Ficha Corrida

11/07/2015

O fanatismo mafiomidiático empurra o Brasil para trás

Veja o que pode acontecer quando uma concessão pública cai nas mãos de pessoas desonestas. Os meios de comunicação são concessões públicas. No entanto, os donos destas concessões têm usado as concessões públicas para patrocinar golpes de estado, ditaduras e toda sorte de sinecuras. Por não existir uma lei de médios, quem detém a concessão pode sublocar para fundamentalistas de todas as religiões. Ve-se que não se trata de liberdade de expressão, mas dinheiro. Se a Igreja paga, tem espaço. Graças a este sistema mafioso, elementos como Silas Malafaia, Marco Feliciano e Eduardo CUnha passam a ditar os rumos da nossa sociedade. Quando um sujeito que usa o dinheiro público para construir aeroportos particulares nas terras da família ou quando somem do noticiário helicópteros pegos com 450 kg de cocaína como se fosse um assunto banal, é porque estamos diante de um sistema viciado, comandado por viciados, cuja condução é aceita por uma sociedade que mais parece uma manada de bovinos tangidos em direção às charqueadas.

Quando Ali Kamel escreveu “Não somos racistas”, foram poucas as vozes isoladas, geralmente associadas aos movimentos de negros, que se manifestaram. O livro, escrito para combater as cotas raciais, acabou fazendo parte do receituário que hoje leva a menoridade penal. As reações às manifestações medievalistas dos meios de comunicação foram tímidas. Agora que o estrago está por se consumar, a sociedade murmura. Pior, até pessoas pretensamente inteligentes pensam que, em pleno século XXI, as leis devem voltar a serem o que foram 100 anos atrás. A falta de embate político, e este foi o principal erro do PT, está legando uma sociedade fascista.

Graças ao conluio destas religiões pentecostais, que só servem para encher os bolsos dos pastores, com os grupos mafiomidiáticos estamos retornoando, em ritmo acelerado ao início do século passado. Ao contrário dos tempos do JK, estamos regredindo 100 anos em cinco.

Joaquim Nabuco e os linchamentos no Brasil, por Márcio Sotelo Felippe

sab, 11/07/2015 – 16:55

Do Justificando

Estranha fruta, estranha lâmpada

Márcio Sotelo Felippe – Procurador do Estado

aquim Nabuco começou sua trajetória, ainda quintanista de Direito, defendendo um escravo acusado de matar o policial que o mandara açoitar, e depois um guarda para escapar da prisão. Um negro que matou dois funcionários brancos. Nabuco saiu vitorioso porque evitou a pena de morte.

A corajosa defesa de Nabuco foi construída a partir do seguinte raciocínio: o negro defendera-se de dois crimes anteriores, crimes da ordem jurídica e social do Império: um, a própria escravidão; outro, a pena de morte iminente.

Nesta última semana, em São Luís, um jovem negro, favelado, morreu linchado amarrado a um poste por ter, segundo a notícia, assaltado um bar.

O jornal Extra publicou a notícia com duas ilustrações, incrivelmente idênticas. Uma mostrava um escravo acorrentado a um tronco, submetido a açoites. Outra, o negro de São Luís, morto, cabeça pendendo amarrado a um poste de luz. É como se a foto fosse uma reprodução deliberada da primeira, uma cópia feita por um cineasta ou um fotógrafo. Nas duas cenas, pessoas olham inertes, passivas, curiosas. Profético Nabuco.

Se o jovem negro saísse vivo, sua defesa deveria ser feita com a coragem de Nabuco: ele cometeu um crime que tem a ver com  crimes anteriores, os crimes da ordem social e jurídica que degradaram toda sua existência. Porque óbvio que jovens brancos de classe média não roubam botecos. Cometem outros delitos, e quando o fazem não são amarrados a um poste e linchados.

Anos mais tarde, Nabuco, já herói do abolicionismo, era célebre a ponto de ter sua figura estampada em rótulo de cigarro (Cigarros Nabuco). Um dos intelectuais mais extraordinários da história do Brasil, escreveu a frase que explica o linchamento do jovem negro favelado de São Luís e que explica muito do Brasil dos séculos seguintes. Em citação livre: a escravidão havia de tal forma pervertido e contaminado a sociedade brasileira que a moldaria ainda por muito tempo. E que não bastaria libertar escravos, mas reeducar a sociedade.

