Descubra, antes que seja tarde, onde está a mão invisível do homem nu paraíso!
Vou começar esta ficha corrida do meliante pelo final. Ele tem um blog intitulado “mão invisível”. Fez parte de um governo cuja mão invisível pagou R$ 200 mil reais bem visíveis para conseguir a reeleição… A tese da mão invisível é irmã gêmea daquela de que devemos deixar o bolo crescer para só então dividir. A mão invisível é aquela que vence licitações da Alstom e Siemens levando para a Suíça milhões de reais dos cofres públicos e, de lambuja, põe o dono das mãos invisíveis na Presidência do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. O elemento foi Secretário de Assuntos Internacionais do Banco Central quando o mão invisível do patrão criou um tal de PROER para dar aquela mão amiga aos bancos. São parentes de um velho axioma jurídico: “dar a cada um o que é seu”, ainda hoje muito bem empregado por velhos Ministros do STF: dão ao pobre a pobreza, ao ricos, a riqueza!
Quem usa a mão leve e invisível odeia a transparência no uso dos recursos.
Sejamos claros. A mão invisível quer terminar com as políticas sociais como a Bolsa Família para ressuscitar o PROER. Continuar financiando com políticas fiscais de isenção para as grandes empresas que financiam seus correligionários que, uma vez eleitos, colocam novamente sua mão invisível para mexer com assuntos bancários. Odeia que o governo faça intervenção para introduzir políticas compensatórias, segure preços de tarifas de energia elétrica ou não aumente o preço dos combustíveis. O patrão que assina sua carteira de trabalho comemora quando empresas tucanas tenham lucro com a tarifa de energia elétrica encima do bolso da população. A mão invisível do porta-voz do 1% vai encher a Cantareira de água ou vai reduzir a tarifa da população da periferia que já sofre com a falta de água?
Para quem não entende a mão invisível, vou mostrar como funciona. O Hotel Plaza de Porto Alegre tem 9 (nove!) poços artesianos dentro da cozinha do hotel. Isso mesmo. Os hóspedes do Plaza tomam banho com água mineral. Se o DMAE ou a CORSAN não conseguirem, por qualquer carga d’água, fornece-la aos porto-alegrenses, a mão invisível do mercado garantirá aos hóspedes do Plaza sombra e água mineral fresca…
Adão Smith cunhou sua teoria para que gente como a Eva do colonismo se regozijasse com frases como esta: “Meus sinceros agradecimentos pela criação desse paraíso.”
O paraíso perdido da mão invisível significa um pouco, migalhas, quase esmolas, para quem antes era apenas serviçal dos banquetes de que o colonista da Folha participava. Hoje, muitos destes já têm os filhos do colégio, viajam de avião e, vejam só, tiram férias. A torcida dos fracassomaníacos é igual àquele ditado gaúcho: “praga de urubu em cavalo gordo!”
QUE HORROR!
ALEXANDRE SCHWARTSMAN
Paraíso nada perdido
Escrever a coluna toda semana se torna mais fácil graças à (falta de) qualidade da gestão econômica
Vivo no paraíso dos colunistas econômicos. Vejam só: na semana passada, duas das principais autoridades do governo vieram a público, cometeram afirmações contraditórias e conseguiram a proeza de estarem, ambas, erradas.
Começou com o ministro da Casa Civil admitindo que, sim, o governo controla preços para evitar que a inflação rompa de vez o teto da meta de inflação (6,5%). Justiça seja feita, o ministro não usou a expressão "controle de preços", mas "administração de preços", o que, obviamente, seria algo totalmente distinto, exceto por se tratar rigorosamente da mesma coisa.
A tese original do ministro é o "controle anticíclico" dos preços, inexplicada, todavia, talvez pela virtual impossibilidade de justificar a manutenção, por exemplo, de preços de energia baixos quando a demanda cresce à frente da oferta e os riscos de racionamento aumentam.
Pelo contrário, como se apren- de nos cursos de introdução à economia, o papel "anticíclico" dos preços é subir quando a demanda supera a oferta e vice-versa, certamente não o oposto, como defendido pelo ministro.
Já o ministro da Fazenda contestou a afirmação de seu colega, dizendo não haver controle de preços no Brasil. Se um desafiou a lógica, o outro desafiou os fatos. A expressão óbvia desse acontecimento é a inflação de preços administrados pelo governo ficar em patamar inferior à inflação dos preços não controlados desde março de 2010, mas não é sequer a face mais importante da questão.
A despeito das afirmações ministeriais sobre reajustes recentes de gasolina e mesmo energia elétrica (apesar das promessas de redução de tarifas), qualquer analista minimamente informado sabe que a Petrobras perde dinheiro porque vende combustíveis a preço inferior a que os compra no mercado internacional.
Não se trata, aliás, apenas do custo de oportunidade, que continuaria uma preocupação válida ainda que o país fosse (como não é) autossuficiente em combustíveis; é perda de caixa na veia, o que tem levado a um aumento expressivo do endividamento da companhia.
Fosse o ministro membro do conselho de administração da empresa, ele saberia, creio, dos problemas que isso causa. Opa; parece que ele é… Será que não explicam também essas coisas no conselho de administração da Petrobras?
Analistas minimamente informados poderiam alertá-lo também para o fato de que as empresas distribuidoras de energia passam pelo mesmo problema, ao serem obrigadas, por mais uma barbeiragem de política, a comprar energia no mercado à vista por preços muito superiores ao que vendem.
É segredo de polichinelo que as tarifas de energia têm que aumentar, sob pena de quebrar o setor, ou aumentar ainda mais o custo do Tesouro Nacional, mas que esse aumento não poderá ser realizado neste ano para não estourar o teto da meta, ainda mais no período eleitoral. É possível –se bem que não esteja 100% certo, confesso– que até o ministro da Fazenda consiga entender o problema, ainda que não tenha a coragem de expô-lo em público, muito menos de encaminhar uma solução.
É reveladora a paralisia administrativa do governo, que se recusa tenazmente a lidar com qualquer dificuldade, por mais urgente que possa ser, com receio das consequências eleitorais de políticas corretivas, seja no campo da inflação, dos preços controlados –perdão, "administrados"!– ou ainda dos gastos públicos.
Com a cabeça devidamente enterrada, o governo empurra todas as decisões relevantes com a barriga, na esperança de que os problemas se resolvam sozinhos. Enquanto a realidade se recusa a colaborar, ministros batem cabeças com gosto.
Por mais que meu lado economista torça pelo predomínio da racionalidade, tenho que admitir que minha tarefa de escrever uma coluna por semana se torna muito mais fácil graças à (falta de) qualidade da gestão econômica governamental. Meus sinceros agradecimentos pela criação desse paraíso.
ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 51, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica e professor do Insper. Escreve às quartas nesta coluna.
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