Ficha Corrida

21/05/2014

O Adão dos colonistas apareceu. Sem a parra…

Filed under: Alexandre Schwartsman,Colonista,Economia,Pena de Aluguel — Gilmar Crestani @ 8:08 am
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Descubra, antes que seja tarde, onde está a mão invisível do homem nu paraíso!

adao_eva1Vou começar esta ficha corrida do meliante pelo final. Ele tem um blog intitulado “mão invisível”. Fez parte de um governo cuja mão invisível pagou R$ 200 mil reais bem visíveis para conseguir a reeleição… A tese da mão invisível é irmã gêmea daquela de que devemos deixar o bolo crescer para só então dividir. A mão invisível é aquela que vence licitações da Alstom e Siemens levando para a Suíça milhões de reais dos cofres públicos e, de lambuja, põe o dono das mãos invisíveis na Presidência do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. O elemento foi Secretário de Assuntos Internacionais do Banco Central quando o mão invisível do patrão criou um tal de PROER para dar aquela mão amiga aos bancos. São parentes de um velho axioma jurídico: “dar a cada um o que é seu”, ainda hoje muito bem empregado por velhos Ministros do STF: dão ao pobre a pobreza, ao ricos, a riqueza!

Quem usa a mão leve e invisível odeia a transparência no uso dos recursos.

Sejamos claros. A mão invisível quer terminar com as políticas sociais como a Bolsa Família para ressuscitar o PROER. Continuar financiando com políticas fiscais de isenção para as grandes empresas que financiam seus correligionários que, uma vez eleitos, colocam novamente sua mão invisível para mexer com assuntos bancários. Odeia que o governo faça intervenção para introduzir políticas compensatórias, segure preços de tarifas de energia elétrica ou não aumente o preço dos combustíveis. O patrão que assina sua carteira de trabalho comemora quando empresas tucanas tenham lucro com a tarifa de energia elétrica encima do bolso da população. A mão invisível do porta-voz do 1% vai encher a Cantareira de água ou vai reduzir a tarifa da população da periferia que já sofre com a falta de água?

Para quem não entende a mão invisível, vou mostrar como funciona. O Hotel Plaza de Porto Alegre tem 9 (nove!) poços artesianos dentro da cozinha do hotel. Isso mesmo. Os hóspedes do Plaza tomam banho com água mineral. Se o DMAE ou a CORSAN não conseguirem, por qualquer carga d’água, fornece-la aos porto-alegrenses, a mão invisível do mercado garantirá aos hóspedes do Plaza sombra e água mineral fresca…

Adão Smith cunhou sua teoria para que gente como a Eva do colonismo se regozijasse com frases como esta: “Meus sinceros agradecimentos pela criação desse paraíso.

O paraíso perdido da mão invisível significa um pouco, migalhas, quase esmolas, para quem antes era apenas serviçal dos banquetes de que o colonista da Folha participava. Hoje, muitos destes já têm os filhos do colégio, viajam de avião e, vejam só, tiram férias. A torcida dos fracassomaníacos é igual àquele ditado gaúcho: “praga de urubu em cavalo gordo!”

QUE HORROR!

 

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

Paraíso nada perdido

Escrever a coluna toda semana se torna mais fácil graças à (falta de) qualidade da gestão econômica

Vivo no paraíso dos colunistas econômicos. Vejam só: na semana passada, duas das principais autoridades do governo vieram a público, cometeram afirmações contraditórias e conseguiram a proeza de estarem, ambas, erradas.

Começou com o ministro da Casa Civil admitindo que, sim, o governo controla preços para evitar que a inflação rompa de vez o teto da meta de inflação (6,5%). Justiça seja feita, o ministro não usou a expressão "controle de preços", mas "administração de preços", o que, obviamente, seria algo totalmente distinto, exceto por se tratar rigorosamente da mesma coisa.

A tese original do ministro é o "controle anticíclico" dos preços, inexplicada, todavia, talvez pela virtual impossibilidade de justificar a manutenção, por exemplo, de preços de energia baixos quando a demanda cresce à frente da oferta e os riscos de racionamento aumentam.

