Ficha Corrida

21/04/2015

Organograma da meritocracia à moda tucana

Depois que o Gerdau foi pego na Operação Zelotes, toda vez que ouço falar em reengenharia, programa de qualidade, meritocracia, choque de gestão eu penso no Fernandinho Beira-Mar. Se fosse tucano, estaria solto até hoje. Fernandinho, o Beira-Mar, jamais voou em helipóptero com 450 kg de cocaína. Se dizia pecuarista

Tanto pior, em termos de São Paulo, é que um jornalista exija R$ 70 mil reais por mês para atacar o PT e Dilma. Não seria pagar menos para falar bem do PSDB?! Sim, eu sei que o Governo do Estado de São Paulo, deste que o PSDB fez dele sua Capitania Hereditária, distribui milhares de assinaturas da Veja, Folha, Estadão nas escolas públicas de São Paulo. Estes 70 pilas pagos ao Fernando Gouveia precisa ser multiplicado por quantos  dinheiros para chegarmos à totalidação dos recursos públicos empenhados pelo choque de gestão à moda tucana para distribuir ódio ao PT? Não teria sido mais saudável desenvolver um programa de proteção contra o mosquito da dengue? Afinal, não é admissível que seja exatamente no Estado que há racionamento de água que exista uma epidemia de dengue. Assim fica fácil de entender por que há tanto ódio à Lula, Dilma e ao PT.

Márcio Aith, o esquema Serra no governo Alckmin

seg, 20/04/2015 – 10:01 -Atualizado em 20/04/2015 – 10:08 –Luis Nassif

Quando assumiu o governo do Estado, a primeira providência de Geraldo Alckmin foi acabar com o esquema José Serra no governo, um aparelhamento amplo que produziu desastres em várias áreas, como na USP, Instituto Butantã.

Mas levou o adversário para dentro do Palácio, com a manutenção de Márcio Aith na Subsecretaria de Comunicação. Lá, valendo-se do pouco conhecimento do grupo de Alckmin com as redes sociais, Aith deu início ao fortalecimento do esquema Serra na Internet – contando, para tanto, com recursos do próprio governo do Estado.

Serra conseguiu fincar pé no Sebrae-SP, graças à parceria com Guilherme Afif Domingos, Ministro de Dilma. Afif, que se notabilizou pelo Impostômetro, permitiu a Serra utilizar recursos públicos para lotear o Sebrae de ativistas digitais – colocados no lugar de consultores de gestão, que foram demitidos. Nesse terreno, o homem de Serra foi Bruno Caetano, que trabalhava na Secretaria de Comunicação como o próprio Aith.

Outro pé foi fincado na Fundap, onde Geraldo Biasoto, um indicado de Serra conseguiu alocar vários ativistas digitais.

De seu lado, Aith não apenas manteve a rede Serra financiada pelo Estado como procurou ampliá-la atuando no meio de jornalistas com visibilidade pública.

Não se imagine que um mero blogueiro de escândalos, sem reputação pública, com um alcance apenas junto ao lixo das redes sociais, custe R$ 70 mil mensais. Debaixo dessa quantia são abrigados peixes maiores, mas que não podem aparecer nem para seus financiadores: o governo Alckmin.

Se Alckmin providenciar uma devassa nesses contratos, entenderá a verdadeira Arca de Noé que está financiando para seu adversário, Serra.

Esse tipo de rede ganha vida própria. Não é uma Fundação Padre Anchieta que, basta mudar o presidente, para se ter o controle do conteúdo. O conjunto de sites e blogs se auto-alimentam garantindo a audiência e ganhando vida própria.

Por enquanto, o jogo consiste em atacar o PT e o governo Dilma. Mais à frente, quando a disputa se deslocar internamente para o PSDB, o alvo passará a ser Alckmin, principalmente se a candidatura Serra mostrar alguma viabilidade política. Bastará mudar o financiador da rede Aith. E Serra tem bastante bala na agulha para sustentar a rede.

É a Serra – e a Aith – que esses blogueiros respondem.

Márcio Aith, o esquema Serra no governo Alckmin | GGN

20/04/2015

Quanto custa o ódio ao PT? R$ 70 mil mensais!

Puxa, por este valor até eu odiaria o PT… Mas não me venderia porque levo muito a sério a lição do inestimável Barão de Itararé: “o homem que se vende sempre recebe mais do que vale”. Mas há muitas alternativas no mercado. Por qualquer dá cá um big mc há dúzias nas antessalas dos grupos mafiomidiáticos. Hoje, a única condição para ser empregado pelo coronelismo eletrônico é ser mercenário. O próprio STF estabeleceu esta condição ao eliminar a necessidade de diploma. Corrijo, há outra possibilidade de arrumar emprego e aí até de graça. Basta falar mal do PT. A Jovem Pan adotou esta política de recursos humanos.

O que Nassif conta abaixo é mais uma briga de bugios, igual à do Demóstenes Torres com o Ronaldo Caiado… Vale a pena conferir quem são os lixeiros que produzem o lixo que vendem como informação. Há ratos de esgoto que vivem com muito mais dignidade.

Márcio Aith, minha fonte de “O Caso de Veja”

sab, 18/04/2015 – 20:01 – Atualizado em 19/04/2015 – 04:49 – Luis Nassif

Márcio Aith, instrumento de Mário Sabino em uma guerra interna na Veja contra Eurípedes Alcântara, uma novela em que havia de tudo, até Daniel Dantas

Não é surpresa o aparecimento de blogueiros profissionais bancados a peso de ouro pelo governo Alckmin. São contratados não apenas pelas agências de publicidade, mas por órgãos e fundações públicas. Há uma penca deles no Sebrae-SP e na Fundap.

Foi um modelo implementado inicialmente na era José Serra, por Andrea Matarazzo. Depois, mantido pelo subsecretário de Comunicações Márcio Aith.

Confrontado com a denúncia, Geraldo Alckmin terá que decidir se consolida o estilo de político que joga limpo ou se mantém a herança de Serra.

Não vale a pena perder tempo com os pistoleiros.  Mais importante é entender quem comanda.

Aith passou por diversas redações. Deixou duas marcas: o fato de que vinha de uma família digna; e ser excessivamente ambicioso.

Ele foi uma das fontes que me alimentaram de informações na série “O caso de Veja” (http://migre.me/pwTy7).

Antes de começar a escrever a série, passei algum tempo juntando informações para saber quem era quem, na implantação do estilo abjeto que tomou conta da revista e, também, do jogo em favor de Daniel Dantas.

No início julguei que fosse Mário Sabino, pelo que ouvira falar de sua agressividade jornalística.

Duas fontes mudaram minha percepção. Uma, um jornalista experiente que havia trabalhado com Sabino, e garantia que ele não tinha dimensão para grandes articulações. Outra, um assessor de Dantas, que me informou que a interlocução era com Eurípedes Alcântara, o diretor de redação. Afinal, era o homem de Roberto Civita.

Fiz algumas prospecções iniciais, com posts cutucando Eurípedes. Ele respondeu com comentários bastante agressivos, passando recibo.

Em um Roda Viva do qual participamos,  Aith me abordou na chegada. Elogiou meu tirocínio em identificar o papel de Eurípedes. E me contou que havia escrito reportagens contando as relações de André Esteves com Antônio Pallocci e, depois de uma visita de Esteves à Abril, Eurípedes matou a continuidade da cobertura.  Aliás, a reportagem era muito mais um aviso a Esteves, ao mencionar um pintor Linchestein, sem entrar em maiores detalhes. Típica reportagem para chamar para conversar – nesse caso, estratégia da Veja, não de Aith.

Senti que queria falar mais e, no final do programa, dei-lhe carona. Na volta me contou sobre as disputas entre Eurípedes e Sabino. A partir dali tornou-se minha fonte para “O caso de Veja”.

