Ficha Corrida

13/09/2015

Os assassinos estão soltos e tem ódio de Dilma, Lula e o PT

ditadura militarPara os midiotas que perambulam com a Marcha dos Zumbis pedido o afastamento da Presidenta e espumando pela boca palavras de ódio ao Lula, ao mesmo tempo em que pedem a volta da ditadura, bastaria este único  caso para mostrar como funciona um governo aos moldes do que propugnam. Aos desavisados que ainda não se deram conta dos reais motivos de ódio e perseguição ao PT e seus líderes, eis aí a prova de como eles entendem como deve funcionar a vida em sociedade. Com isso não estou querendo dizer que o PT não tenha cometido erros, mas não há nada que se possa atribuir aos dois, Lula e Dilma, a perseguição diuturna dos perdedores das últimas eleições. Até porque graças ao republicanismo deles já não há lugar para Geraldo Brindeiros, porque, se quisessem, haveria ainda hoje candidatos a Engavetador Geral. Rodrigo de Grandis está aí para provar o que estou dizendo.

Não podemos nos esquecer que havia finanCIAdores ideológicos, os mesmos que hoje patrocinam o golpe, nos porões do DOI-CODI. E eles participavam nas sessões de tortura e estupro. Depois também emprestavam peruas para transportarem os corpos violados e mutilados ao Cemitério de Perus.

Convém lembrar que este tipo de acontecimento tinha a proteção de todos os atuais associados do Instituto Millenium. Lei Rubens Ricúpero veio à luz durante o governo Itamar Franco, via Carlos Monforte, mas a prática já era rotina nos grupos mafiomidiáticos. O exemplo mais contundente desta prática foi o comício das Diretas Já, no Vale do Anhangabaú, que reuniu 1,5 milhões de manifestantes, mas que a Rede Globo noticiou como se tivesse sido comemoração pelo aniversário da cidade. Hoje, quando vemos personagens obtendo espaço na Rede Globo para exporem seus desrespeito à democracia temos o mau costume de criticar as personagens, não aquela que a convocou. Não, não é Aécio o golpista, é a Rede Globo que o usa para golpear. Não é Sartori que é uma mequetrefe, é a RBS que o enfia pela goela dos midiotas gaúchos.

O “agente Guarany”, a bomba e o poder da foto

Por Fernando Brito · 12/09/2015

riocentro

A conclusão – 35 anos depois – da apuração sobre a autoria, intelectual e material, do torpe assassinato de D. Lyda Monteiro, secretária da Ordem dos Advogados do Brasil, na explosão da carta-bomba dirigida ao presidente da instituição, Eduardo Seabra Fagundes, já nos estertores da ditadura no Brasil, não é o ponto final desta chaga na história brasileira recente.

Agora, cabe à Procuradoria Geral da República – mais especificamente ao Dr. Rodrigo Janot – decidir se o caso vai ou não à Justiça, porque não está coberto sequer pela Lei da Anistia – promulgada no ano anterior ao crime – mas por uma alegação de prescrição que, afinal, só pode ser alegada se aceitar-se como legítima toda a “operação-abafa” que envolveu o episódio por décadas.

Antes de reproduzir um trecho do post de Auler – a íntegra está aqui – não posso deixar de prestar uma homenagem a Aníbal Philot – já morto – com quem trabalhei no início de minha carreira, em 1978, cuja foto histórica do atentado do Riocentro, meses depois da bomba na OAB, permitiu identificar com certeza o autor material daquele crime: o ex-sargento do DOI-CODI Magno Cantarino Motta, o “Agente Guarani”, visto no elevador que conduzia ao escritório do presidente da corporação por um ex-colega de quartel.

Dos olhos da testemunha e das lentes de Philot, que não se esmaeceram, saiu a verdade que tantos tentaram apagar.

O Mensageiro da Morte

Marcelo Auler (trecho)

Ao longo destes 35 anos, muitas pessoas apontaram para o agente “Guarany” como o portador da carta-bomba. O próprio, em 2014, ao ser procurado pela jornalista e pesquisadora da CEV-Rio, Denis Assis, parecia querer falar sobre o caso, mas recuou por interferência de sua mulher.

Havia evidências e testemunhos, faltava, porém, quem o reconhecesse como o homem visto com a carta-bomba na sede da OAB. Isto foi conseguido pela CEV-Rio, na semana passada, quando uma testemunha que se encontrava no prédio da Avenida Marechal Câmara, centro do Rio, e cruzou com o portador da carta-bomba, o reconheceu nas fotos apresentadas por Denise de Assis, na presença de Felipe Monteiro.

O agente paraquedista não agiu sozinho. Segundo depoimento do ex-delegado de Policia Civil do Espírito Santo, Claudio Guerra, o chamado autor intelectual do plano foi o já  falecido coronel Freddie Perdigão Pereira, que por muito tempo atuou no CIE (Centro de Informações do Exército), mas também teve participação ativa no DOI-CODI/RJ e na agência do Rio de Janeiro do Serviço Nacional de Informações (SNI), onde estava quando decidiu pelo envio da carta-bomba.

O terceiro militar envolvido também já está morto. Trata-se do sargento Guilherme Pereira do Rosário, paraqudeista da turma de Guarany, especialista em explosivos. Ele montou o artefato levado por Guarany à OAB, em uma oficina de um primo seu, como revelou à CEV-Rio o ex-delegado Guerra,  que convivia com todos eles, principalmente com Perdigão.

Rosário faleceu ao tentar executar um novo atentado que, pelas evidências levantadas, partiu do mesmo grupo de militares: a explosão de uma bomba no show em comemoração ao dia do trabalhador, no Riocentro, Zona Oeste do Rio, em 30 de abril de 1981. Acabou sendo a única vítima fatal da bomba que ele próprio montou. Com ele estava o então capitão Wilson Dias Machado, que mesmo bastante ferido conseguiu sobreviver.

Na noite do atentado do Riocentro, Guarany estava no local. A foto dele acima  é um recorte de uma foto maior em que ele aparece ao lado do Puma onde seu colega de farda e de quartel, Rosário, faleceu com a bomba no colo. Segundo explicou à CEV-Rio o coronel Paulo Malhães, o artefato explodiu quando a corrente do relógio do sargento fez o contato com os polos positivo e negativo do artefato.

Como nesta sexta-feira lembrou o jornalista Chico Otávio em reportagem em O Globo, Rosário, dias depois do atentado à OAB, foi encontrado por duas parentes de Lyda Monteiro na beira do túmulo dela, chorando, como se estivesse pedindo desculpas. As duas senhoras só vieram a saber a identidade daquele estranho visitante quando da sua morte no Riocentro, através das fotos divulgadas pelos jornais.

Nas entrevistas dadas à CEV-Rio nos meses de fevereiro e março de 2014, Paulo Malhães, ao ser questionado sobre a possível participação de Guarany na morte de Lyda, admitiu o envolvimento, apenas ressalvando que ele não seria o autor da ideia.

– Eu conheço o Guarany. Pode até ter sido enviado por alguém para colocar essa bomba. Partir dele, não.

Além de Guerra, dois outros companheiros de Guarany revelaram  à CEV-Rio que é ele quem aparece no retrato falado feito na Policia Federal, em 1990, em um segundo inquérito o qual, controlado pelo próprio Perdigão, tentou jogar a responsabilidade no americano  Ronald James Watters, que acabou inocentado pela Justiça por falta de provas.

Valdemar Martins, também paraquedista da turma de Guarany e Rosário, no último dia 3 confirmou o que já havia dito em 2014 à Denise Assis:

-Na época em que eu estive ai dando o depoimento para vocês, vi algumas fotos. Falei que era o Magno Cantarino Motta. Um agente que era sargento paraquedista, que serviu na mesma unidade que eu, junto com o Guilherme Rosário, ai no Rio de Janeiro. Era o agente Guarany. Confirmo que era o Magno Cantarino Motta, sargento paraquedista que serviu na minha unidade.

-Então podemos considerar um depoimento oficial para a CEV-Rio, uma declaração sua de que reconheceu aqui na sede da Comissão o paraquedista Magno Cantarino, o agente Guarany, como autor da entrega?

– Sim.
Sim, o autor da entrega. Mas não o único autor do crime.

O “agente Guarany”, a bomba e o poder da fotoTIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”

03/07/2015

Folha tem banditismo no seu DNA

Se o argumento dos donos da Folha era apenas combater a “subversão comunista”, por que eles precisavam assistir as sessões de tortura, estupro e morte no DOI-CODI?! O que a Folha precisa explicar a respeito da ditabranda, é se a ditadura virou branda porque ela emprestava as peruas para desovarem os corpos nas valas comuns do Cemitério de Perus, ou era branda porque a Folha escondia dos seus leitores as sessões de que participava?!

‘Folha’ ama delatores desde a ditadura

Por Altamiro Borges

O jornal "Folha de S.Paulo" – o mesmo que ajudou a criar o clima fascista para o golpe de 1964 e que apoiou os setores mais truculentos da ditadura militar, com suas torturas e assassinatos – não gostou das respostas de Dilma Rousseff durante sua visita aos EUA. Perguntada sobre a midiática Operação Lava-Jato – com suas "delações premiadas" e premeditadas, seus vazamentos seletivos e suas prisões e métodos ilegais de obter confissões -, a presidenta foi enfática: "Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas e garanto a vocês que resisti bravamente".

Um dia depois, nesta terça-feira (30), durante entrevista coletiva na Casa Branca e ao lado de Barack Obama, a presidenta voltou a ser questionada sobre a Operação Lava-Jato e novamente condenou a forma como as investigações são conduzidas. "Isso é um tanto quanto Idade Média… O governo brasileiro não tem acesso aos autos. E, estranhamente, há um vazamento seletivo e alguns têm acesso. Aqueles que são mencionados não têm como se defender porque não sabem do que são acusados". As respostas desagradaram a famiglia Frias e seus serviçais. Em editorial nesta quarta-feira, intitulado "Lógica torturada", a Folha esbraveja:

"Ao dizer que não respeita delator, Dilma demonstra incoerência, mistura ditadura com democracia e ataca mecanismo processual… Antipatizar com delatores é uma questão pessoal, mas Dilma Rousseff, na condição de presidente da República, tem o dever legal de respeitar um instituto admitido pela legislação brasileira – a norma mais recente sobre o tema, aliás, foi sancionada pela própria petista em 2013… Embora advogados de envolvidos na Operação Lava Jato apontem abusos nas prisões, não se tem notícia de violência física ou supressão do direito de defesa. Não se confundem com ruptura institucional os eventuais exageros processuais".

Na sua seletividade, a famiglia Frias nem sempre apoia os ‘delatores’. O doleiro Alberto Youssef, por exemplo, já dedurou o tucano Aécio Neves nas suas "delações premiadas" da Lava-Jato, revelando que ele recebia "mesada" da empresa Furnas. As graves denúncias contra o cambaleante, porém, não tiveram qualquer destaque nas páginas da Folha. O próprio Ricardo Pessoa, dono da UTC, que agora é manchete diária na mídia tucana, também acusou o senador Aloysio Nunes, vice na chapa de Aécio Neves nas eleições do ano passado. Neste caso, as denúncias do "delator" também sumiram do jornal.

A Folha somente apoia os "delatores" que servem aos seus propósitos políticos. Esta seletividade é bem antiga. No período mais sombrio da ditadura militar, o jornal utilizou depoimentos extraídos na tortura para atacar os patriotas que lutavam pela volta da democracia no Brasil. A historiadora Beatriz Kushnir, no imperdível livro "Cães de guarda: jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1988", apresenta vários documentos que comprovam a postura fascista da famiglia Frias. Ela sempre seguiu a "lógica dos torturadores" – no passado e no presente.

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26/04/2015

Folha ajudou ditadores a prender, torturar, estuprar, matar e esconder os corpos. E chamou isso de ditabranda!

OBScena: perua da Folha usada para desovar cadáveres vilipendiados pelos torturadores 

folha1A Rede Globo já admitiu que errou ao apoiar os ditadores. A Folha, pelo contrário, que prisão ilegal, tortura, estupro, esquartejamento não é só uma ditabranda. Deve ser por isso a Folha emprestava suas peruas para transportar os presuntos para as valas clandestinas do Cemitério de Perus.

Já que a Folha exige que Lula e Dilma devem pedir desculpas pelo roubo praticado na Petrobrás durante os seus governos, por que a Folha não exige que FHC peça desculpas pela compra da sua reeleição? Por que a Folha não cobra do grupo Estado que nada fizeram para impedir que o Diretor de Redação do Estadão, Pimenta Neves, assediasse moral e sexualmente a colega Sandra Gomide, a ponto de vir a assassina-la pelas costas. Nenhum Mesquita, apesar de ser um funcionário mais próximo da hierarquia, saiu a público para pedir desculpas pelo bárbaro crime praticado por pessoa de extrema confiança, a ponto de ser guindado ao posto de Diretor de Redação?

