A Veja tinha o Demóstenes Torres; a RBS, Pedro Simon. A Veja tinha o DEM; a RBS, PMDB, PP e seus próprios funcionários. A Globo paira sobre ambas pois endossava Veja e encobria, sob suas asas, a filial a RBS. Todas as páginas cor de merda da Veja trazia políticos que, depois, se revelavam o que sempre foram. E só a Veja não sabia. Os tais de cavaleiros da ética, José Roberto Arruda & caterva faziam as páginas amarelas da Veja. Recentemente, Álvaro Dias, Fernando Francischini, Renan Calheiros e Eduardo Cunha adornam a galeria de heróis da Veja.
No Brasil, não há crime organizado sem a participação e organização do coronelismo eletrônico. Até porque o tráfico de informação é a moeda valiosa dos grupos mafiomidiáticos. À captura de FHC, mediante Miriam Dutra, seguiu-se a captura e cooptação, mediante espaço e emprego do filho, Joaquim Barbosa. Basta lembrar o passeio que Assas JB Corp proporcionou à funcionária da Globo pelas Costas Ricas… Não deu na Globo, mas internet revelou…
O avanço político do crime organizado
dom, 15/03/2015 – 06:00 – Atualizado em 15/03/2015 – 08:45 –Luis Nassif
A lista HSBC expõe, de forma ampla, o que foi o ambiente cinza do mercado financeiro internacional depois da liberalização financeira, uma mixórdia onde se misturavam caixa 2, dinheiro do narcotráfico, do terrorismo internacional, da corrupção política, das jogadas financeiras.
É essa zona cinzenta que favorece a proliferação do crime.
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Na política também existe uma zona cinzenta, um cenário que favorece a expansão da influência do crime organizado. No caso brasileiro, a zona cinzenta ganhou dimensão quando o STF implodiu o sistema partidário e permitiu a proliferação dos pequenos partidos. E, depois, quando o financiamento privado de campanha decidiu investir na sua própria bancada, em vez de bancar políticos individualmente.
Sempre houve políticos bancados pelo crime mas, em geral, eram subordinados à organização partidária que restringia sua capacidade de atuação no Congresso. Com o pluripartidarismo à brasileira, esse disciplinamento deixou de existir. Abriu-se uma caixa de Pandora de difícil equacionamento, especialmente depois que os partidos majoritários passaram a se engalfinhar em uma luta fratricida.
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O avanço do crime organizado não se deu apenas na atividade parlamentar, mas também em outros territórios extra-institucionais, como a imprensa.
O episódio que inaugurou essa nova fase foi a parceria entre a revista Veja e a organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. Não era mais a imprensa se aliando a colarinhos brancos sofisticados, a golpistas do mercado financeiro, a banqueiros suspeitos, mas à corrupção chula de bicheiros e contraventores.
Cachoeira elegeu um senador, Demóstenes Torres. Veja transformou-o em um cruzado contra a corrupção, deu-lhe status de celebridade no mercado de opinião. Com o poder conquistado, Demóstenes fazia os jogos de interesse de Cachoeira e da Abril.
A CPMI de Cachoeira poderia ser o início da grande luta política contra o crime organizado ao desvendar as ligações de Cachoeira com a Veja e com empreiteiras – como a Delta -, que por sua vez mantinham ligações estreitas com o mundo político, a começar do então governador do Rio Sérgio Cabral.
A CPMI mostrou a especialização que se formara no mercado de corrupção. O bicheiro prospectava contratos e licitações no setor público, passíveis de corrupção, uma atuação que poderia começar nas discussões de projetos de leis e emendas orçamentárias e se desdobrar por repartições públicas federais e estaduais; aliava-se a uma empresa parceira, que assumia a fase legal do projeto; garantia a blindagem com a parceria com a mídia e com os padrinhos políticos.
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O Ministério Público cochilou ao não avançar nas investigações abertas pela CPMI de Cachoeira. Seria o ponto de partida para o início da verdadeira guerra contra a corrupção política mais visceral, aquela que envolve o crime organizado. A Lava Jato abre uma nova possibilidade para se desbaratar esse modelo, ao identificar seus desdobramentos regionais. E o MPF terá que sair da zona de conforto e enveredar por caminhos nunca dantes navegados: as interseções do crime organizado com o país institucionalizado, incluindo aí a mídia.