Falou do espaço que Eurípedes abria para o publicitário Eduardo Fischer, e também para Balarmino, do Rubayat, em troca da contratação de sua esposa como arquiteta.

Não  usei essa informação familiar por considerá-la irrelevante e por respeito à família de Euripedes – respeito que não obtive quando o esgoto da Veja passou a atacar minha família.

No decorrer de inúmeras conversas, Aith contou-me que Gilberto Dimenstein era uma das fontes da Veja, para me atacar, e uma jornalista minha amiga (e mais amiga ainda do Eurípedes) tinha sido incumbida por ele de levantar minha fonte.

Com o tempo e as conversas constatei que o grupo de Sabino era constituído por Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e o próprio Aith. E Sabino respondia a José Serra, convicção que firmei após uma conversa dura com o próprio Serra.

Só faltava, àquela altura do campeonato, me tornar um instrumento para as guerras internas da Veja. No quarto ou quinto capítulo da série, passei a mirar também Sabino.

A partir daí Aith entrou em pânico. Telefonou-me dizendo que a disputa estava indo bem mas meus ataques tinham aproximado novamente Eurípedes e Sabino.

Um dia, Aith me telefona e pede para que eu bata nele. Como assim? Tem que bater, e me deu cinco motivos para um post desancando-o. Entendi que estava na mira de Eurípedes, desconfiando que fosse minha fonte. Atendi seu pedido. Um dos comentários colocados no post era de alguém que tinha sido amigo do seu pai. Dizia que era um homem digno e lamentava o filho. Aith me telefonou pedindo para tirar o comentário.

Conto isso porque, na ação que Sabino me moveu, uma das testemunhas de acusação foi o próprio Aith. E, agora, a confirmação de que é o responsável pelo financiamento dos ataques difamadores na rede me liberam definitivamente do off.

As informações sobre a conspiração interna provavelmente chegaram aos ouvidos de Eurípedes.

Algum tempo depois, Mainardi foi demitido da revista. Pouco tempo depois, o próprio Aith saiu. Mais um pouco, Sabino também caiu e assumiu um posto na CDN, de João Rodarte. Aí entendi a razão de Rodarte, em geral cuidadoso ao extremo, ter me narrado as tratativas para levar Esteves até Eurípedes. Havia uma parceria tão forte entre ele e Sabino que, quando a equipe da CDN praticamente exigiu a saída de Sabino da empresa – e não houve como mantê-lo, devido à sua agressividade no trato com os colegas -  este ameaçou entrar com uma ação contra a CDN – mesmo tendo ficado poucos dias trabalhando.

Na Veja, sobrou só Reinaldo, devido à penetração que conquistou junto à ultradireita que se tornou público preferencial de Veja. Mas restrito à versão online.

São esses os detalhes da época.

Márcio Aith, minha fonte de “O Caso de Veja” | GGN

25/09/2012

De onde menos se espera, d’Aith mesmo é que não sai nada

Filed under: Isto é PSDB!,Maria Rita Kehl,Márcio Aith,São Paulo,Violência — Gilmar Crestani @ 7:52 am

Depois de uma declaração dessas não é de se estranhar que tenhamos tantos adeptos da ditadura e que São Paulo seja o lugar onde se encontra mais boçais por metro quatro em cargo de alta responsabilidade. Fica, assim, justificado porque a Capitania Hereditária do PSDB seja a incubadora de tanto marginal na vida política, desde Ademar de Barros, Orestes Quércia, Paulo Maluf, Celso Pitta, José Serra, FHC, Kassab & Geraldo Alckmin. Também fica mais fácil de entender porque o PSDB é o partido com mais gente cassada com a aplicação da lei da Ficha Limpa. Um sujeito que com a boca suja só pode pertencer a um partido Ficha Suja. Só mentes doentais, possivelmente curradas na infância, sejam a favor de um sistema que adota a tortura, morte e sepultura clandestina como sistema de governo. Pessoas, cujo sofrimento alheio é causa de alegria e prazer para si, poderiam ocupar cargo público em algum sistema decente? E depois não entendem porque José Serra tenha um índice tão alto de rejeição. Quem pensa, não odeia, nem tortura ou mata. Simplesmente, rejeita!

Com o peso do Estado, Aith avança em Maria Rita Kehl

Edição/247: marcio aith rota maria rita khel  geraldo alckmin

Subsecretário de Comunicação do Governo de São Paulo tenta desqualificar e humilhar integrante da Comissão da Verdade do governo federal; para Márcio Aith, psicanalista Maria Rita Kehl é "delirante" e "fantasiosa", deveria "envergonhar-se" de artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo e torceu "quiçá para a vitória da bandidagem" no episódio em que a Rota matou nove homens na periferia de São Paulo; é mesmo nestes subterrâneos da urbanidade que o sr. quer situar o debate sobre segurança pública, governador Geraldo Alckmin?

25 de Setembro de 2012 às 06:38

Marco Damiani _247 – A julgar pelo tom com que trata e os adjetivos que escolhe para se dirigir a cidadãos de reconhecida atividade nas sociedades paulista e brasileira, o subsecretário de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo é uma daquelas pessoas que buzina diante de hospital, acelera ao ver uma faixa de segurança e nem sabe o que significa levantar-se do banco de um ônibus lotado para dar lugar a uma gestante, estender a mão a um idoso que precisa de apoio ou, ao menos, retribuir com um sorriso ou aceno a quem lhe dá bom dia. Em resumo, Márcio Aith, infere-se pelo grau de urbanidade igual a zero existente na carta com que respondeu a artigo da psicanalista e integrante da Comissão da Verdade, Maria Rita Kehl, no jornal Folha de S. Paulo, em 16 de outubro (ambos os textos estão abaixo), é um brucutu social. O problema para a sociedade, porém, não está apenas nele, mas, especialmente, na carteirinha que hoje o distingue e realça. É capaz, nessa marcha, de causar uma crise institucional pela baixaria com que pratica o legítimo contraditório.

O sub realmente tecla como um pit bull, mas em nome do Estado de São Paulo? De um governo eleito para ser de todos os cidadãos e não apenas dos que, certamente como ele, se consideram acima dos demais? Com carro oficial, gabinete em palácio, vencimentos pagos pelo público e, na ponta da corda, um chefe, o governador Geraldo Alckmin? Se fosse apenas em seu próprio nome, seria só mais um. Mas é o sub de Comunicação – e isso coloca todo o peso do Estado a seu favor, podendo-se exigir dele, como contrapartida, uma responsabilidade proporcional à importância do cargo. Eis aqui esta cobrança.

Quando ele mostra os dentes, não posso crer que isso seja feito integralmente em nome de Alckmin e seu governo. A prosseguir na maneira ameaçadora com que se coloca frente ao outro – adotara o mesmo padrão frente a uma observação crítica da senador Marta Suplicy –, o sub conseguirá arrastar, com seu desapreço pela elegância ainda que mínima e seu aparente amor pelo ódio entre iguais, o próprio Alckmin para os subterrâneos do bom debate em benefício da sociedade. É mesmo isso o que quer o governador? Sei não…

Conheço, é claro, o governador de São Paulo. Não de hoje, mas desde muito antes, de várias entrevistas e sempre bom relacionamento. Jamais vi nele, desde seus tempos de vice de Mário Covas, candidato a prefeito da capital, governador e, agora, no momento em que completa sua terceira passagem pelo mais alto cargo da política paulista, o uso ou abuso da estratégica da desqualificação pessoal como forma de defender sua argumentação e superar os adversários de suas idéias e seus atos administrativos. Pode-se, na oposição canhota, chamar Alckmin de conservador e perfilado com a direita. É possível colocá-lo no centro do espectro político, como parece ser verdadeiramente sua posição. E, sem que se erre tanto assim, dá até para situá-lo no campo da centro-esquerda. Mas não é possível, em linha com a verdade de sua trajetória pessoal e política, chamá-lo de mal educado, áspero, ríspido ou truculento. Nem de falso democrata ou, noutra palavra, autoritário. Quanto mais vê-lo como um advogado do rebaixamento ou interdição da discussão plural saudável e transparente. Alckmin, ao contrário, sempre se portou como um gentleman na pessoa física e respeitoso ao contraditório na pessoa jurídica.