Por que a Folha não cobra da Rede Globo que peça desculpas pela sonegação biolionária que retira da mesa das crianças e dos postos de saúdes condições essenciais para suas vidas? Por que a Folha não cobra da Rede Globo explicações  a respeito do desvio de recursos do Criança Esperança?

Por que a Folha não cobra de seus colegas do Instituto Millenium que aparecem na Operação Zelotes como tendo perpetrado um assalto muitas vezes maior que o da Petrobrás? Seria por que a RBS é colega da ANJ e faz às vezes, como admitiu Judith Brito, oposição ao Governo Federal?

Por que a Folha não cobra do multimilionário Gerdau para que explique como ele conseguiu sonegar, sozinho, R$ 150 milhões de reais?

Por que a Folha não vai atrás do tesoureiro de seu partido, Márcio Fortes, para que explique a fortuna lavada no HSBC? O tesoureiro do PSDB precisa não só pedir desculpas, mas devolver os recursos e pagar os impostos devidos?

Por que cobra do Rodrigo de Grandis a respeito da mão amiga na hora difícil na vida de Robson Marinho, já condenado na Suíça pela corrupção em parceria com a Alstom e Siemens mas continua no TCE/SP?

Por que a Folha não cobra explicações do Geraldo Alckmin pelo racionamento d’água que “corre” um ano em São Paulo ao mesmo tempo em que se desenvolve a maior epidemia de dengue jamais vista na terra dos bandeirantes?

Por que a Folha não cobra das sucessivas administrações do PSDB que só legou o PCC em termos de segurança pública para os paulistas? Com o PCC os bandidos e as reeleições tucanas em São Paulo estão seguros!

A Folha deveria se lembrar que em editorial admitiu que o Poder Judiciário é complacente com seu partido, como já o fizera antes seu correligionário Jorge Pozzobom, e pedir para que explique porque só o PT?

EDITORIAIS

editoriais@uol.com.br

Falta pedir desculpas

Balanço da Petrobras registra prejuízo bilionário provocado por anos de inépcia e corrupção; Lula e Dilma ainda devem explicações

A publicação do balanço de 2014 da Petrobras é apenas o primeiro passo da longa caminhada de reconstrução da empresa depois do ciclo de desgraça a que foi submetida de 2004 a 2012: imprudência inaceitável, incompetência descomunal e corrupção voraz.

O prejuízo do período monta a R$ 50,8 bilhões, dos quais R$ 6,2 bilhões ligam-se diretamente aos desvios sistemáticos praticados nas principais diretorias da estatal –o cálculo baseou-se em depoimentos da Operação Lava Jato que apontaram propina de 3% nos contratos.

Os R$ 44,6 bilhões restantes decorrem de erros grosseiros no planejamento e na execução de projetos e, em menor medida, de pioras nas condições de mercado –a queda do preço do petróleo, por exemplo, reduz o valor de investimentos realizados em exploração.

O estouro nos custos não se relaciona apenas com a má gestão da última década, porém. Por certo o clima de euforia irresponsável e o uso político da estatal nos mandatos petistas contaminaram o corpo dirigente. Perdeu-se a noção de diligência no trato do dinheiro alheio.

Também é óbvio que as propinas incentivaram tal conduta. Projetos faraônicos e custos fora de controle, que resultam do ambiente delituoso que vigorou na empresa, agora se disfarçam nas ineficiências.

Vencida a etapa do balanço, a empresa precisa reformular seu plano de negócios a fim de preservar caixa e reduzir o endividamento, que chega a quase cinco vezes a geração de lucro operacional –o ideal é menos de três vezes.

O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, indica que será firme na reestruturação. Cogitam-se cortes expressivos nos investimentos, gestão mais inteligente de ativos (inclusive com vendas e parcerias com o setor privado) e política financeira mais conservadora.

Também são desejáveis mudanças nas regras de exploração do pré-sal e na política de conteúdo nacional, que sobrecarregam a empresa sem que ofereçam em troca benefícios tangíveis para acelerar a exploração dos campos de petróleo.

Não fosse por um aspecto dos mais relevantes, seria possível afirmar que a longa crise começa a ser superada. Bendine, que chegou ao comando da Petrobras somente neste ano, agiu bem ao pedir desculpas e declarar-se envergonhado. Falta, agora, que os responsáveis políticos pelo maior escândalo de corrupção e má gestão da história nacional tenham a decência de fazer o mesmo.

Nada aconteceu por acaso. O ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff –que dirigiu o Conselho de Administração da Petrobras de 2003 a 2010– têm o dever de explicar ao país como se consumou tamanho desastre em suas gestões.

    21/04/2015

    Saiba por que a velha mídia está falindo

    Que o velho coronelismo eletrônico está de mal a pior não há dúvida. A divergência reside no diagnóstico. Por que, afinal, os velhos grupos mafiomidiáticos, assoCIAdos ao Instituto Millenium, estão falindo? Por que nem mesmo os velhos gorilas estão mais ao lado deles. Sem a velha parceria, definham a olhos vistos.

    As boas reportagens que deveríamos esperar da velha mídia já não saem mais das rotativas. Estão ocupados demais em chamar a manada. Nem mesmo a marcha dos zumbis, tão bem acalentadas por eles, deu esperança aos golpistas. No aniversário do golpes, os golpistas perambulam pelas ruas. Como diria o Demóstenes Torres quando se lembra de Ronaldo Caiado, são cérebros vazios que perambulam à procura de uma ideia. Hoje, não há informação digna deste já nome nos meios que se auto proclamam de informação. São os sites independentes, como o Jornal Já, que trazem ares novos à para o mercado de informação.

    O ‘Almanaque’ dos tempos de chumbo

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    Luiz Cláudio Cunha

    Enfim, uma boa notícia neste pântano de informações desalentadas que fazem cada vez mais opressivo o cotidiano dos brasileiros: nenhum quartel, nenhum general ousou comemorar a tragédia de 31 de março de 1964, o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart e implantou a ditadura militar há 51 anos. O silêncio não foi produto de uma súbita conversão democrática, mas ordem sumária da comandante-suprema das Forças Armadas, a presidente, ex-guerrilheira e ex-torturada Dilma Rousseff.

    Ainda assim, as faixas e gritos nada esparsos de grupos nas ruas que tentam jogar gasolina na fogueira da crise, pedindo a volta da ditadura e ‘intervenção militar já!’, mostram um dado preocupante que nivela gerações diferentes pela ignorância e pela nostalgia. Os mais jovens, ignorantes dos horrores que disseminou a ditadura ao longo de 21 anos, e os mais velhos, cínicos saudosos de benefícios do regime de força que ruiu em 1985 com o advento da democracia.

    Em 23 de março passado, uma semana antes do aniversário do golpe de 1964, o Latin American Public Opinion Project (Lapop), um projeto de pesquisa coordenado em 28 nações das Américas pela Universidade Vanderbilt, do Tennessee (EUA), divulgou o seu Americas Barometer, desta vez medindo o apoio a um eventual golpe militar em cada comunidade nacional. Entre os 23 países pesquisados, o Brasil ocupa um constrangedor sexto lugar, com 47,6% de respostas positivas a um golpe militar em um ambiente de alta corrupção, no levantamento realizado em solo brasileiro pelo instituto Vox Populi, em 2014. O campeão de nostalgia é o Paraguai, que padeceu a mais longa ditadura do continente sob a era do general Alfredo Stroessner (1954-1989), com 56,1% de apoio dos paraguaios à volta dos militares sob a justificativa de combate à corrupção.

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    A erosão da fé democrática no Brasil pode ser medida pelos gráficos que medem a temperatura do golpe, entre 2007 e 2014. Sete anos atrás, ainda no Governo Lula, 38,9% dos brasileiros justificavam a volta dos militares ao poder pelo pretexto da elevada corrupção. Em 2010, quando Dilma venceu a eleição presidencial, um de cada três brasileiros (35,5%) apoiava a intervenção militar. Quatro anos depois, a situação se agravou: em 2014, um de cada dois brasileiros (47,6%) justificava um golpe militar sob o pretexto da corrupção elevada.

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    A crise de confiança na democracia persiste mesmo quando se cruza a pergunta central com o índice de aprovação da presidente Dilma Rousseff. No centro da oposição mais ferrenha ao Palácio do Planalto, os que consideram o Governo Dilma “ruim ou muito ruim”, o índice de simpatia a um golpe militar pela justificativa da corrupção chega a 52,8%, mais da metade dos consultados na pesquisa. Entre os indiferentes, que acham que o governo não é bom, nem ruim, a justificação ao golpe chega a 46,4%. O dado mais assombroso é entre a população que apoia Dilma e que considera seu governo “bom ou muito bom”: 45,6% dessa suposta base governista reagem à roubalheira com a solução radical e imbecil do golpe militar.

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    Uma boa explicação para este surto autoritário dos brasileiros, manipulados ou não, está na memória fraca do país. Ao contrário do Brasil, os últimos países do ranking são justamente Argentina, Uruguai e Chile, parceiros da ditadura brasileira nos anos de chumbo das décadas de 1960-1980, quando o Cone Sul era o inferno do terrorismo de Estado imposto por generais que esmagavam a democracia e os opositores sob o mantra da luta antisubversiva.

    O dever de casa

    O Chile, com apenas um entre cinco chilenos apoiando um novo golpe militar (23,5%), é o ultimo país do ranking, ou o mais antipático à volta do regime dos generais. Logo acima estão Uruguai (28,8%) e Argentina (29,3%), mostrando a forte discordância da esmagadora maioria de seus povos ao arbítrio que hoje encanta tantos brasileiros de cabeça fraca ou mero oportunismo.

    Existe uma razão forte que justifica esta acentuada debilidade democrática entre nós: o Brasil é o país mais leniente no processo de accountability, a devida prestação de contas necessária para a Justiça de transição que levou nossos vizinhos da treva da ditadura para a luz da democracia. Chilenos, uruguaios e argentinos fizeram o que os brasileiros demoraram a fazer, ou nunca fizeram. As Comissões da Verdade, por exemplo. A brasileira foi instalada apenas em 2012, 27 anos após a saída do Palácio do Planalto – pela porta dos fundos – do último ditador de plantão, o general João Baptista Figueiredo.

    Quando os investigadores da Comissão Nacional da Verdade (CNV) começaram a levantar os nomes, endereços e fichas dos que serviram ao regime militar e praticaram ou testemunharam graves violações de direitos humanos, esbarraram no calendário tardio e na barreira intransponível do tempo. Boa parte de quem sabia ou cometia torturas já tinha morrido. Os sobreviventes, esmagados pela idade avançada, estavam todos com Alzheimer, Parkinson ou uma indisfarçável má vontade para abrir a porta, escavar lembranças ou compartilhar seus arquivos. Assim, o Brasil continua a ser a única grande ditadura da região que não tem um só militar condenado por duas décadas de arbítrio inesquecível.

    Lerdo, preguiçoso, tardio na apuração dos crimes de lesa-humanidade praticados pelo regime dos generais de 1964, o Brasil não deu elementos nem argumentos para dissuadir os jovens de 2015 da defesa inconsequente que fazem agora de uma ditadura que não viveram e que insistem em desconhecer. Esse erro infantil não cometeram nossos vizinhos. Em 1983, no mesmo ano em que caiu a ditadura, a Argentina instalou a sua Comissão Nacional sobre Desaparecimento de Pessoas (Conadep), que investigou o período sangrento da “guerra suja”, entre a primeira junta militar, do general Jorge Videla (1976) e a última, do general Reynaldo Bignone (1983). Em 1985, apenas dois anos após o fim do regime militar, o Uruguai estabeleceu sua comissão sobre desaparecidos políticos. Em 2000, fez uma segunda, a Comissão para a Paz, que colheu os depoimentos para o relatório Uruguay Nunca Más. E o Chile, assim que Pinochet saiu da cena política, instituiu em 1990 a sua Comissão Nacional da Verdade e Reconciliação, encarregada de apurar os abusos praticados entre a queda de Salvador Allende, em 1973, e a retirada de Pinochet.

    O Brasil, com a hipocrisia habitual, formou sua Comissão Nacional da Verdade cedendo à pressão nada sutil dos generais. Para não melindrar os comandantes militares, em vez de mirar especificamente o período de 21 anos da ditadura (1964-1985), fingiu que iria pesquisar abusos ao longo dos 43 anos entre duas Constituintes – as de 1945 e de 1988. Assim, os generais imaginavam nivelar suas décadas de arbítrio e terror militar aos governos de civis democraticamente eleitos como os de Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. (Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral que derrotou o candidato da ditadura Paulo Maluf, não chegou a exercer seu mandato).