Nabuco não foi ouvido e não falta muito para termos no mercado Cigarros Bolsonaro.

A abolição foi um ato apenas jurídico e formal. O Brasil então seguiu impávido colosso ignorando o povo negro, como se nada devêssemos a eles, como se não tivéssemos um débito social derivado de um tenebroso passado de séculos de miséria e degradação escravizando seres humanos. O Brasil segue impávido colosso ignorando as gerações seguintes do povo negro, e assim o jovem negro de São Luís era livre segundo a lei. A lei que em sua majestática grandeza dá a todos o direito de jantar no Ritz e dormir embaixo da ponte, como disse Anatole France.

Anatole France disse literariamente o que críticos do Capitalismo desde sempre apontaram: a condição de sujeito de direito do trabalhador que produz a riqueza da sociedade por força de um contrato “livremente” assinado não o liberta. O constrangimento econômico difuso o faz escravo de outra forma. Então, ele é perfeitamente livre para dormir embaixo da ponte ou ir a Paris jantar no Ritz.

A opressão do povo negro é múltipla. Há o débito social histórico, essa miséria transmitida de geração a geração sem que a sociedade brasileira lembre-se de resgatá-lo. Há o preconceito. Há a exploração da estrutura capitalista, que aí é, portanto, uma sobre opressão.

Em artigo publicado nesta coluna Contracorrentes, Marcelo Semer, apoiado em levantamento da Secretaria Nacional da Juventude (trabalho coordenado por Jaqueline Sinhoreto), traz, nessa ordem de considerações,  um dado irrespondível: “mais de 60% dos presos são negros (prende-se 1,5 vez o número de brancos) e uma parcela próxima a essa é composta por jovens. Quanto mais se prende, mais jovens e mais negros lotam as cadeias”.

“Puta africana”, “macaca”, “vagabunda” foram algumas das frases dirigidas a Maju, a apresentadora negra do Jornal Nacional, no Facebook. A página do Extra que estampava as duas ilustrações teve, entre 1817 comentadores, 71% favoráveis ao linchamento.       

Billie Holiday cantava uma canção chamada Strange Fruit. Falava dos negros enforcados em árvores nos sul dos EUA: “árvores do sul produzem uma fruta estranha/sangue nas folhas e sangue na raiz/corpos negros balançando/fruta estranha pendurada nos álamos/pastoril cena do valente sul/os olhos inchados e a boca torcida/perfume de magnólias, doce e fresca/Depois o repentino cheiro de carne queimada/Aqui está a fruta para os corvos arrancarem/Para a chuva recolher, para o vento sugar/Para o sol apodrecer, para as árvores deixarem cair/Aqui está a estranha e amarga colheita”.[i]

Aqui não são árvores, são postes de luz. Há neles uma estranha lâmpada.

Marcio Sotelo Felippe é pós-graduado em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Procurador do Estado, exerceu o cargo de Procurador-Geral do Estado de 1995 a 2000. Membro da Comissão da Verdade da OAB Federal.
Junto a Rubens Casara, Marcelo Semer, Patrick Mariano e Giane Ambrósio Álvares participa da coluna Contra Correntes, que escreve todo sábado para o Justificando. Foto: Biné Morais

Joaquim Nabuco e os linchamentos no Brasil, por Márcio Sotelo Felippe | GGN

Maioridade penal foi fixada após estupro de menor na prisão, em 1927

sab, 11/07/2015 – 16:24

Capas dos jornais da época davam destaque à história do pequeno Bernardino

Do Vermelho.org

Em 1927, menor estuprado na prisão levou Brasil a fixar idade penal

A maioridade penal foi fixada em 18 anos no Brasil em 1927, quando um crime brutal chocou o país e levou as pessoas a questionarem a violência contra as crianças. Desde então, esta é a primeira vez que existe uma proposta de redução.

