Ficha Corrida

10/07/2014

Futebol e a arte da mistificação

GloboSonegaRicacosCLÓVIS ROSSI, noves fora Eliane Cantanhêde, é o colunista da FOLHA mais identificado com o patrão. É ele autor de alguns dos editoriais políticos da Folha. A seara dele é o campo político, mas hoje enveredou pelo lado do futebol. Para isso, precisou pedir ajuda ao NYT. Não encontrou nada na velha mídia brasileira que lhe pudesse servir de alavanca, mas isso ele deixa passa batido. Não faz nenhuma crítica ao jornalismo do país que sedia a Copa do Mundo e que não foi capaz de produzir nada que prestasse. E aí envereda pela mistificação, do tipo que Felipão traz do berço gremista, o realismo mágico da “alma castelhana”, do “imortal tricolor”. Como o Grêmio, Felipão é também o imortal que mais morre. E as explicações do Felipão têm raízes no mesmo realismo mágico do Clóvis Rossi.

Rossi esquece que não foi só a Alemanha que chegou à final. Para explicar a Alemanha precisa usar jornal norte-americano. E para explicar a Argentina? Há uma coincidência que une Alemanha e Argentina, que os afastam do Brasil, que a obtusidade do Rossi não lhe permite ver. As velhas mídias da Alemanha e da Argentina não tiveram o mesmo acesso aos atletas das respetivas seleções do que teve a Rede Globo, por exemplo, em relação aos brasileiros.

A Bundesliga só é explicação para bundão.

E a liga da Argentina explica porque a Argentina passou?

As ligas espanhola, inglesa italiana, francesa são piores do que a liga brasileira? Afinal, o Brasil ainda vai disputar o terceiro lugar e as seleções da Espanha, Itália e Inglaterra foram eliminadas ainda na primeira fase. Teriam estes países ligas piores do que a da Costa Rica?

Uma pergunta para Clóvis Rossi: será que a velha mídia de todos os demais países torceram contra o próprio selecionado como fizeram todos os a$$oCIAdos do Instituto Millenium?

Clóvis é um neófito do futebol, um aproveitador da desgraça brasileira para traçar o seu perfil de vira-latas. Dizer que foram os clubes fortes da Alemanha que deram à Alemanha a condição de disputar o título é de um imbecilidade do tamanho do Farol de Alexandria. Quer dizer que os países já citados da Espanha, Itália e Inglaterra não tem clubes fortes? Quer dizer que a Argentina tem clubes mais fortes que o Brasil?

Ora, vamos parar com esta análise de buteco de quinta… coluna. Futebol tem o Sobrenatural de Almeida, mas também tem o imponderável que torna do futebol esta indústria que é hoje.

Se Clóvis Rossi e todos os colunistas da velha mídia tivessem se lembrando do Internacional de Porto Alegre, talvez dissessem menos bobagens. O Inter foi Campeão Mundial FIFA encima do poderoso Barcelona, que à época tinha o melhor jogador do mundo, Ronaldinho Gaúcho.

Dizer que o Brasileirão é piada é apenas parte da piada. Dizer que Brasileirão é propriedade da Globo exigiria de um palhaço um pouco de seriedade. Quem faz a tabela do Brasileirão é um funcionário da Rede Globo, o jornalista gaúcho e colorado, Telmo Zanini. É ele que escala um jogo em Caxias às 22 horas de um domingo de inverno. Ou às 19 horas de um sábado. Ou que faz os gaúchos assistirem, nos domingos à tarde, aos invés de Inter e Grêmio, jogos do Corinthians ou do Flamengo.

Quem foi que, a peso de dinheiro, implodiu o Clube dos 13? A Rede Globo. Quem implodiu com Dunga no comando da Seleção? A Rede Globo. Quem levava jogadores da seleção brasileira para aumentar a audiência do Jornal Nacional? A Rede Globo.  Quem foi a grande parceira de João Havelange? A Rede Globo. Quem foi a grande  parceira de Ricardo Teixeira? A Rede Globo. Quem é a grande parceira de José Maria Marin, o ladrão de medalha? A Rede Globo.

Quem são os jornalista que ficam de quatro para a Rede Globo? 99,9%! É por isso que a Revista Forbes aponta a soma dos três patetas Marinhos como os mais ricos do Brasil.

Alemanha ganha também em casa

O futebol alemão é um dos poucos, talvez o único, que combina clubes fortes com uma seleção poderosa

O "New YORK TIMES", que fez uma belíssima cobertura do Mundial, publicou uma tabelinha que deveria servir de inspiração para os responsáveis pelo futebol brasileiro (se é que responsáveis é palavra que sirva para eles) e para a crônica esportiva, neste momento que o NYT chamaria de "soul searching" –ou, em tradução livre, de busca pela alma de nossos defeitos no futebol.

O jornal buscou qual campeonato nacional disputam todos os jogadores inscritos para a Copa.

Nas quatro seleções semifinalistas, deu (adivinhe?) a Bundesliga, o torneio alemão, em primeiro lugar, com 23%.

Mas, atenção, esse dado não significa que campeonato forte é sinônimo de seleção forte. A rigor, é o contrário, tanto que, no conjunto das 32 seleções da Copa, a Premier League tinha mais representantes (15%) do que qualquer outra e, não obstante, a Inglaterra foi eliminada em duas partidas.

É fácil entender o fenômeno clubes fortes/seleções fracas (ou, ao menos, não tão fortes): os clubes contratam uma tonelada de jogadores estrangeiros, com o que se fortalecem inexoravelmente.

Mas as seleções nacionais não podem convocá-los, salvo os poucos que se nacionalizam, o que as torna mais fracas.

O que faz da Bundesliga um item a ser examinado não é o 7 a 1 desta terça-feira (8), mas o fato de que é a única liga europeia que consegue combinar times fortes com uma seleção forte. E, quando digo seleção forte, não é com base nos 7 a 1, que dificilmente se repetirá nos próximos cem anos, mas no fato de que a Alemanha passou a ser o país que mais finais de Copa terá disputado a partir de domingo (oito contra sete do Brasil).

Não se trata, pois, de um cometa que brilha aqui e ali e depois desaparece. Seu campeonato é rico em público e em futebol, o que seguramente ajuda a seleção a brilhar.

Os estádios estão sempre lotados, mesmo com o desnível entre os clubes refletido na formidável hegemonia do Bayern de Munique, que ganhou 24 títulos nacionais mais 17 Copas da Alemanha.

O Brasileirão é o contraexemplo. A crônica esportiva até já se cansou de reclamar do número relativamente baixo de espectadores, fenômeno, aliás, que se torna ainda mais agudo nos torneios regionais –que, apesar desse minguado público, ainda ocupam um terço do ano, pouco mais ou menos.

A questão a ser analisada é qual a relação entre clubes fortes e seleções fortes. O Brasil tem clubes pobres há alguns anos, mas nem por isso deixou de ser campeão mundial em 1994 e 2002. Se fracassou este ano, não foi pela debilidade de seus clubes, refletida no fato de que apenas 4% dos jogadores que disputaram as semifinais atuam no Brasileirão (contra 23%, lembra-se?, que jogam na Bundesliga).

Fracassou porque a safra atual é pobre, exceção feita a Neymar. Se Hulk fosse craque, estaria jogando em alguma grife europeia e não no Zenit russo.

O fato é que, se quiser pensar em termos de espetáculo e de negócios –os dois pilares do futebol–, o Brasileirão não pode continuar sendo piada em vez de campeonato.

crossi@uol.com.br

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