalão nem responde a acusações de corrupção.

A frase que virou manchete foi pinçada da medida judicial e editada como se fosse uma declaração do ex-ministro da Educação ("Haddad diz que…"). Um título correto poderia ser "Haddad tenta barrar comercial que o associa a Dirceu".

A diferença não é sutil. "Fui juiz eleitoral e percebi logo que a manchete foi tirada de um processo. Nenhum político diria que a relação com um aliado é degradante. É uma linguagem do direito eleitoral, já que a própria lei usa o termo degradante para caracterizar um tipo de propaganda que é vedada", explica Flávio Luiz Yarshell, 49, professor titular de direito processual da USP.

Ele compara a situação à de Luiza Erundina, que desistiu de ser vice do PT depois que se anunciou a aliança com Maluf. "Ela afirmou categoricamente que estava desconfortável com a situação. Haddad não disse isso e não cabe ao jornal fazer esse tipo de presunção", diz.

A Secretaria de Redação não concorda que a manchete tenha sido "turbinada". "As argumentações dos advogados de Haddad na Justiça equivalem à manifestação do próprio candidato. Ele é o responsável e o principal interessado em qualquer intervenção de sua campanha. O mesmo raciocínio vale para outras atividades, como a arrecadação de recursos", afirma.

O efeito de um título apimentado pode ser devastador, principalmente na internet, onde se lê muito o que está em letras grandes e pouco o que vem logo abaixo. A reportagem ficou entre as mais lidas na quarta-feira e foi a que recebeu mais comentários no dia (1.042).

A mão pesada da edição ofuscou o mérito da reportagem. AFolha percebeu que a medida judicial contra a propaganda tucana explicita a contradição que existe no esforço do PT de se desligar de parte do próprio PT -e de Paulo Maluf, cujo apoio foi celebrado em encontro no jardim da casa do ex-prefeito.

Sem colocar palavras na boca do candidato, o jornal conseguiria atingir o mesmo objetivo. A duas semanas do primeiro turno, é hora de ajudar o eleitor a decidir, não de apostar na confusão.

29/07/2012

Para que serve um umbu?

Filed under: Erenice Guerra,Folha de São Paulo,Ombudsman Folha — Gilmar Crestani @ 8:22 am

Na minha infância fiz muita sesta à sombra de umbus. Jamais em dia de tempestade. No interior onde cresci, a maioria dos acidentes raios, em dia de tempestade, ocorre em umbus. Por ser uma árvore alta, frondosa o que causa impressão boa proteção da chuva e granizo, atrai os animais doméstico. Puro engano, no descampado, é nele que cai o raio.

Justiça seja feita, a Folha foi injusta. O que também não é nenhuma novidade. Suzana Singer ressuscita o Sobrenatura de Almeida. Para fechar com verso de pé quebrado o soneto do  “O inquérito, aberto em 2010 pela Polícia Federal, só teve desfecho agora, no último dia 20, com o pedido de arquivamento pelo Ministério Público Federal, que não encontrou provas que pudessem embasar uma denúncia criminal, o que foi acatado pela Justiça”, acrescentou este verso sobrenatural com todos os cromossomas que compõem o DNA da Judith Brito: “Mesmo que não tenha cometido um crime, a ex-ministra pode ter falhado eticamente ao permitir que se instalasse um balcão de vendas de influência na Casa Civil.” É muita cara de pau alguém que abraçou a causa do linxamento por puro delírio político ater-se ao “pode ter falhado eticamente”.  Se um ombudsman “pode” afirmar isso, então tudo é permitido, menos dormir imprecavidamente à sombra de uma ombudsman destas.

OMBUDSMAN SUZANA SINGER – ombudsman@uol.com.br
@folha_ombudsman

Justiça seja feita

O arquivamento da investigação contra a ex-ministra Erenice Guerra não prova que ela foi vítima da imprensa, mas faltou clareza e destaque à notícia

NA QUARTA-FEIRA passada, a Folha noticiou que a Justiça Federal em Brasília arquivou o inquérito contra a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. Alguns leitores e blogueiros aproveitaram a deixa para criticar o "denuncismo" da mídia.

