Ficha Corrida

10/03/2015

Até tucanos estão assustados com o ódio de classe dos colegas

Ainda há esperança. Nem toda elite branca e endinheirada é sem educação. Não é todo dia que um tucano sai do ninho para fazer autocrítica. Depois de Cláudio Lembo, Ricardo Semler, Bresser Pereira, agora foi a vez do Juca Kfouri. Espécie rara, em extinção nos grupos mafiomidiáticos, ainda há alguns que se envergonham do déficit civilizatório dos colegas. Uma espécie de vergonha alheira por vezes reaparece em quem ainda não se deixou contaminar pela campanha de ódio de classe contra o PT e seus governos.

Seguindo bovinamente seus patrões, há uma manada de jornalista que pensa aumentar o salário puxando o saco. Estes são escolhidos a dedo para ocuparem espaços nobres e, quiçá, ocuparem o espaço político no lugar do povo. A RBS guindou Ana Amélia Lemos aos píncaros da glória. Tanto mais ela criticava o Governo Lula, mas a RBS lhe dava espaço. Era onipresente em todos os veículos do grupo. Pronto. Virou tábua de salvação de uma manada que a seguiu bovinamente ao cadafalso. Cada falso moralista depositou voto no PP gaúcho, o campeão da moralidade alheia. E não é que o PP gaúcho, todinho, ganhou um banho de Lava Jato. Moralistas, homofóbicos, racistas do PP gaúcho, secundados pela égua madrinha da RBS, estão enfiados até o pescoço nos desvios da Petrobrás. Como a ignorância é mãe  do ódio, ouvem PP mas culpam PT. Como diz o Juca Kfouri, eles não suportam Bolsa Família, FIES, PRONATEC, pois as vagas nas universidades agora devem e são disputadas com gente pobre, preta e até filhos de colonos. Que ódio, ao invés de ficarem na roça, vêm pra cidade roubarem as vagas de nossos filhos, dizem os que sonegam, compram quinquilharias chinesas em Miami e se acham a fina flor do fascio littorio, gênesis do fascismo!

O panelaço da barriga cheia e do ódio

Por Juca Kfouri, em seu blog:

Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado.
Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.
O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.
Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.
Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.
Como eu sou.
Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga.
Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:
“Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres.
O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar.
Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente.
Não é preocupação ou medo. É ódio.
Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou.
Continuou defendendo os pobres contra os ricos.
O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres.
Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força.
Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.
Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho.
E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.”

Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país.
“Santa hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”.
Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.
Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.
Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.
Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.
Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.
Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.
E sem corrupção, é claro!

Altamiro Borges: O panelaço da barriga cheia e do ódio

02/03/2015

Resposta: da ignorância, do despeito e da inveja dos anencefálicos

Para atender uma demanda de quem a finanCIA, a velha imprensa se meteu em ser massa de manobra para criar um sentimento de ódio ao PT. E encontrou terreno fértil entre os anencefálicos. A inveja, o despeito dos perdedores é sementeira do ódio. A cada dia que passa todo ser ignorante que não consegue acolherar palavras que formem uma frase com sujeito, verbo e predicado estão sendo conduzidos nessa louca cavalgada de ódio. Pior do que o ódio disseminado numa classe média é alguns que se acham classe média, mas que não passam de reMEDIADOS. Se fazem de capacho para o ódio desfilar. O exemplo mais conhecido é drogado Lobão. As drogas consumiram seu cérebro, o que o fez líder da massa de anencefálicos.

Não conseguem desenvolver um raciocínio claro para explicar as razões do ódio e isso os deixa com ainda mais ódio. É a ignorância, mãe de todos os preconceitos.

 

De onde vem tanto ódio contra o PT?

Postado em 01 mar 2015 – por : Paulo Nogueira

33 ComentáriosFilhos da mídia

Filhos da mídia

Bresser Pereira resumiu o que acontece no Brasil de hoje: um grotesco sentimento de ódio coletivo dos ricos pelo PT e por Dilma.

Ele atribuiu a Lula e sua atribulada luta pela inclusão social de brasileiros ao longo de anos, décadas, séculos excluídos.

Mas se esqueceu de falar na contribuição milionária da imprensa para a disseminação do ódio.

A jornada de raiva da mídia começa exatamente com Lula, em 2003.

A Veja, antes uma revista respeitada e não um panfleto vil, assumiu desde logo o comando.

Dois articulistas foram chave nisso: Diogo Mainardi, na edição impressa, e Reinaldo Azevedo, na digital.

Eles deram o novo tom da revista. Falta de compromisso com os fatos e objetivo único de sabotar o governo eleito e, com ele, a democracia.

Progressivamente, o resto da imprensa foi seguindo o mesmo caminho.

Jornalistas e colunistas progressistas foram sendo afastados das redações, substituídos por derivações de Mainardi e Azevedo.

Aí foi perdido um equilíbrio tradicional: ao longo dos tempos, o direitismo dos donos encontrava um contraponto no progressismo dos chefes de redação.

Um dos exemplos notáveis disso foi Frias, o velho, e Claudio Abramo, na Folha. Ou Roberto Civita e Mino Carta, na Veja.

Foi dentro desse quadro que surgiu a multidão de vozes patronais nas principais empresas jornalísticas nacionais.

O que houve foi uma ocupação.

O pensamento diferente foi virtualmente extirpado. Mesmo a Folha, que se vangloriou durante muitos anos da pluralidade, foi ampliando os colunistas de direita e jogando fora os demais.

Não é coincidência que Reinaldo Azevedo, o símbolo do jornalismo patronal, seja hoje colunista da Folha.

Nos bastidores das redações, ocorreu o mesmo. Na Globo, ascenderam a postos essenciais jornalistas como Erick Bretas, hoje diretor de Mídias Digitais da empresa.

Bretas se notabilizou, recentemente, por pedir o impeachment de Dilma no Facebook e conclamar seus seguidores a acompanhá-lo no protesto de 15 de março.

A mensagem central da mídia pós-Lula tem sido instilar raiva num público intelectualmente vulnerável, destituído de preparo para distinguir jornalismo de propaganda política.

Para isso, jornais e revistas tentam desmoralizar de todas as formas o governo. A maior arma, aí, são acusações de corrupção, e não à toa.

