Como segurar um Ministro do STF desequilibrado?
Enviado por luisnassif, qua, 30/05/2012 – 22:44
Por RONALD
O que falta para o STF tomar uma atitude? Talvez isso seja a gota d’agua:
‘Brasília – A embaixada da Venezuela divulgou nota oficial nesta quarta-feira repudiando as declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, Gilmar Mendes, que, em entrevista ao jornal O Globo disse que "o Brasil não é a Venezuela de Chávez, onde o mandatário, quando contrariado, mandou até prender juiz". A nota oficial da Embaixada da República Bolivariana da Venezuela afirma:
As declarações do ministro do STF Gilmar Mendes ao jornal O Globo, se de fato ocorreram, constituem uma afronta à população venezuelana, e demonstram profunda ignorância sobre a realidade de nosso país.
Nossa Constituição, elaborada pela Assembleia Constituinte e referendada pelas urnas, determina a separação de poderes, estabelece direitos de cidadania e configura os instrumentos judiciais cabíveis, ou seja, o presidente da Venezuela não manda prender cidadão algum, independentemente do cargo que ocupe.
Recorrer à desinformação para envolver a Venezuela em debates que dizem respeito apenas aos brasileiros é uma atitude indecorosa – ainda mais partindo de um ministro da mais alta corte da nação irmã – e não reflete a parceria histórica entre Brasil e Venezuela.
Maximilien Arveláiz, embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil’
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Gilmar agora acusa Johnbim. Só falta a Dilma
Saiu no Valor, pág. A8:
“Gilmar Mendes diz que Lula e Jobim tentaram constrangê-lo em encontro”
Numa das 879 entrevistas que deu desde a semana passada, o ex-Supremo Presidente oferece a 879ª explicação:
O ex-ministro Nelson Johnbim “também lhe fez perguntas que poderiam sugerir pressão”.
Mas, ele se recusa a classificar o episódio como uma “chantagem”.
“Chantagem” foi o que o Lula fez, na 123ª versão do ex-Supremo.
Na versão 422, a palavra “chantagem” sumiu.
Agora, o “pressionador” é o Johnbim.
A torcida do Flamengo aguarda a entrevista de Eliane Catanhêde com Johnbim, um “pressionador”.
O que dirá o sereno e austero Ministro Celso de Mello, decano do Supremo, das 879 versões ?
Clique aqui para ler “Gilmar tem um problema com Lacerda”.
E aqui para ler “Protogenes vai processar Gilmar”.
Paulo Henrique Amorim
Gilmar, Demóstenes e Veja: tudo a ver
Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Para entender este misterioso encontro de Lula com Gilmar Mendes no apartamento de Nelson Jobim, o novo escândalo denunciado pela revista Veja com o único objetivo de atingir o ex-presidente da República e o PT, uma verdadeira obsessão do seu proprietário, é preciso recuar um pouco no tempo.
Lula se reuniu com 5 dos 11 ministros do STF
Foto: Montagem/247
Em 2012, ex-presidente encontrou José Antonio Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Carlos Ayres Britto e Gilmar Mendes; apenas o último citado afirma ter tratado sobre julgamento do mensalão
31 de Maio de 2012 às 07:02
247 – A Folha apurou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou em 2012 com pelo menos 5 dos 11 ministros do STF. No entanto, apenas Gilmar Mendes afirma ter tratado sobre julgamento do mensalão. Leia:
Felipe Seligman, da Folha: Pelo menos 5 dos 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) se encontraram com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste ano, mas apenas Gilmar Mendes afirma ter discutido sobre o julgamento do mensalão.
Os outros quatro ministros que encontraram o ex-presidente, todos indicados ao STF por Lula, são: José Antonio Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Carlos Ayres Britto.
Apenas Luiz Fux não respondeu aos questionamentos da Folha. Rosa Weber, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello disseram não ter encontrado o ex-presidente.
Mendes relatou um encontro que teve com Lula, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, no qual o ex-presidente teria insistido que o mensalão não poderia ser julgado em 2012.
