Ficha Corrida

24/07/2016

Os verdadeiros terroristas brasileiros têm o DNA da Rede Globo

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Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

Ministro da Justiça inclui Brasil no mapa do terror

24/07/2016 02h00

Mais opções

Os nossos terroristas não se assemelham aos que atacam a França, os Estados Unidos, a Inglaterra, agora a Alemanha, e outros comprometidos em ações bélicas no Oriente Médio, na Ásia e na África. Os nossos terroristas não matam pessoas inocentes para fazer mal a cada país inimigo. Mas os nossos terroristas fazem certo mal como os terroristas armados.

Com a diferença de que atingem um só país. O seu. O nosso.

Nenhuma das mazelas de que somos íntimos é exclusividade brasileira. Todas estão pelo mundo afora, em graus e concentrações variáveis. Nada, muito menos as mazelas alheias, justifica ou compensa as nossas. Embora possamos dizer, e deveríamos dizê-lo muito e alto, que não andamos por aí massacrando povos e destruindo cidades alheias, tomando terras, roubando riquezas. Exclusividade nossa, parece, é o vício de nos alimentarmos de nossas mazelas, de usufruí-las em um enorme gozo nacional, que faz do nosso um país patético.

Desde 2008, o mundo todo é corroído por crise econômica. Consequência de patifarias no sistema financeiro dos Estados Unidos muito maiores do que o ocorrido na Petrobras. Cada brasileiro vive ainda, de algum modo, efeitos daquele estouro, mas só uma parte ínfima da população tem ideia aqui do se passou lá, e de como nos atingiu. Explica-se: apesar dos milhões de norte-americanos que perderam suas casas ou suas economias, o problema foi tratado publicamente com cautela e sobriedade pelas instituições oficiais e por imprensa e TV.

No Brasil, o sensacionalismo é a regra. A veracidade é secundária, ou nem isso. A preocupação com os efeitos do espalhafato inexiste. O escândalo gera escândalo, e passa ele a ser um escândalo –não mais interno, apenas, mas o Brasil escandalizando o mundo. É o terrorismo contra si mesmo, é o nosso terrorismo.

Se esse terrorismo não ataca a vida humana em ação direta, não deixa de fazê-lo por outros meios. O período dos altos índices de inflação legou um exemplo claro. A par de outros fatores, o escândalo feito com a inflação, a cada taxa nova ou hipótese de taxa, levava a imediato aumento dos preços e a inflação para mais alto.

Os efeitos sociais negativos dispensam referências.

O exemplo se atualiza com a Petrobras. Na combinação de razões corretas e muitas leviandades, o escândalo da bandalheira de menos de meia dúzia de sujeitos, na maior empresa brasileira, atingiu em cheio não só a Petrobras, mas também a riqueza brasileira do pré-sal. A crise da estatal alcança as finanças dos estados e milhares de empregos. O papel do pré-sal no futuro do país é rebaixado a objeto de negócios com que cobrir alguns buracos nas contas de hoje. Por suas proporções anormais até para escândalos, o da Petrobras escandalizou o mundo e expõe à sanha da cobiça internacional.

A Olimpíada não poderia escapar. A caça ao escândalo não teve o êxito esperado das contas e dos prazos descumpridos, tradicionais fornecedores. O terrorismo, sim, afinal teve um ato positivo: entregou-se como pretexto. A imprensa e a TV faziam o possível, até indicaram, inclusive com mapa, o que serão os pontos mais atraentes ou vulneráveis para a ação de terroristas. Veio, porém, do próprio governo o embalo do sensacionalismo. Por intermédio de quem mais deveria combatê-lo: o ministro da Justiça.

Alexandre Moraes dividiu-se entre o ridículo e a irresponsabilidade, ao se apresentar a propósito da prisão de dez talvez terroristas futuros. Com informações logo contestadas por um juiz e, de objetivo, um mínimo indício a ser verificado, aos ouvidos do mundo o ministro da Justiça incluiu o Brasil no mapa do terror. Quando estrangeiros cuidam de sua viagem para o Brasil da Olimpíada.