Isso sempre funcionou no Brasil. A classe média é facilmente manipulada. Getúlio foi boicotado assim, e depois dele Jango também.

O ódio de classes que marca o Brasil de hoje deriva daí. Os “corruptos”, no discurso calculado da imprensa, estão acabando com o Brasil e enriquecendo à custa de todo mundo.

Danem-se os fatos. O importante é propagar essa visão.

Um dos efeitos colaterais disso é a venezuelização do Brasil. O brutal ataque a Mantega no Einstein é uma amostra perfeita da venezuelização: a fúria irracional das classes privilegiadas contra tudo que remeta a um governo de esquerda, ou centro-esquerda.

Por trás de tudo, se esconde uma verdade prosaica: os privilegiados, e deles a imprensa é o porta-voz, não querem abrir mão de suas mamatas.

É assim na Venezuela, é assim no Brasil.

Lamentavelmente, Bresser Pereira é um dos poucos privilegiados que conseguem enxergar a vida além de seus próprios interesses.

É por isso que ele é ignorado pela mídia.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).

Paulo Nogueira

Diário do Centro do Mundo » De onde vem tanto ódio contra o PT?

07/10/2013

A direita tem discurso: moralismo seletivo e hipócrita

Filed under: Direita,Luiz Carlos Bresser Pereira — Gilmar Crestani @ 7:50 am
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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

O ataque moralista da direita

Durante o governo Dilma, a direita recuperou a voz, mas vazia, de condenação de todos os políticos

Nestes últimos meses vimos a direita recuperar o dom da palavra. Em 2002 ela se apavorara com a perspectiva da eleição de um presidente socialista. O medo foi tanto e contaminou de tal forma os mercados financeiros internacionais que levou o governo FHC a uma segunda crise de balanço de pagamentos.

O novo presidente, entretanto, logo afastou os medos dos ricos que então perceberam que não seriam expropriados. Pelo contrário, viram um governo procurando fazer um pacto político com os empresários industriais e que não hostilizava a coalizão política de grandes e médios rentistas e dos financistas.

Por outro lado, o novo governo de esquerda pareceu haver logrado retomar o crescimento econômico, ao mesmo tempo que adotava uma politica firme de distribuição de renda. Na verdade, beneficiava-se de um grande aumento nos preços das commodities exportadas pelo país, e da possibilidade (que aproveitou de forma equivocada) de apreciar a moeda nacional que se depreciara na crise de 2002.

Lula terminou seu governo com aprovação popular recorde, e com a direita brasileira sem discurso. Deixou, porém, para sua sucessora, a presidente Dilma, uma taxa de câmbio incrivelmente sobreapreciada, que, depois de haver roubado das empresas brasileiras o mercado externo, agora (desde 2011) negava-lhes acesso ao próprio mercado interno.

Sem surpresa, os resultados econômicos dos dois primeiros anos de governo foram decepcionantes. E, no seu segundo ano, foram combinados com o julgamento do mensalão pelo STF, transformado em grande evento político e midiático.

Com isto o governo se enfraqueceu, e a direita brasileira recuperou a voz. Mas uma voz vazia, liberal e moralista. Liberal porque pretende que a solução dos problemas é liberalizar os mercados ainda mais, não obstante os maus resultados que geraram. Moralista porque adotou um discurso de condenação moral de todos os políticos, tratando-os de forma desrespeitosa, ao mesmo tempo que continuava a apoiar em voz baixa os partidos de direita.

Quando, devido às manifestações de junho, os índices de aprovação da presidente caíram, a direita comemorou. Não percebeu que caíam também os índices de aprovação de todos os governadores. Nem se deu conta de que a presidente logo recuperaria parte do apoio perdido.

Quando o STF afinal garantiu a doze dos condenados do mensalão um novo julgamento de alguns pontos, essa direita novamente se indignou. Agora era a justiça que também era corrupta.

Quando o deputado José Genoino (condenado nesse processo porque era presidente do PT quando as irregularidades aconteceram) manifestou o quanto vinha sofrendo com tudo isso –ele que, de fato, sempre dedicou a sua vida ao país, e hoje é um homem pobre–, essa direita limitou-se a gritar que o Brasil era o reino da impunidade, em vez de perceber que o castigo que Genoino já teve foi provavelmente maior do que sua culpa.

Os países democráticos precisam de uma direita conservadora e de uma esquerda progressista. Mas cada uma deve ter um discurso que faça sentido, em vez do mero moralismo que a direita vem exibindo.

06/05/2013

Todas as ditaduras primeiro fecham o Congresso

Filed under: Congresso Nacional,Ditadura,Luiz Carlos Bresser Pereira,STF — Gilmar Crestani @ 9:23 am
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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Qual Poder é preciso defender?

Se existe um Poder que precisa ser defendido, este é o Legislativo. Os outros dois não estão ameaçados

As democracias se caracterizam pelo equilíbrio de Poderes, mas isso não significa que os três tenham a mesma importância. O Legislativo é o Poder democrático por excelência, e cabe a ele a palavra final em todas as questões, através das emendas. Entretanto, o que vemos no Brasil é o Judiciário — Poder burocrático por excelência — tentar assumir essa posição, o que é inaceitável do ponto de vista da democracia.

O equilíbrio de Poderes, ou "checks and balances", é a tese através da qual filósofos liberais do século 18 buscaram limitar o Executivo, o monarca absoluto. Mas, além disso, é uma tese que visou limitar o Parlamento — reflexo da oposição do liberalismo à democracia no século 19 a partir do argumento de evitar a "ditadura da maioria".

Há tempos esse argumento, que servia para a burguesia rejeitar o sufrágio universal, mostrou-se equivocado. A maioria alcançada em alguns momentos por sociais-democratas que representavam os trabalhadores jamais buscou exercer a ditadura quando ganhou eleições.

Mas o medo da democracia continua a assombrar liberais, que, apesar da crítica ao Estado e à sua burocracia, sempre buscam transferir poderes; do Executivo para agências burocráticas supostamente "independentes"; e do Legislativo para o Supremo Tribunal Federal.

Ao julgar a constitucionalidade das leis e interpretar os dispositivos da Constituição que não são claros, o Poder Judiciário exerce um papel que lhe é próprio. Mas o que estamos vendo é algum dos ministros usarem o "clima favorável" criado por um liberalismo antidemocrático ainda dominante para se impor sobre o Parlamento. Vimos dois movimentos recentes nessa direção.

