Os grupos paulistas de mídia retomam a blindagem de José Tarja Preta Serra & Geraldo Marcola Alckmin à moda Mauro Chaves. Para quem não lembra, no calor da disputa entre correligionários, o ator da bolinha de papel fez publicar um artigo denunciando o toxicômano das gerais. Até Juca Kfouri apimentou a história com outros floreios. O Estadão, a pedido do Serra, atacou com o antológico “Pó pará, governador!”. O Estado de Minas devolveu em grande estilo, “Minas a reboque, não”.
(Em parêntese. Não está em discussão quem é o pai da criança e se existe ou não corrupção. O que se questiona são os pesos e medidas. Até porque, boa parte da corrupção deve ao finanCIAmento privado. Ou alguém acha que existe almoço grátis. Se uma empresa “doa” pra candidato, de vereador a presidente, ela o faz por filantropia? Então porque Gilmar Mendes, o cavalo de tróia que FHC deixou no STF, sentou encima do financiamento público por mais de um ano!?)
E não é que a rivalidade Minas x São Paulo reacende exatamente quando um paulista da Mooca, vestindo as cores da bandeira ianque, se coloca como postulante ao cargo do interino a quem serve e é servido!? Bastou sair na imprensa que a CONSIST, que levou Paulo Bernardo à prisão, é mais uma obra, como o fora Marcos Valério, do PSDB. Assim como a forma de arrecadação que apareceu no Mensalão fora criada em Minas pelo PSDB para abastecer a base de FHC, e que depois abasteceu a base de Lula, a CONSIST é uma invenção do então Prefeito José Serra, mas que também abasteceria Paulo Bernardo. A coincidência é que quando aparece o nome do Serra, a Folha revela a enésima delação do primeiro a ser comido. E não é só esta coincidência, porque outra maior se alevanta.
Os esquemas de Marcos Valério e da CONSIST só são criminosos quando tem algum petista. Enquanto for operado pelos inventores, nada acontece. Ambos guardam semelhanças também com os esquemas da Petrobrax.
Enquanto a corrupção na Petrobrás, sob FHC, matava Paulo Francis, sob Dilma rende criminalização do PT. Ninguém criminaliza PSDB, PMDB oU PP, que eram os verdadeiros operadores e que, por várias governos, corroeram a Petrobrás. Isso tudo revela uma verdade bem brasileira: aqui há dois tipos de corrupção, a boa e a ruim. É boa quando é praticada pelo candidato dos investigadores, é ruim quando é praticada pelos adversários ideológicos. O fato de ter virado pó, sem trocadilho, o assunto dos 450 kg de cocaína encontrados no heliPÓptero, diz tudo a respeito das instituições encarregadas de zelar pelo respeito às leis. Algumas assuntos viram pó, outros são consumidos.
Para concluir as coincidências. Eis que de repente reaparece Rodrigo de Grandis. Aquele procurador que engavetara os documentos suíços comprovando corrupção tucana na Alstom e Siemens está por traz da prisão do Paulo Bernardo. Uma coincidência a mais ou a menos não melhora a imagem, para quem está usando o cérebro e não a Rede Globo, a respeito do caráter da nossa plutocracia.
Como escreveu o Marcelo Semler, nunca se roubou tão pouco, mas o que importa é que isso propicia criminalizar o PT, caçar Lula e dar o golpe em Dilma. O resto é serventia da casa.
Sócio e ex-presidente da OAS relatará propina para assessor de Aécio Neves
MARIO CESAR CARVALHO e BELA MEGALE
DE SÃO PAULO – 25/06/2016 17h13
O empreiteiro Léo Pinheiro, sócio e ex-presidente da OAS, vai relatar, com base em documentos, que pagou suborno a auxiliares do então governador de Minas Gerais, o hoje senador Aécio Neves (PSDB), durante a construção da Cidade Administrativa.
Trata-se da mais cara obra do tucano nos oito anos em que permaneceu à frente do Estado, entre 2003 e 2010.
O relato de Pinheiro sobre o centro administrativo, um complexo inaugurado em 2010 para abrigar 20 mil funcionários públicos, faz parte do acordo de delação premiada que está sendo negociado com procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato de Curitiba e Brasília. O acordo ainda não foi assinado.
Ed Ferreira – 26.mai.15/Folhapress
José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, em depoimento à CPI da Petrobras em maio de 2015
Segundo Pinheiro, a OAS pagou 3% sobre o valor da obra a um dos principais auxiliares de Aécio, Oswaldo Borges da Costa Filho.
Conhecido como Oswaldinho, ele é apontado por tucanos e opositores como o tesoureiro informal de seguidas campanhas de Aécio, entre 2002 e 2014.
Aécio nega com veemência que tenha recebido qualquer recurso ilícito e que tenha havido irregularidades na obra —leia mais a respeito da nota enviada pelo senador mineiro a seguir.
Ele não comentou, no entanto, os relatos de que Oswaldo teria sido seu tesoureiro informal.
Estimada em R$ 500 milhões, a obra da Cidade Administrativa foi orçada em R$ 949 milhões, mas acabou custando R$ 1,26 bilhão, segundo documentos do governo de Minas obtidos pela Folha, mas que a atual administração, do PT, não comenta.
Esse foi o custo das obras de engenharia; com mobiliário e outros itens, o gasto total alcança R$ 2,1 bilhões, ainda de acordo com os dados obtidos pelaFolha.
Junto com Odebrecht e Queiroz Galvão, a OAS fez um dos três prédios do complexo, o Edifício Gerais. No consórcio, a Odebrecht era a líder, com 60% do valor do contrato. A OAS respondia por 25,71% e a Queiroz Galvão, por 14,25%.