No nosso terrorismo, o ministro Alexandre Moraes é mais eficiente do que os seus dez presos.

Somados.

01/11/2012

Voz isolada

O jornalista JANIO DE FREITAS, da Folha de São Paulo, é a exceção que confirma a regra. Sempre prontos a esconderem os problemas de seus correligionários com o ataque aos adversários, como faz, por exemplo, Eliane Cantanhêde, os grupos mafiomidiáticos de São Paulo, faz que fez a Folha ontem. Diante da manchete principal da Folha ontem (Brasil tem um policial morto a cada 32 horas), denunciei aqui o argumento rasteiro dos golpistas de plantão: Folha dissemina o crime pelo Brasil, e comentei: “Para esconder que o problema crônico da segurança pública em São Paulo, a Folha de São Paulo, como fiel porta-voz do PSDB resolveu distribuir o assassinato de policiais pelo Brasil. Opinião dela. Agora, não há dúvida que a política de segurança pública do PSDB fracassou. Tudo porque não quer dar mão à palmatória. Acontece que o Rio, que era o Estado mais violento, adotou, em conjunto com a União, uma política diferente e conseguiu não só diminuir a violência como pacificar lugares que eram zonas de guerra. Como publicou o Elio Gaspari, o problema dos tucanos é de ideias. Velhas…  O problema dos tucanos é que a mídia amiga também não oferece ideias novas. Pior, oferece desinformação, como esta de disseminar o crime paulista para todos os brasileiros…” Hoje, Jânio de Freitas repete, com outras palavras, o que disse ontem.

As notícias venceram

Não importa a continuação das negaças; o governo de SP não resistiu à pressão das evidências noticiadas

TÃO PRÓXIMAS e tão opostas. O Rio fazia o máximo de sensacionalismo, inclusive com falsificações, nos seus anos críticos de violência urbana. São Paulo procurou esconder e negou sua presença entre os Estados onde, nos últimos 30 anos, foi ou é mais virulenta a epidemia da criminalidade. O governo paulista persiste no erro, de consequências sempre graves.

É recente a abertura de espaço na imprensa rica de São Paulo para ocorrências criminais e problemas da segurança paulista e, mais ainda, paulistana.

No Rio, o sensacionalismo leviano, e muito infiltrado de objetivos políticos, atrapalhou os esforços intermitentes de ação governamental contra a disseminação da violência, e afundou a cidade e sua imagem em mitologias destrutivas.

Em São Paulo, a longa omissão jornalística, por mera vaidade provinciana, deixou sua contribuição para a insegurança continuada, ou mais do que isso.

A omissão jornalística dos assuntos de dimensão social resulta na omissão das pressões políticas e administrativas implícitas no jornalismo. Não por outro motivo foi sempre tão fácil para o poder político, décadas após décadas, preservar no Brasil as desigualdades sociais em todas as suas muitas formas, sem complacência nem sequer com as mais perversas.

Na atual onda paulista de homicídios, já em setembro o seu número na capital chegou a mais de 102%, ou 144 mortes, acima do havido em setembro do ano passado, com 71 mortes.

O governador Geraldo Alckmin e seu secretário de Segurança, Antonio Ferreira Pinto, negaram a onda, negaram conexão entre assassinatos, negaram motivação de algum bando.

O secretário chegou a estabelecer em apenas 40 os criminosos integrantes de organização.

Em outubro, na mesma cadência do aumento dos homicídios diários a repetidos picos, governador e secretário negaram-lhes maior anormalidade e algum problema na segurança governamental.

Daí, o governo paulista foi para a desculpa final, aquela a que só resta penetrar no ridículo: o aumento do índice de crimes deve-se à mobilidade das motos e à falta de combate ao crime, pelo governo federal, nas fronteiras. Mas antes da atual onda de homicídios as motos já eram como são, e a situação nas fronteiras já era o que é.

Já não importa a continuação das negaças. O governo não resistiu à pressão das evidências noticiadas.

Admita-o ou não, lançou-se em uma operação em áreas de favelas que desmente todas as suas recusas a ações conectadas na onda de homicídios e, portanto, intencionais por parte de um dos bandos (ou facções, ainda na velha maneira de não admitir que São Paulo tenha bandos).