A história ficou conhecida como “O menino Bernardino”. A criança, de apenas 12 anos, era engraxate, ao terminar um serviço o cliente saiu sem pagar. A reação de Bernardino foi jogar tinta no senhor que prontamente acionou a polícia. Quando os policiais chegaram o pequeno não soube explicar o que aconteceu e foi preso numa cela com 20 adultos. 
Mesmo inocente, Bernardino permaneceu na prisão e foi estuprado e espancado pelos detentos adultos. De lá, jogado na rua. Ao ser resgatado e levado ao hospital, os médicos ficaram horrorizados com a história e a imprensa da época deu um grande destaque ao caso, que chocou a população. Apesar de haver uma violência generalizada contra as crianças pobres, além de uma exploração exacerbada do trabalho infantil, a população questionou os cuidados com a infância e exigiu medidas de proteção. 
Pressionado pela opinião pública, um ano mais tarde o presidente Washington Luiz assinou o Código de Menores, um sistema de proteção à criança que fixava em 18 anos a idade para os adolescentes serem punidos como adultos. Este Código também protegia os menores de 14 anos abandonados, que não receberiam nenhum tipo de punição e a partir desta idade poderiam ser submetidos a medidas socioeducativas. 
Para a professora de História da Educação da Uerj, Sônia Câmara, o Código dividiu as crianças “em dois grandes setores, o setor das crianças de elite, brancas e ricas e a grande maioria das crianças brasileiras: pobres, negras, abandonadas e delinquentes, que recebem o nome pejorativo de ‘menor’”. Mas ainda assim, ela vê com bons olhos esta que foi a primeira tentativa efetiva de regular e proteger a infância. 
Mas havia uma “divisão social” que independia da idade porque eram considerados “menores”, as crianças abandonadas e que estavam sob a tutela do Código, ou seja, os “vadios”, ou “delinquentes”. Normalmente as crianças com estrutura familiar não se encaixavam nos pré-requisitos do Código. 
A partir disso surge o SAM “Serviço de Assistência ao Menor”, que seria uma primeira tentativa do que conhecemos hoje como Fundação Casa. Porém, o aparelho funcionava, de acordo com a professora de História da USP, Maria Luiza Marcilio, como uma ferramenta de tortura e violência contra as crianças, e não como um mecanismo educativo. 
Depois do fracasso da ditadura militar com a Funabem (que daria origem à Febem), em 1990 surge o Estatuto da Criança e do Adolescente, considerado até hoje avançado. O ECA prevê a proteção à criança e ao adolescente baseado em leis internacionais e estabelece punições socioeducativas aos menores de 18 anos responsabilizados por crimes. 
Um crime que chocou a sociedade brasileira em 1927, ou seja, quase 90 anos atrás, pode se tornar realidade novamente, caso as crianças e adolescentes sejam expostas à punição com adultos. É isso que propõe a PEC da redução, aprovada pela Câmara dos Deputados. 
A história de Bernardino faz parte de uma série de arquivos resgatados pelo Senado Federal no Arquivo S.

Do Portal Vermelho, Mariana Serafini

Maioridade penal foi fixada após estupro de menor na prisão, em 1927 | GGN

23/06/2015

A todos os que usam a religião para foder com a biografia de Cristo

DeusQuando eu era seminarista e via religiosos se comprazerem com a ditadura descobri que havia algo errado, uma paradoxo inaceitável.

Não podia entender como alguém que se dizia seguidor de São Francisco de Assis tinha espaço para admitir a opressão como forma de expurgação do demônio.

Uma religião que transforma em fábrica de mentiras e ódio é qualquer coisa menos religião. É um baita negócio. NEGOCIATA!

O fracasso das religiões foi terem criado ideia mais convincente de inferno do que do céu. Se vamos para um lugar para fugir de outro, não é uma opção. É uma imposição. Como um contrato com cláusula leoninas.

Lembro que Cristo expulsou os vendilhões do templo! Hoje a corja escolta os vendilhões para o templo, uma espécie de saladeiro. Templo é dinheiro!