Primeiro, o Supremo não hesitou em interferir na ordem em que os projetos de lei são votados, exigindo que venham primeiro as medidas provisórias. Agora, um ministro concedeu liminar para impedir que continue a ser discutido no Senado projeto de lei que inibe a criação de partidos políticos. Usou como justificativa o fato de que o projeto estaria sendo aprovado "de afogadilho".

O Brasil tem um bom Judiciário, um Poder meritocrático formado por magistrados de elite. Já o Congresso está permanentemente nas manchetes, porque é constituído de um número grande e heterogêneo de parlamentares e reflete qualidades e defeitos da sociedade brasileira.

Mas não é razoável que, por essa diferença de constituição, a sociedade se deixe convencer por um liberalismo que manifesta preferência pelo Poder Judiciário e desgosto com a política e a democracia.

O Congresso aprovou na Comissão de Justiça da Câmara emenda constitucional que exige maioria de quatro quintos para o Supremo declarar leis inconstitucionais — algo discutível, mas razoável. Creio ser justo que esteja clara para o Supremo a inconstitucionalidade de uma lei já duramente discutida.

Receio que alguns ministros do Supremo estejam se inspirando na Suprema Corte dos Estados Unidos, mas lá seus membros não têm alternativa, já que a Constituição se tornou uma espécie de tabu, e o Congresso perdeu capacidade prática de emendá-la. No Brasil não é assim. Devemos saudar as tentativas para contornar a crise entre os dois Poderes, mas sem perder de vista que, se há um que precisa ser defendido (e sempre criticado), este é o Legislativo. Os outros dois não estão ameaçados.

22/04/2013

Eis o único tucano legível

Filed under: Economia,Luiz Carlos Bresser Pereira — Gilmar Crestani @ 8:04 am
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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Nação e estabilidade financeira

A redução do patamar da taxa de juros aconteceu a partir de 2001; até hoje, os avanços foram modestos

Entre 1980 e 1994, os problemas fundamentais que a economia brasileira enfrentava eram a crise financeira da dívida externa, a alta inflação inercial e o desequilíbrio das contas públicas. Desde o início dos anos 1990, quando o primeiro e o segundo problema foram equacionados, restou o problema fiscal, mas somaram-se dois outros que decorreram da estabilização dos preços de 1994: a alta taxa de juros e a taxa de câmbio cronicamente sobreapreciada.

Considerados esses três problemas macroeconômicos, o primeiro foi razoavelmente resolvido a partir de 1999, desde que o governo estabeleceu uma meta de superavit primário e passou a alcançá-la; o alto nível de taxa de juros não foi plenamente resolvido, mas nos anos 2000 logrou-se um avanço substancial: a taxa de juros deixou de girar em torno de 9% reais para, em 2012, variar em torno de 2,5%; já em relação à taxa de câmbio, não houve avanços: o nível de taxa de câmbio, que torna competitivas as empresas industriais eficientes existentes no Brasil, deveria girar em torno de R$ 2,90 por dólar, mas vem flutuando em torno de R$ 2.

Por que alcançamos êxito em um problema, algum avanço em outro, e praticamente nenhum no terceiro? Eu poderia tentar responder a esta questão a partir do liberalismo econômico ou do desenvolvimentismo dos presidentes e de suas equipes econômicas, mas mais importante é pensar em termos do modo pelo qual a sociedade brasileira vê esses três problemas cujo enfrentamento não é trivial, porque envolve interesses de consumidores, ou de empresários, ou de rentistas.

Os governantes só se sentem com poder para tentar resolver cada um deles quando se forma um razoável consenso na nação sobre a necessidade de resolvê-los, e como fazê-lo.

A irresponsabilidade fiscal foi o primeiro problema enfrentado com razoável êxito a partir de 1999, porque a sociedade civil se convenceu que uma das causas da alta inflação era a irresponsabilidade fiscal. E por isso passou a julgar os políticos também sob esse critério.

A redução do patamar de taxa de juros real aconteceu a partir de 2001, quando ganhou consistência e intensidade a crítica às taxas de juros exorbitantes que prevaleciam no país desde 1994. Ficou claro que essas altas taxas não podiam ser explicadas seja pelo risco Brasil ou pela necessidade de combater a inflação, mas apenas pelo interesse dos capitalistas rentistas e dos financistas em mantê-las altas. E a nação brasileira se convenceu disso.

Não obstante a crítica à taxa de câmbio sobreapreciada tenha ganho base teórica, até hoje os avanços foram modestos. Essencialmente porque, no curto prazo, sua correção envolve custos em termos de aumento temporário da inflação, redução temporária dos salários reais e quebra de empresas muito endividadas em moeda estrangeira.

Por esse fato e porque as pessoas têm dificuldade em compreender o quão prejudicial para a economia é um nível de taxa de câmbio sobreapreciada; porque essa sobreapreciação crônica e cíclica desestimula o investimento e a poupança, e, assim, impede o crescimento acelerado que o Brasil precisa ter para realizar o alcançamento.

17/12/2012

O Aético Never não vai gostar nada disso…

Filed under: Aécio Neves,Crescimento Econômico,Luiz Carlos Bresser Pereira,PIBe — Gilmar Crestani @ 8:05 am

Na mesma Folha, que reserva as segundas de ressaca ao bebum de Minas, também Bresser-Pereira tem seu espaço. Compare o que escreveu o Aético Never com o que publica, abaixo, Bresser-Pereira e tire suas próprias conclusões.

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Baixo crescimento, ideologia, pensamento

Governo brasileiro, com sua política monetária e industrial competente, está no caminho certo

O baixo crescimento do PIB brasileiro no terceiro trimestre deixou os economistas convencionais alvoroçados. Afinal, tinham como criticar o governo desenvolvimentista da presidente Dilma Rousseff.

Qual a crítica? Que a baixa taxa de investimento (18% do PIB) deve-se à política industrial adotada pelo governo; que os empresários teriam ficado desorientados com as diversas medidas de estímulo fiscal e monetário que o governo vem tomando e teriam se tornado inseguros, teriam reduzido suas expectativas de crescimento e, assim, deixado de realizar investimentos.