Cada região assolada pela epidemia de criminalidade requer estratégias e táticas adequadas às condições locais.

O que tem alcançado êxitos no Rio não é, necessariamente, o procedimento a ser aplicado a problemas alheios. Mas um fator adotado no Rio é indispensável a todos: a recusa a subterfúgios, sempre interesseiros ou temerosos, e o reconhecimento franco da realidade. Até porque a população sabe o que a aflige e não cai nas tapeações de governantes.

14/10/2012

Suprema Fraude

Filed under: Ayres Britto,Golpismo,Jânio de Freitas,STF,Veja — Gilmar Crestani @ 7:26 am

Que falta nos faz um Machado de Assis para escrever um outro Memorial de Ayres! Como disse Jânio, qualquer partido quer chegar ao poder. E lá chegando, permanecer. Aliás, FHC comprou, para lá permanecer, a reeleição. E nem por isso foi chamado de golpista. E, digamos que o fosse, ainda assim fugiria à competência de seu Britto. Tem algo de podre, muito podre, no ar e não os drones dos EUA!

A mesada e o mensalão

A mentira foi a geradora de todas as verdades, meias verdades, indícios desprezados e indícios manipulados que deram a dimensão do escândalo e o espírito do julgamento do "mensalão".

Por ora, o paradoxo irônico está soterrado no clima odiento que, das manifestações antidemocráticas de jornalistas e leitores às agressões verbais no Supremo, restringe a busca de elucidação de todo o episódio. Pode ser que mais tarde contribua para compreenderem o nosso tempo de brasileiros.

Estava lá, na primeira página de celebração das condenações de José Dirceu e José Genoino, a reprodução da primeira página da Folha em 6 de junho de 2005. Primeiro passo para a recente manchete editorializada –CULPADOS–, a estonteante denúncia colhida pela jornalista Renata Lo Prete: "PT dava mesada de R$ 30 mil a parlamentares, diz Jefferson". O leitor não tinha ideia de que Jefferson era esse.

Era mentira a mesada de R$ 30 mil. Nem indício apareceu desse pagamento de montante regular e mensal, apesar da minúcia com que as investigações o procuraram. Passados sete anos, ainda não se sabe quanto houve de mentira, além da mensalidade, na denúncia inicial de Roberto Jefferson. A tão citada conversa com Lula a respeito de mesada é um exemplo da ficção continuada.

A mentira central deu origem ao nome –mensalão– que não se adapta à trama hoje conhecida. Torna-se, por isso, ele também uma mentira. E, como apropriado, o deputado Miro Teixeira diz ser mentira a sua autoria do batismo, cujo jeito lembra mesmo o do próprio Jefferson.

Nada leva, porém, à velha ideia de alguém que atirou no que viu e acertou no que não viu. A mentira da denúncia de Roberto Jefferson era de quem sabia haver dinheiro, mas dinheiro grosso: ele o recebera. E não há sinal de que o tenha repassado ao PTB, em nome do qual colheu mais de R$ 4 milhões e, admitiria mais tarde, esperava ainda R$ 15 milhões. A mentira de modestos R$ 30 mil era prudente e útil.

Prudente por acobertar, eventualmente até para companheiros petebistas, a correnteza dos milhões que também o inundava. E útil por bastar para a vingança ou chantagem pela falta dos R$ 15 milhões, paralela à demissão de gente sua por corrupção no Correio. Como diria mais tarde, Jefferson supôs que o flagrante de corrupção, exibido nas TVs, fosse coisa de José Dirceu para atingi-lo. O que soa como outra mentira, porque presidia o PTB e o governo não hostilizaria um partido necessário à sua base na Câmara.

Da mentira vieram as verdades, as meias verdades e nem isso. Mas a condenação de Roberto Jefferson, por corrupção passiva, ainda não é a verdade que aparenta. Nem é provável que venha a sê-lo.

MAIS DEDUÇÃO

Em sua mais recente dedução para voto condenatório, o presidente do Supremo, Ayres Britto, deu como certo que as ações em julgamento visaram a "continuísmo governamental.

