Estive no jogo do Inter com Ypiranga de Erechim, pelo Gauchão, na arquibancada inferior, lado sul do Gigante da Beira-Rio. Ouvindo as vaias ao jogador Fabrício me lembrei do mito de Sísifo. O cara se esforça para levar a bola ao ápice e, enquanto isso, os corvos ficam bicando no seu traseiro. Se é verdade que por vezes a bola lhe pesava como pedra, também é verdade que não se lhe pode negar o esforço em leva-la ao gol adversário. Jamais se omitiu. Tanto que foi fundamental na conquista da vaga para a Libertadores. E ele estava metido nesse metier quando foi vaiado. Covardemente vaiado!
Desde o anúncio da escalação do time, pelos telões, a torcida se manifesta, apoiando ou vaiando. Poucos se manifestavam favoravelmente ao Fabrício.
Na ocasião o jogo estava chocho e o Inter, jogando mal, se arrastava em campo sem conseguir furar o bloqueio montado pelo bem postado time adversário, o que deixava a torcida ansiosa. Como um time grande como o Inter não fazia um gol no simples Ypiranga de Erechim?!
O Fabrício tomou a bola na área defensiva, avançou, passando por três adversários, pela esquerda até a linha dá área do adversário. Os demais jogadores do Inter não se movimentaram para receber e Fabrício ficou, diante de três defensores, sem alguém para quem dar o passe. Manteve a posse da bola. Impaciente, a torcida começou a vaia-lo. Indignado pelo esforço que vinha fazendo, Fabrício fez gestos obscenos para a torcida.
Fabrício tem razão. Eu teria feito o mesmo.
Eu também, se no ambiente de trabalho, ao invés de me apoiarem começassem a me apupar, revidaria. Até porque, outros jogadores perdiam a bola, se esforçavam menos e nem por isso eram vaiados. A torcida, no meu modo de entender, e disse isso durante o jogo aos torcedores que estavam do meu lado, que não concordava com as vaias.
Do meu ponto de vista, as vaias a Fabrício parte de pessoas frustradas cuja alegria depende, não de si, mas de outros. Por exemplo, a satisfação pessoal passa pela vitória do Inter. São frustrados que, por mais que se esforçam, jamais terão salário igual ao de Fabrício. Pior, há muitos clubes interessados em contar com o futebol de Fabrício. E nenhum interessado em contar com torcedores iguais ao que torceram contra Fabrício. Não só em virtude da falta de educação, mas também pelo baixo nível de inteligência. Como pode alguém, em sã consciência, depreciar o próprio patrimônio? Perguntei aos torcedores que estavam ao meu lado quem eles poriam no lugar de Fabrício e não conseguiram escalar ninguém.
Por que não esperar o final do jogo para criticar? É o que fazem, por exemplo, as torcidas na Argentina!
Racismo
Muito provavelmente haja racistas também na torcida do Inter. O ambiente de ódio fomentado pelos meios de comunicação social contra movimentos sociais cria um ambiente propício para manifestações de ódio. Isso é fato. Eu estive lá e não vi. Quem não tem graça e acha que faz humor, só porque tem o privilégio de ocupar espaço nobre na mídia, não pode usar episódios chocantes só para se promover.
Na ocasião ouvi toda sorte de xingamentos que torcidas estão acostumadas a proferir contra juízes, bandeirinhas e jogadores adversários. FDP, pqp, caralho, vagabundo. Mas não ouvi ninguém proferir manifestações racistas.
E se tivesse ouvido e quisesse fazer uma acusação de racismo, gravaria em áudio e/ou imagens e entregaria às autoridades.
Assim como manifestações racistas são extremamente graves e devam ser condenadas, as acusações de racismo, exatamente por se trata de crime grave, também devem ser fundamentadas, provadas. Não se pode acusar alguém sem prova. Só no STF alguém pode dizer, sem prova, apenas porque a “literatura jurídica me permite”, ou que chicana “foi feita pra isso, sim”.
Fazer o contrário, depõe contra quem acusa. É imbecilidade. A torcida do grêmio que votou no Jardel, inclusive o Felipão, que fez campanha para o desarticulado, deveria dar satisfação à sociedade pela escolha do tiririca gremista para a Assembleia gaúcha. Jardel é do mesmo nível do governador Sartori, ambos provam de que uma manada bem conduzida se atira do alto do rochedo. Querer meter a torcida colorada no atoleiro do Humaitá é desejo que Freud explica.
A torcida do Grêmio, como torcida, tem razão em querer que o Inter seja condenado por racismo.
Querer querer, pode.
Mas pedir condenação do tipo Chaves, só “sem querer querendo”, não passa de desejo incontido de frustrados querendo ver o Inter sofrendo pelos crimes que parte da torcida do Grêmio cometeu. Tanto cometeu que restou provado e condenado. O que tornou o Grêmio o único clube do mundo eliminado de uma competição nacional por racismo. Isso machuca mas não elimina a verdade. As imagens falam por si sós. É melhor lamber as próprias feridas que chutar no vazio para querer ver no Inter o que por lá aconteceu.
Nós colorados temos mais é que evitar o racismo para que não nos aconteça o que aconteceu ao Grêmio. O resto é choro de frustrados.
Mas enquanto os cães ladram a caravana passa.