A psicanalista Maria Rita Kehl, ao contrário, não conheço pessoalmente, e nem posso dizer que seja um de seus leitores mais assíduos, das poesias e dos ensaios. Sei do fato, no entanto, que ela tem, no momento, missão delegada pela presidente Dilma a compor a Comissão da Verdade, organismo que, sem dúvida, todos os que gostariam de manter no acobertamento o passado de perseguições e sangue da ditadura militar brasileira (1964-1985) odeiam por razões no mais das vezes inconfessáveis.

Sei, ainda, que Maria Rita tem uma contribuição consolidada à sociedade em sua área de atuação e, fiel a seus pontos de vista, é militante política. Dizer, só porque ela procurou discutir, com números e interpretações, o último massacre promovido pela Rota, em São Paulo, que Maria Rita produziu uma peça de argumentação "delirante, perversa e desequilibrada", acrescentar que a "distorção moral e ética de seu pensamento é insanável", reduzir os fatos que apresentou ao produto de uma "mente fantasiosa", cuja "retórica inflamada e irresponsável desta senhora" deveria fazê-la "envergonhar-se" e, ainda, insinuar que a autora gostaria de ter visto, no referido episódio, "quiçá a vitória da bandidagem", é simplesmente soterrar as mehores regras da discussão séria para jogar o confronto para um octógono de vale tudo. Nesse plano, e ele parece não saber disso – então, essa é uma dica, ex-colega –, as melhores estatísticas e defesas argumentativas igualmente apanham. Tudo se enfraquece.

Afinal, é mentira que há, sim, uma intensa polêmica na sociedade paulista e paulistana, egressa de décadas, sobre os poderes e limites da Rota? É invenção lembrar que, neste e noutros anos, uma série de situações mal explicadas envolveram este segmento da corporação da PM? Não aconteceu — qualquer repórter sabe — de centenas de jovens serem dizimados a bala, sem chance de resposta, na periferia da capital, quando do último forte ataque do PCC à sociedade? O que há no artigo de Maria Rita Kehl que seja assim tão distante da realidade da nossa cidade e do nosso Estado? Não gostou do artigo, ok, faça outro, responda, mostre seu lado — mas procurar desqualificar e humilhar a autora é técnica de terceira classe.

Márcio Aith, que agora não mais escreve o que dele exigiam seus patrões na revista Veja e no jornal Folha de S. Paulo, mas, em tese, trabalha para todos nós, os paulistas que votamos e não votamos em Geraldo Alckmin, precisa, a meu ver, para melhorar os atuais modos, crescer muito de jeito a alcançar a altura do cargo que lhe foi dado no Estado de São Paulo. Repita-se, o de importante subsecretário de Comunicação.

Abaixo, o artigo da psicanalista Maria Rita Kehl, publicado no jornal Folha de S. Paulo de 16 de setembro, que gerou a reposta criticada acima:

O veredicto de Geraldo Alckmin

O governador de SP usa a mesma retórica dos matadores da ditadura

RESUMO Integrante da Comissão da Verdade, a psicanalista Maria Rita Kehl traça paralelo entre a violência de Estado da ditadura (1964-85) e a da PM paulista, que alegou "resistência seguida de morte" após matar nove pessoas no dia 12. A justificativa, típica dos anos de chumbo, foi endossada pelo governador Alckmin.

MARIA RITA KEHL

"Quem não reagiu está vivo", disse o governador de São Paulo ao defender a ação da Rota na chacina que matou nove supostos bandidos numa chácara em Várzea Paulista, na última quarta-feira, dia 12. Em seguida, tentando aparentar firmeza de estadista, garantiu que a ocorrência será rigorosamente apurada.

Eu me pergunto se é possível confiar na lisura do inquérito, quando o próprio governador já se apressou em legitimar o morticínio praticado pela PM que responde ao comando dele.

"Resistência seguida de morte": assim agentes das Polícias Militares, integrantes do Exército e diversos matadores free-lancer justificavam as execuções de supostos inimigos públicos que militavam pela volta da democracia durante a ditadura civil militar, a qual oprimiu a sociedade e tornou o país mais violento, menos civilizado e muito mais injusto entre 1964 e 1985.

Suprimida a liberdade de imprensa, criminalizadas quaisquer manifestações públicas de protesto, o Estado militarizado teve carta branca para prender sem justificativa, torturar e matar cerca de 400 estudantes, trabalhadores e militantes políticos (dos quais 141 permanecem até hoje desaparecidos e outros 44 nunca tiveram seus corpos devolvidos às famílias -tema atual de investigação pela Comissão Nacional da Verdade).

Esse número, por si só alarmante, não inclui os massacres de milhares de camponeses e índios, em regiões isoladas e cuja conta ainda não conseguimos fechar. Mais cínicas do que as cenas armadas para aparentar trocas de tiros entre policiais e militantes cujos corpos eram entregues às famílias totalmente desfigurados, foram os laudos que atestavam os inúmeros falsos "suicídios".

HERZOG A impunidade dos matadores era tão garantida que eles não se preocupavam em justificar as marcas de tiros pelas costas, as pancadas na cabeça e os hematomas em várias partes do corpo de prisioneiros "suicidados" sob sua guarda. Assim como não hesitaram em atestar o suicídio por enforcamento com "suspensão incompleta", na expressão do legista Harry Shibata, em depoimento à Comissão da Verdade, do jornalista Vladimir Herzog numa cela do DOI-Codi, em São Paulo.

Quando o Estado, que deveria proteger a sociedade a partir de suas atribuições constitucionais, investe-se do direito de mentir para encobrir seus próprios crimes, ninguém mais está seguro. Engana-se a parcela das pessoas de bem que imaginam que a suposta "mão de ferro" do governador de São Paulo seja o melhor recurso para proteger a população trabalhadora.

Quando o Estado mente, a população já não sabe mais a quem recorrer. A falta de transparência das instituições democráticas -qualificação que deveria valer para todas as polícias, mesmo que no Brasil ainda permaneçam como polícias militares- compromete a segurança de todos os cidadãos.

Vejamos o caso da última chacina cometida pela PM paulista, cujos responsáveis o governador de São Paulo se apressou em defender. Não é preciso comentar a bestialidade da prática, já corriqueira no Brasil, de invariavelmente só atirar para matar -frequentemente com mais de um tiro.

Além disso, a justificativa apresentada pelo governador tem pelo menos uma óbvia exceção. Um dos mortos foi o suposto estuprador de uma menor de idade, que acabava de ser julgado pelo "tribunal do crime" do PCC na chácara de Várzea Paulista. Ora, não faz sentido imaginar que os bandidos tivessem se esquecido de desarmar o réu Maciel Santana da Silva, que foi assassinado junto com os outros supostos resistentes.

Aliás, o "tribunal do crime" acabara de inocentar o acusado: o senso de justiça da bandidagem nesse caso está acima do da PM e do próprio governo do Estado. Maciel Santana morreu desarmado. E apesar da ausência total de marcas de tiros nos carros da PM, assim como de mortos e feridos do outro lado, o governador não se vexa de utilizar a mesma retórica covarde dos matadores da ditadura -"resistência seguida de morte", em versão atualizada: "Quem não reagiu está vivo".