De acordo com Mendes, ao perceber que a conversa não teria efeito -já que o ministro defende a realização do julgamento ainda neste semestre-, Lula passou a falar sobre episódios que poderiam levar o magistrado à CPI do Cachoeira. Lula e Jobim confirmam o encontro, mas negam o teor da conversa.
OUTROS ENCONTROS
Toffoli e Cármen Lúcia afirmaram ter visitado Lula no hospital Sírio-Libanês em abril, em ocasiões diferentes. Dizem que não trataram do mensalão. Toffoli diz ainda que Lula nunca pediu sua participação no julgamento.
Já Lewandowski não deu detalhes do encontro. Nos bastidores há duas versões.
A primeira é a de que o ministro também foi visitar Lula no hospital. A segunda é a de que teriam se encontrado em São Bernardo (SP). O ministro afirmou apenas que "o presidente Lula jamais falou sobre a AP 470 [ação penal do mensalão] comigo".
O encontro de Ayres Britto com Lula foi público, no Palácio da Alvorada, em maio.
Lula se reuniu com 5 dos 11 ministros do STF | Brasil 247
O que incomoda Gilmar Mendes: a amizade com Demóstenes ou com Perillo?
Açodamento de Gilmar Mendes e suas constantes aparições na mídia ameaçam desfigurar STF, transformando-o numa versão togada do Big Brother Brasil
31 de Maio de 2012 às 02:52
Marcus Vinícius
As intempestivas manifestações de açodamento do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes causam estranheza no mundo político e jurídico.
Não é de se esperar que um ministro de uma Corte Suprema seja dado a entrevistas e a esboçar pontos de vista. O STF é o que o nome diz: Supremo, portanto, seus pares devem ser módicos no falar, pois o que dizem ecoa por todo o Judiciário. A um juiz – e principalmente um juiz supremo -, não é facultada verborragia. O que ele diz tem consequência. Recomenda-se a moderação a um julgador.
Nos Estados Unidos os ministros da Corte Suprema são, na sua maioria, ideologicamente ligados a um dos partidos do establishment. Ou são Democratas, como o presidente Barak Obama, ou são Republicanos, como o ex-presidente George W. Bush. Nem por isto se veem ministros saracoteando de redação em redação, de estúdio em estúdio a opinar sobre a vida política dos EUA.
Do magistrado, seja de primeira instância ou do STF o que se almeja é conhecimento, respeito e obediência às Leis. O conceito de Justiça é muito mais amplo que o de Ideologia. O cidadão – seja ele de esquerda, direita ou centro -, quando vai a julgamento espera que seu julgador seja, antes de tudo, justo, que se atenha aos autos do processo. Espera que o magistrado se atenha ao devido processo legal.
Há aqueles que querem fazer crer que a Justiça possa ser pautada pelos humores da massa como se fossem os juízes similares ao apresentador Pedro Bial, que conduz o Big Brother Brasil. A torcida destes setores mais inconsequentes da política e da mídia é para que os ministros do Supremo julguem o Mensalão tal qual ocorre no mencionado reality show.
Talvez não tenha sido boa a ideia de transmissão ao vivo das sessões do STF pela TV Justiça. A Corte Suprema perdeu a circunstância, a solenidade e a liturgia que deve ter, a exemplo de seus pares do Norte. Registre-se que nem fotos são disparadas nos julgamentos nos EUA, não são permitidas transmissões de radio ou TV. Sobre a transmissão dos julgamentos no Brasil, iniciados em 2002, fica alerta do ex-ministro Eros Graus, em entrevista do Conjur: ““essa prática de televisionar as sessões é injustificável”, uma vez que “tem que se dar publicidade à decisão, não ao debate que pode ser envenenado de quando em quando. Acaba se transformando numa sessão de exibicionismo”. (Matéria: A publicidade das sessões da Suprema Corte – http://migre.me/9iABR )
Voltemos ao episódio envolvendo o ministro Gilmar Mendes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Nelson Jobim. Considerando-se tudo que foi citado neste artigo, volta a estranheza, do porquê, um mês depois do encontro, o Meritíssimo disparou crítica ao ex-mandatário do país.