Golpe, portanto, nesse conteúdo da democracia que é o republicanismo, que postula renovação dos quadros de dirigentes".

Desde sua criação e no mundo todo, alcançar o poder, e, se alcançado, nele permanecer o máximo possível, é a razão de ser dos partidos políticos. Os que não se organizem por tal razão, são contrafações, fraudes admitidas, não são partidos políticos.

Sergio Motta, que esteve politicamente para Fernando Henrique como José Dirceu para Lula, informou ao país que o projeto do PSDB era continuar no poder por 20 anos.

Não há por que supor que, nesse caso, o ministro Ayres Britto tenha deduzido haver golpe ou plano golpista. Nem mesmo depois que o projeto se iniciou com a compra de deputados para aprovar a reeleição.

Daniel Marenco/Folhapress

Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

Folha de S.Paulo – Colunistas – Janio de Freitas – A mesada e o mensalão – 14/10/2012

23/09/2012

Ainda há jornalista na Folha

Filed under: Folha de São Paulo,Jânio de Freitas,Perseguição — Gilmar Crestani @ 9:10 am

Reproduto agora o comentário que fiz no editorial "Subdesenvolvimento puro", da Folha de 21/9/12, que Jânio de Freitas cita em seu artigo de hoje: Há um ditado que ajudaria a Folha de São Paulo a se situar no mundo: “em Roma, como os romanos”. Isto é, se queres o respeito, respeite o outro, seja na casa dele seja em outro lugar. Há um subdesenvolvimento evidente no ocidente que já não consegue rir dos seus defeitos. Agora só consegue rir do dos outros. O Wikileaks mostra bem como se comportam países em estado bruto de subdesenvolvimento puro. O soldado Bradley Manning, também. Há ninguém mais que tenha um neurônio é dado desconhecer que a CIA financia grupos mafiomidiáticos para provocar desentendimentos religiosos. Além disso, a liberdade ocidental é tão grande que a Folha nunca publicou nenhuma charge dos ditadores que emporcalharam o Brasil.

Sintomático e revelador, cadê as charges sobre Roberto Marinho, Roberto Civita, Octávio Frias Filho e das famiglias Mesquita e Sirotsky? Uma mídia em estado de subdesenvolvimento puro é auqela que trata destas tristes figuras igual às de Maomé ou Alá! Será que os subdesenvolvidos do Egito chamariam a ditadura de Hosni Mubarak de ditabranda

Será que existe só fanatismo islâmico? Não existiria o fanatismo midiático, o católico, o judáico, o pentecostal?! A Folha parece saber retribuir com rapidez quem a finanCIA…

JANIO DE FREITAS

Imprensa da liberdade

A liberdade de debate cultural, e mesmo religioso, não se confunde com a liberdade de pregar racismo

O autor do filmeco e os extremistas da idolatria islamista deram-nos, a nós ocidentais, mais uma oportunidade de fazer o que não faremos: refletir sobre a liberdade de imprensa sem ideias prefixadas.

O tema é dificílimo em dois sentidos. Por si mesmo, é claro, e pela resistência ainda intransponível à busca de sua conceituação sem interesses e sem hipocrisias.

Não sou adepto da ideia de liberdade de imprensa plena: tenho convicção de que a imprensa não possui a liberdade de difundir o que ponha em risco pessoas inocentes. A decisão do semanário francês "Charlie Hebdo", de redobrar o ataque à intolerância do extremismo islamista, não foi defesa e afirmação do princípio da liberdade de imprensa.

Foi provocação utilitária, com a qual os dirigentes e acionistas da publicação obtiveram, como poderiam esperar, resultado financeiro e promocional muito acima do seu histórico (a publicação esgotou em horas). Os editores de "Charlie" aliaram-se ao autor do filmeco de origem suspeita, causa do assassinato miseravelmente covarde do embaixador dos Estados Unidos em Benghazi, na Líbia que ele ajudou a livrar de Gaddafi.