CAMORRA Ora, do ponto de vista do cidadão desprotegido, qual a diferença entre a lógica do tráfico, do PCC e da política de Segurança Pública do governo do Estado de São Paulo? Sabemos que, depois da onda de assassinatos de policiais a mando do PCC, em maio de 2006, 1.684 jovens foram executados na rua pela polícia, entre chacinas não justificadas e casos de "resistência seguida de morte", numa ação de vendeta que não faria vergonha à Camorra. Muitos corpos não foram até hoje entregues às famílias e jazem insepultos por aí, tal como aconteceu com jovens militantes de direitos humanos assassinados e desaparecidos no período militar.

Resistência seguida de morte, não: tortura seguida de ocultação do cadáver. O grupo das Mães de Maio, que há seis anos luta para saber o paradeiro de seus filhos, não tem com quem contar para se proteger das ameaças da própria polícia que deveria ajudá-las a investigar supostos abusos cometidos por uma suposta minoria de maus policiais. No total, a polícia matou 495 pessoas em 2006.

Desde janeiro deste ano, escreveu Rogério Gentile na Folha de 13/9, a PM da capital matou 170 pessoas, número 33% maior do que os assassinatos da mesma ordem em 2011. O crime organizado, por sua vez, executou 68 policiais. Quem está seguro nessa guerra onde as duas partes agem fora da lei?

ASSASSINATOS A pesquisadora norte-americana Kathry Sikkink revelou que o Brasil foi o único país da América Latina em que o número de assassinatos cometidos pelas polícias militares aumentou, em vez de diminuir, depois do fim da ditadura civil-militar.

Mudou o perfil socioeconômico dos mortos, torturados e desaparecidos; diminuiu o poder das famílias em mobilizar autoridades para conseguir justiça. Mas a mortandade continua, e a sociedade brasileira descrê da democracia.

Hoje os supostos maus policiais talvez sejam minoria, e não seria difícil apurar suas responsabilidades se houvesse vontade política do governo. No caso do terrorismo de Estado praticado no período investigado pela Comissão da Verdade, mais importante do que revelar os já conhecidos nomes de agentes policiais que se entregaram à barbárie de torturar e assassinar prisioneiros indefesos, é fundamental que se consiga nomear toda a cadeia de mando acima deles.

Se a tortura aos oponentes da ditadura foi acobertada, quando não consentida ou ordenada por autoridades do governo, o que pensar das chacinas cometidas em plena democracia, quando governadores empenham sua autoridade para justificar assassinatos cometidos pela polícia sob seu comando?

Como confiar na seriedade da atual investigação, conduzida depois do veredicto do governador Alckmin, desde logo favorável à ação da polícia? Qual é a lisura que se pode esperar das investigações de graves violações de Direitos Humanos cometidas hoje por agentes do Estado, quando a eliminação sumária de supostos criminosos pelas PMs segue os mesmos procedimentos e goza da mesma impunidade das chacinas cometidas por quadrilhas de traficantes?

Não há grande diferença entre a crueldade praticada pelo tráfico contra seis meninos inocentes, no último domingo, no Rio, e a execução de nove homens na quarta, em São Paulo. O inquietante paralelismo entre as ações da polícia e dos bandidos põe a nu o desamparo de toda a população civil diante da violência que tanto pode vir dos bandidos quanto da polícia.

"Chame o ladrão", cantava o samba que Chico Buarque compôs sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide. Hoje "os homens" não invadem mais as casas de cantores, professores e advogados, mas continuam a arrastar moradores "suspeitos" das favelas e das periferias para fora dos barracos ou a executar garotos reunidos para fumar um baseado nas esquinas das periferias das grandes cidades.

PELA CULATRA Do ponto de vista da segurança pública, este tiro sai pela culatra. "Combater a violência com mais violência é como tentar emagrecer comendo açúcar", teria dito o grande psicanalista Hélio Pellegrino, morto em 1987.

E o que é mais grave: hoje, como antes, o Estado deixa de apurar tais crimes e, para evitar aborrecimentos, mente para a população. O que parece ser decidido em nome da segurança de todos produz o efeito contrário. O Estado, ao mentir, coloca-se acima do direito republicano à informação -portanto, contra os interesses da sociedade que pretende governar.

O Estado, ao mentir, perde legitimidade -quem acredita nas "rigorosas apurações" do governador de São Paulo? Quem já viu algum resultado confiável de uma delas? Pensem no abuso da violência policial durante a ação de despejo dos moradores do Pinheirinho… O Estado mente -e desampara os cidadãos, tornando a vida social mais insegura ao desmoralizar a lei. A quem recorrer, então?

A lei é simbólica e deve valer para todos, mas o papel das autoridades deveria ser o de sustentar, com sua transparência, a validade da lei. O Estado que pratica vendetas como uma Camorra destrói as condições de sua própria autoridade, que em consequência disso passará a depender de mais e mais violência para se sustentar.

Abaixo, resposta do subsecretário de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo, Marcio Aith, de 23 de outubro:

Psicanálise de embromação
Quem não consegue distinguir a democracia da ditadura acaba escolhendo a ditadura como se fosse democracia e a democracia como se fosse ditadura.

Só assim se entende que a psicanalista Maria Rita Kehl associe o democrata Geraldo Alckmin, eleito com 11,5 milhões de votos, a um regime de força, como o fez em seu artigo publicado na última "Ilustríssima" ("O veredicto de Geraldo Alckmin"), com chamada de capa neste jornal.

Kehl comparou a ação da Polícia Militar de São Paulo contra um grupo de bandidos fortemente armados, em uma chácara do município de Várzea Paulista, ao massacre de prisioneiros políticos indefesos da ditadura militar.

Decretou que o senso de justiça da bandidagem, no caso de Várzea Paulista, estaria acima daqueles da PM e do próprio governo do Estado. Isto porque um tribunal do crime, que na chácara se instalara, "absolvera" de forma generosa um dos presentes -acusado de estupro, depois morto na operação policial.

Por fim, Maria Rita classificou como sendo retórica ditatorial uma declaração do governador Geraldo Alckmin ("Quem não reagiu está vivo") e despejou sobre os leitores números que pudessem dar verossimilhança a seu diagnóstico.

O texto é delirante, perverso e desequilibrado. A psicanalista demonstrou desconhecer segurança pública; desprezar fatos e estatísticas; e menosprezar a memória e o trabalho de várias pessoas que, embora não partilhem de sua cartilha, contribuíram para a redemocratização no país.

O Governo do Estado de São Paulo não tolera abuso oficial.

Desde 2000, 3.999 policiais militares e 1.795 policiais civis foram demitidos por má conduta no Estado (dados até 18 setembro deste ano). Só na atual gestão, foram 392 policiais militares e 252 policiais civis.

Ao mesmo tempo, e sem qualquer contradição entre os dois esforços, a Polícia Militar impediu, e vai continuar a fazê-lo, que o crime se organize e realize julgamentos ao arrepio do Estado democrático de Direito.

Aqui, o crime não instala tribunal; aqui, o crime não ocupará funções privativas do Estado; aqui, o crime não vai dialogar com os Poderes constituídos.

A declaração do governador que tanto ouriçou a psicanalista Maria Rita foi feita dentro de um contexto de apuração e controle. Ele não se omitiu em relação à necessidade de investigar o que ocorreu.

Ao contrário. Disse ele, na mesma ocasião: "Olha, quando há resistência seguida de morte: investigação. A própria Polícia Militar investiga e o DHPP, que é o Departamento de Homicídios, também investiga A investigação pela Corregedoria já era de praxe. O que é que nós colocamos a mais? O DHPP. Ele faz a investigação em todos esses casos, ele conduz a investigação."

E o que isto significa? Que o Estado de São Paulo foi o primeiro a colocar um corpo de elite da Polícia Civil -no caso, o DHPP- para apurar resistências seguidas de morte. Nas demais unidades da Federação (algumas das quais querem adotar o modelo paulista), as resistências não são apuradas, muito menos comandadas, por departamentos qualificados.