Ora, isso não é explicação econômica; não implica pensamento, mas repetição da ideologia neoclássica e neoliberal, para a qual toda política industrial é sempre condenável porque distorceria a alocação de recursos. É ideologia equivocada, porque a experiência secular dos países mostra que isso é falso: que política industrial geralmente é um fator de desenvolvimento econômico.

Mas, então, qual é a causa do baixo crescimento? Em primeiro lugar, é preciso considerar que houve provavelmente erro do IBGE ao não considerar as variações de estoque em suas estimativas do PIB.

Conforme afirma com a competência de sempre Francisco L. Lopes, na Macrométrica, "a partir de 2010, os gestores e planejadores das empresas, assim como o distinto público, dentro e fora do país, resolveram acreditar que o Brasil se transformara em tigre asiático" e, por isso, aumentaram excessivamente a produção. Em 2012, não obstante suas vendas continuem satisfatórias, reduziram a produção porque se puseram racionalmente a reduzir estoques.

Mas o crescimento não é satisfatório, apesar da coragem que o governo revelou ao reduzir juros reais e ao lograr alguma desvalorização da taxa de câmbio. Não o é porque a taxa de câmbio está longe do equilíbrio (cerca de R$ 2,70 por dólar).

O crescimento também não é satisfatório porque uma política industrial, por melhor que seja, não tem condições de sanar esse desequilíbrio fundamental da economia brasileira. Muitos desenvolvimentistas ainda não entenderam isso e, baseados na experiência do alto crescimento do Brasil (1930-1980), acreditam nas virtudes mágicas da política industrial. Isso também é ideologia sem base no pensamento.

A "política industrial" desse período não era apenas um sistema de incentivos à indústria (política industrial estrito senso); era também, senão principalmente, uma política macroeconômica através da qual o governo mantinha a taxa de juros real baixa e a taxa de câmbio no equilíbrio industrial, neutralizando, portanto, a doença holandesa.

Isso se fazia por câmbios múltiplos e, nos anos 1970, por tarifas de importação e subsídios à exportação, os quais não eram mero protecionismo, como geralmente se pensa, mas uma forma de estabelecer o imposto sobre as exportações de commodities.

Deixemos, portanto, de lado as ideologias e tratemos de pensar. O governo está fazendo isto: uma política monetária e industrial competente, que já logrou baixar os juros, depreciar parcialmente o câmbio e, através do PAC, busca planejar e aumentar os investimentos nos setores não competitivos.

Está no caminho certo.

30/09/2012

Elites tratam mensalão de forma antidemocrática

Filed under: Grupos Mafiomidiáticos,Luiz Carlos Bresser Pereira — Gilmar Crestani @ 7:52 am

Rogério Cassimiro/Folhapress

Quem argumenta é Luiz Carlos Bresser Pereira, intelectual que foi ministro de FHC, abandonou o PSDB e assinou o manifesto que defende os princípios da legalidade na Ação Penal 470

29 de Setembro de 2012 às 09:31

247 – Em carta dirigida à Folha de S. Paulo, o intelectual Luiz Carlos Bresser Pereira explica por que assinou o manifesto que defende a legalidade no julgamento da Ação Penal 470. Diz ele que o julgamento do mensalão está sendo tratado pelas elites brasileiras de forma “incompatível com os princípios do Direito e da democracia”. Leia:

Mensalão
Esta Folha publicou em 25/9 notícia ("Artistas solidários a Dirceu criticam tom de julgamento", "Poder") que levou leitores e amigos meus a entender que eu teria assinado um manifesto de apoio a José Dirceu. De fato, eu assinei um manifesto que me foi enviado por amigos do político do PT, mas esse manifesto não menciona seu nome nem faz referência a ele; manifesta apenas preocupação com a forma como o julgamento do mensalão está sendo tratado pelas elites brasileiras -uma forma, a meu ver, incompatível com os princípios do Direito e da democracia.
No momento em que o esquema de corrupção foi denunciado, cabia perfeitamente a manifestação da opinião pública. Agora, no momento do julgamento, essa manifestação é espúria. Temos uma instituição e um corpo de juízes da mais alta qualidade que estão encarregados constitucionalmente de examinar as provas e decidir. Eles têm as informações necessárias e conhecem melhor do que nós os princípios do Direito. A melhor maneira de respeitá-los e de respeitar a democracia é deixar que decidam com liberdade, em vez de julgarmos por nossa própria conta.
Luiz carlos Bresser-Pereira, colunista da Folha (São Paulo, SP)

Elites tratam mensalão de forma antidemocrática | Brasil 24/7

10/09/2012

Lulismo e circo

Filed under: André Singer,Luiz Carlos Bresser Pereira,Lulismo — Gilmar Crestani @ 8:27 am

Bresser-Pereira e André Singer, em dois textos, Folha de São Paulo e Estadão, se complementam. Ao mesmo tempo que mostram os avanços pós-FHC, reduzem as políticas de Lula & CIA a um movimento de leve distribuição de renda ao modo Il Gattopardo: “mudar tudo para que tudo continue como está”. Tomaso di Lampedusa registrou os movimentos garibaldinos na Sicília e as adesões que captavam os revolucionários para serem cavalgados ao trote dos próprios interesses. Como a ditadura, a mudança pós-FHC é “lenta e gradual” para que as estruturas não sofram solavancos. O que vemos em Porto Alegre dá bem a dimensão disto. O PT controlado por Tarso Genro expulsou os ideólogos à esquerda para impor uma conciliação do tipo “musse de xuxu”, que vai do nada (Manuela) a lugar algum (Fortunati). Neste caso, se correr o bicho pega; se parar o bicho come. Quem ri à toa com esta desideologização petista é a RBS, que sai no lucro, com Manuel ou Fortunati, e até com Villaverde. Eis aí uma boa explicação porque Raul Pont foi escanteado. O PT ruma do centro à direita mais rápido que suas políticas amenizadoras e conformadoras.

 

Pacto desenvolvimentista pós-crise?

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Aposto num acordo social que revaloriza produção e conhecimento; sei quantas lutas serão necessárias

Ainda que se esteja sempre afirmando que não existe diferença entre esquerda e direita, ela continua a ser usada por todos, porque a diferença existe, e porque a tese da indiferença é mera tentativa da coalizão política hegemônica de afirmar que não há alternativa a ela.