O ex-presidente Lula já tinha declarado em junho, antes da decisão da Justiça, que Erenice foi "execrada, acusada de tudo quanto é coisa" e que a "imprensa, que a massacrou, não teve coragem sequer de pedir desculpas".

A "execração", na definição de Lula, aconteceu em plena campanha presidencial de 2010 e é apontada como um dos motivos que levaram ao segundo turno presidencial entre Serra e Dilma.

A "Veja" iniciou o escândalo com uma reportagem em que um empresário dizia que Israel Guerra, filho da ex-ministra, fazia lobby para viabilizar negócios com o governo -segundo a revista, a mãe garantia o sucesso da intermediação.

A denúncia tomou toda a imprensa e foi manchete da Folha por nove dias. Em 16 de setembro de 2010, o jornal trouxe o seu "furo": uma entrevista com Rubnei Quícoli, autodenominado "consultor de empresas", acusando Israel de cobrar uma taxa para conseguir liberar empréstimo do BNDES.

A ministra caiu no mesmo dia, mas a Folha foi bastante criticada, porque Quícoli não era exatamente um exemplo de probidade. Com duas condenações na Justiça, já tinha passado dez meses na cadeia. Segundo o "Globo", ele tinha tentado chantagear o governo, ameaçando fazer denúncias à imprensa.

Só que o fio do novelo já tinha sido puxado. Novas denúncias surgiram contra Israel Guerra, outros parentes e o marido da titular da Casa Civil, que teria buscado benefícios junto à Anatel para a empresa de telefonia que dirigia.

O inquérito, aberto em 2010 pela Polícia Federal, só teve desfecho agora, no último dia 20, com o pedido de arquivamento pelo Ministério Público Federal, que não encontrou provas que pudessem embasar uma denúncia criminal, o que foi acatado pela Justiça.

Isso significa que Erenice é mais uma vítima do "assassinato de reputações promovido pela imprensa"? Não é bem assim.

Mesmo que não tenha cometido um crime, a ex-ministra pode ter falhado eticamente ao permitir que se instalasse um balcão de vendas de influência na Casa Civil.

Em março do ano passado, a Controladoria-Geral da União apontou "irregularidades graves" em três dos nove fatos investigados durante a gestão de Erenice.

O erro da imprensa está na forma como a decisão da Justiça foi noticiada. A Folha pelo menos deu uma menção na "Primeira Página" -o que não aconteceu com o "Estado" nem o "Globo".

Só que a reportagem era bem confusa e, na quinta-feira, o jornal insistia no tom acusatório ao relatar que uma nova investigação terá como alvo uma suspeita de sonegação fiscal da empresa de Israel Guerra.

Para fazer o devido contrapeso às fortes denúncias do passado, era necessário divulgar, com destaque e clareza, a conclusão da Justiça de que não há provas contra a ex-braço direito de Dilma.

Às vésperas do julgamento do mensalão, é fundamental não alimentar os que veem uma desmedida sanha acusatória da mídia.

Ombudsman tem mandato de 1 ano, renovável por mais 2, para criticar o jornal, ouvir os leitores e comentar, aos domingos, o noticiário da mídia.Fale com a Ombudsman: ombudsman@uol.com.br / tel.: 0800 015 9000 (2ªf a 6ªf, das 14h às 18h) / Fax: 0/xx/11/3224-3895

06/05/2012

Imprensalão

A única coisa que a imprensa não pode é fazer de conta que não existiu uma relação muito especial entre Carlinhos Cachoeira e Policarpo Junior, da revista Veja. Ao tentar esconder o fato, no mínimo estão tentando acobertar. Este silêncio cúmplice torna os grupos mafiomidiáticos aquilo que eles são, grupos mafiosos, reunidos entorno da mesa do Instituto Millenium. O comportamento do coronelismo eletrônico lembra as reuniões da Cosa Nostra, com a única diferença que lei da Omertà, a lei do silêncio agora é levada ainda mais a sério. Estão escondendo, como fazem os criminosos comuns, o corpo embaixo do tapete.