MENTE FANTASIOSA
A medida fortaleceu o eficaz sistema de freios e contrapesos, típico dos regimes democráticos. Apenas na mente fantasiosa de Maria Rita Kehl os experientes delegados do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, da Polícia Civil, deixarão de cumprir sua obrigação para encobrir eventuais desvios de conduta de policiais militares.

A retórica inflamada e irresponsável desta senhora não fará o governo mudar o rumo na segurança pública. Rumo este, aliás, iniciado na década de 90, com a criação da Ouvidoria da Polícia, com a instituição da disciplina de direitos humanos no curso das polícias e com o combate à letalidade. E que vem sendo seguido pelo atual secretário, Antonio Ferreira Pinto, notoriamente comprometido com o rigor e com a legalidade.

Segundo os dados do último anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública do Ministério da Justiça (2011), a letalidade da polícia paulista é menor do que a de outros Estados do Brasil, tanto em números absolutos como nas taxas por 100 mil habitantes.

Em 2010, morreram 510 pessoas em confronto com a polícia paulista, uma taxa de 1,2 mortos por 100 mil habitantes. No Rio de Janeiro, que tem pouco mais de um terço da população de São Paulo, foram mortas 855 pessoas em confronto policial (taxa de 5,3 por 100 mil habitantes). Na Bahia, a taxa é de 2,2 por 100 mil. Como se vê, a fantasia baseada em distorções ideológicas não se sustenta quando confrontada com dados.

Maria Rita Kehl retrata a Polícia Militar de São Paulo como assassina contumaz de jovens. Pois São Paulo foi o Estado brasileiro que mais reduziu a taxa de homicídio de crianças e adolescentes (até 19 anos) por 100 mil habitantes entre 2000 e 2010, segundo o Mapa da Violência do Instituto Sangari: queda de 76,1%, de 22,3 para 5,4.

Também em números absolutos, o Estado de São Paulo teve a maior queda nesse índice entre 2000 e 2010. A redução foi de 2.991 homicídios de jovens e adolescentes, registrados em 2000, para 651 em 2010.

E o que aconteceu no Brasil no período? O número absoluto de homicídios de crianças e adolescentes cresceu 6,8%, entre 2000 e 2010 (de 8.132 para 8.686 casos) e a taxa por 100 mil habitantes subiu de 11,9, em 2000, para 13,8 em 2010.

DISTORÇÕES
Mas números não bastam para esta senhora. A distorção moral e ética de seu pensamento é insanável. Para Maria Rita, uma luta justa deveria contar sempre com mortos também entre policiais militares. Para ela, a profissionalização da Polícia Militar, treinada também para evitar baixas, é uma disfunção, um defeito, uma evidência de covardia.

Entende-se: entre a polícia e os bandidos, parece que ela já fez a sua escolha. Maria Rita acha que uma luta justa entre Polícia e bandido tem de terminar em empate -quiçá com a vitória da bandidagem, que ela deve confundir, em sua leitura perturbada da realidade, com uma variante da luta por justiça.

A Polícia Militar salva vidas, Maria Rita. É treinada para proteger a população do Estado. Atendeu a mais de 43 milhões de chamados em 2011. Realizou 310 mil resgates e remoções de feridos. Efetuou 128 mil prisões. A PM de São Paulo está entre as melhores do país.

Por isso, o Estado de São Paulo, segundo o Mapa da Violência, está em penúltimo lugar no ranking dos homicídios por 100 mil habitantes. A capital paulista é aquela em que, hoje, menos se mata no país, segundo o mesmo estudo.

Estivesse ela interessada em debater de fato o problema da Segurança Pública, Maria Rita tentaria entender a relação entre drogas e o crime organizado, como aquele instalado na chácara de Várzea Paulista. E por que o Brasil é o primeiro mercado consumidor mundial de crack e o segundo de cocaína? Nunca é suficiente repetir que o Estado de São Paulo produz laranja, cana, soja. Mas não produz folha de coca. Como ela entra no país? E as armas?

Mas estas não são as preocupações de Maria Rita. Ela quer confundir. Por isso até misturou o caso de Várzea Paulista à desocupação judicial da área conhecida como Pinheirinho, onde não houve vítima fatal e criou-se, bem ao seu estilo, um episódio mentiroso para fazer luta partidária.

A obrigação da autoridade pública é enfrentar o problema, seja ele a bandidagem comum ou a bandidagem da polícia. Se houve abusos, eles serão punidos após a investigação, como sempre o foram, e não antes.

Maria Rita Kehl, aliás, tornou-se partidária do julgamento extrajudicial. Ela não conhece detalhes da ação da polícia, mas já expediu a sua sentença condenatória, mimetizando, ela sim, os métodos das tiranias. Com uma diferença. As ditaduras criavam simulacros de julgamento. Precisavam convencer a si mesmas de sua farsa. Maria Rita não precisa ser nem parecer justa.

Ela deveria se envergonhar -mas não se conte com isso, pois está cumprindo uma agenda partidária -como, aliás, já havia feito nas eleições de 2010. Desmoralizar a polícia de São Paulo é parte de um projeto de poder.

O Governo do Estado de São Paulo não tem compromisso com o crime.

Com o peso do Estado, Aith avança em Maria Rita Kehl | Brasil 24/7

De onde menos se espera, d’Aith mesmo é que não sai nada

Filed under: Isto é PSDB!,Maria Rita Kehl,Márcio Aith,São Paulo,Violência — Gilmar Crestani @ 7:46 am

Depois de uma declaração dessas não é de se estranhar que tenhamos tantos adeptos da ditadura e que São Paulo seja o lugar onde se encontra mais boçais por metro quatro em cargo de alta responsabilidade. Fica, assim, justificado porque a Capitania Hereditária do PSDB seja a incubadora de tanto marginal na vida política, desde Ademar de Barros, Orestes Quércia, Paulo Maluf, Celso Pitta, José Serra, FHC, Kassab & Geraldo Alckmin. Também fica mais fácil de entender porque o PSDB é o partido com mais gente cassada com a aplicação da lei da Ficha Limpa. Um sujeito que com a boca suja só pode pertencer a um partido Ficha Suja. Só mentes doentais, possivelmente curradas na infância, sejam a favor de um sistema que adota a tortura, morte e sepultura clandestina como sistema de governo. Pessoas, cujo sofrimento alheio é causa de alegria e prazer para si, poderiam ocupar cargo público em algum sistema decente? E depois não entendem porque José Serra tenha um índice tão alto de rejeição. Quem pensa, não odeia, nem tortura ou mata. Simplesmente, rejeita!

Com o peso do Estado, Aith avança em Maria Rita Kehl

Edição/247: marcio aith rota maria rita khel  geraldo alckmin

Subsecretário de Comunicação do Governo de São Paulo tenta desqualificar e humilhar integrante da Comissão da Verdade do governo federal; para Márcio Aith, psicanalista Maria Rita Kehl é "delirante" e "fantasiosa", deveria "envergonhar-se" de artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo e torceu "quiçá para a vitória da bandidagem" no episódio em que a Rota matou nove homens na periferia de São Paulo; é mesmo nestes subterrâneos da urbanidade que o sr. quer situar o debate sobre segurança pública, governador Geraldo Alckmin?