    Apesar da tentativa de cerceamento, a CNV não perdeu o foco no período da ditadura e fez avanços importantes, cumprindo com seriedade uma tarefa difícil, agravada por três obstáculos importantes: o cinismo dos comandantes militares, a tibieza do Palácio do Planalto e a omissão do Congresso Nacional.

    Cinismo e tibieza

    Durante os 31 meses em que funcionou, a CNV lutou contra a explícita má vontade dos generais que negavam qualquer colaboração ou acesso a arquivos militares. O jornal O Globo chegou a divulgar um ofício do então comandante do Exército, general Enzo Peri, proibindo, em fevereiro de 2014, que os quartéis liberassem à CNV informações sobre torturas ou abusos de direitos humanos. A falta de seriedade dos comandantes militares ficou explícita na resposta debochada que Exército, Marinha e Aeronáutica deram ao circunstanciado requerimento enviado pela CNV pedindo informações, com nomes, datas e documentos, sobre nove casos de mortes sob tortura e 17 relatos de presos torturados em cinco quartéis do Exército, uma base da Aeronáutica e outra da Marinha.

    Atropelando as evidências e desprezando a inteligência da opinião pública, os comandantes simplesmente negaram os fatos, sustentando que nunca houve “desvio de finalidade” nas instalações militares listadas pela CNV como centros de tortura. Os generais chegaram ao ponto de esquecer o mais notório deles, a sede do DOI-CODI do II Exército, na afamada Rua Tutóia, em São Paulo, onde em 1970 foi barbaramente torturada uma guerrilheira de 22 anos do grupo VAR-Palmares, codinomes “Estela” ou “Vanda”, identificada nas fichas da repressão como Dilma Rousseff, hoje presidente da República e, como tal, comandante suprema das Forças Armadas.

    Dilma teve o mérito de convocar a CNV e o demérito de não assumir suas conclusões. No momento solene de entrega do relatório final de três volumes e 4.328 páginas, responsabilizando 377 agentes e todos os cinco generais-presidentes pela morte e desaparecimento de 434 pessoas na ditadura, a ex-guerrilheira e comandante-em-chefe simplesmente amarelou. A primeira ideia de Dilma, talvez para não melindrar os generais já agastados pela dura conclusão da comissão, foi receber o relatório numa cerimônia privada no Palácio do Planalto, restrita aos sete comissários da CNV. Parecia um evento envergonhado, quase clandestino, que provocou repulsa nas famílias de ex-presos políticos e de mortos e desaparecidos. Diante do escândalo iminente, Dilma recuou e abriu a cerimônia para um salão de acesso do palácio restrito a convidados.

    A mesma tibieza foi exibida por Dilma em 31 de março de 2014, quando se recordava meio século do golpe militar. Mais preocupada com a reeleição do que com sua biografia, Dilma deixou passar o aniversário em branco, sem a elegância de convocar a rede de rádio e TV para marcar a data histórica com o seu depoimento autorizado de ex-presa política e ex-torturada, que chegou ao poder não pelas armas da resistência à ditadura, mas pelo voto democrático do eleitor. Dilma esqueceu que, ao lado do uruguaio José Pepe Mujica e da chilena Michelle Bachelet, ela é a única presidente da República no continente que carrega na carne e na alma as cicatrizes do regime brutal dos generais.

    A omissão do Congresso se mostrou pela baixa repercussão ali do cinquentenário do golpe e a falta de apoio explícito às duras conclusões da CNV, que começam com duas recomendações essenciais para atender à consciência cívica e moral de um país leniente com a tortura e com a ditadura, hoje festejada nas ruas. A primeira das 29 medidas propostas pela CNV pede o reconhecimento, pelas Forças Armadas, de sua responsabilidade nas torturas e violências cometidas durante o regime de arbítrio – uma impossibilidade prática enquanto prevalecer o cinismo do Alto Comando e a apatia da comandante-suprema. A segunda medida, que se impõe como dever histórico e exigência de cortes internacionais, é a revogação da Lei de Anistia que a ditadura desenhou, em agosto de 1979, para beneficiar os torturadores com o privilégio da impunidade.

    Num Parlamento com 513 deputados e 81 senadores, existem apenas duas propostas para revisar esta obscena “lei de autoanistia” que os militares fizeram aprovar por apenas cinco votos (206 a 201) num Congresso emasculado pelos atos institucionais para garantir à força a hegemonia na Câmara dos Deputados do partido da ditadura, a Arena (221 cadeiras), sobre a frente de oposições abrigada no MDB (186). Um projeto da deputada Luiza Erundina (PSB-SP) e outro do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), ambos pedindo a revisão da Anistia de 1979 para permitir a punição aos torturadores, são as únicas manifestações parlamentares que confirmam a omissão e o desinteresse de um Congresso conservador, desatento à História e aos seus compromissos éticos para com a verdade.

    O silêncio que inspira

    Diante de generais cínicos, governantes tíbios e parlamentares omissos, restou o consolo do silêncio institucional das Forças Armadas no aniversário de 51 anos do golpe de 1964. Na terça-feira, 31 de março, um grupo meio constrangido de 30 militares da reserva se reuniu na Praça do Mallet, em Santa Maria – 300 km a oeste de Porto Alegre, no coração do Rio Grande do Sul –, situada ao lado de um quartel de artilharia, para uma louvação à derrubada de João Goulart. Na cidade está a segunda maior concentração de tropas do Exército brasileiro, 20 mil homens reunidos em torno da 3ª Divisão de Exército que comanda cinco brigadas blindadas e a maioria dos tanques pesados do país, e a poderosa base aérea de Camobi, onde a FAB mantém quatro esquadrões com caças de ataque e helicópteros de combate. Nenhum de seus integrantes estava no festejo envergonhado da praça. Na Vila Militar, na zona oeste do Rio de Janeiro, maior agrupamento de força terrestre da América Latina, com 60 mil homens, quase um terço do efetivo atual (222 mil homens) do Exército brasileiro, nenhum dos 51 quartéis da área fez qualquer alusão ou ato pelo aniversário de 31 de março. Prevaleceu o respeito à democracia, que os militares golpearam pela quebra da legalidade constitucional.

    Assim, o Brasil nem lembrou os nomes dos novos comandantes militares, nomeados por Dilma na primeira semana de seu novo mandato, em janeiro passado. Foi a primeira troca de comando nas Forças Armadas feita por ela, que tinha herdado de Lula os chefes militares que sobreviviam no cargo desde 2007. Essa saudável, quase despercebida, rotina burocrática é uma prova do vigor democrático do país, que os irresponsáveis que hoje pedem a volta da ditadura não sabem valorizar. Os jornalistas que viveram e padeceram sob o regime militar sabem toda a diferença. Eram tempos duros, de medo e censura, em que todo editor competente ou repórter bem informado precisava ter, como fonte de referência obrigatória, um livro que hoje ninguém mais conhece e que ainda é editado todo ano: o Almanaque do Exército.

    A primeira edição a chamar atenção das redações e dos jornalistas é a do ano da graça de 1964, um catatau de 910 páginas pesando 1.176 gramas. A leitura era inóspita, mas essencial para entender e prever o que aconteceria com o Brasil e a vida (e morte) dos brasileiros, a partir do golpe. O Almanaque, como hoje e sempre, trazia a tediosa relação de cursos e graduações de oficiais, colocados num ranking de merecimento que lhe garantia a precedência nas listas de promoções. Nas democracias, isso é uma irrelevância administrativa de exclusivo interesse da comunidade castrense. Na ditadura, o Almanaque vigente era mais importante do que a Constituição revogada e estuprada.

    O guia das redações

    Os repórteres e editores das grandes redações no Rio e São Paulo e das sucursais em Brasília aprenderam a decodificar as entranhas do Almanaque para tentar decifrar o que poderia acontecer com os intestinos do poder enfeixado pelos generais. Ele traduzia um mundo fechado, distante, alheio ao universo dos civis e das lideranças políticas a que deviam se subordinar, se imperasse o mandamento constitucional. Estabelecido o arbítrio, a lei e a ordem estavam escritas e transcritas no Almanaque. Virou leitura ainda mais necessária para entender o país a partir de setembro de 1969, quando o general Arthur da Costa e Silva, o segundo presidente de plantão do golpe, sofreu um derrame.

    Na confusão de poder criada pelo vazio do chefe, a primeira medida do Alto Comando foi vetar a posse do vice-presidente, o civil Pedro Aleixo. Mas era preciso botar alguém no lugar do presidente entrevado, e não podia ser um civil como Aleixo. A solução era consultar os únicos eleitores habilitados da ditadura: os generais. Num país de 90 milhões de brasileiros, em 1969, apenas os 118 que tinham estrelas de general nos ombros estavam habilitados a escolher o sucessor do doente Costa e Silva. A esculhambação daqueles tempos estranhos foi anotada por um dos generais do Alto Comando, Antônio Carlos Muricy, e resgatadas no livro A Ditadura Escancarada pelo jornalista Elio Gaspari, que lia com lupa de exegeta as minúcias do Almanaque. Os 118 generais foram divididos em 11 distritos eleitorais. Com o cinismo de sempre, eles não classificavam aquilo de eleição, mas uma simples “consulta”. Alguns generais votavam em três nomes, outros em apenas um.

    No III Exército, em Porto Alegre, só votaram generais. No I Exército, no Rio de Janeiro, os generais abriram a consulta para coronéis. Muricy espantou-se com essa democracia ampliada: “Nesse caso vamos acabar no cabo. Vamos ouvir o cabo…” A oficialidade mais jovem, que chegava a capitães e majores, simpatizava muito com o general de divisão Afonso Albuquerque Lima, da linha dura, mas nacionalista. Na Marinha, ele recebeu 37 votos dos 65 almirantes consultados. Um dos almirantes de quatro estrelas chamou ao seu gabinete um almirante de três, Heitor Lopes de Souza, que comandava o Corpo de Fuzileiros Navais. O quatro estrelas avisou que a Marinha apoiaria Albuquerque, conforme o relato de Gaspari:

    – Só se você quiser. Os fuzileiros ficam com Médici – reagiu Souza.

    – Isso não é uma consulta. É uma ordem – replicou o almirante.

    – Ordem coisa nenhuma. Você comanda uma mesa. Eu comando 15 mil homens – lembrou o fuzileiro insubordinado.

    – Nesse caso, mando prendê-lo – insistiu o almirante.

    – E eu lhe dou uma rajada de metralhadora – atalhou o almirante Azambuja, chefe do Estado-Maior dos fuzileiros, apoiando a insubordinação.

    No final desse exótico processo eleitoral, o comandante do III Exército, general Emílio Garrastazú Médici, ganhou 77 referências na “consulta” a 102 generais, bem mais do que os 38 que preferiam Albuquerque. Na liturgia da ditadura, ficou expresso que um general de exército, de quatro estrelas, não poderia ser derrotado por outro de três estrelas, um mero general de divisão. Os galões da tropa lembravam a hierarquia, que sustenta a estrutura dos quartéis e que ajudou a justificar o golpe contra Goulart em 1964. Um episódio mostra isso com mais contundência. Nos dias confusos logo após o derrame de Costa e Silva, o senador Daniel Krieger, da Arena gaúcha, foi chamado a Porto Alegre para receber em primeira mão do general Emílio Médici a sugestão de chapa que ele levaria ao Alto Comando para a sucessão presidencial: Jarbas Passarinho, coronel da reserva do Exército e então ministro do Trabalho, para presidente, e Krieger para vice. A versão foi contada pelo próprio Passarinho, em 2010, ao repórter Geneton Moraes Neto, daGloboNews.

    Decifrando signos

    O delírio esbarrou na frase definitiva do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e futuro ministro do Exército de Médici, general Orlando Geisel, de reluzentes quatro estrelas: “Gosto muito do Passarinho, mas não bato continência para coronel…” A partir daí, a leitura atenta doAlmanaque virou norma de serviço para o jornalista que pretendia cobrir com precisão a política fardada do país. A cada nova edição, a cada nova lista de promoções, era preciso interpretar os códigos embutidos no perfil dos 14 iluminados generais-de-exército que integrariam o próximo Alto Comando, centro inacessível de poder aos brasileiros comuns que não tinham voto nem estrela. Um comando de tropa, um curso, uma viagem, uma antiga subordinação na academia militar ou nos grandes comandos poderiam decifrar o pensamento do novo general. Um militar mais liberal ou um perfil de linha dura apontariam um novo equilíbrio de forças que levariam o Brasil para a abertura ou para o endurecimento político. Era fundamental consultar e interpretar o Almanaque para entender a estranha mecânica do poder e seus desdobramentos.

