Ficha Corrida

23/08/2013

Vou desenhar!

Algumas pessoas, por deficiência intelectual, preguiça mental ou por servilismo canhestro, têm dificuldades para separar o interesse ideológico do dado factual. Para a festejada miss Soledade, colunista de Zero Hora, Rosane de Oliveira, investir na saúde pública é “aposta de risco”. A regra é clara, a RBS trata tudo como se fosse um simples jogo. É por isso que seus colunistas transitam livremente do campo esportivo para o político, sem estarem preparados para nenhum dos dois. Mas se desincumbem das tarefas que os chefes mandam com docilidade bovina. Ser subserviente, no caso da RBS, é condição sine qua non. Duvido que Yoani Sánchez seja tão dócil quanto Rosane é com seu patrão. Num país como o nosso, em que a desigualdade social é gigantesca, receber dez mil reais parece troco, uma esmola, quase uma ofensa, tamanha a desconsideração pelo valor. Como já esgotaram a lista de possíveis problemas, agora se apegam  ao valor que ficará no bolso dos médicos cubanos. Esta filigrana se escora no fato de que profissional liberal não paga imposto. Ou alguém nunca ouviu no consultório particular a pergunta: é com nota? Porque com nota é um valor; sem, outro. E não vão ouvir a população que se beneficiará pelo acesso ao serviço médico. A população que, em virtude da luta da RBS, pode ficar sem médico, deveria repensar sua relação com este grupo mafiomidiático e dar aos funcionários da RBS o mesmo tratamento que ela está dando a quem está sem médico.

Se Cuba não é o paraíso que os simpatizantes apregoam, também não é a falsa democracia que a RBS defende, até porque a RBS simpatizou abertamente com a ditadura brasileira. Por que será que Yoani Sánchez pode circular o mundo falando mal de Cuba e retornar para casa para usufruir das “precariedades” da Ilha? E o que aconteceria se Edward Snowden ou Julian Assange pisassem nos EUA? O mesmo que aconteceu com Bradley Manning… Imagine-se o que diria Rosane de Oliveira, em nome da RBS, se Cuba espionasse o Brasil como fez os EUA…

Se um médico cubano que fica, digamos, com apenas 50% do salário, pode ser considerado escravo, o que se pode dizer do entregador do jornal Zero Hora, que recebe um salário mínimo mensal? Conheço pessoas altamente qualificadas que recebem da RBS, para desenvolverem atividades administrativas, 50% dos 50% dos cubanos. A RBS os considera seus escravos?! Perguntem quanto ganha um vendedor da Vivo, da OI ou Tim, estas festejadas multinacionais. Seriam todos trabalhadores escravos? Esta semana um trabalhador do Bank of America, em Londres, morreu em virtude da “jornada extenuante” de trabalho. E ele recebia menos que os médicos cubanos… A RBS não tratou como trabalho escravo, e nem cobrou tratamento mais humano. Precisa explicar esta diferença de tratamento para as mesmas questões? Se não entendeu, sinta-se na estrebaria e relinche!

 

Rosane de Oliveira: "Dilma faz aposta de risco ao trazer cubanos"

Rosane de Oliveira

rosane.oliveira@zerohora.com.br

Se der certo, o programa Mais Médicos estará para a presidente Dilma Rousseff como o Bolsa Família para o ex-presidente Lula. É saúde a demanda número 1 da população em todos os Estados brasileiros. Os prefeitos querem mais médicos e não se importam se são cubanos, espanhóis, portugueses, argentinos ou uruguaios. Diante do desinteresse dos brasileiros em receber uma bolsa de R$ 10 mil para clinicar nas periferias das grandes cidades e nos confins do Brasil, o governo vai importar profissionais de outros países, ignorando as críticas dos sindicatos e dos conselhosregionais de medicina, que exigem a revalidação do diploma.

Se os estrangeiros conseguirem dar às populações desassistidas a atenção que não têm hoje, Dilma pode se consagrar com esses eleitores, mas enfrentará uma oposição ferrenha dos médicos brasileiros. Os descontentes poderão usar sua capacidade de articulação para desgastar a presidente e, assim, tentar impedir sua reeleição, mas Dilma foi convencida pelos ministros Alexandre Padilha e Aloizio Mercadante de que vale a pena comprar a briga.

A maior dificuldade de Dilma em relação aos médicos cubanos será convencer a população de que não está trazendo escravos de jaleco, com diploma de curso superior. Porque é inconcebível para a cultura brasileira aceitar que os R$ 10 mil da bolsa oferecida pelo Brasil sejam pagos ao governo cubano e que só uma pequena parcela retorne para o médico.

Ainda que 20% ou 30% de R$ 10 mil seja uma pequena fortuna para os médicos que trabalham em Cuba, acostumados a receber uma ração básica e salário em torno de US$ 20, no Brasil, o apelo de consumo é diferente. O fato de não poderem dispor do dinheiro, como poderão os médicos de outras nacionalidades, e de estarem impedidos de trazer a família para viver com eles no Brasil coloca os cubanos na condição de escravos em pleno século 21.

Com a importação de 4 mil médicos cubanos e a remessa do dinheiro para a ilha, o governo brasileiro contribui para a sobrevida do regime comunista cubano. É oxigênio para uma ditadura asfixiada pelo embargo dos Estados Unidos, que ensaia os primeiros passos de uma abertura, mas está longe de ser o paraíso socialista que seus simpatizantes apregoam.

ZERO HORA

2 Comentários »

  1. […] Vou desenhar! […]

    Pingback por Vou desenhar! | GOTADÁGUA — 23/08/2013 @ 12:18 pm | Responder

  2. Conheço uma pessoa, da qual por motivos óbvios não vou dizer o nome, que escreve semanalmente na zêagá e recebe 400 reais, sim 400 reais por mês. E ainda tentaram reduzir pela metade este “salário”, mas sob a ameaça dela deixar de escrever, voltaram atrás, porque a coluna é bastante e se trata de alguém com uma trajetória já consolidada no cenário literário. Ou seja, trabalho escravo nos olhos dos outros é colírio…

    Comentário por Rodrigo Navarro Lins de Aguiar — 23/08/2013 @ 11:06 am | Responder


RSS feed for comments on this post. TrackBack URI

Deixe um comentário

Blog no WordPress.com.