Querido pastor, sermão de Jesus a Malafaia, via Gregorio Duvivier

22 de junho de 2015 | 18:45 Autor: Fernando Brito

camelo

Repercutiu pouco nas redes, e merecia muito mais, o magnífico texto do guri Gregorio Duvivier, hoje, na Folha. Tirante a parcela alucinada, é de fazer parar um bonde, porque é duríssimo nas verdades, sem jamais perder a delicadeza. Bato palmas e transcrevo:

Querido pastor,

Aqui quem fala é Jesus. Não costumo falar assim, diretamente -mas é que você não tem entendido minhas indiretas. Imagino que já tenha ouvido falar em mim -já que se intitula cristão. Durante um tempo achei que falasse de outro Jesus -talvez do DJ que namorava a Madonna- ou de outro Cristo -aquele que embrulha prédios pra presente- já que nunca recebi um centavo do dinheiro que você coleta em meu nome (nem quero receber, muito obrigado). Às vezes parece que você não me conhece.

Caso queira me conhecer mais, saiu uma biografia bem bacana a meu respeito. Chama-se Bíblia. Já está à venda nas melhores casas do ramo. Sei que você não gosta muito de ler, então pode pular todo o Velho Testamento. Só apareço na segunda temporada.

Se você ler direitinho vai perceber, pastor-deputado, que eu sou de esquerda. Tem uma hora do livro em que isso fica bastante claro (atenção: SPOILER), quando um jovem rico quer ser meu amigo. Digo que, para se juntar a mim, ele tem que doar tudo para os pobres. “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

Analisando a sua conta bancária, percebo que o senhor talvez não esteja familiarizado com um camelo ou com o buraco de uma agulha. Vou esclarecer a metáfora. Um camelo é 3.000 vezes maior do que o buraco de uma agulha. Sou mais socialista que Marx, Engels e Bakunin -esse bando de esquerda-caviar. Sou da esquerda-roots, esquerda-pé-no-chão, esquerda-mujica. Distribuo pão e multiplico peixe -só depois é que ensino a pescar.

Se não quiser ler o livro, não tem problema. Basta olhar as imagens. Passei a vida descalço, pastor. Nunca fiz a barba. Eu abraçava leproso. E na época não existia álcool gel.

Fui crucificado com ladrões e disse, com todas as letras (Mateus, Lucas, todos estão de prova), que eles também iriam para o paraíso. Você acha mesmo que eu seria a favor da redução da maioridade penal?

Soube que vocês estão me esperando voltar à terra. Más notícias, pastor. Já voltei algumas vezes. Vocês é que não perceberam. Na Idade Média, voltei prostituta e cristãos me queimaram. Depois voltei negro e fui escravizado -os mesmos cristãos afirmavam que eu não tinha alma. Recentemente voltei transexual e morri espancado. Peço, por favor, que preste mais atenção à sua volta. Uma dica: olha para baixo. Agora mesmo, devo estar apanhando -de gente que segue o senhor.

Querido pastor, sermão de Jesus a Malafaia, via Gregorio Duvivier | TIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”

21/06/2015

Jesus criou Malafaia, Boechat e as rolas que Maria Madalena adorava

Diz a teoria do criacionismo que Deus é o criador de tudo. Não há evolução. E seus defensores parecem ter razão quando aparece pela nossa frente alguém do tipo Marco Feliciano, Silas Malafaia, Merval Pereira ou Aécio Neves. Foram criados, sem qualquer participação do processo civilizatório. Neles não há resquício de evolução. É só e puramente ebulição. Se Deus criou tudo, inclusive Lúcifer, porque não poderia ter criado Malafaia?! E se teve estômago para criar pulhas, porque não poderia ter criado um Ricardo Boechat?!

Vendo o que fizeram e fazem pessoas que se dizem religiosas, desprezo o deus deles.  Cristo, que andava com a prostituta Maria Madalena em Bethânia, sabia dar valor à rola. Bem que alguma Maria Madalena poderia dar um trato na rola do Malafaia. Jesus perdoaria, como perdoou Maria Madalena. Afinal, quem nunca deu um trato à rola que atire a primeira pedra.

E sabendo que Jesus expulsou os vendilhões do Templo, jamais andaria com Malafaia, Feliciano, Eduardo CUnha ou qualquer outro destes que envergonham. Porque Jesus sabia, para Malafaias, CUnhas e Caeterava, templo é dinheiro!