A edição anti-islamista de "Charlie Hebdo" não trouxe nem uma só contribuição positiva, por mínima que fosse, a não ser para o seu comando. Mas forçou o governo francês à humilhação de fechar suas embaixadas no mundo islâmico afora, para salvaguardar a vida de funcionários posta em risco pelas respostas à provocação do semanário.

O argumento é admissível: ainda que em nome da vida inocente, a restrição à liberdade de imprensa plena pode abrir caminho a restrições por causas deploráveis. A que liberdade de imprensa, porém, se refere o argumento, eis o problema.

Está sujeito à punição legal o jornalista que chamar de ladrão a quem não o é. Se punido pelo que fez, é porque não tinha a liberdade de fazê-lo. Abusou daquela que lhe foi concedida, mas concedida sob limitação legal -e quase sempre com desconsideração pelas especificidades do jornalismo, que ficam pendentes da sagacidade e da isenção do juiz.

A liberdade de imprensa plena, parte da plena liberdade de expressão, é alimentada também por doses variáveis de hipocrisia. O governo dos Estados Unidos e a justiça da Califórnia disseram não agir contra o tal filmeco em respeito à liberdade de expressão. Mas só um tolo acreditará que, se em vez de Maomé, o filmeco retratasse do mesmo modo George W. Bush, por exemplo, o governo americano deixaria as cenas correndo o mundo pelo YouTube. E o autor isentado de processo.

A França da "Charlie Hebdo" proibiu, judicialmente, as fotos do topless de Kate Middleton, mulher do príncipe William, e fez a polícia buscar os originais na revista "Closer" (cujo valor para a liberdade de imprensa é mensurável pela propriedade de Silvio Berlusconi).

Jornalistas e "scholars" americanos, poucos embora, deixaram e ainda fazem trabalhos sobre a violação da Primeira Emenda, a da liberdade de imprensa na Constituição dos Estados Unidos, por medidas impostas pelo governo Bush a partir da derrubada das Torres Gêmeas. A própria história do 11 de Setembro ainda tem partes sob censura, como o ocorrido com o quarto avião, "caído".

"A possibilidade de crítica ampla" e "manifestações que poderiam ser classificadas como provocação" relacionam-se de modo diferente com a liberdade de imprensa, sem paralelismo algum entre crítica e provocação -razão da discordância em que me situo diante do editorial "Subdesenvolvimento puro", da Folha de 21/9/12.

A liberdade de crítica, de debate cultural, político ou científico, e mesmo religioso, não se confunde com a liberdade de pregar racismo, de incentivar arbitrariedades, de provocar impulsos criminosos. Aquelas práticas são a grandeza da imprensa. E as últimas, o lixo.

20/09/2012

Os miúdos do Joaquim

Filed under: Ação 470,Jânio de Freitas — Gilmar Crestani @ 7:29 am

JANIO DE FREITAS

Miudezas do mensalão

O que explica haver quantias de repasses em valores tão quebrados que chegam até aos centavos?

JÁ ABORDADO pelo relator no Supremo Tribunal Federal, o capítulo dos repasses de dinheiro a políticos, no chamado valerioduto, mantém em aberto uma curiosidade que vem desde os primórdios do escândalo do mensalão.

Não há sinal de que o inquérito da Polícia Federal, em qualquer altura, tenha buscado a devida explicação para o valor de cada uma das quantias repassadas a dirigentes partidários e deputados.

Em sua extensa peça de acusação, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também não inclui tal explicação. Nem dá indicação de que a tenha ao menos buscado. O relator Joaquim Barbosa ainda pode vir a oferecê-la, mas, a rigor, conviria que já a houvesse feito.

Eis a questão: o que explica haver quantias de repasses, feitos por ordem do PT e destinados a dirigentes partidários e deputados, em valores tão quebrados que chegam até aos centavos?

A preliminar do procurador-geral e do relator para a ocorrência dos repasses é de que se deram como suborno, de bancadas partidárias e de deputados como indivíduos, para apoio ao governo na Câmara.

As muitas quantias redondas constatadas pelas investigações adequam-se à preliminar, dado que o valor redondo é próprio daquela e das formas de corrupção em geral. Em princípio, não suscitariam estranheza, mesmo.