1 – A reunião ocorreu no dia 26 de abril, no escritório de Nelson Jobim. Porquê, passados mais de 30 dias, Mendes trouxe o assunto a baila?
2 – A motivação veio da transcrição dos grampos da Operação Monte Carlo, que mostram uma relação próxima entre o ministro e o senador Demóstenes Torres (ex-DEM)?
3 – O açodamento é por conta da revelação de uma carona no avião do contraventor Carlos Cachoeira? (http://migre.me/9iBke )
4 – Preocupa o ministro suas relações com o governador Marconi Perillo (PSDB-GO), tendo inclusive participado da colação de grau deste, ao lado de Demóstenes Torres? (http://youtu.be/moy7zYxOihY )
O açodamento do ministro Gilmar Mendes e suas constantes aparições na mídia ameaçam desfigurar o STF e transformar a Corte Suprema do Brasil numa versão togada do Big Brother Brasil. Não é este triste destino que dele se espera. Não é o que o STF e o povo brasileiro merecem.
A presidenta Dilma Rousseff conduz o país com correção, respeito à institucionalidade e a independência dos Poderes. Sob sua batuta o país avança na consolidação da cidadania, com a sanção da Lei de Acesso à Informação e a criação da Comissão da Verdade.
Transparência, sobriedade, equilíbrio e trabalho. São estes os conceitos que contam para o Brasil neste século XXI.
Marcus Vinícius edita o www.marcusvinicius.blog.br.
É legítimo e normal Lula opinar sobre julgamento, diz ministro do STF
Foto: Alan Marques/Folhapress
Marco Aurélio Mello defendeu o ex-presidente e questionou a demora de Gilmar Mendes em revelar encontro
31 de Maio de 2012 às 05:38
247 – Em entrevista à Folha e ao UOL, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, classificou de normal que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifeste sua opinião sobre a data que considera mais conveniente para o julgamento do mensalão. Ele, no entanto, questinou a reação de Gilmar Mendes. Leia:
O ministro Marco Aurélio Mello, o segundo mais antigo dos 11 integrantes do Supremo Tribunal Federal, disse ontem considerar "legítimo" e "normal" que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifeste sua opinião sobre a data que considera mais conveniente para o julgamento do mensalão.
"Admito que o ex-presidente pudesse estar preocupado com a realização do julgamento no mesmo semestre das eleições. Isso aí é aceitável", afirmou o ministro entrevista à Folha e ao UOL.
Listou em seguida os motivos: "Primeiro, porque é um leigo na área do direito. Segundo, porque integra o PT. Portanto, se o processo envolve pessoas ligadas ao PT, obviamente, se ocorrer uma condenação, repercutirá nas eleições municipais".
No fim de semana, a revista "Veja" revelou que Gilmar Mendes (também ministro do STF) e Lula se encontraram em abril no escritório do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim. Segundo Mendes, o ex-presidente disse que o julgamento do mensalão deveria ser adiado para depois das eleições deste ano.
De acordo com Marco Aurélio, juízes estão sempre prontos a ouvir, mas "decidimos de acordo com o nosso convencimento".
"Penso que o ex-presidente Lula não tratou do mérito do processo-crime. O que ele fez foi revelar que não seria bom, em termos eleitorais, o julgamento do processo no segundo semestre de 2012."
‘TUDO ERRADO’
Apesar de conceder que Lula dê sua opinião sobre datas de julgamento, Marco Aurélio considera que "está tudo errado" no encontro entre o ex-presidente e Mendes. "Há erro quanto à localização, erro quanto ao encontro em si e erro quanto ao que foi realmente veiculado."
Sobre Mendes ter dito que se sentiu pressionado por Lula para atrasar o julgamento, Marco Aurélio diz não ter entendido "o espaço de tempo entre o ocorrido, o encontro, e a divulgação do encontro".