Quem ouve Bolsonaro e Malafaia falando sabe que “rola” uma química entre eles.  Quem sabe um encontro entre eles, num quarto escuro, o amor floresça e termine o ódio.

Aprenda com Jesus e Maria Madalena em Bethânia, Malafaia, deite e rola!

Malafaia, Boechat e o “vá procurar uma rola”. Infelizmente, “o buraco é mais embaixo”

20 de junho de 2015 | 01:41 Autor: Fernando Brito

malafaiarolinha

Silas Malafaia é daqueles de tirar a paciência e a serenidade de qualquer um.

Tirou a do apresentador  Ricardo Boechat, na BandNews, que reagiu aos desaforos de Malafaia mandando o coletor de dinheiro “procurar uma rola”.

Agora, Malafaia vira o “politicamente correto” e vai processar Boechat.

Boechat disse o que muita gente gostaria de dizer, mas disse de maneira que, apesar de entender seu “saco cheio”,  não deveria dizer.

Vai pingar mais algum nos bolsos de Malafaia, de indenização por dano moral, com certeza. Não tanto quanto deseja, porque vai entrar na “compensação de ofensa”, por conta das bravatas do pastor-provocador.

Malafaia terá um pouco menos do que procura e que não é bem “rola”.

Como no imperdível vídeo “Minha oferta, Minha Vida”, onde ele cobra do fiel que deposite um mês de aluguel para que o Senhor “possa abrir a porta para eu (ele) ter a casa própria”.

Reproduzo, para quem não viu, ver, ao final do post o tipo de explorador religioso que este personagem é.

Malafaia não tem de ser xingado, por mais que  seja algo que exija forças supremas evitar, tamanho é o embrulho que sua permanente gritaria agressiva faça.

Aliás, a dele e dos que pregam o ódio religioso, político, ideológico.

Porque é mais do que um caso isolado de fanatismo a serviço da intolerância.

Não é ela que se estimula, todos os dias, em todos os campos? Não é ao fanatismo, à acusação fácil, à generalização, à intransigência política, ao espetáculo vazio e provocativo que os meios de comunicação dão valor e projeção?

Não esvaziaram os sindicatos, as associações profissionais ou comunitárias, os partidos políticos como espaço de afirmação do progresso coletivo? Não restaram, praticamente,  apenas igrejas como lugar de reunião, identidade e esperança? Não estimularam a crença de que só se avança individualmente, quando se competência, esperteza, sorte ou alguma forma de ser superior, inclusive ter a bênção divina?

Não tornaram o culto ao dinheiro, à riqueza, ao “Deus Mercado” como a única fé possível aos homens e mulheres?

É difícil, sei que é é difícil resistir aos impulsos e, publicamente, mandar Malafaia ou outros energúmenos procurarem algo…Mas é preciso falar sério sobre o que está gerando esta histeria.

Isso não é uma condenação a Boechat – não sei se um dia eu não teria um rompante destes – mas talvez sirva de alerta sobre os prejuízos que trazemos às melhores ideias quando perdemos o mínimo de razoabilidade.

Quantos de nós, jornalistas, não entramos nessa? Ou quantos movimentos de afirmação de gênero (e de outras  causas) não topamos uma radicalização que só bota gente, dinheiro e voto nas alfaias, nas bandejas do reacionarismo?

E assim a gente contribui para o clima de ódio do qual os Malafaias, Felicianos e Bolsonaros da vida.

Duzentas vezes já disse isso: gente dessa natureza má só pensa no que pode lhe trazer vantagens. A primeira delas é a sua promoção entre os pobres de espírito, mas também entre os pobres de informação, onde o pastor e o culto são sua “Globo” dominical.

Não se subestime isso. Tome um trem, como tomei anteontem, para Olinda – não a de Pernambuco, mas o segundo distrito de Nilópolis –  e você vai ver o tamanho da “tsunami” evangélica nas periferias.

Foi-se o tempo em que os bolsões conservadores eram as “senhoras católicas” da classe média. Hoje, pastores obtusos como Malafaia – e são aos centos – comandam máquinas eleitorais que produzem elementos como Eduardo Cunha e fenômenos assemelhados. Com o devido perdão dos muitos evangélicos que acreditam na humanidade como um valor essencial da religião.

