Duas manchetes que explicam a… Folha!
Quando um funcionário de jornal passa a exigir que a realidade seja aquela estampada onde trabalha estamos perto de qualquer coisa, menos da ética. Quando alguém ousa vender uma tese escrevendo “Basta passar os olhos pelo jornal” passo a desconfiar que se trata de benzedor, feiticeiro ou qualquer outro mistificador. A realidade dos jornais não tem nada a ver com a realidade da vida. Quem passa os olhos pela Folha, por exemplo, vê manchetes para incriminar jamais para informar. A Folha vende uma ideia, não uma verdade. Acreditar na ideia da Folha é uma coisa, mas a verdade passa longe das ideias da Folha.
Uma das ideias mais conhecidas da Folha, por exemplo, é de que no Brasil não houve ditadura mas ditabranda. O jornalismo praticado pela Folha pode ser explicado com a seguinte frase do jornal que André Singer e Judith Brito defendem: “não pode ser assegurada – bem como não pode ser descartada”. Até as peruas da Folha devem estar envergonhadas com as “explicações” do Singer.
Há manchetes que são desmentidas pelo próprio texto que a acompanham. E por que uma manchete não condiz com que vai se dizer? Por que, como faz André Singer, há pessoas para as quais “basta passar os olhos pelo jornal”. Ler, nem pensar. Pior, estão acostumados a acreditar no jornal como fanáticos acreditam no Torá, na Bíblia e no Alcorão como se contivessem verdades definitivas.
É por isso que a manada que hoje segue bovinamente a Veja é tão parecida com o jihadismo do Exército Islâmico. Eles não lêem, passam os olhos.
Para se ter uma ideia do equívoco do analista, a Folha se nega a tratar os corruptos pego na Operação Zelotes da mesma forma que os corruptos pego na Operação Lava Jato. Por quê? Por que na Operação Zelotes estão parceiros do Instituto Millenium. A máfia se protege. Enquanto a Folha carrega nas tintas em tudo o que disser respeito a Lula, Dilma, José Dirceu, alivia quando aparece um Marinho, um Sirotsky, um Frias. Imagine se houve na família de Lula, Dilma ou Dirceu um filho estuprador, ou se um deles fosse pego na Zelotes, que manchetes faria a Folha?
Explicar, André Singer, como fez a Reuters: “podemos tirar, se achar melhor”! Ou como fez a Folha onde trabalhas, com o “suposto primo” do governador Beto Richa…
André Singer pratica o esporte preferido para quem quer ser bem quisto pelos a$$oCIAdos do Instituto Millenium: atacar o PT, Lula e Dilma.
ANDRÉ SINGER
Explicar, como?
O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, é conhecido por ser sensato e cauteloso. Mas a proposta que fez à presidente soa a coisa de doido. Segundo Edinho, Dilma precisaria explicar à população que o ajuste fiscal consiste de medidas "para que a economia possa crescer de forma sustentável, gerando emprego e distribuindo renda" (Folha, 2/4). Como dizer isso após o desemprego subir de 4,3% em dezembro para 5,9% em fevereiro sem que Mãos de Tesoura recue nos cortes que tornarão a situação ainda mais difícil para os trabalhadores?
O fato de que a atual onda de demissões ainda responda à estagnação do ano passado em nada ajuda. Depois de visto o tamanho do PIB de 2014 e dos cortes de vagas no primeiro bimestre de 2015, a presidente voltou a prometer, terça passada, um "grande corte, grande contingenciamento".
Somada a uma taxa de juros que não para de crescer, o tamanho do ajuste pretendido torna moderada a projeção de recessão de 1% a 1,5%. Mesmo assim, já seria um recuo bem maior do que o de 2009, quando o PIB caiu pela última vez. Naquela ocasião, houve uma série de providências para gerar empregos, entre elas o lançamento do Minha Casa, Minha Vida. E agora?
Não sou economista e torço pelo contrário, mas há sinais de que possamos viver a primeira recessão séria desde o começo da década de 1990, com as naturais consequências, que já andavam meio esquecidas, em matéria de clima cotidiano. Basta passar os olhos pelo jornal. A Oi vai demitir mil funcionários em abril; Vivo e Nextel fizeram o mesmo, cada uma, nos últimos dois meses; a Pirelli anuncia "layoff" de 1.500 empregados; a Ford paralisou em protesto contra a demissão de 137 que estavam em "layoff"; a Queiroz Galvão dispensou 70 e colocou 500 em aviso prévio.
Muitos comparam as medidas atuais com o ajuste de Lula em 2003. Ocorre que, apesar do forte aperto orçamentário daquele ano, houve crescimento de 1,15%. Com isso, o desemprego, que já era muito alto (10,5%), ficou praticamente estável (10,9%). Em consequência, o desgaste do governo foi moderado.
Hoje o quadro é outro. Houve melhora constante desde 2004. No primeiro mandato de Dilma o desemprego caiu, apesar do crescimento econômico anêmico. Foi, aliás, o que lhe permitiu conquistar a reeleição. Ir para o olho da rua, quando se votou esperando mais oportunidades, provocará revolta capaz de afetar o âmago do lulismo.
Estamos assistindo a uma ação deliberada para destruir o pleno emprego, considerado incompatível, pelo capital, com o investimento competitivo. Melhor mudar de política do que tentar explicar o inexplicável.
ANDRÉ SINGER escreve aos sábados nesta coluna.
[…] Source: fichacorrida.wordpress.com […]
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