    Esse tempo de primazia verde-oliva e obsessão pelo Almanaque, felizmente, passou. Virou interesse específico apenas de quem vive o cotidiano do quartel, interessado na sua exclusiva evolução profissional, com acontece em todo regime democrático que observa os limites institucionais das Forças Armadas nos termos soberanos da Constituição, que não será jamais ultrapassada por um mero Almanaque.

    Nada expressa melhor esta evolução democrática do que o perfil dos novos comandantes militares nomeados por Dilma e que ninguém – ainda bem – conhece. Nem é necessário consultar o Almanaque, basta digitar os seus nomes no Google. Assim, o jornalista que assina este texto, nascido em abril de 1951 em Caxias do Sul (RS), descobriu um dado aparentemente consolador: pela primeira vez é mais velho do que os homens que comandam o Exército, a Marinha e a Aeronáutica.

    Todos os três possuem fichas imaculadamente limpas na questão dos direitos humanos e da lealdade à democracia, um contraste animador diante de antecessores e comandantes que ficaram marcados, décadas atrás, pela brutalidade que inspiravam ou admitiam em seus subordinados no auge das violências da ditadura – e que nunca apareciam nas páginas do Almanaque.

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    Fora do Almanaque

    O general Eduardo Dias da Costa Villas-Boas, nascido em novembro de 1951 em Cruz Alta (RS), só ingressou na escola de cadetes de Campinas em março de 1967, duas semanas antes de Costa e Silva suceder Castelo Branco. Virou aspirante de Infantaria na Academia das Agulhas Negras no final de 1973, quando Médici liderava a terceira e última missão do Exército no Araguaia – a “Operação Marajoara”, envolvendo 400 homens sob o comando do CIE, o Centro de Informações do Exército. Um ano depois, a guerrilha do PCdoB estava dizimada. Villas Boas chegou a segundo tenente em agosto de 1974, cinco meses após a posse de Ernesto Geisel, e a primeiro-tenente em agosto de 1976, quatro meses antes da “Chacina da Lapa” – a operação do DOI-CODI contra o Comitê Central do PCdoB no bairro paulistano da Lapa, que matou três dirigentes do partido, incluindo Ângelo Arroyo e Pedro Pomar. Foi promovido a major no Governo Sarney, em 1986, a tenente-coronel no Governo Collor, em 1991, e a coronel no Governo FHC, em 1996. Conseguiu suas duas estrelas de general de brigada em 2003, no Governo Lula, e as quatro estrelas do topo da carreira, general de exército, no Governo Dilma, em 2011.

    Nesse longo período, até pela idade, o novo comandante do Exército esteve distante dos horrores e abusos cometidos pelos camaradas de farda durante a ditadura. Só viu o comunismo de perto em Pequim, no início da década de 1990, quando era adjunto do adido militar na embaixada do Brasil na China.

    O comandante da Marinha, almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, nascido em junho de 1952 no Rio de Janeiro (RJ), virou guarda-marinha aos 22 anos, em dezembro de 1974, quando Ernesto Geisel já estava no Planalto. Chegou a primeiro tenente em agosto de 1977, quatro meses após Geisel fechar o Congresso para o “Pacote de Abril” que inventou o senador biônico, estendeu o mandato de presidente para seis anos, cancelou as eleições diretas para governador em 1978 e garantiu a maioria da Arena no Colégio Eleitoral pela ampliação artificial das bancadas governistas nos grotões mais pobres do Norte e Nordeste. Virou capitão tenente em agosto de 1979, três dias após Figueiredo assinar a Lei de Anistia que anistiou os torturadores, e chegou a capitão de corveta em agosto de 1985, na ressaca das “Diretas-Já”. Ganhou a estrela de contra almirante em 2004, no Governo Lula, e chegou a topo como almirante de esquadra em 2013 no Governo Dilma.

    Por fim, o comandante da Aeronáutica, tenente brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, nascido em agosto de 1951 em São Gabriel (RS). Virou aspirante da FAB em dezembro de 1975, no segundo ano do Governo Geisel, e capitão em agosto de 1981, quatro meses após o atentado do Riocentro, no Rio, que feriu de morte o terrorismo do DOI-CODI, infartou o presidente João Figueiredo e implodiu o sonho do general Octávio Medeiros (chefe do SNI) de ser o sexto presidente do ciclo militar. Ganhou a estrela de oficial general como brigadeiro do ar em 2003, no Governo Lula, e chegou ao limite da carreira com as quatro estrelas de tenente brigadeiro do ar em 2011, no Governo Dilma.

    Um detalhe extra, que não está em nenhum Almanaque e ainda não pode ser localizado no Google: nos dias agitados que antecediam o golpe, no frescor de nossos 12 anos, eu e o futuro comandante da FAB frequentávamos, sem saber, as mesmas ruas de sua cidade natal, São Gabriel, para onde tinha me mudado quatro anos antes. Talvez tenhamos nos cruzado, de bicicleta, pelas largas calçadas da pacata Praça Fernando Abbot, no centro da cidade, onde todos os moleques se divertiam sem compromisso.

    Eu e o brigadeiro Rossato nunca nos conhecemos. Nem poderia imaginar que aquele desconhecido guri de São Gabriel ingressaria depois na carreira militar, sobreviveria incólume aos anos de chumbo da ditadura que estava nascendo e se tornaria, na segunda década do novo milênio, o comandante da Aeronáutica de um governo democrático, exercido por uma ex-presa política e ex-torturada de um regime que, nos idos de março de 1964, ainda não perturbava a paz daquela praça no interior distante do Rio Grande do Sul.

    Nada disso, afinal, estava escrito no Almanaque.

    ***

    Luiz Cláudio Cunha, jornalista, é autor de Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios (L&PM, 2008)

    Leia também:

    O ‘Almanaque’ dos tempos de chumbo – Jornal Já | Porto Alegre | Rio Grande do Sul

    13/12/2014

    A ditadura teria sido ditabranda se não tivesse recebido tanto apoio da Folha de São Paulo

    Da próxima vez que a Folha vier com aquele papo de democracia ou liberdade de expressão, lembre, ela emprestava as peruas para transportar clandestinamente os pedaços de corpos destroçados pelas torturadores. E jogavam em valas comuns, como aquela do Cemitério de Perus, em São Paulo. E agora também ficou provado que o dono da Folha presenciava as torturas, os estupros, os assassinatos e depois ainda pagava.

    Agora fica fácil entender porque a Folha não condena comportamentos como este do Jair Bolsonaro. Na verdade, o que Bolsonaro defende já foi fonte de prazer para a família Frias. Se foi para o pai, quem garante que não o foi para o Filho. Até porque foi o filho que chamou a ditadura de ditabranda. De fato, foi branda com quem gozava vendo torturas e estupros.

    Por que a Folha não só não apoiou a Comissão Nacional da Verdade como fez de tudo para denegri-la? Elementar, meu caro Watson!

    Também não é difícil de entender porque a Folha e seus parceiros do Instituto Millenium dão pouco valor à democracia, às eleições, a ponto de diuturnamente alimentarem os golpistas de plantão. Por que a Folha nunca denunciou a Multilaser e o Banco Itaú por terem patrocinados os reis dos camarotes vips que xingaram Dilma na abertura da Copa do Mundo de 2014? Aliás, porque a Folha se recusa a chamar de Arena Corinthians e continua chamando de Itaquerão?

    Por que a Folha nunca fez uma capa condenando a má administração da Segurança Pública de São Paulo nas gestões do PSDB? Por que a Folha nunca atribuiu ao PSDB a responsabilidade pela falta de água em São Paulo? Por que a Folha se recusa a usar o termo racionamento e prefere usar “crise”, como se a falta de água fosse um problema psicológico do São Pedro?!

     

    SP: ex-delegado diz que ditadura fez atentados para desmoralizar esquerda

    Claudio Guerra assumiu ser autor de atentado no jornal o Estado de S. Paulo na década de 1980

    O ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra afirmou nesta terça-feira, à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, que foi o autor da explosão de uma bomba no jornal O Estado de S. Paulo, na década de 1980, e afirmou que a ditadura, a partir de 1980, decidiu desencadear em todo o Brasil atentados com o objetivo de desmoralizar a esquerda no País.

    Conheça alguns dos desaparecidos da ditadura

    “Depois de 1980 ficou decidido que seria desencadeada em todo o País uma série de atentados para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura política”, disse o ex-delegado em entrevista ao vereador Natalini (PV), que foi ao Espírito Santo conversar com Guerra.

    No depoimento, Guerra afirmou que “ficava clandestinamente à disposição do escritório do Sistema Nacional de Informações (SNI)” e realizava execuções a pedido do órgão.

    Entre suas atividades na cidade de São Paulo, Guerra afirmou ter feito pelo menos três execuções a pedido do SNI. "Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a execução”, afirmou o ex-delegado, dizendo que, mesmo para ele, as ações eram secretas.

    Guerra falou também do Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, a quem acusou de tortura e assassinatos. Segundo ele, Fleury “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a irmandade (grupo de apoiadores da ditadura, segundo ele)”, acusou.

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    O ex-delegado disse também que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.

    “Eu estava na cobertura, fiz os primeiros disparos para intimidar. Entrou o Fleury com sua equipe. Não teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.

    Guerra disse que recebia da irmandade “por determinadas operações bônus em dinheiro”. O ex-delegado afirmou que os recursos vinham de bancos, como o Banco Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a Ultragás e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), era amigo pessoal de Fleury”, afirmou.

    Segundo ele, a irmandade teria garantido que antigos membros até hoje tivessem uma boa situação financeira.

    ‘Enterrar estava dando problema’
    Segundo Guerra, os mortos pelo regime passaram a ser cremados, e não mais enterrados, a partir de 1973, para evitar “problemas”. “Enterrar estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar. Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina de Campos”, relatou.

    Terra

    SP: ex-delegado diz que ditadura fez atentados para desmoralizar esquerda – Terra Brasil

    04/06/2013

    Os dois lados?

    Filed under: Comissão da Verdade,Ditadura,Golpe Militar — Gilmar Crestani @ 9:16 am
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    Comissão da verdade e os tais dois lados

    Segundo  o historiador Thomas Skidmore, em “Brasil, de Castelo a Tancredo”, Costa e Silva foi acusado pelo general Moniz Aragão “de obter favores para seus parentes”. O ditador ficou fulo com o seu ministro do Exército, Lira Tavares, que não soubera manter a disciplina da tropa. Aragão, que era chefe do Departamento de Provisão Geral do Exército, perdeu, depois da sua carta-bomba, o cargo. Assim se constrói uma imagem.

    Os defensores da ditadura adoram criticar a Comissão da Verdade por ela não investigar os “dois lados” do que aconteceu durante o regime militar.

    É uma asneira ideológica reproduzida para confundir.

    A Comissão da Verdade não tem poder de punição.

    Mas poderá, quem sabe, levar a uma revisão da Lei da Anistia, o que permitiria o julgamento dos agentes de Estado, torturadores, jamais incomodados.

    Por que os resistentes à ditadura teriam de ser julgados duas vezes?

    A verdade é esta: eles foram julgados pela justiça militar.

    Deixemos de lado os exilados, os suicidados e os desaparecidos.

    Fiquemos só com julgados.

    Punição não faltou.

    A ignorância não pode ser argumento.

    Na apresentação ao livro “Como eles agiam – os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia política”, do historiador Carlos Fico, Jacob Gorender observa: “Com os dados hoje disponíveis, pode-se estimar que cerca de cinquenta mil pessoas tiveram, no período ditatorial, a experiência traumática da passagem pelos ‘porões’ e, destas, não menos de vinte mil foram submetidas à violência da tortura. Nos cerca de oitocentos processos por crimes contra a segurança nacional, e encaminhados à Justiça Militar, figuraram onze mil indiciados e oito mil acusados, resultando em alguns milhares de condenações”.