Já a acusada compra de apoio do PL (hoje PR) e de seu dirigente Valdemar Costa Neto, um dos mais vorazes mordedores do PT no valerioduto, chega em seus sucessivos milhões à minúcia dos centavos.

Até em se tratando de Valdemar Costa Neto, é difícil supor que fixasse o seu preço ou o do PL com a precisão gananciosa dos centavos. E não são esses os únicos centavos e reais miúdos no dinheiro ilícito.

Algum significado tem essa peculiaridade de determinados repasses. Identificá-lo pode chegar a motivos desprezíveis, mas também é possível que dê um indício a mais, uma pista ou esclarecimento no processo que tem forçado tantas deduções.

O miúdo pelos miúdos

Filed under: Ação 470,Jânio de Freitas — Gilmar Crestani @ 7:19 am

JANIO DE FREITAS

Miudezas do mensalão

O que explica haver quantias de repasses em valores tão quebrados que chegam até aos centavos?

JÁ ABORDADO pelo relator no Supremo Tribunal Federal, o capítulo dos repasses de dinheiro a políticos, no chamado valerioduto, mantém em aberto uma curiosidade que vem desde os primórdios do escândalo do mensalão.

Não há sinal de que o inquérito da Polícia Federal, em qualquer altura, tenha buscado a devida explicação para o valor de cada uma das quantias repassadas a dirigentes partidários e deputados.

Em sua extensa peça de acusação, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também não inclui tal explicação. Nem dá indicação de que a tenha ao menos buscado. O relator Joaquim Barbosa ainda pode vir a oferecê-la, mas, a rigor, conviria que já a houvesse feito.

Eis a questão: o que explica haver quantias de repasses, feitos por ordem do PT e destinados a dirigentes partidários e deputados, em valores tão quebrados que chegam até aos centavos?

A preliminar do procurador-geral e do relator para a ocorrência dos repasses é de que se deram como suborno, de bancadas partidárias e de deputados como indivíduos, para apoio ao governo na Câmara.

As muitas quantias redondas constatadas pelas investigações adequam-se à preliminar, dado que o valor redondo é próprio daquela e das formas de corrupção em geral. Em princípio, não suscitariam estranheza, mesmo.

Já a acusada compra de apoio do PL (hoje PR) e de seu dirigente Valdemar Costa Neto, um dos mais vorazes mordedores do PT no valerioduto, chega em seus sucessivos milhões à minúcia dos centavos.

Até em se tratando de Valdemar Costa Neto, é difícil supor que fixasse o seu preço ou o do PL com a precisão gananciosa dos centavos. E não são esses os únicos centavos e reais miúdos no dinheiro ilícito.

Algum significado tem essa peculiaridade de determinados repasses. Identificá-lo pode chegar a motivos desprezíveis, mas também é possível que dê um indício a mais, uma pista ou esclarecimento no processo que tem forçado tantas deduções.

19/08/2012

Palavras do melhor jornalista brasileiro da atualidade

Filed under: Golpismo,Jânio de Freitas,Julian Assange,WikiLeaks — Gilmar Crestani @ 10:35 am

JANIO DE FREITAS

Ordens variadas

Com o vale-tudo, não se sabe o que sucederá amanhã no STF ao pedido de condenação já apresentado pelo relator

Ainda que não pareçam, até por não terem precedente, são palavras do presidente do Supremo Tribunal Federal: "Cada ministro adotará a metodologia de voto que considera cabível".

Ou seja, vota caso a caso, a cada réu do mensalão examinado pelo relator, ou por blocos de personagens, ou por blocos de envolvimentos assemelhados, ou vota considerando o todo. Inovação brasileira: a solução de mais um desentendimento de magistrados pela criação do populismo judicial.

Mas o Supremo tem um regimento que determina o sistema de votação. E não oferece o "faça o que quiser" como exemplo de desordem a ser dado pelos guardiães da ordem jurídica, ou seja, das normas. Com o vale-tudo, ninguém sabe o que sucederá amanhã, no Supremo, ao primeiro pedido de condenação, já apresentado pelo relator Joaquim Barbosa.

