JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA, é também ele, um peessedebista. Aí mora a razão pela qual defende com unhas e dentes Cláudia Costin. Além de números, de que mais entende Costin? Não se sabe, apenas de que se trata de gestora experiente. E eu que sempre pensei que em educação fosse determinante um educadora experiente. Números? Ontem mesmo o jornal informou que escolas privadas escolhiam só os melhores alunos para prestarem exames do ENEM, aí melhorava o desempenho. Tudo pelos números. O meritismo é bom, até para meretrizes, mas em que consiste quando se trata de educação?
O demérito não está na nova eleita para brincar com números, mas na ausência de alguém com perfil de esquerda para ocupar uma pasta tão importante. De tanto voltar-se para a direita o PT vai ficando cada vez mais parecido com o PSDB. A Operação Porto Seguro mostra isso. Traz de volta os tempos de Eduardo Jorge, Pérsio Arida, Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio. Tudo de novo, não! A diferença é que agora a Polícia Federal, ao invés de arrancar maconha no Polígono da secas, como no governo FHC, combate corrupção.
A maior invenção da Cláudia Costim foi o PDV nas Universidades Federais. O que não saiu voluntariamente, se aposentou precocemente. Com mais esta o sobrenome Mercandante já pode ser trocado por Mercantil.
Corporativismo, de novo, contra a educação
Certos professores e sindicatos são a força do status quo no ensino. Beneficiários dele, são rápidos em declarar inimigo quem quer avaliar resultados
Cláudia Costin é secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro e foi ministra da Administração no governo FHC. Como gestora experiente, ama falar em resultados.
Aloizio Mercadante, ministro da Educação e economista, sabe disso e ama Cláudia Costin. Ele a convidou para assumir a Secretaria de Educação Básica da sua pasta.
Mas, nessa história de amores, há quem não ame resultados nem, claro, Cláudia Costin.
Um grupo de professores universitários organizou um abaixo-assinado protestando contra o convite feito a ela feito por Mercadante. Foram seguidos por milhares de adeptos e por entidades como a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
O texto do abaixo-assinado traduz o atraso da educação no Brasil: repete surrados jargões anti-imperialistas, defende as fracassadas ideias dos seus autores, que tiram do baú a velha cantilena da esquerda ultrapassada.
Segundo os autores, Cláudia é o arauto das forças internacionais que conspiram contra os pobres brasileiros. Ela milita pela desqualificação da educação, pois implementa propostas que anulam o senso crítico do aluno, cria bônus para premiar desempenho de professores e aniquila "sujeitos históricos", como os professores e os alunos.
O manifesto ainda diz que pessoas como Cláudia Costin devem ser evitadas na administração pública, para que não reduza os alunos a "indivíduos médios, reproduções de tipos ideais que incorporam todos os traços e qualidades de que se nutrem as comunidades ilusórias".
Entendeu? Nem eu. Mas pessoas que escrevem assim são as que vêm ditando os rumos da educação.
Os autores concluem protestando contra o arbítrio economicista, degradante e mutilador que a presença de Cláudia no ninho petista traria à educação básica.
Após quatro ministros, o PT ainda não sabe se tem agenda para a educação. E agora Mercadante convida essa cruel megera para pousar num ninho onde tucano não deve pousar?
Os que querem manter o status quo não se conformam. A velocidade e intensidade da reação ilustram a virulência dos beneficiários do poder, que não abrem mão de suas ideologias, nem diante dos retumbantes fracassos de suas propostas.
Mercadante jogou a sua cartada. O recado foi dado. É preciso mudar.
É preciso libertar o MEC da prisão corporativista em que se meteu. Passou da hora de romper com o dogmatismo ideológico das universidades e núcleos que propagam ideias equivocadas e ineficientes há décadas.
É preciso avaliar o resultado das décadas de cursos inócuos para capacitar professores. É preciso saber onde foram os bilhões de reais destinados a cursos de alfabetização de adultos e à formação profissional improvisada e avaliar os resultados desses cursos. É preciso dar espaço a quem tem resultados para mostrar e estimular iniciativas que possuem evidência comprovada de sua eficácia.
Por fim, é preciso alfabetizar as crianças aos seis anos de idade, como se tenta fazer no Rio, e usando estratégias e métodos adequados, como se faz em Sobral há vários anos, e não até os oito, como propõem os sectários que se apropriaram dos canais de decisão do MEC.
O estrago foi feito. Mercadante sinaliza que quer romper com o imobilismo dos que vêm imobilizando o MEC, especialmente na área de educação básica.
Cláudia já comunicou ao ministro que não aceitará a oferta, mas o estrago dentro do PT está feito. Mercadante está na linha do pênalti. Se marcar o gol, será vaiado pela plateia cativa. Mas poderá ser aplaudido pelo Brasil.
–
JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA, 65, doutor em educação, é presidente do Instituto Alfa e Beto. Foi secretário-executivo do Ministério da Educação (1995, gestão FHC)