Pelo contrário, como se apren- de nos cursos de introdução à economia, o papel "anticíclico" dos preços é subir quando a demanda supera a oferta e vice-versa, certamente não o oposto, como defendido pelo ministro.

Já o ministro da Fazenda contestou a afirmação de seu colega, dizendo não haver controle de preços no Brasil. Se um desafiou a lógica, o outro desafiou os fatos. A expressão óbvia desse acontecimento é a inflação de preços administrados pelo governo ficar em patamar inferior à inflação dos preços não controlados desde março de 2010, mas não é sequer a face mais importante da questão.

A despeito das afirmações ministeriais sobre reajustes recentes de gasolina e mesmo energia elétrica (apesar das promessas de redução de tarifas), qualquer analista minimamente informado sabe que a Petrobras perde dinheiro porque vende combustíveis a preço inferior a que os compra no mercado internacional.

Não se trata, aliás, apenas do custo de oportunidade, que continuaria uma preocupação válida ainda que o país fosse (como não é) autossuficiente em combustíveis; é perda de caixa na veia, o que tem levado a um aumento expressivo do endividamento da companhia.

Fosse o ministro membro do conselho de administração da empresa, ele saberia, creio, dos problemas que isso causa. Opa; parece que ele é… Será que não explicam também essas coisas no conselho de administração da Petrobras?

Analistas minimamente informados poderiam alertá-lo também para o fato de que as empresas distribuidoras de energia passam pelo mesmo problema, ao serem obrigadas, por mais uma barbeiragem de política, a comprar energia no mercado à vista por preços muito superiores ao que vendem.

É segredo de polichinelo que as tarifas de energia têm que aumentar, sob pena de quebrar o setor, ou aumentar ainda mais o custo do Tesouro Nacional, mas que esse aumento não poderá ser realizado neste ano para não estourar o teto da meta, ainda mais no período eleitoral. É possível –se bem que não esteja 100% certo, confesso– que até o ministro da Fazenda consiga entender o problema, ainda que não tenha a coragem de expô-lo em público, muito menos de encaminhar uma solução.

É reveladora a paralisia administrativa do governo, que se recusa tenazmente a lidar com qualquer dificuldade, por mais urgente que possa ser, com receio das consequências eleitorais de políticas corretivas, seja no campo da inflação, dos preços controlados –perdão, "administrados"!– ou ainda dos gastos públicos.

Com a cabeça devidamente enterrada, o governo empurra todas as decisões relevantes com a barriga, na esperança de que os problemas se resolvam sozinhos. Enquanto a realidade se recusa a colaborar, ministros batem cabeças com gosto.

Por mais que meu lado economista torça pelo predomínio da racionalidade, tenho que admitir que minha tarefa de escrever uma coluna por semana se torna muito mais fácil graças à (falta de) qualidade da gestão econômica governamental. Meus sinceros agradecimentos pela criação desse paraíso.

aschwartsman@gmail.com

@alexschwartsman

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 51, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica e professor do Insper. Escreve às quartas nesta coluna.

www.maovisivel.blogspot.com

08/01/2014

Colonista nervosinho

Filed under: Alexandre Schwartsman,Clóvis Rossi,Colonista,Janio de Freitas,Nervosinho — Gilmar Crestani @ 8:14 am
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O ex-estafeta de FHC vive de publicar o que seus senhores pede. Vassalo de interesses privados, Janio de Freitas, colega dele na Folha, fez, na “A campanha da moda”, seu retrato definitivo:

“A propósito: com as alterações do Bolsa Família pelo Brasil sem Miséria, retiraram-se 22 milhões de pessoas da faixa dita de pobreza extrema. Com o Minha Casa, Minha Vida, já passam de 1 milhão as moradias entregues, e mais umas 400 mil avançam para a conclusão neste ano. A cinco pessoas por família, são 7 milhões de beneficiados com um teto decente, água e saneamento.

Da mesma linhagem de economistas – a que domina nos meios de comunicação–, Alexandre Schwartsman dá à política que produziu aqueles resultados o qualificativo de “aposta fracassada”, porque só deu em “piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governar o pragmatismo”.