    Carlos Fico disponibiliza um anexo de uma fatia dos julgamentos:

    Crimes contra a segurança nacional. Número de denunciados, absolvidos ou condenados em primeira instância, cujas sentenças foram examinadas pelo Supremo Tribunal Militar através de recursos de apelação – 1970/1973

    Artigo crime denunciados absolvidos condenados
    43 Organizar entidade subversiva 211 142 69
    27 Assaltar banco 209 36 173
    14 Integrar entidade subversiva 178 80 98
    28 Assalto, sequestro, terrorismo 130 55 75
    45 Propaganda subversiva 114 72 42
    46 Usar armas privativas das FA 60 48 12
    42 Organização militar ilegal 32 23 9
    25 Provocar guerra revolucionária 30 6 24
    39 Incitar subversão 23 23
    33 Violência contra autoridade 20 8 12
    34 Ofender autoridade 20 19 1
    16 Propagar notícia falsa 19 14 5
    23 Implantar ditadura 17 17
    24 Insurreição armada 14 13 1
    47 Apologia do crime 9 6 3
    41 Perturbar reuniões oficiais 5 4 1
    36 Ofender presidente da República 4 4
    17 Falsificar prova 2 2
    21 Ofender presidente estrangeiro 2 2
    48 Fuga de presos 2 1 1
    44 Ultrajar bandeira nacional 1 1
    totais 1.102 514 528

    Crimes contra a segurança nacional em 1974

    Réus julgados: 234

    Aguardando julgamento: 359

    Absolvidos: 149

    Condenados: 47

    Outros resultados: 38

    Condenados por crimes contra a segurança nacional em 1974 segundos os artigos dos decretos-leis respectivos

    Decreto-lei artigo condenados
    314/67 12 1
    36 2
    25 1
    510/69 37 1
    25 2
    898/69 8 8
    11 11
    18 18
    27 e 50 3

    30/05/2013

    Comissão da verdade e ditadores da mentira

    Filed under: Comissão da Verdade — Gilmar Crestani @ 11:42 pm
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    A Comissão da Verdade e as viúvas da ditadura

    Postado por Juremir em 30 de maio de 2013 Roldão Arruda, O Estado de S. Paulo

    Em grupos que defendem a falecida ditadura militar é visível uma certa comoção a cada denúncia que aparece sobre as violências cometidas naquele período. Quando se fala em estupro, sequestro, ocultação de cadáver e outros crimes cometidos por agentes que atuavam acobertados pelo aparato do Estado, esses grupos torpedeiam portais de noticias, blogs e fóruns de leitores com mensagens destinadas a desvalorizar os relatos e a Comissão Nacional da Verdade.

    Dizem que deveria se chamar comissão da meia verdade e que foi criada pelo PT para investigar só os crimes cometidos por policiais e militares. Perguntam: e os crimes cometidos pelos militantes de esquerda que pegaram em armas, assaltaram bancos e cometeram outras violências?

    Também investem contra meios de comunicação e jornalistas: por que não mostram os dois lados? Por que desenterram o passado em vez de se preocupar com coisas mais importantes, como o mensalão e outras denúncias contra o PT? Por que o jornalista não diz que em 1964 o Brasil estava à beira de um abismo? Se não houvesse o golpe militar e a violência que trouxe em seu bojo, argumentam, teríamos virado uma Cuba.

    No fundo, continuam os mesmos. Não gostam da liberdade de imprensa.

    Ustra negou ter cometido crimes durante o regime militar.

    A ditadura controlava o que os jornais diziam. Notícias desabonadoras para o regime eram vetadas. A lista de assuntos interditos variava de denúncias de tortura a reportagens sobre casos de corrupção que grassavam no governo. Em 1974 chegaram a proibir notícias sobre a epidemia de meningite que apavorou São Paulo e causou centenas de mortes.

    Vigiavam as redações com a suspeita de que não passavam de valhacoutos de comunistas. Afinal, a quem interessava, senão aos comunistas, denunciar que o governo falhara na prevenção da epidemia de meningite?

    Para que dizer que opositores do regime eram arrancados de suas casas à noite, diante de mulheres e filhos, e levados para locais ignorados, sem direito a defesa, sem qualquer informação para a família, para os advogados e os juízes e sem qualquer possibilidade de habeas corpus?

    A retórica desses grupos precisa ser atualizada. Alguém acredita, sinceramente, que a imprensa não dá atenção ao mensalão? Que as lambanças do PT não são denunciadas?

    O mesmo se pode dizer em relação ao terrorismo de esquerda, lembrado pelo coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra em seu depoimento à Comissão da Verdade, após solicitar um habeas corpus na Justiça Federal. O insulto dele à presidente Dilma, chamando-a de terrorista, está velho e empoeirado. Já foi explorado de todas as maneiras desde o momento em que o nome dela começou a ser cogitado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo.

    Quantos aos militantes de esquerda que pegaram em armas, é mais que sabido que pagaram pelos seus atos. Uma parte deles foi caçada, localizada e executada barbaramente pelos agentes de Estado. A outra parte, a que sobreviveu, foi julgada e condenada à prisão por auditorias militares. A presidente Dilma teve a sorte de fazer parte do segundo grupo.

    Há milhares e milhares de páginas nos arquivos militares sobre cada um desses militantes. Ao contrários dos arquivos com informações sobre mortos e desaparecidos, elas são públicas.

    A questão central é que desde o fim da ditadura, em 1985, o Brasil tenta em vão descobrir a verdade sobre o que não foi dito, os fatos ocorridos nos porões do Estado autoritário. Foi para isso que a Comissão Nacional da Verdade surgiu.

    Ela nasceu de uma lei aprovada democraticamente no Congresso, com a tarefa de investigar e esclarecer as violações de direitos humanos cometidas pelo Estado contra cidadãos que deveria proteger. Não é uma exclusividade brasileira: todas as comissões da verdade criadas no mundo agiram da mesma direção.

    Seria mais interessante, a essa altura dos debates, que as viúvas da ditadura ajudassem a esclarecer os fatos investigados e prestassem atenção ao debate em torno da Lei da Anistia. Atacar a imprensa, o passado já demonstrou, não é o melhor caminho.

    Juremir Machado da Silva – Blogs – Correio do Povo | O portal de notícias dos gaúchos

    Conhecerás a verdade e só verdade te emputecerá

    Filed under: Comissão da Verdade,Ditadura,Golpe Militar,Lei de Anistia — Gilmar Crestani @ 7:56 pm
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    Brasil se estremece con los relatos de torturas de las mujeres de la dictadura

    "Yo lloraba y les pedía que me mataran. Ellos se reían. Eran los dueños de nuestras vidas y de nuestras muertes”, cuenta una víctima

    Juan Arias Río de Janeiro 29 MAY 2013 – 21:42 CET55

    Las mujeres que fueron torturadas durante la dictadura militar brasileña, en algunos casos por militares aún vivos, están desfilando ante la Comisión de la Verdad, instituida por la presidenta Dilma Rousseff para sacar a la luz las sombras aún ocultas de aquel período.

    Días atrás, Amnistía Internacional había pedido a la presidenta que contase en público cómo había sido torturada por los militares durante los tres años que estuvo presa. No sabemos si acabará haciéndolo antes de que la Comisión concluya sus trabajos, a finales del año que viene.

    Mientras tanto, los relatos de las mujeres están impresionando a la opinión pública brasileña que, con motivo de la ley de Amnistía sellada por ambos bandos acabada la dictadura militar para facilitar el paso a la vuelta de la democracia, ha vivido una especie de silencio sobre los horrores de aquellos años de terror.

    “Yo lloraba y les pedía que me mataran. Ellos se reían. Eran los dueños de nuestras vidas y de nuestras muertes”, ha contado la cineasta, Lucía Murat, que estuvo presa durante tres años y medio. Tentó dos veces el suicidio mientras estuvo presa. “Sufrí la peor sensación de mi vida, la de no poder morir”.

    Su cuerpo quedó parcialmente paralizado a consecuencias de las torturas. Además de los choques eléctricos mientras estaba colgada, colocaban cucarachas sobre su cuerpo (los agresores llegaron a poner una en su vagina). Lucía sufrió también lo que ha calificado de “tortura sexual científica”.

    “Me colocaban desnuda con un capuchón en la cabeza, una cuerda enrollada en el cuello pasando por la espalda hasta las manos, que estaban atadas detrás de la cintura”. Mientras el torturador la violentaba ella no podía defenderse. “Si intentaba mover mis brazos para protegerme yo misma me ahorcaba”.

    La cineasta ha querido señalar que aceptó relatar su experiencia no por venganza o masoquismo, sino porque considera “fundamental contar estas cosas y dejar de manifiesto que durante la dictadura en Brasil fueron practicados crímenes contra la humanidad”.

    Otra de las mujeres que ha hecho su confesión ante los miembros de la Comisión de la Verdad ha sido la historiadora Dulce Pandolfi, que era estudiante de Ciencias Sociales en la Universidad Federal de Pernambuco cuando fue apresada. Ese mismo año, 1968, había ingresado en el grupo de Acción Libertadora Nacional (ALN), organización de la izquierda armada.

    Fue detenida el 20 de agosto de 1970. Recuerda la frase que le dijo un militar en el momento en que entró en el cuartel de la Policía del Ejército: “Aquí no existe Dios, ni Patria, ni familia. Sólo nosotros”.

    Además de todo el ritual de torturas a las que eran sometidas las mujeres, Dulce sufrió el miedo de sentir un cocodrilo vivo sobre cuerpo. Durante una de las sesiones de tortura se desmayó. Llamaron al médico que la examinó y este les dijo a los torturadores: “Aún aguanta. Pueden continuar”.

    En una ocasión la usaron como conejo de indias en una clase para aprendices de torturadores. Oyó decir, mientras la colgaban: “esa es la técnica más eficaz”. Al final de la clase le dijeron que la iban a ejecutar: “Me levantaron el capuchón, me mostraron un revólver con una sola bala y estuvieron jugando a la ruleta rusa”.

    La entonces estudiante universitaria pasó por varios presidios. En total estuvo presa y fue sistemáticamente torturada durante un año y cuatro meses. “Es muy duro recordar aquella situación, pero es fundamental para que podamos construir un país más justo y más humano”, dijo al retirarse, visiblemente emocionada, ante el pleno de la Comisión de la Verdad.

    Por haber sido sancionada constitucionalmente la ley de Amnistía de la dictadura, en Brasil no podrán ya ser condenados los torturadores aún vivos. La Comisión tiene como finalidad arrojar luz únicamente sobre aquellos acontecimientos, muchos de ellos desconocidos hasta hoy.

    Brasil se estremece con los relatos de torturas de las mujeres de la dictadura | Internacional | EL PAÍS

    28/05/2013

    Conhecerás a verdade e a verdade te emputecerá

    Filed under: Comissão da Verdade,Ditadura — Gilmar Crestani @ 11:44 pm
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    Os crimes da ditadura têm que ser conhecidos

    Paulo Nogueira 28 de maio de 2013 5

    A Comissão da Verdade traz revelações doídas, mas essenciais.

    A historiadora Dulce Pandolf foi cobaia de tortura

    A historiadora Dulce Pandolf foi cobaia de tortura

    Os brasileiros estão sendo apresentados a relatos brutais de lesa humanidade ocorridos na ditadura militar, por conta da Comissão da Verdade.

    Hoje mesmo, ao depor no Rio de Janeiro, uma professora afirmou ter servido de cobaia numa lição de tortura.

    É duro saber essas histórias, mas é essencial.

    Elas ficaram, em grande parte, sob o tapete da história, em razão da Anistia de 1979 – melhor, Autoanistia, uma vez que foi construída pelo regime que perseguiu, torturou e matou milhares de brasileiros.

    Torturadores e assassinos foram torrencialmente beneficiados pela Anistia, e isso só foi bom para eles.

    Rever os crimes é vital, e rever a Anistia para que os responsáveis possam responder por eles é um ato de justiça, não de revanche.

    Na Argentina, Videla terminou seus dias na cadeia – e esse tipo de castigo é importante para que candidatos a golpes militares pensem duas vezes antes de se aventurarem.

    Uma das teses mais falaciosas que correm no Brasil é a de que o que está ocorrendo é uma “tentativa de revanche dos perdedores”.

    Perdedores?

    O que houve, ao longo da ditadura, não foi uma guerra. Foi um massacre. A ditadura ceifou a possibilidade de fazer política para a sociedade e depois, armada e com a retaguarda americana, triturou os que se insurgiram contra isso.

    Combate digno é Waterloo, Trafalgar, Estalingrado, entre forças equivalentes. No Brasil houve uma chacina covarde a pretexto — pausa para risadas — de evitar a “dominação comunista”, aspas.

    Quantos crimes não foram cometidos no mundo sob esse argumento cínico? Governos populares e democráticos como o de Mossadegh, no Irã, o de Arbenz, na Guatemala, e o de Allende, no Chile, foram derrubados sob essa mentira.

    No Brasil, a queda de João Goulart, em 1964, e a dizimação da esquerda, depois, obedeceram à mesma lógica hipócrita.

    O Brasil tem muitas tarefas a executar para se tornar uma sociedade avançada e deixar de ser um dos eternos campeões mundiais de desigualdade.

    Mas, para construir o futuro que todos desejamos, tem também que enfrentar o passado – e punir crimes que ficaram impunes, até para que eles não se repitam.