Acusado de receber R$ 50 mil provenientes de Marcos Valério e de usar verba da Câmara em proveito próprio, o deputado João Paulo Cunha poderá ver-se condenado ou (resultado improvável) absolvido amanhã mesmo, como poderá depender do pinga-pinga de votos até um dia incerto.

E, por falar nisso, também não se sabe se as sentenças serão propostas com cada voto ou só virão em outro dia incerto, chocando-se umas com as outras, lá no final do julgamento.

2- A atual disposição de lugares na arena do Supremo situa lado a lado Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes. Combustível junto de fogo. Duas cabeças com peculiares sensos de convívio, de modos e de liberdade de opinião. Aguardam-se bons espetáculos. Não percam. O Brasil ganhou três medalhas de judô e duas de boxe em Londres.

3- Admitir que a acusação ao criador do WikiLeaks, Julian Assange, de violentar duas mulheres na Suécia possa ser armação é, para muitos sábios do jornalismo brasileiro, praticar a "teoria da conspiração". Mas logo na Suécia é que Assange precisou violentar mulheres? E depois de comprometer os Estados Unidos em graves denúncias. Então, pratiquemos a teoria -não pela última vez.

À falta de qualquer reação ao levante para derrubar João Goulart, todos, inclusive os golpistas, se perguntavam onde estava o "dispositivo militar do Jango", a máquina imbatível em que os janguistas em geral, e sobretudo os comunistas, depositavam confiança absoluta. Nem do comandante do "dispositivo", general Assis Brasil, havia notícia.

Assis Brasil foi militar sóbrio, de vida pessoal bem ordenada -até chegar a Brasília para montar o "dispositivo militar". Não demorou que lhe faltassem tempo e cabeça, e talvez energia física, para ocupar-se de sua missão.

O dispositivo feminino mobilizado por empresários golpistas batia qualquer concurso de misses. No dia do golpe, como ocorria há meses, o chefe do "dispositivo militar do Jango" estava sobrecarregado de uísque, a que aderira, e não o usufruía sozinho.

Uns dez anos depois, o grupo do general Geisel tinha, cedo ainda, um candidato em potencial para a sua sucessão. Discreto, com certas qualidades intelectuais (o pai foi célebre como político e como escritor), adepto do retorno progressivo ao Estado de Direito, sem inimigos.

No caso, um grupo de militares e o SNI substituíram os empresários. A vida do general em questão não precisou alterar-se em mais que um ponto: o suficiente para muitas fotos no apartamento que passara a frequentar em Brasília, dia a dia. A candidatura e o futuro do general foram esvaziados para sempre.

Julian Assange fez o maior e melhor trabalho jornalístico desde o Watergate. E foi com documentos da prepotência dos Estados Unidos.

07/08/2012

Jânio de Freitas: compra de votos para reeleição de FHC foi “comprovada, atestada”

Filed under: Compra de Votos,FHC,Isto é PSDB!,Jânio de Freitas,Reeleição — Gilmar Crestani @ 7:53 am

O Brasil é ‘primário’, diz Janio de Freitas na TV

O colunista de política da Folha foi entrevistado no programa ‘Roda Viva’, da TV Cultura

DE SÃO PAULO

O Brasil ainda é um país com pouca força institucional, ou "primário", nas palavras de Janio de Freitas, colunista da Folhaentrevistado ontem no programa "Roda Viva", da TV Cultura.

Apresentado como "decano da crítica política no Brasil" pelo âncora Mario Sergio Conti, Janio de Freitas fez críticas ao fisiologismo no Legislativo, à política do "toma lá, dá cá" do Executivo e à lentidão do Judiciário.

"Você acha que depois de esperar 30 anos, ainda que se ganhe [uma ação], isso pode ser considerado justiça? Só o Judiciário de um país primário pode permitir isso", disse, exemplificando com o escândalo do mensalão, que se tornou público em 2005, mas só agora está sendo julgado.

O colunista disse que tem "uma tendência" a se identificar com as causas sociais e, por isso, aceita quando o rotulam como "de esquerda".