Como a OAS recebeu R$ 102,1 milhões, os 3% da suposta propina seriam equivalentes a pouco mais de R$ 3 milhões.
O CONTATO
Oswaldo é contraparente de Aécio: ele é casado com uma filha do padrasto do senador, o banqueiro Gilberto Faria (1922-2008). Tanto tucanos como opositores em Minas contam que o auxiliar atuou como tesoureiro informal das campanhas de Aécio para o governo de Minas, para o Senado e para a Presidência.
Após vencer a eleição para o governo em 2002, o tucano colocou-o para presidir a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, uma empresa pública dona de mineradoras, hotéis e fontes de água mineral.
Foi essa empresa, chamada Codemig, que fez a licitação em 2007 e cuidou da obra da Cidade Administrativa, o que foi considerado incomum, já que Oswaldo teve papel na arrecadação da primeira campanha de Aécio ao governo mineiro.
A família de Oswaldo também é proprietária de uma empresa de táxi-aéreo que é dona de um jatinho Learjet que foi usado por Aécio.
Ele tem uma coleção de carros raros, entre os quais um Rolls-Royce que Aécio costumava usar quando era governador. A joia da coleção, no entanto, é um Bugatti 1938.
Léo Pinheiro relatou a investigadores da Lava Jato que tem provas do caminho que o dinheiro percorreu até chegar ao assessor do tucano.
A LISTA
Oswaldo também é citado numa lista da Odebrecht na qual aparecem 316 políticos que teriam recebido propina, segundo a Polícia Federal. Ao lado do nome dele, aparece o nome de um diretor da Odebrecht em Minas e a mensagem de que o grupo viabilizaria uma doação de R$ 15 milhões para "Mineirinho", codinome que a PF está investigando para saber quem é.
A anotação é de setembro de 2014, quando Aécio disputava a eleição presidencial que foi vencida por Dilma Rousseff (PT).
A OBRA
Os primeiros esboços da Cidade Administrativa foram apresentados por Oscar Niemeyer em 2004, mas a obra só foi iniciada em 2007.
O complexo causou polêmica porque deslocou um contingente de 30 mil pessoas (20 mil funcionários e 10 mil visitantes) para uma área que fica a 20 quilômetros do centro de Belo Horizonte.
Inaugurado em 2010, o lugar é repleto de superlativos, de acordo com a propaganda do governo mineiro à época da inauguração. A obra foi anunciada como o maior prédio em construção na América naquela época, com o maior vão-livre do mundo.
Quatro inquéritos foram abertos para apurar possíveis irregularidades na obra. Um deles investiga se houve conluio entre as nove empreiteiras que fizeram a obra.
A assessoria de Aécio nega que tenha havido irregularidades nesse processo.
O Ministério Público não soube informar o estágio atual das investigações ou se alguma das apurações já foi encerrada.
OUTRO LADO
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse em nota à Folha que desconhece os relatos feitos pelo empresário Léo Pinheiro sobre suposta propina em sua administração e que considera as declarações "falsas e absurdas".
Carlos Roberto – 13.out.2009/Hoje em Dia/Folhapress
O Senador Aécio Neves, então governador de MG, durante visita às obras da Cidade Administrativa, em 2009
A nota afirma que acusações como essas precisam de provas, "sob o risco de servirem apenas a interesses outros que não os da verdade".
O senador afirma estranhar o que chama de vazamento "deste trecho" da delação de Pinheiro, da OAS, que o cita como beneficiário de propina.
Segundo nota enviada pela assessoria de imprensa do senador, as obras da Cidade Administrativa foram contratadas por R$ 948 milhões em 2007 e tiveram custo final de R$ 1,26 bilhão, em 2010.
Entre as razões do aumento está a construção de um túnel que não estava previsto no projeto inicial e que demandou uma nova licitação.
O comunicado aponta que os aditivos firmados na construção da Cidade Administrativa mineira "corresponderam a 10% do valor inicial, percentual inferior aos 25% autorizados pela Lei 8.666 para obras públicas".
A assessoria de Aécio reitera que "a obra foi conduzida com absoluta transparência e controle da sociedade", inclusive com aprovação de órgãos de controle do Estado.
A nota afirma ainda que, antes da abertura da licitação, os editais foram submetidos a avaliação prévia do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado.
"Todas as especificações técnicas do projeto tiveram acompanhamento e monitoramento da empresa de auditoria externa, atestando e assinando juntamente com a gerência da obra", diz a nota divulgada.
Sobre a OAS, a assessoria do senador diz que a empreiteira apresentou um pedido de revisão nos valores a serem pagos quando a Cidade Administrativa foi finalizada, o que foi negado pela empresa que administrava a obra.
Segundo a assessoria de Aécio, a participação da OAS na obra foi de cerca de R$ 50 milhões, metade do valor obtido pela Folha. A decisão de dividir a construção em três lotes se deu para "baratear os custos de execução e abrir espaço para participação de mais empresas", de acordo com a assessoria.
Sobre o avião utilizado pelo senador, a assessoria afirma que a aeronave não pertencia a Oswaldo Borges, mas à família dele.
Questionada a respeito do uso do Rolls-Royce do empresário, a nota diz que Borges é "reconhecido colecionador de carros" e emprestou veículos de seu acervo para a posse dos governadores Aécio Neves e Antonio Anastasia, ambos do PSDB.
A assessoria de imprensa de Aécio não quis se pronunciar sobre os relatos de Borges ter atuado como "tesoureiro informal" das campanhas do tucano.
Procurado, o empresário Oswaldo Borges da Costa Filho não atendeu as ligações nem ligou de volta para a reportagem. A Folha pediu ajuda à assessoria de Aécio para contatá-lo, sem sucesso.