Ele afirmou ter tomado conhecimento de que "alguém estaria vazando informações" e que Mendes "se adiantou para realmente escancarar o episódio".
Marco Aurélio expressou incompreensão a respeito da suposta chantagem que teria sido feita por Lula contra Mendes. "Não entendo por que cogitar-se de proteção a Mendes. O ministro não está sendo investigado na CPMI."
A CPMI no caso é a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os negócios de Carlos Cachoeira e suas relações com autoridades e políticos. Segundo Mendes, ele estaria sendo vítima de notícias falsas sobre conexões que teria com Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
Embora se recuse a comentar, Marco Aurélio admite não ter uma boa relação com Mendes -"é estritamente institucional".
No STF, em geral, a convivência entre os ministros não é amena: "O Supremo é composto de ilhas. Nós não temos uma convivência social maior (…) Infelizmente, já até se proclamou que o colegiado é um ninho de víboras".
Santayana: Gilmar não é o Supremo ! Supremo, aja!
O Conversa Afiada reproduz do JB Online texto de Mauro Santayana:
Gilmar não é o Supremo
Mauro Santayana
Engana-se o Sr. Gilmar Mendes, quando denuncia uma articulação conspiratória contra o Supremo Tribunal Federal, nas suspeitas correntes de que ele, Gilmar, se encontra envolvido nas penumbrosas relações do Senador Demóstenes Torres com o crime organizado em Goiás.
A articulação conspiratória contra o Supremo partiu de Fernando Henrique Cardoso, quando indicou o seu nome para o mais alto tribunal da República ao Senado Federal, e usou de todo o rolo compressor do Poder Executivo, a fim de obter a aprovação. Registre-se que houve 15 manifestações contrárias, a mais elevada rejeição em votações para o STF nos anais do Senado.
Com todo o respeito pelos títulos acadêmicos que o candidato ostentava – e não eram tão numerosos, nem tão importantes assim – o Sr. Gilmar Mendes não trazia, de sua experiência de vida, recomendações maiores. Servira ao Sr. Fernando Collor, na Secretaria da Presidência, e talvez não tenha tido tempo, ou interesse, de advertir o Presidente das previsíveis dificuldades que viriam do comportamento de auxiliares como P.C. Farias. Afastado do Planalto durante o mandato de Itamar, o Sr. Gilmar Mendes a ele retornou, como Advogado Geral da União de Fernando Henrique Cardoso. Com a aposentadoria do ministro Néri da Silveira, Fernando Henrique o levou ao Supremo. No mesmo dia em que foi sabatinado, o jurista Dalmo Dallari advertiu que, se Gilmar chegasse ao Supremo, estariam “correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”. Pelo que estamos vendo, Dallari tinha toda a razão.
Gilmar, como advogado geral da União – e o fato é conhecido –, recomendara aos agentes do Poder Executivo não cumprirem determinadas ordens judiciais. Como alguém que não respeita as decisões da justiça pode integrar o mais alto tribunal do país? Basta isso para concluir que Fernando Henrique, ao nomear o Sr. Gilmar Mendes, demonstrou o seu desprezo pelo STF. O Supremo, pela maioria de seus membros, deveria ter o poder de veto em casos semelhantes.
Esse comportamento de desrespeito – vale lembrar – ocorreu também quando o Sr. Francisco Rezek renunciou ao cargo de Ministro do Supremo, a fim de se tornar Ministro de Relações Exteriores, e voltou ao alto tribunal, re-indicado pelo próprio Collor. O episódio, tal como a posterior indicação de Gilmar, trouxe constrangimento à República. Ressalve-se que os conhecimentos jurídicos de Rezek, na opinião dos especialistas, são muito maiores do que os de Gilmar. Mas se Rezek não servia como chanceler, por que deveria voltar ao cargo de juiz a que renunciara? São atos como esses, praticados pelo Poder Executivo, que atentam contra a soberania da Justiça, encarnada pelo alto tribunal.