Ele fez críticas aos ex-presidentes Lula, por ter mudado o discurso ao assumir o poder, e Fernando Henrique Cardoso. A compra de votos para a reeleição, revelada pela Folha em 1997, foi classificada como "o mais grave dos episódios […] desde a saída do [presidente João Baptista] Figueiredo [1985]", disse. "Essa, sim, é uma compra comprovada, atestada."

O colunista também fez críticas à imprensa. Reclamou, entre outras coisas, da excessiva preocupação dos jornais com aspectos estéticos.

02/08/2012

Das vozes, a sensata

Filed under: Jânio de Freitas — Gilmar Crestani @ 7:43 am

JANIO DE FREITAS

As vozes

No momento, não se sabe o que a voz silenciosa da opinião pública pede aos seus magistrados mais altos

É INCERTO que os julgadores do mensalão ouçam a opinião pública, como lhes recomenda Fernando Henrique Cardoso. Com tantas pressões dirigidas aos leitores, espectadores e ouvintes, em linha direta e como reflexo das pressões sobre o Supremo Tribunal Federal, no momento não se sabe o que a voz silenciosa da opinião pública pede aos seus magistrados mais altos. Mas tal incerteza está acompanhada de ao menos duas certezas.

O rendado de palavras que enfeita, em torno, a recomendação de Fernando Henrique evidencia que a opinião pública referida é a opinião do público peessedebista.

A recomendação é um apelo velado no sentido de que o Supremo Tribunal Federal não negue o seu socorro ao catatônico PSDB, nesta hora difícil dos confrontos eleitorais. Tudo por um punhado de condenações de petistas.

Outra certeza é o que diz a voz verdadeira da opinião pública. A voz quando não desafinada pelas pressões, a respeito do que deseja dos seus magistrados, ou, como prefere, da Justiça.

É a imparcialidade nos julgamentos todos. É a equanimidade entre as decisões voltadas para os desprovidos e aquelas que se dirigem aos possuidores de riqueza ou de força política. É o direito à justiça também quanto ao tempo, porque, mesmo se favorável, a decisão que tarda dez, 20, 30 anos nunca fará justiça. É o julgamento limpo do mensalão, para condenar sem maldade ou absolver com grandeza.

HISTÓRIA DE CRIMES

O aumento da lista oficial de mortos pela ditadura, de 357 para quase 1.000, traz para a história uma parte dos corpos que ficaram caídos nos canaviais, ou junto das usinas, muitos nas sedes dos sindicatos rurais e das Ligas Camponesas, tantos mais diante dos olhos da mulher e dos filhos. As primeiras semanas seguintes ao golpe de 64, no interior do Nordeste, sobretudo de Pernambuco e Paraíba, justificam esta palavra horrível: carnificina.

A revelação do novo levantamento, feita pelo repórter Lucas Ferraz na Folha, é um passo promissor para que sejam expostos os crimes de inúmeros usineiros, capatazes e jagunços. Por anos e anos, o usineiro Ney Maranhão veio a manchar o chão do Senado com os vestígios de sangue em suas sandálias, mesmo quando apenas memoriais. E Nilo Coelho, e outros ainda por lá ou por Brasília, todos protegidos pelo silêncio.

Essa história começou a ser contada, lá atrás, pelo documentarista Eduardo Coutinho, talento e alma admiráveis. A hora da Comissão da Verdade é boa para retomá-la.

UMA PESSOA

O advogado Márcio Thomaz Bastos que abandona a causa de Carlos Cachoeira é a mesma pessoa ética que assumiu a causa e a mesma anterior a assumi-la. O intervalo ético que fica em sua vida não é por ter sido breve advogado de Cachoeira, mas pela falta de ética que o agrediu então. No fundo, um imenso louvor sob a forma de agressão boçal, só produzida pelo respeito admirador enganadamente ferido.

Convém não esquecer também: se vemos, de 2003 para cá, incessantes ações da Polícia Federal contra poderosos e prestigiados envoltos em corrupção, deve-se a Márcio Thomaz Bastos. Quando ministro da Justiça, enfim acabou com a discriminação praticada pela Polícia Federal como norma.

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