Ombudsman rompe cerco da Folha sobre a mídia

Ombudsman rompe cerco da Folha sobre a mídiaFoto: Marisa Cauduro/Folhapress

Na coluna “Tema proibido”, Suzana Singer diz que relação entre Veja e Carlos Cachoeira pode até ser legal, mas talvez não seja eticamente aceitável; jornalista cobra que jornal divulgue todos os diálogos que envolvam meios de comunicação

06 de Maio de 2012 às 07:45

247 – O bloqueio dos grandes veículos de comunicação à discussão das relações entre a quadrilha de Carlos Cachoeira e a mídia foi quebrado pela Folha de S. Paulo, na edição que circula neste domingo (em São Paulo, o jornal é distribuído a partir do fim da tarde dos sábados). A responsável por isso foi a jornalista Suzana Singer, ombudsman do jornal, que acaba de ter renovado o seu mandato para criticar livremente a Folha e demais meios de comunicação nas páginas do jornal de maior circulação do País.

Em seu texto, chamado “Tema proibido”, Suzana fala da rapidez dos jornais, portais e televisões em levantar qualquer fato concernente a governadores, senadores, deputados policiais e empresários, mas critica o “silêncio reverente no que tange à própria mídia”.

Para exemplificar, Suzana publicou um diálogo entre Carlos Cachoeira e um diretor da Delta, Cláudio Abreu, que consta do inquérito e fala sobre uma reportagem na Folha de S. Paulo, mas que vinha sendo ignorado pela própria Folha. Na conversa, Abreu fala sobre uma possível influência no jornal. “Quem é o cara da Folha que manteve contato? Porque nós ´tamo´ bem com a Folha. ´Tamo´trabalhando lá…”. Em sua defesa, o jornal afirmou que, depois desse diálogo, o jornal publicou duas reportagens criticas à Delta, indicando que a influência, se existia, não foi exercida.

O caso Veja

No tocante à revista Veja, Suzana Singer faz uma crítica sutil, mas contundente. E diz o óbvio: discutir o tema não significa censurar ou coibir a liberdade de expressão. “Permitir-se ser questionado, jogar luz sobre a delicada relação fonte-jornalista, faz parte do jogo democrático”.

Suzana afirma que, até agora, não foram comprovadas ilegalidades no comportamento da revista. No entanto, diz ela, isso não significa que a conduta da maior revista semanal do País seja “eticamente aceitável”.

Leia um trecho do seu artigo deste domingo:

“Do que veio a público até o momento, não há nada de ilegal no relacionamento Veja-Cachoeira. O paralelo com o caso Murdoch, que a blogosfera de esquerda tenta emplacar, soa forçado, porque, no caso inglês, há provas de crimes, como escutas ilegais e a corrupção de policiais e autoridades.

Não ser ilegal é diferente, porém, de ser eticamente aceitável. Foram oferecidas vantagens à fonte? O jornalista sabia como as informações eram obtidas? Tinha conhecimento da relação próxima de Cachoeira com o senador Demóstenes? Há muitas perguntas que só podem ser respondidas se todas as cartas estiverem na mesa.

É preciso divulgar os diálogos relevantes que citem a imprensa (…). Grampos mostram que a mídia fazia parte do xadrez de Cachoeira. Que essa parte do escândalo seja tratada sem indulgência, com a mesma dureza com que os políticos têm sido cobrados.”

Em países livres, democráticos e de imprensa livre, não devem existir tabus ou temas proibidos. Suzana Singer está de parabéns.