A nação deve ignorar o esperneio do Sr. Gilmar Mendes. Ele busca a confusão, talvez com o propósito de desviar a atenção do país das revelações da CPI. O Congresso não se deve intimidar pela arrogância do Ministro, e levar a CPMI às últimas conseqüências; o STF deve julgar, como se espera, o processo conhecido como mensalão, como está previsto. Acima dos três personagens envolvidos na conversa estranha que só o Sr. Mendes confirma, lembremos o aviso latino, de que testis unus, testis nullus, está a Nação, em sua perenidade. Está o povo, em seus direitos. Está a República, em suas instituições.
O Sr. Gilmar Mendes não é o Supremo, ainda que dele faça parte. E se sua presença naquele tribunal for danosa à estabilidade republicana – sempre lembrando a forte advertência de Dallari – cabe ao Tribunal, em sua soberania, agir na defesa clara da Constituição, tomando todas as medidas exigidas. Para lembrar um autor alemão, Carl Schmitt, que Gilmar deve conhecer bem, soberano é aquele que pratica o ato necessário.
Veja, Gilmar e o Editor Imaginário
Após o período atípico, sem manchetes denunciativas nas capas, que se seguiu à instalação da CPI do Cachoeira, a revista Vejatenta sair das cordas publicando, na edição desta semana, uma denúncia em que um seu velho conhecido – o ministro Gilmar Mendes, do STF – afirma que o ex-presidente Lula o teria pressionado para que tentasse adiar a data do “julgamento do Mensalão” para depois das eleições municipais deste ano. Em troca, segundo a revista, o ex-presidente ofereceria ao magistrado“blindagem” contra eventuais acusações na CPI do Cachoeira.
Logo após a revista chegar às bancas, jornalistas e blogueiros passaram a apontar as múltiplas inconsistências da matéria – trabalho facilitado, inicialmente, pela negação peremptória da veracidade da denúncia feita pela única testemunha presencial do encontro entre Mendes e Lula (o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim) e complementado, na noite de ontem, pelo depoimento do próprio Gilmar Mendes ao Jornal Nacional, em que afirma que “ele [Lula] não pediu nada diretamente a mim”.
Factoide de curta duração
Não é meu interesse, aqui, repisar os múltiplos fatos e constatações que desmontaram o factoide de Veja em questão de horas, nem especular o que teria levado Mendes a desmentir a revista já na segunda-feira. As explicações estão aí, aos borbotões, na internet e no pouco que resta de imprensa séria no Brasil.
Tampouco me interessa, no curto espaço deste artigo, analisar a incompatibilidade da conduta de Gilmar Mendes com a posição que ocupa: como reconheceria qualquer pessoa ciente das leis, ainda que a acusação fosse verdadeira, seria obrigação de um ministro do STF levá-la à Justiça, e não, após mais de um mês de silêncio, fazer futricas na menos confiável das publicações brasileiras.
Lúdica imprensa
O que gostaria de propor aos leitores e leitoras neste texto é um exercício mental, um jogo, que pede uma certa dose de abstração, tendo como meta produzir uma reflexão sobre o jornalismo brasileiro hoje: façamos como Carlinhos Cachoeira e brinquemos de editor.
A proposta do jogo é que nos coloquemos no lugar do editor de uma hipotética revista jornalística séria. Tentemos evitar, portanto, assumir uma posição ideológica pré-determinada e tenhamos como meta principal simular adotar os mesmos critérios práticos que o jornalismo historicamente chama para si – checagem de informações, ouvir os dois lados, equilíbrio, responsabilidade social, defesa do interesse público.