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    TAGS » Comissão da Verdade, dcm, Dulce Pandolf

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    O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

    Diário do Centro do Mundo – Os crimes da ditadura têm que ser conhecidos

    Não anestesia: auto anistia é hipocrisia

    Filed under: Auto Anistia,Comissão da Verdade,Ditabranda,Ditadura — Gilmar Crestani @ 11:01 pm
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    • VLADIMIR SAFATLE:  A farsa da anistia
    • Motivada por afirmações de membros da Comissão da Verdade referentes à necessidade de reinterpretação da Lei da Anistia, esta Folha abriu mais uma vez espaço importante para o debate a respeito do problema. Artigos assinados e editoriais apareceram nos últimos dias mostrando como esta é uma discussão da qual o Brasil não pode escapar.

      Neste momento, a Comis-são da Verdade começa a desmontar antigas mentiras veiculadas pelo regime militar, como assassinatos travestidos de suicídios e desaparecimentos ou aquela afirmação pa- tética de que as ações de tortura não eram uma políti-ca de Estado decidida pela alta cúpula militar. Ela também colocou à luz a profunda relação entre empresariado e militares na elaboração e gestão do golpe.

      No entanto, uma das maiores mentiras herdadas da- quele período é a história de que existiu uma anistia resultante de ampla negociação com setores da sociedade civil e da oposição. Aquilo que chamamos de "Lei da Anistia" foi e continua sendo uma mera farsa.

      Primeiro, não ouve negociação alguma, mas pura e simples imposição das condições a partir das quais os militares esperavam se autoanistiar.

      O governo de então recu- sou a proposta do MDB de anistia ampla, geral e irrestrita, enviando para o Congresso Nacional o seu próprio projeto, que andava na contramão daquilo que a sociedade civil organizada exigia.

      Por não ter representatividade alguma, o projeto pas-sou na votação do Congresso por míseros 206 votos contra 201, sendo todos os votos favoráveis vindos da antiga A- rena. Ou seja, só em um mundo paralelo alguém pode chamar de "negociação" a um processo no qual o partido governista aprova um projeto sem acordo algum com a oposição. Há de se parar de ignorar compulsivamente a história brasileira.

      Segundo, mesmo essa Lei da Anistia era clara a respeito de seus limites. No segundo parágrafo do seu primeiro artigo lê-se: "Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, de assalto, de sequestro e atentado pessoal". Por isso, a maioria dos presos políticos não foi solta em 1979, ano da promulgação da lei (por favor, leia a frase mais uma vez). Eles permaneceram na cadeia e só foram liberados por diminuição das penas.

      Os únicos anistiados, contra a letra da lei que eles próprios aprovaram, foram os militares que praticaram terrorismo de Estado, sequestro, estupro, ocultação de cadá- ver e assassinato. A Lei da Anistia consegue, assim, a proeza de ser, ao mesmo tempo, ilegítima na sua origem e desrespeitada exatamente pelos que a impuseram.

      VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.

    Indignação e indignidade

    Filed under: Comissão da Verdade,Janio de Freitas,Lei da Anestia,TSE — Gilmar Crestani @ 9:37 am
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    JANIO DE FREITAS

    É preciso que a divergência sobre a anistia encontre a trilha que leve o debate a uma resposta definitiva

    A divergência em torno da permanência ou superação da anistia gozada pelos que torturaram e assassinaram em nome do Estado, durante a ditadura militar, precisa encontrar a trilha que leve o debate, espera-se, a uma resposta definitiva.

    Dos pontos de vista moral, criminal e humanístico, os argumentos dos opositores à superação da anistia nem precisariam ser considerados, diante da maciça comprovação dos propósitos e feitos facinorosos da repressão efetivada por militares. Não há o que discutir, nem pessoa respeitável com quem discutir, se a anistia é defensável moral, criminal e humanisticamente.

    Ao responder "não" à pergunta "A Lei da Anistia deve ser revista?", embora aderindo àqueles pontos de vista contrários à anistia, o advogado José Paulo Cavalcanti Filho enveredou pelo território que a seu ver nega a revisão: o jurídico (Folha de sábado, pág. A3, e ainda no site do jornal). Cavalcanti vai a cada degrau jurídico do percurso de leis, tratados, artigos constitucionais e datas que o conduzem à sua conclusão. Abre as portas ao segundo veio da divergência.

    É por aí que o debate precisa se dar. A mera continuidade da anistia em desconsideração à grandeza das razões e à indignação que a repelem é, no mínimo, uma indignidade nacional a projetar-se sobre muito tempo ainda.

    Impor a superação da anistia, sem mais considerações, aplacará a justa indignação e restabelecerá o respeito por valores nela negados, mas essenciais. Mas tenderá a uma inversão acusatória não menos problemática do que a atual, não se sabe por que meios.

    Aos doutos, pois, a discussão produtiva, o quanto antes. No terreno em que a divergência se põe.

    TEM MAIS

    O Tribunal Superior Eleitoral recebeu representação, encaminhada pela vice-procuradora-geral Sandra Cureau, com pedido de multa à presidente da República e ao PT. Os dois estão acusados de propaganda eleitoral antecipada na forma dada a três inserções da propaganda gratuita do partido na TV.

    Ou a procuradora se lembra de fazer pedido semelhante para os programas muito mais explícitos de Aécio Neves / PSDB e Eduardo Campos / PSB, ou não escapará à desconfiança de que agiu por motivação pessoal. Sandra Cureau candidatou-se publicamente à substituição do procurador-geral Roberto Gurgel. Foi preterida por Dilma Rousseff.

    SERVIÇOX

    Ao pretender a venda de um negócio seu na Argentina, a Petrobras foi posta aqui sob suspeitas e logo acusações de negociata com grupos empresariais ligados a Cristina Kirchner, em particular o que controla também cassinos. Ao comunicar agora a desistência de vender, o noticiário pôs logo a Petrobras sob suspeita de motivações escusas.

    Não houve tempo nem de um contato informático com Buenos Aires. E o senador Álvaro Dias, prontamente ouvido, entrou com o disco de uma "investigação da imoralidade", a ser providenciada pelo PSDB.

    Boa ideia, aliás. Mas que faça o serviço completo: comece por aquela pretendida e frustrada troca do nome Petrobras para Petrobrax, no governo Fernando Henrique. E depois diga quanto era.

    25/05/2013

    A comissão de frente da mentira: quem teme a verdade sobre a ditadura?

    Filed under: Comissão da Verdade — Gilmar Crestani @ 11:03 am
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    O ministro, o general, o comissário?

    Por Luiz Cláudio Cunha
    Especial para o Sul21

    O Brasil descobriu nos últimos dias que a tropa de elite dos altos escalões da República que combate a verdade é mais forte e abusada do que se imaginava. Cerram fileiras ali, entre outros, o Ministro da Defesa, comandantes do Exército e da Marinha e até mesmo um dos sete ilustres membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que deve ser a primeira trincheira de seu resgate perante o país.

    As fantasias foram rasgadas, de vez, com a apresentação em Brasília, na terça-feira (21), do balanço do primeiro ano de atividades da CNV. Ali, com gráficos e documentos inquestionáveis, a historiadora Heloísa Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenadora da pesquisa da CNV, apresentou dados perturbadores sobre a repressão que marcou a ditadura de 1964-85. Entre eles, a grave acusação de que, em plena democracia, a Marinha mentiu para o Palácio do Planalto. Em 1993, o presidente Itamar Franco pediu dados sobre desaparecidos. A Marinha informou que os presos citados tinham fugido ou estavam sumidos. Baseada no cruzamento de 12.072 páginas do CENIMAR, o serviço secreto da Marinha, a equipe de pesquisa da CNV apurou que 11 pessoas daquela lista estavam mortas até dezembro de 1972 — e a Marinha sabia disso. Um dos mortos, cujo nome a Marinha sonegou a Itamar Franco, era o ex-deputado Rubens Paiva, preso e desaparecido em janeiro de 1971.

    “É o primeiro documento oficial que diz que Rubens Paiva está morto. A Marinha brasileira ocultou deliberadamente documentos já no período democrático”, declarou Starling. A Marinha reagiu no mesmo dia, burocraticamente, sem desmentir a acusação e sem rebater o que revelam seus arquivos secretos: “Não há qualquer outro registro nos arquivos desta Força, diferente daqueles encaminhamos ao Ministério da Justiça em 1993”, gaguejou a Marinha, em sua inconvincente nota oficial.

    Dias antes, quem tropeçou foi o Exército. No sábado, 11 de maio, o tenente-coronel André Alves, comandante do 2º Regimento de Cavalaria Mecanizada de São Borja (600 km a oeste de Porto Alegre) informou ao prefeito Farelo Almeida que o Exército não atenderia seu pedido para fazer a segurança do túmulo do ex-presidente João Goulart (1919-1976), filho ilustre da cidade e enterrado há 36 anos no cemitério local, o Jardim da Paz. A pedido da família Goulart, a CNV aprovou a exumação dos restos de Jango para esclarecer, com a ajuda de peritos internacionais, a suspeita de que o ex-presidente foi envenenado, no exílio, no marco da Operação Condor, a conexão repressiva que unia as ditaduras do Cone Sul na década de 1970.

    O oficial de São Borja disse ao prefeito que o pedido fora avaliado e negado por seu chefe imediato, o general Geraldo Antônio Miotto, comandante da 3ºª Divisão de Exército, baseada em Santa Maria.

    A alegação do general para a recusa soou sobrenatural: “A área não é jurisdição das Forças Armadas”. Estranho seria se fosse. Exércitos não existem para patrulhar cemitérios, embora a História mostre que eles costumem povoá-los com os mortos de guerras ou de golpes de Estado que eles patrocinam. O general definiu que a missão de vigilância cabia à Brigada Militar (a força pública estadual) ou à Guarda Municipal, esquecido que a questão central aqui não é a ‘área’, mas a missão que lhe incumbe neste caso dos restos mortais de Jango.

    Não compete a qualquer general definir que a guarda do cemitério, neste tema específico, seja encargo do Estado ou do Município. A decisão de exumar o ex-presidente derrubado em 1964 pelo Exército a que o general Miotto hoje serve não é preciosismo de lideranças municipais ou de comandantes estaduais. É uma decisão política do mais alto nível, adotada pela CNV em Brasília, articulada com a família Goulart e especialistas forenses de outros países, e que a ninguém mais cabe discutir. Ao Exército, como sempre, resta cumprir ordens.

    Ninguém é ingênuo para imaginar que a recusa institucional do Exército de dar segurança a esta missão federal seja mero rompante de um tenente-coronel de São Borja ou de um general de Santa Maria. Pelas implicações políticas envolvidas, parece óbvio que a recusa tenha sido acertada dentro da escala de comando. Pela cadeia hierárquica, progressivamente, o general Carlos Bolívar Goellner (comandante Militar do Sul), o general Enzo Martins Peri (comandante do Exército em Brasília) e o chefe de ambos, o embaixador Celso Amorim (ministro da Defesa).

    Todas estas estrelas fulgurantes não perceberam o dano político provocado pelo ‘não’ burocrático da guarnição militar do sul. Seria tão mais simples atender ao pedido elementar do prefeito, sem apelar para as tecnicalidades e pretextos jurídicos que só escancaram uma situação melancolicamente clara: o Exército não é parceiro da CNV e da sociedade brasileira na luta para descobrir a verdade.

    No caso emblemático de Jango, que marca a longa intervenção militar de duas décadas na vida do país, o Exército perdeu a grande chance (mais uma) de demonstrar ao país que é uma instituição nacional sem qualquer amarra a um passado de violência institucional, de subversão constitucional e de truculência repressiva que enodoam sua farda e sua história. O Exército da atualidade, como instituição da lei e da ordem constitucional, tem todos os motivos do mundo para atender sem constrangimentos à sua missão histórica e assumir os encargos que o Estado Democrático de Direito lhe impõe.

    Uma tropa do Exército zelando pela integridade de um cemitério sob investigação federal de relevante interesse histórico seria uma demonstração cabal, firme, eloquente, de que este Exército tem apenas o compromisso com o futuro, não com o passado que muitos tentam negar ou escamotear. Esta boba recusa de São Borja escancara um incompreensível alinhamento do Exército do Governo Dilma Rousseff, quatro décadas depois, com a postura ofensiva e indefensável do Exército do Governo Ernesto Geisel.

    Um serviu à ditadura de ontem que tremeu ao simples regresso do presidente, morto, à sua terra natal. O outro serve à democracia de hoje que ampara a plena investigação sobre a morte suspeita de um presidente respeitado pelo povo que o elegeu e temido pelo regime que o derrubou. A diferença ostensiva entre estas duas eras militares está decalcada na ficha impecável dos atuais comandantes militares do Brasil. Eles, como as tropas que hoje comandam, nada têm a ver com as truculências cometidas no regime derrocado pela democracia.