Ombudsman rompe cerco da Folha sobre a mídia | Brasil 247

31/10/2011

Nem os autores suportam o próprio pum

Filed under: Falha de São Paulo,Ombudsman Folha,Suzana Singer — Gilmar Crestani @ 10:45 am
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Ombudsman Folha: “Cultura do escândalo e linchamento midiático”

Enviado por luisnassif, dom, 30/10/2011 – 19:46

Autor:

Adriano S. Ribeiro

Pega, Mata e Come

Por Suzana Singer

E já se foram seis. Pelas mãos da imprensa, os titulares da Casa Civil, Transportes, Defesa, Agricultura, Turismo e Esporte deixaram suas pastas apenas neste ano. Sinal de pujança da mídia ou de execração pública desenfreada? A verdade está no meio do caminho.

Não há como negar o bom trabalho de jornais e revistas -especialmente o da Folha e o da “Veja”- na revelação de falcatruas com o dinheiro público, de enriquecimento suspeito ou de vaidade extremada (caso de Nelson Jobim). De motel pago com diárias do governo federal a convênios-fantasmas para atender crianças carentes, apareceram vários motivos para a “faxina” de Dilma Rousseff.

O último varrido do poder foi Orlando Silva, que, na quarta-feira, depois de 11 dias seguidos de protagonismo no noticiário político, sucumbiu. Não há dúvida de que, no mínimo, uma série de irregularidades germinava no Ministério do Esporte, o que pode ser considerado motivo suficiente para trocar o titular.

Mas, no afã de dar o último tiro, atropelou-se várias vezes o bom jornalismo. No dia 18, na esteira do UOL, a Folha e seus concorrentes publicaram reportagens sobre a compra de um terreno em Campinas pelo ex-ministro. Ressaltou-se o montante pago à vista: R$ 370 mil, o que não é uma cifra astronômica para um funcionário público no topo da carreira e que afirma não ter outros imóveis.

Levantava-se também a suspeita de que a Petrobras viesse a favorecer Orlando Silva, retirando da área dutos de gás que passam por ali. A estatal nega qualquer intenção desse tipo. Nada havia, portanto, a denunciar -ou seja, nada que merecesse ser publicado. A praga do “linchamento midiático” atacou de novo quatro dias depois, quando a manchete da Folha trazia mais uma acusação: “Esporte cobrou 10% de propina, afirma pastor”. O denunciante, filiado ao PP, dizia que funcionários do Ministério do Esporte o procuraram para pedir propina depois que um convênio da sua ONG foi aprovado.

O entrevistado não apresentou provas e tinha muitos motivos para ter raiva: as contas de sua entidade foram rejeitadas, e a renovação do contrato com o governo, indeferida. O mesmo poderia ser dito do policial João Dias, que desencadeou a fritura de Orlando Silva, mas ele tinha acesso à cúpula do ministério, citava vários nomes e apresentou depois gravações.

Se dependessem de fontes idôneas, os repórteres estariam em maus lençóis. A maioria dos malfeitos emerge de interesses contrariados, quase sempre de aproveitadores do erário em surtos momentâneos de cidadania. Isso não pode ser álibi, porém, para estender o microfone a qualquer um que levante a voz contra os políticos.

Anteontem, a precipitação ”denuncista” se manteve com a história de que Apolinário Rebelo, irmão do novo ministro, Aldo Rebelo, foi citado como beneficiário de um suposto esquema de desvio de dinheiro. Era outra acusação, sem provas, do policial falastrão, que merecia um registro, mas nunca o destaque dado: foi o texto principal em uma página de Poder e ocupou, por horas, a manchete da Folha.com.

É preciso cuidado com a cultura do escândalo. Acusação baseada em uma só fonte, sem documentos, é o início do trabalho do repórter, não o seu fim -mesmo no noticiário político, onde, infelizmente, se atira a esmo e se acertam mais corpos do que se esperava.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ombudsman/

Ombudsman Folha: “Cultura do escândalo e linchamento midiático” | Brasilianas.Org

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