Comecemos fazendo um esforço para esquecer, por um momento, a biografia e as peculiaridades dos personagens envolvidos na última “denúncia” da Veja, publicação que –com o perdão pelo duplo sentido -também deve ser abstraída de nosso pensamento.Conservemos a mesma denúncia, feita porém a uma revista jornalística séria de um país democrático: um ministro da Suprema Corte acusa um ex-presidente (por duas vezes eleito) de tê-lo pressionado para que convencesse colegas de toga a optarem pelo adiamento de determinado julgamento, envolvendo acusação de corrupção contra o partido político do ex-mandatário (mas não diretamente contra este). Em troca, ele teria prometido “aliviar a barra” do denunciante se e quando pipocassem acusações contra este numa CPI em andamento.
Jornalismo dentro da lei
Antes de examinarmos o caso é forçoso constatar que tudo o que se refere à denúncia teria de ser checado e rechecado pelos editores, antes da eventual publicação da matéria, posto que, além de serem estes os procedimentos recomendados pelo bom jornalismo, o que está em jogo envolve altas personalidades da República e poderia provocar sérias consequências tanto no campo jurídico quanto político-eleitoral. Desnecessário observar que a constatação de eventual leviandade por parte da publicação fatalmente acarretaria danos, não só à sua imagem pública, mas no âmbito judicial, já que a existência e o cumprimento de leis que regulamentam o exercício do jornalismo são característica comum aos países de democracia consolidada.
Um primeiro fator a se considerar pelo editor da revista seria o da credibilidade da testemunha. Ser ministro do Supremo ajuda, mas, como se sabe, quanto mais avançada a democracia, menos vale o “critério”da carteirada, do “você sabe com quem está falando?”. Uma publicação jornalística séria levaria em conta se o denunciante tem uma história moral condizente com a que se espera de alguém que tem assento na mais alta corte do país ou seu passado é entremeado de episódios obscuros, suspeitas, ligações com personalidades políticas controversas, perda da compostura em púbico, grampos sem áudio. A opinião pública e seus pares de toga o respeitam, ou ele já chegou a ser publicamente acusado, por um deles, de estar “na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro”?
Testemunha-chave
Uma segunda medida, porém elementar, seria se inteirar se haveria testemunhas que pudessem corroborar ou desmentir a acusação feita pelo ministro e, em havendo, entrevistá-la(s). Afinal, uma terceira pessoa que reafirmasse o ocorrido, a depender de sua credibilidade e do grau de coincidência com a denúncia originalmente formulada, forneceria uma evidência mais consistente para a publicação da denúncia, reduzindo o ônus da revista – ao passo que, se esse terceiro elemento fosse reticente ou desmentisse a acusação, acenderia um alerta e faria aumentar a desconfiança na redação quanto à veracidade do relato do magistrado.
Ora, nenhuma publicação séria do mundo publicaria uma denúncia contra um ex-presidente ciente de que esta seria desmentida pela única testemunha presencial capaz de corroborá-la, como Jobim o fizera em relação à denúncia de Veja/Mendes. Nosso jogo deveria, portanto, terminar aqui, já que um editor responsável e jornalistas honrados jamais concordariam em assinar uma matéria tão leviana, alicerçada em bases tão frágeis. Mas, entre nós, brasileiros, o jornalismo responsável anda tão escasso que proponho brincarmos de imprensa séria um pouquinho mais.
Coerência lógica
Consideremos então que, para nosso valoroso redator, tão essencial quanto as medidas acima elencadas seria um exame da plausibilidade da denúncia. Várias questões então se colocariam para ele. A primeira delas diz respeito à probabilidade lógica: o STF tem 11 membros. Do time atual, o ex-presidente indicou seis nomes, e sua sucessora, do mesmo partido, dois. Já o ministro acusador foi indicado por um ex-presidente que antecedeu a ambos mandatários e lhes faz oposição, indicação que, segundo alguns, se deu como forma de recompensar a extrema leniência com que o nomeado desempenhou o papel de Procurador-geral da República em seu governo.
Ora, por que o ex-presidente agora acusado, ao invés de pressionar os oito ministros nomeados por ele e sua sucessora, preferiria ir ter com um magistrado nomeado pelo seu principal opositor? Mais: por que o faria, se fora anteriormente publicamente agredido pelo mesmo ministro, que declarou que iria “chamá-lo às falas” por conta de uma denúncia de grampo no STF – publicada, aliás, na mesma revista ora sob suspeita, e jamais comprovada?