Austeridade e seriedade não querem dizer mau-humor ou caretice, nem que não se faça gozações ou mesmo que, vez por outra, se diga umas verdades com “português de botequim”.

Mas que o Boechat  tirou o que andava engasgado na garganta, isso tirou.

É um rompante destes a que só se chega porque há um silêncio cúmplice dos interesses políticos e econômicos com este tipo de fariseus, que servem como escudos da dominação.

E é uma pena, porque ando com saudades do tempo em que éramos todos mais civilizados.

Malafaia, Boechat e o “vá procurar uma rola”. Infelizmente, “o buraco é mais embaixo” | TIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”

29/08/2014

Collor de saias

 

Marina e o mito do cavaleiro solitário

sex, 29/08/2014 – 06:00

Atualizado em 29/08/2014 – 07:05

Luis Nassif


Todo fim de ciclo político abre espaço para os outsiders da política.

São períodos em que ocorre um aumento da inclusão, da participação popular e os mecanismos políticos tradicionais não mais dão conta da nova demanda. Há o descrédito em relação à política e, no seu rastro, o cavaleiro solitário, cavalgando o discurso moralista e trazendo a esperança  da grande freada de arrumação.

Fazem parte dessa mitologia políticos como Jânio Quadros, Fernando Collor e, agora, Marina Silva.

***

Tornam-se fenômenos populares, o canal por onde desaguará a insatisfação popular com o velho modelo.

No poder, isolam-se por falta de estrutura partidária ou mesmo de quadros em qualidade e quantidade suficiente para dar conta ro recado de administrar um país complexo como o Brasil.

Com poucos meses de mandato, a população percebe que não ocorrerá o milagre da transformação política brasileira e se desencantará com o salvador. Sem base política, sem o canal direto com o povo, perdem o comando e trazem a crise política.

***

Desde a redemocratização de 1945 o Brasil tornou-se um país difícil de administrar, dada a complexidade de forças e setores envolvidos. Só é administrável através das composições políticas.

Na última década, a complicação ficou maior porque floresceram uma nova sociedade civil, novas classes de incluídos e o fantasma da hiperinflação (e dos pacotes econômicos) não mais funcionava como agente organizador das expectativas e de desarme das resistências.

***

O maior momento de Marina foi quando, na OMC (Organização Mundial de Comércio) defendeu a o direito do Brasil proibir a importação de pneus. No episódio Cessna descobre-se um sócio oculto do ex-governador Eduardo Campos, que enriqueceu com incentivos fiscais (do estado de Pernambuco) justamente para a importação de pneus.

***

Não apenas isso.

Sua vida profissional indica uma personalidade teimosa e desagregadora.

Começou a vida política com Chico Mendes. Depois, rompeu com ele e aderiu ao PT. Foi parceira de Jorge Vianna, governador do Acre. Rompeu com Jorge, tornou-se MInistra de Lula.

Teve embates com a então Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff acerca da exploração da energia na Amazonia. Perdia os embates nas reuniões Ministeriais, mas criava enormes empecilhos no licenciamento ambiental.

Nas reuniões ministeriais, jamais abria mão de posições. Quando derrotada, se auto-vitimizava e, nos bastidores, jogava contra as decisões com as quais não concordava.

Saiu do governo Lula no dia em que anunciou seus planos para a Amazonia e Lula entregou a gestão para Roberto Mangabeira Unger.

***

Saiu do governo, entrou no PV e promoveu um racha no partido. Tentou montar a Rede, juntou-se com o PSB e criou conflitos de monta com os principais auxiliares de Campos.

A teimosia em geral estava a serviço de ideias e conceitos totalmente anticientíficos.

Combateu as pesquisas em células tronco. Em 2010, em uma famosa entrevista no Colégio Marista, em Brasilia, anunciou que proibiria ensinar Darwin nas escolas, por ser a favor do criacionismo.

Se o país resolver insistir na aposta no personagem salvador, só há uma coisa a dizer: bem feito!

Marina e o mito do cavaleiro solitário | GGN

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