“Infelizmente” e “aposta fracassada” para quem? Para os 22 milhões que saíram da pobreza extrema, os 7 milhões que receberam ou receberão um teto em futuro próximo, os milhões que obtiveram emprego, os milhões ainda mais numerosos que tiveram melhoria salarial?”

lula fhc collorOutro colega de Schwartsman, Clóvis Rossi, também na Folha, sob o título “Quem deveria ficar "nervosinho", descreveu:

“Há algo de profundamente errado em um país, um certo Brasil, em que os ricos choram (e de barriga cheia), ao passo que os pobres parecem relativamente felizes.”

Pelo jeito, só anda nervosinho na Folha o vira-bostas de um governo que foi uma bosta, campeão apenas em rejeição. FHC conseguiu ser mais impopular que Collor… Claro, mas os beneficiários do PROER, os banqueiros, estavam e continuam com ele até hoje.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

O ministro nervosinho

A falta de compostura do ministro compromete mais sua já escassa capacidade de formulação de política

Muito embora o ministro da Fazenda tenha afirmado que sua decisão de antecipar o anúncio do resultado fiscal do ano passado (presumindo que não esteja errado, como esteve em outubro) fosse destinada a "acalmar os nervosinhos", não é preciso muito esforço para perceber que são seus próprios nervos que se encontram à flor da pele.

Caso não estivessem, talvez lhe fosse possível perceber a futilidade da sua iniciativa. A começar porque só alguém muito divorciado da realidade poderia acreditar que a divulgação de um número tão conspurcado quanto o dado oficial do superavit primário poderia moderar os receios do mercado.

Ainda que, segundo o ministro, este tenha atingido um valor em torno de R$ 75 bilhões, sabe-se que apenas em novembro o montante de receitas não recorrentes atingiu nada menos do que R$ 35 bilhões, quase metade do saldo do ano. Na verdade, até novembro do ano passado, as receitas de concessões, dividendos e o Refis (o refinanciamento de dívidas tributárias em condições favoráveis) chegaram a R$ 59 bilhões. Assim, enquanto o número oficial do governo registra um superavit federal equivalente a 1,9% do PIB nos 12 meses terminados em novembro, o número corrigido –reflexo mais fiel do esforço fiscal– mal alcança 0,3% do PIB.

Nesse sentido, como todos os analistas sérios são capazes de corrigir tais dados (com pequenas diferenças de abordagem), ninguém deve ter ficado particularmente impressionado com o anúncio autolaudatório. Se o ministro esperava fanfarras em resposta à sua entrevista, deve ter ficado muito decepcionado.

Mais decepcionado, porém, ficou o mercado. Ao antecipar um resultado que nada vale e se esquivar de qualquer comprometimento mais firme acerca do desempenho fiscal futuro, a mensagem passada ao setor privado não poderia ser mais clara: não há nenhum plano que contemple a possibilidade de um ajuste fiscal neste ano que se inicia, nem talvez sequer nos próximos, dadas as convicções do governo sobre o tema.

A reação negativa, expressa na desvalorização da moeda e na elevação das taxas de juros, não ocorreu, assim, nem por acaso nem por força de fatores internacionais, mas sim em razão da percepção cada vez mais disseminada de piora dos fundamentos do país. Mais um tiro, enfim, que saiu pela culatra, marca registrada hoje em dia da gestão de política econômica no país.

Isto dito, o nervosismo do ministro também se escancara em sua relação com o mercado. Ao contrário de seus antecessores imediatos, que reagiam de forma serena mesmo quando divergiam da análise do setor privado, o ministro quase sempre busca o enfrentamento, apenas para mais tarde reconhecer –forçado pelas circunstâncias– seus equívocos crescentes, como, mais recentemente, no que se refere às mudanças de regras para as concessões de infraestrutura.

É natural, em face do desempenho medíocre da economia, que o ministro da Fazenda esteja sujeito a toda sorte de pressões, inclusive do próprio governo, cujos objetivos políticos dependem, em certa medida, de crescimento mais vigoroso do que o ostentado pelo Brasil nos últimos anos.

O que se espera, contudo, é que o titular do cargo tenha as condições de suportar essas tensões e que seja capaz de formular respostas efetivas aos problemas enfrentados no front econômico. Em particular, que suas falas não contribuam para o aprofundamento da crise de confiança que hoje assola o país.