Mas essa distinção apresenta um problema real: ela supõe luta de classes entre capitalistas e trabalhadores ou entre os pobres e os ricos, o que é só parte da verdade.

A outra é que existem coalizões de classe ou pactos políticos associando trabalhadores e capitalistas, na medida em que estes se dividem entre os empresários que dirigem suas empresas, inovam e realizam lucros, e os rentistas que vivem de juros, aluguéis e dividendos.

Denomino desenvolvimentista o pacto político que associa trabalhadores e classes médias aos empresários; neoliberal o que une rentistas a financistas, estes entendidos como os profissionais que gerem a riqueza dos primeiros. As coalizões desenvolvimentistas são amplas e progressistas, as neoliberais, restritas e conservadoras.

Sempre usei essa oposição entre desenvolvimentismo e liberalismo econômico para compreender países em desenvolvimento como o Brasil, mas estou convencido de que se aplica também aos países ricos.

O pacto político por trás do presidente Obama é desenvolvimentista e progressista. O que apoia Mitt Romney é liberal e conservador.

Esta Folha publicou recentemente quadro com os cinco principais financiadores dos dois candidatos. Enquanto os do lado de Mitt Romney eram bancos (Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley, Bank of America e Crédit Suisse), os principais doadores de Obama eram Microsoft, Universidade da Califórnia, Dla Piper (empresa de advocacia), Google e Universidade de Harvard.

Ainda que uma empresa de advocacia entre os principais doadores do democrata não seja indicação de desenvolvimentismo, as outras são. Não há empresa industrial, mas há duas grandes organizações de tecnologia da informação e duas produtoras de conhecimento.

Enquanto os 30 anos dourados do capitalismo (1949-78) foram de ampla coalizão desenvolvimentista nos países ricos, de um pacto político englobando empresários, trabalhadores e classes médias profissionais, os 30 anos neoliberais do capitalismo (1979-2008) foram de coalizão restrita, de um acordo entre os 2% mais ricos da população.

Enquanto os primeiros foram anos de elevadas taxas de crescimento, moderada redução da desigualdade e grande estabilidade financeira, os segundos foram de baixo crescimento e alta instabilidade financeira e de uma brutal concentração de renda.

Os conceitos de classe social e de luta de classes foram relevantes, mas não são suficientes para explicar esses resultados.

Já a distinção entre empresários e capitalistas rentistas e o conceito de pactos políticos entre setores sociais têm poder explicativo maior. E nos ajudam a pensar como será o capitalismo depois da crise.

Aposto num pacto desenvolvimentista ou progressista, num grande acordo social revalorizando a produção e o conhecimento, mas sei quantas lutas serão necessárias para que isso seja verdade e quão precárias são as previsões humanas.

Lulismo mudou o cenário e vai durar, diz ex-porta-voz

Livro do cientista político André Singer sustenta que o fenômeno criou um ‘realinhamento eleitoral’ e partidos terão de se adaptar

09 de setembro de 2012 | 3h 02

GABRIEL MANZANO – O Estado de S.Paulo

Para seus fiéis, o lulismo é símbolo do resgate dos pobres e trouxe uma nova era à política brasileira. Para adversários, há nele muito de propaganda e seu destino é sumir quando seu protagonista sair de cena. Entre os dois extremos, o cientista político André Singer acaba de lançar o livro Os Sentidos do Lulismo – no qual sustenta que o fenômeno é mais profundo. É fruto de um importante realinhamento eleitoral no País, que obriga ao reposicionamento de outras forças políticas. E mais: tem uma longa vida pela frente.

Em plena guerra eleitoral, com mais de 20 partidos disputando 5.565 prefeituras, azarões liderando pesquisas e completa ausência de debate ideológico, o livro chega como uma boa provocação. "O lulismo é recente e seu sentido histórico não se fixou", adverte o autor, que foi porta-voz de Lula no primeiro mandato. Ele relata, com fartos números e tabelas, como foi a construção desse novo "ismo" e qual peso ele terá na história do País.

Primeiro, as amplas políticas sociais iniciadas em 2003 beneficiaram um imenso subproletariado que era conservador e passou a apoiar o presidente. Segundo, o mensalão afastou a classe média de Lula. Surge então uma nova paisagem política. "No lulismo a polarização se dá entre ricos e pobres, não entre esquerda e direita", avisa o autor. E o novo realinhamento eleitoral "tornou necessário o reposicionamento das esquerdas e de outros segmentos ideológicos".

Reformismo fraco. Como se percebe, o cerne do estudo é o impacto de políticas sociais no quadro eleitoral. Ou seja, vão se decepcionar os que esperam de suas 276 páginas críticas ao mensalão, ao abandono dos ideais socialistas, a acordos pouco republicanos. Mas não faltam provocações. Para começar, ele define o lulismo como "mudança e permanência" e "combate à pobreza com manutenção da ordem". O movimento só se firmou por ter adotado o "reformismo fraco" – um conjunto de políticas moderadas, "sem confrontar o capital". Reformismo fraco é, por exemplo, dar crédito consignado em vez de taxar as fortunas. É dar reajustes modestos ao salário mínimo. É não mexer na legislação financeira. E é, por fim, jogar para o futuro o desafio maior da redução das desigualdades. Não por acaso, o subtítulo do livro é "Reforma Gradual e Pacto Conservador".

Segundo o autor, o lulismo só deu certo porque, entre 2003 e 2008, o Brasil foi beneficiado pelos bons ventos da economia mundial, que abarrotaram os cofres do Tesouro e permitiram a Lula, ao mesmo tempo, ser generoso com os pobres e "acalmar" os meios financeiros mantendo superávits altos e inflação baixa. Mas é um erro, diz ele, reduzir o lulismo a um reflexo da economia mundial.

"Foi a fortuna da conjuntura internacional e a virtù de apostar na redução da pobreza com ativação do mercado interno que produziu o suporte material do lulismo", afirma o autor.

As teses de Singer são promessa de polêmica. "Lulismo é um conceito equívoco", adverte o cientista político Aldo Fornazieri. Rigoroso na conceituação de um "ismo", ele diz que Lula "não deixou nem teve intenção de legar um corpo doutrinário dessa natureza". Seu colega Rudá Ricci escreveu que o fenômeno "é difuso’ e "se desgasta na falta de nitidez". Para o historiador Carlos Guilherme Mota, o lulismo "ficou historicamente datado", pois criou "uma visão conciliadora da vida social" que ele prefere chamar de neopopulismo.