    O atual comandante do Exército, Enzo Martins Peri, 72 anos, chegou ao generalato em 1995, no primeiro Governo FHC, sem ter sujado as mãos com repressão e violações aos direitos humanos. Peri vem de um ramo técnico da força terrestre, a Engenharia, e era um segundo-tenente de 23 anos quando irrompeu o golpe de 1964. Entre a derrubada da Jango e a edição em 1968 do AI-5, ele hibernou num asséptico batalhão de engenharia no Rio de Janeiro. Teve uma rápida passagem pela 2ª Seção (área de informação) do discreto 1º Grupamento de Engenharia e Construção de João Pessoa, na Paraíba. Atravessou ileso a turbulenta década de 1970, imune aos desmandos de seus colegas de farda.

    Seus outros dois companheiros de comando desfrutam da mesma presunção de inocência. O almirante Júlio Soares de Moura Neto, 70 anos, comandante da Marinha, completou 21 anos apenas 11 dias antes do golpe de 31 de março. Apenas cinco meses após a queda de Jango é que Moura Neto vestiu a farda de guarda-marinha. Nos anos cinzentos da década de 1970 manteve sua ficha politicamente alva como seu uniforme de capitão-de-corveta. Chegou ao almirantado também no Governo FHC, em 1995. O brigadeiro Juniti Saito, 70 anos, comandante da Aeronáutica, virou aspirante da FAB apenas no final de 1965, 19 meses após o golpe militar. Chegou a capitão em 1971 e terminou a década maldita como major, sem sobrevoar a área mais turbulenta da Força Aérea, liderada pelo brigadeiro e radical João Paulo Burnier. Foi promovido a coronel em 1988 no Governo Sarney e chegou a brigadeiro em 1995 com FHC.

    Soa, assim, incompreensível a má vontade ou simples incompreensão dos altos mandos militares brasileiros com a tarefa elementar de recuperar a verdade histórica do país, especialmente nos anos encobertos do regime militar. Os comandantes e seus subordinados não têm nenhuma razão para avocar as dores e as culpas de um passado que não lhes cabe assumir, nem respaldar, muito menos esconder. A apuração dos malfeitos dos militares da ditadura deveria ser o principal interesse dos militares da democracia, pelo resgate incondicional da verdade que, nunca apurada, acaba confundindo as atuais Forças Armadas com os crimes no passado de maus chefes e companheiros de armas e de violência contra os cidadãos e contra as leis do país.

    Os comandantes brasileiros poderiam se inspirar no exemplo de seus colegas vizinhos da Argentina e do Uruguai, que fizeram com mais firmeza a transição da ditadura para a democracia. Em solo argentino, sede da mais virulenta ditadura da região, mais de 200 militares argentinos já foram condenados pela Justiça e outros 800 aguardam julgamento, enquanto 15 foram sentenciados à prisão perpétua — o mais famoso deles, o general Jorge Rafael Videla, morreu numa cela comum no último dia 17, aos 87 anos, 30 anos após a queda do regime militar. Os generais da democracia não se sentiram comprometidos com os crimes de seus antecessores, os generais da ditadura, responsáveis pela sangrenta marca de 30 mil mortos e desaparecidos, segundo as entidades de direitos humanos da Argentina.

    A prova dessa diferença crucial apareceu nas telas de TV do país, em abril de 1995, no Governo Carlos Menem, quando o programa de entrevistas mais famoso da época, o Tiempo Nuevo, do jornalista Bernardo Neustadt, recebia no estúdio a maior autoridade militar do país, o general Martin António Balza, comandante supremo do Exército. Fardado, sereno, o general tirou do bolso um papel com anotações e falou, para espanto geral:

    — Sem buscar palavras inovadoras, mas apelando aos velhos regulamentos militares, aproveito esta oportunidade para ordenar uma vez mais ao Exército, na presença de toda a sociedade: ninguém está obrigado a cumprir uma ordem imoral ou que se afaste das leis e dos regulamentos militares. Quem o fizer incorre em uma conduta viciosa, digna da sanção que sua gravidade requeira. (…) Sem eufemismo, digo claramente: delinque quem vulnera a Constituição nacional. Delinque quem emite ordens imorais. Delinque quem cumpre ordens imorais. Delinque quem, para cumprir um fim que crê justo, emprega meios injustos e imorais. A compreensão desses aspectos essenciais faz a vida republicana de um Estado. (…) Em nome da luta contra a subversão, o Exército derrubou o governo constitucional e se instalou no poder em forma ilegítima, num golpe de Estado. Venho pedir perdão por isso e assumir a responsabilidade política pelo desatino cometido no passado. No poder, o Exército cometeu ainda outros delitos. O Exército prendeu, sequestrou, torturou e assassinou – tal qual o fizeram os delinquentes subversivos – e muitos de seus membros viraram delinquentes como eles — disse o general Balza.

    Uma catarse parecida ocorreu em outubro de 2012, no Uruguai, quando uma equipe de antropólogos encontrou os restos de uma ossada ao escavar o quintal do Batalhão de Paraquedistas nº 14, na cidade de Toledo, a uns 30 km do centro de Montevidéu. A perícia preliminar constatou ser o cadáver de um homem de quase 70 anos, executado com um tiro na testa, com as mãos amarradas às costas, os tornozelos imobilizados por arame. O que mais chocou o Uruguai foi a revelação da identidade do morto, um dos desaparecidos mais famosos do país: o professor e jornalista Júlio Castro, sequestrado no centro da capital em agosto de 1977 aos 68 anos, era um educador respeitado, versão local de Paulo Freire, e um dos fundadores do mítico semanário Marcha, fechado pela ditadura um ano após o golpe de 1973.

    Mas, nada surpreendeu mais aos uruguaios do que a entrevista, em 5 de dezembro, do supremo comandante do Exército, general Pedro Aguerre, que convocou os jornalistas para falar sobre o macabro achado no quartel dos paraquedistas:

    — O Exército nacional não aceitará, não tolerará, nem acobertará homicidas ou delinquentes em suas fileiras. Aquele que está falando com vocês comete erros diariamente, como qualquer ser humano, mas hoje estamos falando de crimes, essa é uma linha que este Comandante e seu Exército não cruzarão. Não tenho conhecimento de um pacto de silêncio para acobertar crimes dentro da Força que comando e, mesmo desconhecendo se existiu ou ainda existe até hoje tal pacto, neste momento dou a ordem de sua suspensão imediata — trovejou o general Aguerre.

    É difícil imaginar um militar brasileiro, menos ainda um general, com a coragem e a altivez para uma declaração semelhante ou uma atitude parecida. Mas é fácil imaginar o efeito regenerador que um episódio assim teria sobre a imagem das Forças Armadas e sobre a autoestima nacional. Chefes com a nobreza e a clareza de princípios dos generais Balza ou Aguerra ainda não foram ouvidos ou percebidos nas fileiras do Brasil. Ninguém aqui assumiu responsabilidade pelos desatinos do passado, nem chamou de delinquentes aos camaradas fardados que vulneraram a Constituição ou emitiram ou cumpriram ordens imorais. Não chegaram à grandeza de qualificar como golpista ao próprio Exército que, em nome da luta contra a subversão, derrubou o governo constitucional e se instalou no poder de forma ilegítima.

    Assim disse o general na Argentina, assim não disse nenhum general no Brasil.

    Ao contrário do que se ouviu do bravo general argentino, jamais se ouviu um pedido de perdão semelhante de qualquer general brasileiro.

    As verdades que começam a emergir com o trabalho da Comissão Nacional da Verdade produzem uma natural reflexão sobre a Lei da Anistia de 1979. Na verdade, uma autoanistia concedida pela ditadura, em agosto de 1979, quando o último dos cinco generais do ciclo militar ainda usurpava o Palácio do Planalto. Votada num Congresso emasculado pelo AI-5 e manietado pelas cassações, a lei desenhada pelo regime de força confiava na sua confortável maioria parlamentar — 221 cadeiras da ARENA, a sigla da ditadura, contra 186 do MDB, a legenda da oposição. Ainda assim, a anistia da ditadura que nivelava torturados e torturadores pelo manto da impunidade só passou por magros cinco votos — 206 contra 201.

    A esmagadora maioria da CNV manifestou publicamente a certeza de que, na sequência da verdade resgatada, virá a justiça negada. Ou seja, a reinterpretação da Lei da Anistia, despojada dos freios que ainda hoje mantêm impunes os agentes públicos que cometeram graves violações de direitos humanos, como torturas, desaparecimentos forçados e mortes.

    Curiosamente, o ministro da Defesa, Celso Amorim, recusa esta evolução do pensamento. Certamente mais por má vontade do que por ignorância, Amorim disse o que não lhe foi perguntado: “O Governo Dilma não respalda qualquer tentativa de revisão da Lei de Anistia”. Mais preocupado em tranquilizar os quartéis do que a sociedade civil que deveria representar como ministro das Forças Armadas, Amorim bem sabe que revisão de lei não cabe nem ao Executivo, muito menos à Comissão da Verdade.

    Essa é uma atribuição exclusiva do Congresso Nacional, onde hoje tramita uma lei da deputada Luiza Erundina (PSB-SP) que trata não da revisão, mas da reinterpretação da Lei da Anistia. Ela continuará prevalecendo para os crimes políticos, não para os delitos comuns, como a tortura praticada por agentes públicos e que representam crimes de lesa-humanidade, como reconhece o mundo civilizado e até o Brasil, pelos acordos internacionais que assinou e que o país não cumpre.

    O mais surpreendente não é a deserção do Exército no cemitério de São Borja, nem a nota oca da Marinha que mentiu para um presidente da República, nem a frase evasiva do Ministro da Defesa incondicional dos militares. O que mais espanta, neste momento, é a manifestação despropositada de um dos comissários da Comissão Nacional da Verdade, o advogado José Carlos Dias, tentando estender o manto da impunidade que cobre o país e seus torturadores há longos 34 anos. “O objetivo da CNV não é punitivo. Eventualmente, os fatos apurados poderão ser objeto de uma ação do Estado. Mas não cabe à Comissão da Verdade fazer este tipo de recomendação”, disse Dias ao jornal Folha de S.Paulo de quarta-feira, 22, tentando impor sua vontade solitária ao colegiado da CNV.

    As recomendações serão dadas só no relatório final da CNV, que deve prolongar seus trabalhos até o fim de 2014. Nesse campo, esperava-se bem mais do advogado Dias, dono de uma respeitável biografia como advogado de presos políticos durante a ditadura, presidente da Comissão de Justiça e Paz do bravo cardeal Paulo Evaristo Arns e ministro da Justiça do Governo FHC. A pregação pró-impunidade do comissário Dias conflita com o pensamento dos principais juristas e tribunais internacionais. E tromba, principalmente, com seus próprios companheiros de CNV. “As autoanistias, dentro do direito internacional, não valem. Se nós estamos de acordo com isso, nós vamos ter, sim, que recomendar que esses casos sejam judicializados pelo direito interno”, disse a advogada Rosa Cardoso, que acaba de assumir a coordenação da CNV.

    O cientista político Paulo Sergio Pinheiro concorda: “A minha posição é idêntica à da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que em 2010 entendeu que as graves violações aos direitos humanos no Brasil devem ser punidas”. Outro comissário, Cláudio Fonteles, procurador-geral da República no Governo Lula, acentua: “Se entendermos que a lei deve ser revista e que a anistia não deveria ter sido recepcionada pela Constituição, vai constar no documento final, no espírito das recomendações”.

    Alguém poderia lembrar ao comissário José Carlos Dias que o Brasil não pode ignorar nem descumprir a sentença da Corte da OEA, que condenou o Brasil pelas mortes e desaparecimentos forçados no combate à guerrilha do Araguaia, exigindo punição aos responsáveis por estes crimes. Quem se opõe à punição aos torturadores está, também, fazendo oposição à consciência jurídica internacional que não compactua com as violações aos direitos humanos e não admite a prescrição para crimes de lesa-humanidade.

    O Exército, a Marinha, o ministro Amorim e o comissário Dias não podem fingir que servem à verdade e ao país, quando apenas maculam a memória e a justiça. Para combater as trevas da violência e do arbítrio, continuam valendo as últimas palavras que o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) pronunciou no leito de morte: “Luz! Mais luz!”.

    Luiz Cláudio Cunha é jornalista
    cunha.luizclaudio@gmail.com

    Sul 21 » A comissão de frente da mentira: quem teme a verdade sobre a ditadura?

    08/05/2013

    Para as viúvas da ditadura que são contra a Comissão da Verdade

    Filed under: Comissão da Verdade,Ditadura — Gilmar Crestani @ 9:04 am
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    Una mirada al dolor de la dictadura argentina

    Una muestra fotográfica recuerda a las víctimas del régimen de Videla

    Alejandro Rebossio Buenos Aires 7 MAY 2013 – 10:28 CET7

    Fotografía del álbum personal de un familiar de un desaparecido.