Nesse último aspecto, a falta de compostura do ministro da Fazenda, mesmo depois que quase oito anos no cargo, revela sua inabilidade para trabalhar sob pressão e compromete ainda mais sua já escassa capacidade de formulação de política.

Num mundo caracterizado por preços elevados de commodities e liquidez mundial abundante, é mais fácil controlar os nervos; quando essas condições, porém, alteram-se para pior, quem não tem preparo fica mesmo "nervosinho".

alexandre.schwartsman@hotmail.com

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 50, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil no governo FHC.

24/10/2012

A explicação do chilique de Alexandre Schwartsman

Filed under: Alexandre Schwartsman,Banco Central,Bancos — Gilmar Crestani @ 9:35 am

A notícia ruim aos patrões de Alexandre Schwartsman explica seu nervosismo e o ataque ventríloquo ao Banco Central.

Juro baixo reduz ganho de bancos com crédito

Pressão por queda nas taxas estreita as margens do Bradesco e do Itaú

Lucro, no entanto, continua robusto; desaceleração também afeta resultado com empréstimos

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Seis meses após o governo iniciar a pressão para reduzir os juros, os bancos privados começam a exibir nos balanços um estreitamento nos ganhos com os empréstimos e uma diminuição na rentabilidade do negócio bancário.

Para analistas, esse pode ser o primeiro sinal do estrago que ocorrerá com o aumento da concorrência, mas também resultar, em parte, da desaceleração no crescimento da economia.

Apesar das pressões e da decepção com o PIB, os lucros seguem robustos no terceiro trimestre: R$ 2,862 bilhões no Bradesco, resultado 1,7% melhor do que o obtido no mesmo período de 2011, e R$ 3,371 bilhões no Itaú, queda de 11,4% em relação ao mesmo período de 2011.

No caso do Itaú, a chamada margem financeira (quanto o banco ganha com os empréstimos) manteve-se intacta em relação ao terceiro trimestre de 2011, quando os juros do governo estavam em 12% e não havia pressão para cortar juros. Só que o banco teve expansão de 9,2% no volume de crédito, o que deveria elevar essa margem.

A mesma coisa aconteceu no Bradesco, porém em menor escala. O segundo maior banco privado contabiliza a chamada margem financeira líquida, que são esses ganhos com empréstimos descontadas as despesas com provisão para calote. Essa margem subiu 0,2% -R$ 4,15 bilhões para R$ 4,16 bilhões do terceiro trimestre de 2011 até o terceiro trimestre deste ano.

Para os bancos, esse ganho reduzido no crédito significa uma menor rentabilidade patrimonial, principal indicador de retorno do dinheiro investido pelo acionista e a que melhor pode ser comparada com os juros do país.

HISTÓRICO

Historicamente, esses retornos eram acima de 20% no setor. No terceiro trimestre de 2011, ainda estava em 20,6% no Bradesco e em 21,39% no Itaú, segundo a Austin Ratings. Agora, estão em 17,14% e 17,05% no Bradesco e no Itaú.

"Caíram as margens e também as rentabilidades. Mais no Itaú do que no Bradesco porque ele está mudando o perfil dos empréstimos, apostando menos em financiamento com maior inadimplência, como veículos e micro empresas", disse João Augusto Salles, da Lopes Filho.

Segundo Rogério Calderón, diretor de Controladoria do Itaú, o banco preferiu trabalhar mais com empréstimos como consignado e o imobiliário, que têm menor calote. "Nesses segmentos, podemos elevar volumes e trabalhar com margens menores."

Ventríloquo do Instituto Millenium

Filed under: Alexandre Schwartsman,Bancos,Instituto Millenium — Gilmar Crestani @ 9:31 am

O moleque de recado do Instituto Millenium quer ensinar ao Banco do Central do Brasil como atuar para gáudio de seus patrões. Sua consultoria só dá lucro quando pode manipular e conseguir informações privilegiadas. Como isso só é possível quando sua turma está lá, agora deu para ter chiliques. Porque ele não vai aprender com o Banco Central Europeu, que está quebrando a Europa? Ou com o Banco Central (FEDe) norte-americano, que levou as economias de roldão em 2008. Esse energúmenos pensam que somos todos lacaios como eles.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

Confissões de derrota

Passou a hora de o BC explicitar o que quer fazer da inflação, revelando qual o valor que de fato persegue

De agosto de 2011, quando iniciou o ciclo de afrouxamento monetário, até julho de 2012, o Banco Central prometeu entregar a inflação na meta, garantindo que as medidas de política monetária foram tomadas com tal objetivo em mente.