Singer se defende: a vitória de Dilma Rousseff em 2010 já é uma evidência do realinhamento de que fala no livro. A grande ameaça, de fato, seria uma forte crise econômica, se ela interrompesse as políticas sociais – que, afinal, já duraram uma década.

06/12/2011

Ideas que movieron al mundo

Filed under: Luiz Carlos Bresser Pereira — Gilmar Crestani @ 7:50 am

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira *

Acabo de recibir la noticia de la muerte de Guillermo O’Donnell, a los 75 años. Pierdo a un amigo de mi generación y todos perdemos al más importante investigador y teórico de la democracia en América latina. Conocí a Guillermo en los años ’70, cuando luchábamos por la democracia en nuestros países. La primera gran obra suya que leí fue sobre las alianzas de clases en Argentina, sobre el conflicto entre dos visiones y propuestas para nuestro desarrollo: un acuerdo desarrollista entre empresarios industriales, la burocracia del sector público y los trabajadores en contra del pacto liberal de los grandes agricultores y ganaderos exportadores (“el campo” en Argentina), el gran capital financiero, la infraestructura y la industria monopólica de bienes básicos y los intereses extranjeros. El hacía, entonces, un análisis y una crítica del pacto colonialista que Getúlio Vargas venció en Brasil, pero al que los argentinos no lograron derrotar y, por eso, el desarrollo económico brasileño desde los ’30 fue mucho mayor que el argentino. Todavía en los ’70, como investigador del Cedes, Guillermo desarrolló la idea del “Estado burocrático autoritario”, un concepto que se volvió paradigmático en América latina. Explicó la lógica de los regímenes militares como consecuencia de la “profundización del capital” que estaba ocurriendo en la región, después de que la sustitución de importaciones de bienes manufacturados de consumo se agotara y se volviera necesario invertir en grandes empresas de capital intensivo. No era ésa mi interpretación. Para mí esos regímenes se situaban en el marco de la Guerra Fría y transcurrieron de la reacción de las clases dominantes a la radicalización política provocada por la Revolución Cubana, pero los trabajos de Guillermo abrieron camino a una crítica del autoritarismo que entonces fue muy importante para las naciones latinoamericanas.

A comienzos de los ’80, Guillermo dejó de lado el tema del autoritarismo para ocuparse de las transiciones democráticas. Junto a Philippe Schmitter y Laurence Whitehead, lideró un gran proyecto de investigación sobre las transiciones que se estaban produciendo en aquel momento. En lugar de explicar las transiciones como una consecuencia de la lucha popular y de la adhesión de la burguesía industrial a esa lucha cuando perdió el miedo al comunismo, defendió la idea que llegaría a ser dominante en América latina: que la transición democrática resultó de la victoria de los militares del ala blanda sobre los del ala dura.

Después de la democratización de Argentina, Brasil y Chile, se volvió hacia el problema de la calidad de la democracia. No bastaba una democracia mínima, con libertad de expresión y asociación, y con sufragio universal, era necesario que el Estado democrático se hiciese cada vez más democrático, que dejase de ser apenas una “democracia delegativa”, en la que todo el poder se concentra en el jefe de gobierno. Para ello no era suficiente que se avanzara en la defensa de los derechos sociales y se aumentara la responsabilidad de los políticos, también era necesario avanzar en la protección de los derechos civiles –el derecho a la vida, a la libertad, la propiedad y el respeto– que, en las democracias de elite o schumpeterianas, tienen asegurados los ricos, no los pobres. Luego lideró un segundo gran proyecto de investigación sobre la mejora de la calidad de la democracia en América latina, realizado bajo el auspicio de las Naciones Unidas.

Guillermo O’Donnell fue un gran intelectual de su tiempo. Un tiempo que vivió con pasión e indignación. A veces era difícil entender su español, porque su manera de hablar no era muy nítida, pero, en compensación, su retórica al presentar sus trabajos era maravillosa, y fácilmente entusiasmaba a una platea de intelectuales y estudiantes. Durante cierto período vivió en San Pablo y fue investigador del Cebrap; casi se hizo un brasileño, pero la Universidad de Notre Dame, en Estados Unidos, nos ganó. Sin embargo, ante todo él era un argentino, un porteño, y volvió a la Argentina hace algunos años. En su país podría haber sido un gran político –no le faltaron invitaciones y oportunidades en su juventud y madurez–, pero prefirió dedicarse a las ideas, porque creía que las ideas son poderosas, que mueven al mundo. Las suyas, ciertamente, lo movieron.

* Politólogo, economista, ex ministro de Brasil. Traducción: Javier Lorca.

Página/12 :: Universidad :: Ideas que movieron al mundo

14/10/2011

Bresser na Carta Maior

Filed under: Luiz Carlos Bresser Pereira — Gilmar Crestani @ 8:25 am
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‘BC é um banco do governo e tem que fazer política do governo’

Em entrevista exclusiva à Carta Maior, o economista e cientista político Luiz Carlos Bresser Pereira recusa-se a transformar a política fiscal dos governos petistas em vilã de um futuro sombrio. “Existem dois tipos de economistas horríveis: os ortodoxos, para os quais todos os problemas do mundo se resolvem com mais ajuste fiscal, e os keynesianos vulgares, para quem tudo se resolve com mais gasto público”, afirma. Para ele, desde 1998, o Brasil não descuida da questão fiscal. Outro mito que Bresser derruba é o de que a autonomia do Banco Central é fundamental para a administração da crise.