    María Elsa Garreiro Martínez nació en Pontevedra en 1945. A los cuatro años, ella y su familia migraron a Uruguay. Elsa se hizo uruguaya y militó en la guerrilla Tupamaros. Se exilió en Argentina, donde formó familia con Raimundo Villaflor, obrero integrante de las Fuerzas Armadas Peronistas (FAP). Ambos desaparecieron en la última dictadura militar de Argentina (1976-1983), pero ella salió una vez de su cautiverio de la Escuela Mecánica de la Armada (ESMA), escoltada por el temible marino Ricardo Cavallo, para ver a sus hijas, Elsa y Laura, y les llevó unas muñecas que les hizo mientras estaba secuestrada. La foto de una de esas muñecas, que han servido como prueba en los juicios sobre los crímenes de la ESMA, forman parte de la exposición del Proyecto Tesoros, una serie de 11 fotografías de objetos que hijos de desaparecidos por el régimen han guardado de sus padres. La muestra se puede visitar hasta el 19 de mayo en la Manzana de las Luces, una de las más antiguas de Buenos Aires.

    El llamado Colectivo de Hijos, integrados por quienes se definen como “huérfanos producidos por el accionar genocida del Estado”, decidió crear en 2010 un centro documental que registrara pertenencias que conservaran de sus padres asesinados o desaparecidos por el régimen. Algunos de ellos los restauran, unos los fotografían y otros han hecho entrevistas en vídeos en las que los hijos, que en general son adultos de más de 30 años, explican, con el objeto en la mano, lo que él representa para ellos. Los vídeos se pueden ver en la muestra, pero tanto este material como las 11 fotografías y otras más están presentadas en una página web, www.proyectotesoros.org.

    “Esta modalidad abre un espacio para una nueva clase de relato, que no es la denuncia ni el testimonio”, dice el Colectivo de hijos. “Un relato donde aparece lo subjetivo, la experiencia propia de la filiación en la ausencia a través de los objetos que nos conectan con la materialidad de la vida cotidiana de nuestros padres. Así, el Proyecto Tesoros apunta a visibilizar diversos modos de experimentar la orfandad por la acción genocida del Estado”, explica la agrupación. Entre los objetos fotografiados hay una cámara fotográfica, un cubilete con dados, una prenda de bebé y una botella.

    Esta iniciativa, que cuenta con el apoyo del Fondo Nacional de las Artes y del Instituto Espacio para la Memoria, pretende ir más allá del Colectivo de hijos. “Queremos que abarque la mayor cantidad de hijos de desaparecidos que haya”, explica María Toninetti, que integra el colectivo y trabaja en la restauración y conservación de papeles en el Archivo de la Memoria. “La idea del Proyecto Tesoros surgió porque algunos hijos tenían documentos que estaban deteriorándose. Cuando empezamos a darle forma al registro de los objetos, nos dimos cuenta de que no tenía mucho sentido hacerlo sin registrar también nuestro relato sobre esos objetos. No queríamos centrarnos en los dueños del objeto sino en nuestra propia historia. Queríamos contar cómo llegó ese objeto a nosotros, si siempre estuvimos con él o nos lo dio un compañero de militancia o un familiar, o lo tuvimos que ir a recuperar. Tenemos historias fragmentadas que cada uno ha ido armando”, explica Toninetti.

    Laura Villaflor, que con su hermana recibieron aquellas muñecas de su madre secuestrada, relata en la página web del proyecto: "Esas dos muñecas permanecieron guardadas en el fondo de una caja con ropa, escondidas, podría decir clandestinas. Los abuelos tenían miedo de que alguien se las llevara como a sus hijos. Cuando las saqué de la caja debía tener ocho años más o menos. Recuerdo ese momento la congoja y la tristeza que sentí, las miraba y les buscaba algo. Las desarmé y rearmé buscando una carta o algo que hablara de mi mamá. Nunca juegué con ellas. Era algo que se cuidaba, pero con lo que no se jugaba. No se mostraron hasta que nosotras empezamos a llevarlas, viajaron a España (cuando el entonces juez Baltasar Garzón inició la investigación judicial contra los represores argentinos en los 90) y a México (donde estaba refugiado Cavallo), llevamos de forma mágica a mi mamá a los juicios por sus asesinos y mi mamá habló por medio de las muñecas, reforzó la palabra, con su voz de la cual no tengo registro. Hablo del espanto, pero también hablo del amor, siendo ellas una de las pocas pruebas materiales de la causa ESMA".

    Así como las organizaciones de defensa de los derechos humanos dicen que hubo 30.000 desaparecidos en la dictadura, Toninetti señala que “no se sabe cuánto hijos de desaparecidos hay, es una población que no está visible”. En su colectivo calculan, a partir de archivos de la Secretaría de Derechos Humanos, que son 14.000 los “huérfanos”.

    Así como en los 90 surgió Hijos por la Identidad y la Justicia contra el Olvido y el Silencio (H.I.J.O.S.), una agrupación de derechos humanos que reclamaba que se acabara con la impunidad contra los represores del régimen, en los 2000, en que se ha vuelto a juzgarlos y condenarlos, algunos formaron el Colectivo de hijos para comenzar otro relato. “Queríamos mostrar que no somos ‘hijos de’ sino huérfanos”, cuenta Toninetti. “En los 90 tenía sentido hacer visible la militancia de nuestros padres, pero ahora queremos hablar de nuestras historias. Y lo hacemos a través del arte. Muchas veces decimos que hay cosas que la palabra no puede expresar en su totalidad. El arte es una herramienta más para expresar lo que la palabra no puede contar. No está separado de lo político”, aclara la joven restauradora.

    Una mirada al dolor de la dictadura argentina | Cultura | EL PAÍS

    27/04/2013

    A ditadura espraiada agora se esconde em caixas

    Filed under: Comissão da Verdade,Ditadura — Gilmar Crestani @ 10:17 am
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    Em Buenos Aires, CNV identifica 66 caixas com documentos sobre ditadura militar

    Expectativa é que arquivos ajudem esclarecer violações de direitos humanos cometidas contra brasileiros na Argentina

    A CNV (Comissão Nacional da Verdade) identificou em Buenos Aires 66 caixas com documentos que podem ajudar a esclarecer violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar brasileira. Em visita oficial à Argentina, a CNV visitou arquivos e se reuniu com organismos de direitos humanos, integrantes da chancelaria e da Secretaria de Direitos Humanos.
    “Nessas caixas há um universo muito grande de informação sobre o Brasil que temos que analisar. Nos interessa especialmente informações sobre mortes e desaparecimentos, que é o nosso foco central, e sobre estratégias de colaboração entre os diversos países durante o período da repressão”, contou Paula Ballesteros, pesquisadora da CNV.
    A comissão pediu à Argentina informações sobre o período que vai de 1964 a 1985 e também colabora com dados de argentinos desaparecidos no Brasil durante a última ditadura militar do país vizinho (1976-1983).
    Agência Brasil

    Paulo Sérgio Pinheiro quer esclarecer possíveis violações dos direitos humanos contra brasileiros na Argentina
    Em entrevista coletiva na última sexta-feira (19/04), o coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro, afirmou que apesar de não existir um acordo formal entre Brasil e Argentina para intercâmbio de informações sobre a colaboração entre os regimes militares de ambos países, “há muita disposição para uma colaboração mais fluida e menos burocratizada, porque nós temos um prazo definido.” A CNV deve entregar um relatório final dentro de um ano, mas existe a possibilidade de que esse prazo seja estendido até o final de 2014.
    Tenório Jr.
    A CNV fez um levantamento inicial sobre cidadãos brasileiros desaparecidos, entre eles Tenório Cerqueira Júnior, pianista sequestrado em Buenos Aires em março de 1976, quando acompanhava Vinícus de Moraes e Toquinho em shows na cidade. Tenório Jr. está entre os 11 brasileiros desaparecidos na Argentina durante a última ditadura militar.
    “A troca de informações durante o período das ditaduras produzia muito material diplomático. Viemos à Argentina com a expectativa de encontrar o que não conseguimos encontrar no Brasil, mas ainda precisamos estudar o material”, explicou Paula. “Sobre o caso Tenório, não sabemos se são documentos novos ou similares aos que já temos lá, precisamos analisar.”

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    Paula Ballesteros afirmou ainda que é possível que apareçam mais casos de brasileiros vítimas da ditadura argentina a partir do julgamento no país de repressores acusados de violações de direitos humanos no marco da Operação Condor, uma aliança político-militar entre os regimes ditatoriais da América do Sul que permitia a expansão da repressão para fora das fronteiras de cada país.

    EBC

    O pianista Tenório Júnior em foto nos anos 70; ele desapareceu em Buenos Aires quando acompanhava Vinícius de Moraes e Toquinho 
    A fase de instruções do julgamento na Argentina já foi encerrada e não há cidadãos brasileiros incluídos entre as 106 vítimas, mas Paula acredita que a parte oral do juízo possa trazer novas informações. “Na medida em que os depoimentos tragam novos dados, a procuradoria argentina vai nos informar”, afirmou.
    Intercâmbio de informações
    A CNV visitou arquivos da chancelaria argentina nos quais há documentos desclassificados sobre a colaboração entre as ditaduras da América do Sul, mas Paulo Sérgio Pinheiro afirmou que, caso surjam dados relevantes, é possível pedir o acesso a novos arquivos, também em outro países.
    As autoridades de direitos humanos dos países do Mercosul também discutem um convênio para intercâmbio de informação jurídica, mas Paulo Sérgio Pinheiro não descarta um acordo bilateral entre Brasil e Argentina. “Não chegamos a nenhuma formulação de instrumento entre os dois países, o que não está excluído”, disse.
    A próxima visita da Comissão Nacional da Verdade será ao Paraguai, onde os pesquisadores irão analisar os arquivos da Operação Condor.

    Opera Mundi – Em Buenos Aires, CNV identifica 66 caixas com documentos sobre ditadura militar

    03/04/2013

    Que venha a verdade

    A Comissão da Verdade poderia começar ouvindo as cinco famílias que mais enriqueceram com a Ditadura: Civita, Mesquita, Frias, Marinho & Sirotsky! Até porque foram os grupos mafiomidiáticos que mais se empenharam, em editorial, preparando o golpe. E, dado o golpe, se locupletaram. A Folha, inclusive, emprestava suas peruas para transportar presos, clandestinamente, ao matadouro do DOI-CODI.

    Comissão da Verdade quer ouvir civis sobre a ditadura

    Delfim Netto, que foi ministro da Fazenda durante o regime militar, deverá ser um dos convocados a depor

    DE SÃO PAULO

    A Comissão Nacional da Verdade já identificou cerca de 250 agentes suspeitos de colaboração com a ditadura militar e pretende convocá-los para depor, disse o coordenador do grupo, Paulo Sérgio Pinheiro, ontem em São Paulo.

    Ele não detalhou quantos e quais já foram ouvidos, e defendeu o sigilo da maior parte das investigações para que os depoentes colaborem. "Queremos indicar as autorias [dos crimes], e não há forma de fazer isso sem oitiva discreta", disse.

    Também participaram da entrevista com jornalistas os integrantes da comissão José Carlos Dias, Rosa Maria Cardoso e Maria Rita Kehl.

    A advogada Rosa Maria Cardoso ressaltou que a comissão também quer ouvir civis que tenham colaborado para a articulação do golpe de 1964 e para o financiamento do regime ditatorial, entre eles políticos e empresários.

    "Se hoje se ressalta tanto o elemento civil, dizendo que o golpe foi civil-militar, é preciso que isso fique elucidado", disse ela.

    Um dos civis que o comitê pretende convocar é o economista Antonio Delfim Netto, que foi ministro nos governos de Costa e Silva e Médici (Fazenda) e de João Baptista Figueiredo (Agricultura).

    Delfim foi um dos signatários do AI-5, que endureceu o regime e instituiu a censura prévia a partir de 1969.

    A assessoria de Delfim disse que ele não se pronunciaria, uma vez que ainda não foi oficialmente convocado.

    Entre os militares, o grupo quer convocar o coronel reformado Carlos Alberto Ustra, que chefiou o DOI-Codi em São Paulo de 1970 a 1974.

    O advogado dele, Paulo Esteves, disse que, se convocado, Ustra poderá comparecer e deverá ser coerente com os depoimentos que já prestou até hoje, em que nega ter praticado tortura.

    Pinheiro disse ontem que a comissão já identificou 250 arquivos que possam conter documentos da ditadura, mas que o grupo só teve acesso a 50 deles.

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