Por exemplo, na ata do Copom referente à reunião realizada nos dias 10 e 11 de julho deste ano, o comitê afirmava que "as decisões futuras de política monetária serão tomadas (…) com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação à trajetória de metas".

Mais recentemente, porém, o comitê recuou de sua promessa original e passou a afirmar que "a inflação (…) tende a se deslocar na direção da trajetória de metas, ainda que de forma não linear".

Não bastasse, pois, o Copom confessar-se incapaz de atingir a meta, deixa também de se comprometer com qualquer trajetória de convergência (o que, diabos, significa "não linear"?) e, mais grave, não sinaliza um horizonte de tempo no qual os agentes privados possam contar com uma inflação compatível com a determinada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

De fato, as projeções de inflação para 2012, 2013 e 2014 (até o terceiro trimestre), conforme o Relatório de Inflação (RI) de setembro de 2012, mantêm-se acima de 4,5%.

O próprio Banco Central, portanto, não consegue precisar o tempo necessário para trazer a inflação de volta à meta, por mais que professe arraigada fé na "convergência não linear".

Em meio a tamanha incerteza, não falta quem se pergunte qual seria a verdadeira meta de inflação. Falta, isso sim, qualquer pista mais sólida sobre o tema na comunicação usual do Copom, exceto que certamente não mais se trata do número oficial.

Há indicações em relatos da imprensa, segundo os quais o Banco Central tem argumentado que o

IPCA registrou variação inferior a 5,2% em apenas 3 dos 13 anos de vigência do atual regime (em 2006, 2007 e 2009). Note-se que 5,2% é valor que o último RI projetava para a inflação em 2012.

Parece, portanto, que o comitê confessa mais uma derrota e se contenta com uma inflação em torno desse valor e talvez mesmo um pouco a mais, já que os mais recentes resultados sugerem uma elevação média de preços mais próxima a 5,5% neste ano, novamente surpreendendo as projeções oficiais.

É interessante comparar a atual posição do Copom, que persegue de forma (mal) disfarçada uma meta de inflação mais elevada do que a determinada pelo CMN, com a adotada em 2004, quando o BC declarou publicamente ter alongado o período de convergência.

Naquele momento foi anunciado um objetivo intermediário (5,1%) para 2005, assim como o compromisso de convergência no ano seguinte. A inflação então recuou em direção à meta, em que permaneceu até o fim de 2007.

Ao deixar claro o desvio da inflação, assim como sua estratégia para eliminá-lo, o Copom estabeleceu, para si próprio, limites na condução da política monetária e deu ao setor privado a oportunidade de avaliá-lo no processo. Ao fim dele a inflação esperada havia convergido para 4,5%, valor do qual não se afastou até o fim de 2010, revelando a vitória do BC na batalha das expectativas.

O BC explicitou, pois, à época suas dificuldades e os custos de convergência; hoje, em contraste, tais informações são escamoteadas sob um rótulo impreciso e nenhuma indicação de como (ou quando) a atual diretoria pensa em trazer a inflação de volta à meta.

Some-se a isso o reconhecimento encabulado sobre o não cumprimento da meta fiscal (sugerindo que as premissas usadas para prever a inflação são mais otimistas do que o Copom gostaria de admitir publicamente) e temos uma explicação clara para a perda de credibilidade do BC, expressa em expectativas inflacionárias persistentemente superiores à meta.

Já passamos da hora de o BC explicitar o que pretende fazer acerca da inflação, revelando qual o valor que de fato persegue e como pretende cumprir o mandato que lhe foi conferido.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica e professor do Insper. Escreve às quartas nesta coluna. www.maovisivel.blogspot.com

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