Fora de timing
Certamente nosso brioso editor, já picado pela vespa da perplexidade (ele é um editor imaginário, mas é humano), quedaria a pensar por que cargas d’água um ex-presidente desejoso de manipular a data do tal julgamento iria pressionar um ministro sem posição de comando no tribunal ou função especial alguma no “julgamento do Mensalão”,ao invés de acossar os presidentes do STF e do TSE ou o relator do caso? “Isso não faz sentido algum”, refletiria o nobre homem.
Por fim, pensaria nosso já estupefato editor, por que o ex-presidente, que poderia ter feito como seu antecessor e mandado engavetar a granel denúncias que o desagradassem, se tinha interesse em manipular o “julgamento do Mensalão”, não o fez antes, no poder?
Essa questão certamente estaria na pauta da entrevista com o ex-presidente, a qual, obedecendo parâmetros éticos mínimos, deveria não apenas dar a voz ao outro lado para que se posicionasse ante as acusações que lhe são feitas, mas publicá-las com destaque textual e fotográfico proporcional ao dado às acusações e ao acusador. Isso, conclui o editor, se não existissem tantos furos a impedir a realização de uma matéria minimamente séria, que pode destruir nossa reputação.
Uma questão de ética
Xingando mentalmente o pauteiro que propôs uma matéria tão sem sustentação, nosso valoroso editor desiste de publicar a matéria e comunica a decisão aos demais profissionais envolvidos – não sem uma sutil reprimenda entrelinhas.
Desliga o computador, fechas as gavetas e, com a consciência leve assegurando a dignidade com que os jornalistas de Veja não podem nem sonhar, sai assobiando pelas ruas com as mãos nos bolsos, vendo a tarde cair.
Cinema & Outras Artes: Veja, Gilmar e o Editor Imaginário
Pelo Twitter, filha de Marconi exalta Gilmar
Foto: Edição/247
Ana Luísa Perillo, filha do governador goiano, já elegeu, pela rede social, seu novo herói: é o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que acusou o presidente Lula de “tentar melar o mensalão”; sobre o enrosco do pai com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, nenhuma palavra
31 de Maio de 2012 às 06:46
247 – A família Perillo já tem um novo herói. É o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que acusou o ex-presidente Lula de “tentar melar o processo do mensalão”. O recado foi dado por Ana Luísa Perillo, filho do governador tucano Marconi Perillo, de Goiás. “Gilmar Mendes, me dá um autógrafo????????????”, postou a moça. Coincidência ou não, foram 13 interrogações no seu tweet, numa possível alusão ao número do PT.
Dona do perfil @aninhaperillo, a filha do governador já convocado pela CPI do caso Cachoeira até agora não se pronunciou sobre a Operação Monte Carlo, onde seu pai é um dos principais personagens. Marconi Perillo era dono da casa vendida por R$ 1,4 milhão, onde Carlos Cachoeira foi preso no dia 29 de fevereiro deste ano.
Assim como o pai, ela mostra que não se intimida. Marconi adota a estratégia de que, numa crise, “a melhor estratégia é o ataque”. Ele se prontificou a ir à CPI, antes mesmo de ser convocado. Documentos da Operação Monte Carlo apontam que Cachoeira tinha influência direta em seu governo, nomeando figuras influentes na área de segurança pública e também de desenvolvimento. Sobre a venda da casa, Marconi disse que cometeu “erro imperdoável” ao não checar a procedência dos cheques de R$ 1,4 milhão – eles foram passados por um sobrinho de Cachoeira.
Perillo foi o primeiro a alardear a tese de que a CPI do Cachoeira era a tentativa de criar uma cortina de fumaça para encobrir o mensalão. Tese depois encampada por Veja e, na semana passada, pelo ministro Gilmar Mendes.