Maria Inês Nassif

SÃO PAULO – Desde que deixou definitivamente o PSDB – e, com ele, a militância partidária – o advogado, administrador de empresas, economista e cientista político Luiz Carlos Bresser Pereira reencontrou o ninho teórico. Reassumiu, agora sem a timidez imposta por compromissos partidários, o desenvolvimentismo, e tem sido um atento crítico do neoliberalismo.
Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Bresser recusa-se a transformar a política fiscal dos governos petistas em vilã de um futuro sombrio. “Existem dois tipos de economistas horríveis: os ortodoxos, para os quais todos os problemas do mundo se resolvem com mais ajuste fiscal, e os keynesianos vulgares, para quem tudo se resolve com mais gasto público”, afirma.
Na sua análise, desde 1998 o país não descuida da questão fiscal. “Esse discurso é burrice”, garante. Inflação deixou de ser o maior dos problemas do Brasil desde o Plano Real, em 1994. Os riscos maiores para o país, diante da crise mundial, são – e desde 1994 – câmbio e juros. Embora o mercado tenha feito um ajuste no preço do dólar, que está em torno de R$ 1,90, esse valor só garante um “equilíbrio corrente”. O “equilíbrio industrial”, que livraria o Brasil do fantasma da doença holandesa (reprimarização da economia), apenas viria com o dólar no patamar de R$ 2,30, e desde que, chegando a esse valor, o governo administrasse para mantê-lo.
Outro mito que Bresser derruba é o de que a autonomia do Banco Central é fundamental para a administração da crise. “O Banco Central é um banco do governo, é parte do governo e tem que fazer a política do governo. Essa história de autonomia do Banco Central não faz nenhum sentido”, afirma. E dá um crédito à administração de Dilma Rouseff: para ele, o Executivo percebeu que deveria ser ativo na condução da economia, para evitar que uma eventual queda da economia chinesa faça muitos estragos: “Dona Dilma, seu ministro da Fazenda [Guido Mantega] e seu presidente do Banco Central [Alexandre Tombini] estão de parabéns”.
Abaixo, a íntegra da entrevista com Bresser Pereira:
CARTA MAIOR: O Brasil consegue sair dessa crise sem se machucar demais? Em que hipótese e fazendo quais opções?
LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA: A crise internacional não está resolvida. Devido à gravidade da crise de 2008, a recuperação é muito lenta e a isso somou-se outra crise, a do euro, que tem uma origem parcialmente independente – o fato é que o euro foi um equívoco, porque criou uma moeda comum e fez com que os países deixassem de ter suas próprias moedas e seus próprios bancos centrais. Eles ficaram impossibilitados de fazer duas coisas que, por exemplo, Estados Unidos e Inglaterra estão fazendo: desvalorizar moeda ou imprimir moeda para enfrentar a crise. A Europa, como um conjunto, poderia até fazer isso, mas com grande dificuldade. Grécia e Espanha não podem.
CARTA MAIOR: Isso é a falência do modelo de união monetária?
BRESSER: O modelo do euro foi um equívoco. Eu fui um grande defensor dele, mas, para que desse certo, era preciso que houvesse um poder central muito mais forte e um Banco Cental Europeu perfeitamente integrado à lógica do Estado europeu. A Europa teria que ser um Estado. Na prática, não é. Os líderes europeus estão se apercebendo disso. Alguma coisa eles vão ter que fazer, mas está muito complicado.
CARTA MAIOR: Como se consegue desamarrar uma crise que foi toda montada em torno da ideia de livre mercado e tem elementos de regulação muito reduzidos? Como reverter um sistema mundial montado na especulação?
BRESSER: Isso nós fizemos nos anos 30 e, ainda que lentamente, estamos fazendo nesses anos. Houve uma regulação bancária, embora ainda insuficiente. Foram estabelecidos prazos para aumento do capital dos bancos – longos, mas o fato concreto é que se aumentaram os requerimentos de capital dos bancos e a regulamentação está acontecendo. Os EUA aprovaram uma lei que não é nenhuma maravilha, mas caminha nessa direção. Num artigo recente bastante interessante, no Economic Prospects, John Key diz que a crise foi desperdiçada, no sentido de que parece que não se aprendeu nada. Não é verdade. O que é verdade é que não se aprende com a rapidez que a gente gostaria e os resultados não surgem também com a rapidez que se espera. Mas o fato é que o neoliberalismo, mesmo desmoralizado, ainda tem seguidores.
E a teoria econômica neoclássica, que ao meu ver está igualmente desmoralizada porque era o “fundamento científico” das políticas neoliberais, levou o Prêmio Nobel deste ano com dois economistas desse tipo, os norte-americanos Thomas Sargent e Christopher Sims. É verdade que o Nobel não premiou o liberalismo radical do Sargent, mas suas técnicas de pesquisa econométrica (e eu sou favorável a técnicas sofisticadas que os econometristas desenvolvem), mas a teoria macroeconômica liberal que ele abraça é uma fraude. As pessoas não compreendem as diferenças e dão o Nobel para uma pessoa que está associada à visão de mercados autônomos e autorregulados, o que é um escândalo total.
CARTA MAIOR: Com que o Brasil deve tomar cuidado nessa crise?
BRESSER: Dois problemas são dominantes no Brasil desde que a inflação foi controlada, em 1994: a alta taxa de juros e a taxa de câmbio sobreapreciada.
CARTA MAIOR: A inflação não voltou a preocupar?
BRESSER: A inflação não é um problema fundamental. Claro que temos sempre de estar preocupados com isso, mas este, hoje, não é nosso problema principal. É importante apenas para quem gosta de juros altos. Como tínhamos problemas para resolver a inflação entre 1980 e 1994, desde 1994 nosso problema passou a ser uma taxa de juros e uma taxa de câmbio anormais. A boa notícia é que o governo, nesses últimos meses, resolveu afinal dar uma guinada para uma política keynesiano-estruturalista, ou desenvolvimentista, o que dá esperanças.
CARTA MAIOR: O país tem tempo para reverter essa tendência de primarização da economia?
BRESSER: O tempo sempre existe. Essa primarização é uma consequência da taxa de câmbio sobreapreciada, que decorre, em parte, da taxa de juros elevada que atrai capitais. Além da entrada excessiva de capitais (absolutamente desnecessária, pois não precisamos da poupança externa para crescer), a primarização tem outra causa, a doença holandesa, que não está sendo enfrentada. A taxa de câmbio em torno de R$ 1,90, como está hoje, usando o meu modelo, corresponde ao “equilíbrio corrente”, ou seja, é uma taxa de câmbio que equilibra intertemporalmente a conta corrente do país. Mas esta não é a taxa de câmbio de equilíbrio industrial, ou seja, aquela que reverteria a desindustrialização e tornaria internacionalmente competitivas empresas que fossem competentes tecnológica ou administrativamente.