25 de Setembro de 2012 às 06:38

Marco Damiani _247 – A julgar pelo tom com que trata e os adjetivos que escolhe para se dirigir a cidadãos de reconhecida atividade nas sociedades paulista e brasileira, o subsecretário de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo é uma daquelas pessoas que buzina diante de hospital, acelera ao ver uma faixa de segurança e nem sabe o que significa levantar-se do banco de um ônibus lotado para dar lugar a uma gestante, estender a mão a um idoso que precisa de apoio ou, ao menos, retribuir com um sorriso ou aceno a quem lhe dá bom dia. Em resumo, Márcio Aith, infere-se pelo grau de urbanidade igual a zero existente na carta com que respondeu a artigo da psicanalista e integrante da Comissão da Verdade, Maria Rita Kehl, no jornal Folha de S. Paulo, em 16 de outubro (ambos os textos estão abaixo), é um brucutu social. O problema para a sociedade, porém, não está apenas nele, mas, especialmente, na carteirinha que hoje o distingue e realça. É capaz, nessa marcha, de causar uma crise institucional pela baixaria com que pratica o legítimo contraditório.

O sub realmente tecla como um pit bull, mas em nome do Estado de São Paulo? De um governo eleito para ser de todos os cidadãos e não apenas dos que, certamente como ele, se consideram acima dos demais? Com carro oficial, gabinete em palácio, vencimentos pagos pelo público e, na ponta da corda, um chefe, o governador Geraldo Alckmin? Se fosse apenas em seu próprio nome, seria só mais um. Mas é o sub de Comunicação – e isso coloca todo o peso do Estado a seu favor, podendo-se exigir dele, como contrapartida, uma responsabilidade proporcional à importância do cargo. Eis aqui esta cobrança.

Quando ele mostra os dentes, não posso crer que isso seja feito integralmente em nome de Alckmin e seu governo. A prosseguir na maneira ameaçadora com que se coloca frente ao outro – adotara o mesmo padrão frente a uma observação crítica da senador Marta Suplicy –, o sub conseguirá arrastar, com seu desapreço pela elegância ainda que mínima e seu aparente amor pelo ódio entre iguais, o próprio Alckmin para os subterrâneos do bom debate em benefício da sociedade. É mesmo isso o que quer o governador? Sei não…

Conheço, é claro, o governador de São Paulo. Não de hoje, mas desde muito antes, de várias entrevistas e sempre bom relacionamento. Jamais vi nele, desde seus tempos de vice de Mário Covas, candidato a prefeito da capital, governador e, agora, no momento em que completa sua terceira passagem pelo mais alto cargo da política paulista, o uso ou abuso da estratégica da desqualificação pessoal como forma de defender sua argumentação e superar os adversários de suas idéias e seus atos administrativos. Pode-se, na oposição canhota, chamar Alckmin de conservador e perfilado com a direita. É possível colocá-lo no centro do espectro político, como parece ser verdadeiramente sua posição. E, sem que se erre tanto assim, dá até para situá-lo no campo da centro-esquerda. Mas não é possível, em linha com a verdade de sua trajetória pessoal e política, chamá-lo de mal educado, áspero, ríspido ou truculento. Nem de falso democrata ou, noutra palavra, autoritário. Quanto mais vê-lo como um advogado do rebaixamento ou interdição da discussão plural saudável e transparente. Alckmin, ao contrário, sempre se portou como um gentleman na pessoa física e respeitoso ao contraditório na pessoa jurídica.

A psicanalista Maria Rita Kehl, ao contrário, não conheço pessoalmente, e nem posso dizer que seja um de seus leitores mais assíduos, das poesias e dos ensaios. Sei do fato, no entanto, que ela tem, no momento, missão delegada pela presidente Dilma a compor a Comissão da Verdade, organismo que, sem dúvida, todos os que gostariam de manter no acobertamento o passado de perseguições e sangue da ditadura militar brasileira (1964-1985) odeiam por razões no mais das vezes inconfessáveis.

Sei, ainda, que Maria Rita tem uma contribuição consolidada à sociedade em sua área de atuação e, fiel a seus pontos de vista, é militante política. Dizer, só porque ela procurou discutir, com números e interpretações, o último massacre promovido pela Rota, em São Paulo, que Maria Rita produziu uma peça de argumentação "delirante, perversa e desequilibrada", acrescentar que a "distorção moral e ética de seu pensamento é insanável", reduzir os fatos que apresentou ao produto de uma "mente fantasiosa", cuja "retórica inflamada e irresponsável desta senhora" deveria fazê-la "envergonhar-se" e, ainda, insinuar que a autora gostaria de ter visto, no referido episódio, "quiçá a vitória da bandidagem", é simplesmente soterrar as mehores regras da discussão séria para jogar o confronto para um octógono de vale tudo. Nesse plano, e ele parece não saber disso – então, essa é uma dica, ex-colega –, as melhores estatísticas e defesas argumentativas igualmente apanham. Tudo se enfraquece.

Afinal, é mentira que há, sim, uma intensa polêmica na sociedade paulista e paulistana, egressa de décadas, sobre os poderes e limites da Rota? É invenção lembrar que, neste e noutros anos, uma série de situações mal explicadas envolveram este segmento da corporação da PM? Não aconteceu — qualquer repórter sabe — de centenas de jovens serem dizimados a bala, sem chance de resposta, na periferia da capital, quando do último forte ataque do PCC à sociedade? O que há no artigo de Maria Rita Kehl que seja assim tão distante da realidade da nossa cidade e do nosso Estado? Não gostou do artigo, ok, faça outro, responda, mostre seu lado — mas procurar desqualificar e humilhar a autora é técnica de terceira classe.

Márcio Aith, que agora não mais escreve o que dele exigiam seus patrões na revista Veja e no jornal Folha de S. Paulo, mas, em tese, trabalha para todos nós, os paulistas que votamos e não votamos em Geraldo Alckmin, precisa, a meu ver, para melhorar os atuais modos, crescer muito de jeito a alcançar a altura do cargo que lhe foi dado no Estado de São Paulo. Repita-se, o de importante subsecretário de Comunicação.

Abaixo, o artigo da psicanalista Maria Rita Kehl, publicado no jornal Folha de S. Paulo de 16 de setembro, que gerou a reposta criticada acima:

O veredicto de Geraldo Alckmin

O governador de SP usa a mesma retórica dos matadores da ditadura

RESUMO Integrante da Comissão da Verdade, a psicanalista Maria Rita Kehl traça paralelo entre a violência de Estado da ditadura (1964-85) e a da PM paulista, que alegou "resistência seguida de morte" após matar nove pessoas no dia 12. A justificativa, típica dos anos de chumbo, foi endossada pelo governador Alckmin.

MARIA RITA KEHL

"Quem não reagiu está vivo", disse o governador de São Paulo ao defender a ação da Rota na chacina que matou nove supostos bandidos numa chácara em Várzea Paulista, na última quarta-feira, dia 12. Em seguida, tentando aparentar firmeza de estadista, garantiu que a ocorrência será rigorosamente apurada.

Eu me pergunto se é possível confiar na lisura do inquérito, quando o próprio governador já se apressou em legitimar o morticínio praticado pela PM que responde ao comando dele.

"Resistência seguida de morte": assim agentes das Polícias Militares, integrantes do Exército e diversos matadores free-lancer justificavam as execuções de supostos inimigos públicos que militavam pela volta da democracia durante a ditadura civil militar, a qual oprimiu a sociedade e tornou o país mais violento, menos civilizado e muito mais injusto entre 1964 e 1985.

Suprimida a liberdade de imprensa, criminalizadas quaisquer manifestações públicas de protesto, o Estado militarizado teve carta branca para prender sem justificativa, torturar e matar cerca de 400 estudantes, trabalhadores e militantes políticos (dos quais 141 permanecem até hoje desaparecidos e outros 44 nunca tiveram seus corpos devolvidos às famílias -tema atual de investigação pela Comissão Nacional da Verdade).

Esse número, por si só alarmante, não inclui os massacres de milhares de camponeses e índios, em regiões isoladas e cuja conta ainda não conseguimos fechar. Mais cínicas do que as cenas armadas para aparentar trocas de tiros entre policiais e militantes cujos corpos eram entregues às famílias totalmente desfigurados, foram os laudos que atestavam os inúmeros falsos "suicídios".

