Passando na frente do prédio do MP vi uma faixa com os dizeres #corrupçãonão. Enquanto consultava meus botões, uma pulga saltou detrás da orelha. Então resolvi consultar a página do Ministério Público Federal para confirmar se era essa mesmo a missão do MP. Lá está escrito: “MISSÃO do MPF: Promover a realização da Justiça, a bem da sociedade e em defesa do estado democrático de direito.”
Por lá também se encontra escrito algo que passa longe da atual atuação do MP: “Cabe ao MP a defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis, da ordem jurídica e do regime democrático. As funções do MP incluem também a fiscalização da aplicação das leis, a defesa do patrimônio público e o zelo pelo efetivo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição.” Afinal, quais são as premissas para um “regime democrático”? Certamente não é o viés partidário, nem a lei de dois pesos e duas medidas…
A única fiscalização do MP é feita pelo CNMP. Além disso, parolagem. A pergunta que deveria ser feita pelo próprio MP quanto está custando a sua campanha de combate à corrupção em 21 países?! Quem está pagando esta conta da atuação do MP no exterior?
Veja, o combate à corrupção não se sobrepõe à fiscalização da aplicação das leis e muito menos ao “regime democrático”. Não vi escrito mas acho que não seja assunto estranho ao MP o tratamento isonômico. Tratar igualmente os iguais, desigualmente os desiguais. Se o MP tivesse outro interesse que não o compadrio com golpismo, teria buscado a punição de seus membros que não só não combatem a corrupção, como dão guarida a ela. Por exemplo, como o MP trata seu membro Rodrigo de Grandis?! Qual é a transparência que o MP dá para os casos de corrupção no próprio MP? Alguém sabe quem fiscaliza o MP?
Por que a corrupção política é combatida com viés partidário a ponto de um deputado gaúcho do PSDB esnobar da possibilidade de que venha a ser punido?! Jorge Pozzobom falava do Poder Judiciário, talvez sabendo que há um costume não escrito no MP de tratar de forma diferente políticos do PSDB de políticos do PT, por exemplo. Não é um escárnio que aquele cérebro à procura de uma ideia seja um ferrenho parceiro do MP no combate à corrupção?! Outro parceiro do atual momento do MP é o cara que comprou a reeleição. Imagine-se Aécio Neves do alto de sua idoneidade moral, de dedo em riste, deixado incólume pelo MP, vituperar contra a corrupção. Claro, construir aeroportos nas terras do Tio Quedo, com dinheiro público, não é corrupção. Aliás, porque a Lista de Furnas nunca chamou a atenção do MP?
Os envolvidos no propinoduto dos trens em São Paulo foram condenados na Suíça e na Alemanha. No Brasil, se depender do MP, serão todos canonizados.
Aliás, será que o MP dá a mesma importância para um helipóptero com 450 kg de cocaína que deu para a cunhada do Vaccari?!
A faixa estendida na frente do MP me faz lembrar de um antigo texto do Paulo Leminski, explicando os tempos do Honorável Bandido e seu Plano Cruzado, com Paulo Brossard a cavalo procurando boi gordo no pasto: “Se a gente está valorizando tanto isso aí, é porque está faltado. Hoje, você fala em boi de um jeito que não se falava há três meses atrás, porque o boi está faltando, não porque esteja sobrando, de um modo geral, dentro do quadro brasileiro.” O MP não está combatendo a corrupção, está empregando uma palavra para escamotear sua atuação. Até parece que, contrariando Ricardo Semler, para o MP a corrupção no Brasil só existiu em dois momentos: antes do golpe de 1964 e agora.
Em outras palavras. A campanha do MP tem o mesmo sentido de botarmos no elevador: #proibidopum. Será que alguém discordaria da proibição de pum em elevador?
Agora me responda. Você compraria carne num açougue que tivesse na porta uma faixa #proibidovendercarnepodre?!
Segundo a filósofa Márcia Tiburi, “O sistema da corrupção é composto de um jogo de forças do qual uma das mais importantes é a “força do sentido”. Pobre, porém honesto! Rico, porém corrupto? Na moral, é só moralismo… Moralismo hiPÓcrita!!
Se fosse um templo, igreja, mesquita, sinagoga, até entenderia, já que são lugares moralistas por excelência. Se fosse no prédio da Polícia Federal eu também entenderia. Contudo, o viés que vemos hoje no combate à corrupção é o mesmo que antecedeu o golpe de 1964. O MP não está combatendo a corrupção. Pelo estrabismo de sua atuação, está apenas buscando eliminar a concorrência na corrupção.
Por que o MP está dando mais valor ao moralismo seletivo do que à defesa do “regime democrático”?!
[…] O que tinha a dizer sobre a escolha do figurino que o MPF revolveu adotar para sua fantasia já esgotei no texto #corrupçãonão! […]
Pingback por Vazou lama? Fale com o hidráulico dos vazamentos, Deltan Dallagnol! | Ficha Corrida — 28/07/2015 @ 9:33 am |
[…] Enquanto isso, todos os processos para investigar as denúncias já feitas dormem nos escaninhos dos Rodrigo de Grandis! Essa é a verdadeira contribuição da campanha do MP #corrupçãonão. […]
Pingback por PSDB insufla turba mafiomidiática, sua única militância | Ficha Corrida — 06/07/2015 @ 9:30 am |
[…] angustiam menos que as brasileiras. O viés redivivo do golpe de 1964 está inclusive na campanha #corrupçãonão do […]
Pingback por O Gulag das Araucárias | Ficha Corrida — 05/07/2015 @ 10:24 am |
[…] para oferecer denúncia. Como se vê, faz todo sentido criar um site e pintar faixas com dizeres #corrupçãonão. Na vida real, a prática só atende interesses […]
Pingback por DASLU & MP comemoram Bodas de Estanho | Ficha Corrida — 05/07/2015 @ 9:21 am |
[…] Sourced through Scoop.it from: fichacorrida.wordpress.com […]
Pingback por #corrupçãonão | O LADO ESCURO DA LUA — 04/07/2015 @ 11:32 am |