CARTA MAIOR: Quanto teria que custar o dólar, em reais, para isso, para haver equilíbrio industrial sem que se tenha a impressão de que chegamos ao caos?
BRESSER: Algo em torno de R$ 2,30. E tem que chegar lá e administrar para não deixar cair. Com esse patamar, o Brasil iria crescer muito perto do que a China cresce. Sem isso, não cresce nada.
CARTA MAIOR: Existe, por parte do governo, algum plano estruturado de desenvolvimento, ou as coisas estão acontecendo por erro e acerto?
BRESSER: Nas economias capitalistas como a nossa, não faz sentido ter um plano integral. O que é fundamental é que o governo planeje duas áreas: infraestrutura e indústria de base, ou indústria pesada. E administre com mão de ferro o setor financeiro. São esses três setores que exigem planejamento. As decisões sobre infraestrutura, como as hidrelétricas que estamos fazendo, demoram anos para serem colocadas em funcionamento e grandes somas de capital. Isso exige um planejamento que o mercado não tem a menor condição de fazer. O resto da economia – a indústria de transformação, a agricultura em geral, o comércio etc –, isso é mercado, e mais mercado, e mais mercado. Porque aí nós temos empresários, profissionais e trabalhadores competentes. Aí, funciona. A regulação e o planejamento são fundamentais nesses três setores.
CARTA MAIOR: O Banco Central de Alexandre Tombini tem esse perfil?
BRESSER: O Banco Central é um banco do governo, é parte do governo e tem que fazer a política do governo. Essa história de autonomia do Banco Central não faz nenhum sentido. O objetivo do BC é manter o sistema financeiro como um todo sob controle. Ou seja, não só combater a inflação, mas impedir que exista crise financeira. O BC dos Estados Unidos (o Fed) fracassou ao não evitar uma crise bancária. Além da crise bancária, o Brasil tem que evitar a crise de balanço de pagamentos. E por que nós temos crise no balanço de pagamentos, e eles não? Porque eles tomam emprestado na sua própria moeda – não apenas os Estados Unidos, mas os países ricos, com essa exceção maluca que são os países da Zona do Euro, que não é propriamente a sua moeda. Enquanto nós crescermos com poupança externa, estamos tomando emprestado em outra moeda, que não temos condições de emitir. Por isso, além de contribuir para o equilíbrio econômico, o Banco Central tem essas três funções: controlar a inflação e evitar esses dois tipos de crises financeiras.
CARTA MAIOR: Essa quase concordância que se percebe hoje entre Banco Central e Ministério da Fazenda, então, não é ruim para a economia?
BRESSER: Não coloca nada em risco. Nós temos um bom economista no BC – ou bons economistas, no plural. O Tombini me parece muito seguro, eu não o conheço pessoalmente mas causa boa impressão. Ele se baseia na experiência recente da Turquia. Aquele país, durante muitos anos, manteve uma grande competição com o Brasil para ver quem tinha juros mais altos. Geralmente a gente ganhava, é lógico, mas a Turquia chegava perto (risos). Até que, há uns quatro ou cinco anos, aproveitou um certo desaquecimento da economia e fez uma baixa de juros firme, levando-os para níveis internacionais. E aí a inflação não se moveu, a taxa de câmbio depreciou 40% e a economia turca está bombando. Essa coisa eu não estou inventando. Eu li isso numa entrevista que o Tombini deu para a Folha há umas três semanas.
CARTA MAIOR: E a questão fiscal, que continua a ser discutida como se fosse o fim do mundo?
BRESSER: Existem dois tipos de economistas horríveis: os ortodoxos, para os quais todos os problemas do mundo se resolvem com mais ajuste fiscal, e os keynesianos vulgares, para quem tudo se resolve com mais gasto público. É uma burrice. O Brasil atingiu todos os seus objetivos fiscais nesses anos todos – exceto em 2009, o que estava perfeitamente correto – acordados, combinados etc, e no entanto continuam reclamando. Não é esse o problema.
CARTA MAIOR: Esse é um discurso politico, então?
BRESSER: Também é um discurso politico, mas é um discurso burro. A burrice ortodoxa é a formulinha pronta: qualquer problema resolve-se cortando a despesa pública. Tem um movimento ideológico, simpático, porque se diz que com a redução do Estado os impostos vão diminuir. E aí o keynesiano vulgar pensa: todos os problemas se resolvem aumentando o gasto público. Às vezes o problema é a área fiscal mesmo, que nunca pode ser desleixada. Mas, no Brasil, nós não estamos descuidando disso. Desde 1998 o Brasil vem adotando uma política fiscal correta.
CARTA MAIOR: O problema, então, são os juros e o câmbio?
BRESSER: O problema macro, sim. Existem outros também. O país tem mil problemas do lado da oferta. Mas o fundamental, que mudaria o quadro do Brasil de maneira enorme em pouco tempo, é o ajuste de juros e câmbio. Oferta é muito importante, tem efeito de médio prazo, não de curto prazo, e está sendo cuidada.
CARTA MAIOR: Não na velocidade que se desejaria.
BRESSER: De fato. Eu tenho dito que o Brasil, depois da redemocratização, caminhou muito fortemente na própria democracia, e portanto nas liberdades, e melhorou muito na área social. E a parte econômica foi devagar. O nosso desenvolvimento social foi substancialmente melhor do que o nosso desenvolvimento econômico. Os dois caminham mais ou menos juntos, mas às vezes um vai na frente e o outro, atrás. No tempo dos militares, o econômico ia na frente do social. Nós invertemos. Foi bom, mas eu gostaria que os bons resultados na área social fossem acompanhados por bons resultados na area econômica.
CARTA MAIOR: Na parte econômica, estamos na direção certa?
BRESSER: A questão internacional é muito importante e tem repercussão sobre o Brasil. E refletirá principalmente sobre o Brasil conforme atingir a China. A China acabou de tomar medidas de intervenção, comprando mais ações dos grandes bancos, que já são estatais, porque sua bolsa de valores está caindo. E isso é preocupante.
Os analistas estão dizendo que a China vai reduzir seu crescimento de 11% para 9%. Isso está bom ainda, mas se for de 9% para 5% nós estamos mal-arrumados. O bom foi que o governo brasileiro percebeu isso e se antecipou. A dona Dilma, o seu ministro da Fazenda e o seu presidente do Banco Central estão de parabéns.

Fotos: Valter Campanato/ABr

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