HERZOG A impunidade dos matadores era tão garantida que eles não se preocupavam em justificar as marcas de tiros pelas costas, as pancadas na cabeça e os hematomas em várias partes do corpo de prisioneiros "suicidados" sob sua guarda. Assim como não hesitaram em atestar o suicídio por enforcamento com "suspensão incompleta", na expressão do legista Harry Shibata, em depoimento à Comissão da Verdade, do jornalista Vladimir Herzog numa cela do DOI-Codi, em São Paulo.

Quando o Estado, que deveria proteger a sociedade a partir de suas atribuições constitucionais, investe-se do direito de mentir para encobrir seus próprios crimes, ninguém mais está seguro. Engana-se a parcela das pessoas de bem que imaginam que a suposta "mão de ferro" do governador de São Paulo seja o melhor recurso para proteger a população trabalhadora.

Quando o Estado mente, a população já não sabe mais a quem recorrer. A falta de transparência das instituições democráticas -qualificação que deveria valer para todas as polícias, mesmo que no Brasil ainda permaneçam como polícias militares- compromete a segurança de todos os cidadãos.

Vejamos o caso da última chacina cometida pela PM paulista, cujos responsáveis o governador de São Paulo se apressou em defender. Não é preciso comentar a bestialidade da prática, já corriqueira no Brasil, de invariavelmente só atirar para matar -frequentemente com mais de um tiro.

Além disso, a justificativa apresentada pelo governador tem pelo menos uma óbvia exceção. Um dos mortos foi o suposto estuprador de uma menor de idade, que acabava de ser julgado pelo "tribunal do crime" do PCC na chácara de Várzea Paulista. Ora, não faz sentido imaginar que os bandidos tivessem se esquecido de desarmar o réu Maciel Santana da Silva, que foi assassinado junto com os outros supostos resistentes.

Aliás, o "tribunal do crime" acabara de inocentar o acusado: o senso de justiça da bandidagem nesse caso está acima do da PM e do próprio governo do Estado. Maciel Santana morreu desarmado. E apesar da ausência total de marcas de tiros nos carros da PM, assim como de mortos e feridos do outro lado, o governador não se vexa de utilizar a mesma retórica covarde dos matadores da ditadura -"resistência seguida de morte", em versão atualizada: "Quem não reagiu está vivo".

CAMORRA Ora, do ponto de vista do cidadão desprotegido, qual a diferença entre a lógica do tráfico, do PCC e da política de Segurança Pública do governo do Estado de São Paulo? Sabemos que, depois da onda de assassinatos de policiais a mando do PCC, em maio de 2006, 1.684 jovens foram executados na rua pela polícia, entre chacinas não justificadas e casos de "resistência seguida de morte", numa ação de vendeta que não faria vergonha à Camorra. Muitos corpos não foram até hoje entregues às famílias e jazem insepultos por aí, tal como aconteceu com jovens militantes de direitos humanos assassinados e desaparecidos no período militar.

Resistência seguida de morte, não: tortura seguida de ocultação do cadáver. O grupo das Mães de Maio, que há seis anos luta para saber o paradeiro de seus filhos, não tem com quem contar para se proteger das ameaças da própria polícia que deveria ajudá-las a investigar supostos abusos cometidos por uma suposta minoria de maus policiais. No total, a polícia matou 495 pessoas em 2006.

Desde janeiro deste ano, escreveu Rogério Gentile na Folha de 13/9, a PM da capital matou 170 pessoas, número 33% maior do que os assassinatos da mesma ordem em 2011. O crime organizado, por sua vez, executou 68 policiais. Quem está seguro nessa guerra onde as duas partes agem fora da lei?

ASSASSINATOS A pesquisadora norte-americana Kathry Sikkink revelou que o Brasil foi o único país da América Latina em que o número de assassinatos cometidos pelas polícias militares aumentou, em vez de diminuir, depois do fim da ditadura civil-militar.

Mudou o perfil socioeconômico dos mortos, torturados e desaparecidos; diminuiu o poder das famílias em mobilizar autoridades para conseguir justiça. Mas a mortandade continua, e a sociedade brasileira descrê da democracia.

Hoje os supostos maus policiais talvez sejam minoria, e não seria difícil apurar suas responsabilidades se houvesse vontade política do governo. No caso do terrorismo de Estado praticado no período investigado pela Comissão da Verdade, mais importante do que revelar os já conhecidos nomes de agentes policiais que se entregaram à barbárie de torturar e assassinar prisioneiros indefesos, é fundamental que se consiga nomear toda a cadeia de mando acima deles.

Se a tortura aos oponentes da ditadura foi acobertada, quando não consentida ou ordenada por autoridades do governo, o que pensar das chacinas cometidas em plena democracia, quando governadores empenham sua autoridade para justificar assassinatos cometidos pela polícia sob seu comando?

Como confiar na seriedade da atual investigação, conduzida depois do veredicto do governador Alckmin, desde logo favorável à ação da polícia? Qual é a lisura que se pode esperar das investigações de graves violações de Direitos Humanos cometidas hoje por agentes do Estado, quando a eliminação sumária de supostos criminosos pelas PMs segue os mesmos procedimentos e goza da mesma impunidade das chacinas cometidas por quadrilhas de traficantes?

Não há grande diferença entre a crueldade praticada pelo tráfico contra seis meninos inocentes, no último domingo, no Rio, e a execução de nove homens na quarta, em São Paulo. O inquietante paralelismo entre as ações da polícia e dos bandidos põe a nu o desamparo de toda a população civil diante da violência que tanto pode vir dos bandidos quanto da polícia.

"Chame o ladrão", cantava o samba que Chico Buarque compôs sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide. Hoje "os homens" não invadem mais as casas de cantores, professores e advogados, mas continuam a arrastar moradores "suspeitos" das favelas e das periferias para fora dos barracos ou a executar garotos reunidos para fumar um baseado nas esquinas das periferias das grandes cidades.

PELA CULATRA Do ponto de vista da segurança pública, este tiro sai pela culatra. "Combater a violência com mais violência é como tentar emagrecer comendo açúcar", teria dito o grande psicanalista Hélio Pellegrino, morto em 1987.

E o que é mais grave: hoje, como antes, o Estado deixa de apurar tais crimes e, para evitar aborrecimentos, mente para a população. O que parece ser decidido em nome da segurança de todos produz o efeito contrário. O Estado, ao mentir, coloca-se acima do direito republicano à informação -portanto, contra os interesses da sociedade que pretende governar.

O Estado, ao mentir, perde legitimidade -quem acredita nas "rigorosas apurações" do governador de São Paulo? Quem já viu algum resultado confiável de uma delas? Pensem no abuso da violência policial durante a ação de despejo dos moradores do Pinheirinho… O Estado mente -e desampara os cidadãos, tornando a vida social mais insegura ao desmoralizar a lei. A quem recorrer, então?

A lei é simbólica e deve valer para todos, mas o papel das autoridades deveria ser o de sustentar, com sua transparência, a validade da lei. O Estado que pratica vendetas como uma Camorra destrói as condições de sua própria autoridade, que em consequência disso passará a depender de mais e mais violência para se sustentar.

Abaixo, resposta do subsecretário de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo, Marcio Aith, de 23 de outubro:

Psicanálise de embromação
Quem não consegue distinguir a democracia da ditadura acaba escolhendo a ditadura como se fosse democracia e a democracia como se fosse ditadura.

Só assim se entende que a psicanalista Maria Rita Kehl associe o democrata Geraldo Alckmin, eleito com 11,5 milhões de votos, a um regime de força, como o fez em seu artigo publicado na última "Ilustríssima" ("O veredicto de Geraldo Alckmin"), com chamada de capa neste jornal.

Kehl comparou a ação da Polícia Militar de São Paulo contra um grupo de bandidos fortemente armados, em uma chácara do município de Várzea Paulista, ao massacre de prisioneiros políticos indefesos da ditadura militar.

Decretou que o senso de justiça da bandidagem, no caso de Várzea Paulista, estaria acima daqueles da PM e do próprio governo do Estado. Isto porque um tribunal do crime, que na chácara se instalara, "absolvera" de forma generosa um dos presentes -acusado de estupro, depois morto na operação policial.

Por fim, Maria Rita classificou como sendo retórica ditatorial uma declaração do governador Geraldo Alckmin ("Quem não reagiu está vivo") e despejou sobre os leitores números que pudessem dar verossimilhança a seu diagnóstico.

O texto é delirante, perverso e desequilibrado. A psicanalista demonstrou desconhecer segurança pública; desprezar fatos e estatísticas; e menosprezar a memória e o trabalho de várias pessoas que, embora não partilhem de sua cartilha, contribuíram para a redemocratização no país.

O Governo do Estado de São Paulo não tolera abuso oficial.

Desde 2000, 3.999 policiais militares e 1.795 policiais civis foram demitidos por má conduta no Estado (dados até 18 setembro deste ano). Só na atual gestão, foram 392 policiais militares e 252 policiais civis.

Ao mesmo tempo, e sem qualquer contradição entre os dois esforços, a Polícia Militar impediu, e vai continuar a fazê-lo, que o crime se organize e realize julgamentos ao arrepio do Estado democrático de Direito.

Aqui, o crime não instala tribunal; aqui, o crime não ocupará funções privativas do Estado; aqui, o crime não vai dialogar com os Poderes constituídos.

A declaração do governador que tanto ouriçou a psicanalista Maria Rita foi feita dentro de um contexto de apuração e controle. Ele não se omitiu em relação à necessidade de investigar o que ocorreu.

Ao contrário. Disse ele, na mesma ocasião: "Olha, quando há resistência seguida de morte: investigação. A própria Polícia Militar investiga e o DHPP, que é o Departamento de Homicídios, também investiga A investigação pela Corregedoria já era de praxe. O que é que nós colocamos a mais? O DHPP. Ele faz a investigação em todos esses casos, ele conduz a investigação."

E o que isto significa? Que o Estado de São Paulo foi o primeiro a colocar um corpo de elite da Polícia Civil -no caso, o DHPP- para apurar resistências seguidas de morte. Nas demais unidades da Federação (algumas das quais querem adotar o modelo paulista), as resistências não são apuradas, muito menos comandadas, por departamentos qualificados.

MENTE FANTASIOSA
A medida fortaleceu o eficaz sistema de freios e contrapesos, típico dos regimes democráticos. Apenas na mente fantasiosa de Maria Rita Kehl os experientes delegados do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, da Polícia Civil, deixarão de cumprir sua obrigação para encobrir eventuais desvios de conduta de policiais militares.

A retórica inflamada e irresponsável desta senhora não fará o governo mudar o rumo na segurança pública. Rumo este, aliás, iniciado na década de 90, com a criação da Ouvidoria da Polícia, com a instituição da disciplina de direitos humanos no curso das polícias e com o combate à letalidade. E que vem sendo seguido pelo atual secretário, Antonio Ferreira Pinto, notoriamente comprometido com o rigor e com a legalidade.

Segundo os dados do último anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública do Ministério da Justiça (2011), a letalidade da polícia paulista é menor do que a de outros Estados do Brasil, tanto em números absolutos como nas taxas por 100 mil habitantes.

Em 2010, morreram 510 pessoas em confronto com a polícia paulista, uma taxa de 1,2 mortos por 100 mil habitantes. No Rio de Janeiro, que tem pouco mais de um terço da população de São Paulo, foram mortas 855 pessoas em confronto policial (taxa de 5,3 por 100 mil habitantes). Na Bahia, a taxa é de 2,2 por 100 mil. Como se vê, a fantasia baseada em distorções ideológicas não se sustenta quando confrontada com dados.

Maria Rita Kehl retrata a Polícia Militar de São Paulo como assassina contumaz de jovens. Pois São Paulo foi o Estado brasileiro que mais reduziu a taxa de homicídio de crianças e adolescentes (até 19 anos) por 100 mil habitantes entre 2000 e 2010, segundo o Mapa da Violência do Instituto Sangari: queda de 76,1%, de 22,3 para 5,4.

Também em números absolutos, o Estado de São Paulo teve a maior queda nesse índice entre 2000 e 2010. A redução foi de 2.991 homicídios de jovens e adolescentes, registrados em 2000, para 651 em 2010.

E o que aconteceu no Brasil no período? O número absoluto de homicídios de crianças e adolescentes cresceu 6,8%, entre 2000 e 2010 (de 8.132 para 8.686 casos) e a taxa por 100 mil habitantes subiu de 11,9, em 2000, para 13,8 em 2010.

DISTORÇÕES
Mas números não bastam para esta senhora. A distorção moral e ética de seu pensamento é insanável. Para Maria Rita, uma luta justa deveria contar sempre com mortos também entre policiais militares. Para ela, a profissionalização da Polícia Militar, treinada também para evitar baixas, é uma disfunção, um defeito, uma evidência de covardia.

Entende-se: entre a polícia e os bandidos, parece que ela já fez a sua escolha. Maria Rita acha que uma luta justa entre Polícia e bandido tem de terminar em empate -quiçá com a vitória da bandidagem, que ela deve confundir, em sua leitura perturbada da realidade, com uma variante da luta por justiça.

A Polícia Militar salva vidas, Maria Rita. É treinada para proteger a população do Estado. Atendeu a mais de 43 milhões de chamados em 2011. Realizou 310 mil resgates e remoções de feridos. Efetuou 128 mil prisões. A PM de São Paulo está entre as melhores do país.

Por isso, o Estado de São Paulo, segundo o Mapa da Violência, está em penúltimo lugar no ranking dos homicídios por 100 mil habitantes. A capital paulista é aquela em que, hoje, menos se mata no país, segundo o mesmo estudo.

Estivesse ela interessada em debater de fato o problema da Segurança Pública, Maria Rita tentaria entender a relação entre drogas e o crime organizado, como aquele instalado na chácara de Várzea Paulista. E por que o Brasil é o primeiro mercado consumidor mundial de crack e o segundo de cocaína? Nunca é suficiente repetir que o Estado de São Paulo produz laranja, cana, soja. Mas não produz folha de coca. Como ela entra no país? E as armas?

Mas estas não são as preocupações de Maria Rita. Ela quer confundir. Por isso até misturou o caso de Várzea Paulista à desocupação judicial da área conhecida como Pinheirinho, onde não houve vítima fatal e criou-se, bem ao seu estilo, um episódio mentiroso para fazer luta partidária.

A obrigação da autoridade pública é enfrentar o problema, seja ele a bandidagem comum ou a bandidagem da polícia. Se houve abusos, eles serão punidos após a investigação, como sempre o foram, e não antes.

Maria Rita Kehl, aliás, tornou-se partidária do julgamento extrajudicial. Ela não conhece detalhes da ação da polícia, mas já expediu a sua sentença condenatória, mimetizando, ela sim, os métodos das tiranias. Com uma diferença. As ditaduras criavam simulacros de julgamento. Precisavam convencer a si mesmas de sua farsa. Maria Rita não precisa ser nem parecer justa.

Ela deveria se envergonhar -mas não se conte com isso, pois está cumprindo uma agenda partidária -como, aliás, já havia feito nas eleições de 2010. Desmoralizar a polícia de São Paulo é parte de um projeto de poder.

O Governo do Estado de São Paulo não tem compromisso com o crime.

Com o peso do Estado, Aith avança em Maria Rita Kehl | Brasil 24/7

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