Ficha Corrida

26/02/2013

ALEX THOMAS

Filed under: Alex Thomaz — Gilmar Crestani @ 12:07 am

Lembro como se fosse hoje! Republico a partir do Varal da Laura!

ALEX THOMAS: 25 ANOS DE DOR

26 de fevereiro de 1986.

Atlântida. Três horas da madrugada. 
Frescor da noite e tranquilidade permitiam a caminhada na avenida Paraguassu, entre as praias de Xangrilá e Atlântida, no litoral do Rio Grande do Sul. Cena comum até hoje: rindo e conversando voltavam para casa três adolescentes. Na época, Clarice, Leandro e Alex.

Vinham eles na descoberta alegre da vida sem preocupações por uma praia ainda tranqüila nos anos 80. Na frente de uma casa, uma senhora, a filha e  um rapaz observam de longe o trio faceiro que sequer havia bebido uma cervejinha para descontrair.

“Passei três dias chorando em casa, sem tomar banho, sem comer quase nada.”

“Essa dor não se supera nunca. Com o tempo, a dor ameniza. A solidariedade ajuda, mas nada faz esquecer. A gente não pode se martirizar e não se consegue mudar as coisas.”

De repente, um Monza e um Fiat Panorama.

De repente aqueles rapazes não tão jovens quanto eles: 
o office-boy Bolívar Canabarro Tróis Netto, 20 anos, que já respondia inquérito policial por lesões corporais; 
o estudante Daniel Sanches Hecker, 19 anos, 
o bancário Carlos Alberto Fiad do Amaral, 22 anos, 
e o funcionário da Assembléia Legislativa, Cid Olivério Borges, 19 anos, com antecedentes policiais e todos integrantes da Gang Praça da Matriz, de Porto Alegre. Com eles, mais três menores:
Fábio Delapieve Bressan (17), 
Márcio de Freitas Nunes (16) e 
José Carlos de Azevedo Moreira (15), o Zé do Brinco. Todos encaminhados para Febem.
Do nada, a vontade brutal do grupo de espancar, de humilhar, de machucar.

.

“Procurei centro espírita, um médium em Caçapava, uma psicóloga que orientou a pensar nas coisas boas que vivemos. Procurei tudo que fosse possível para buscar conforto.”

“Nada traz o filho de volta. Com essa data, as dores vieram de novo. A gente sabe que não é a única que vive esse sofrimento de perder um filho. E cada pessoa tem o seu tempo de luto. Eu sempre terei dois filhos. Só que um não está mais comigo.”

Clarice foge assustada, Leandro se desespera e tenta ajudar Alex, que tomba com um soco no rosto. Os dois se separam. Mais socos e um golpe final no peito do lajeadense, causando a ruptura do seu pulmão, do coração e fraturas nas costelas. Cid Borges, o responsável pela “voadora”.

“Perder um filho é diferente do que perder um irmão, um marido, os pais. Perder o filho é a maior dor do mundo.

É um sentimento que não tem palavras para descrever.

É uma ferida para sempre: às vezes abre, às vezes, fecha.

Mas ela sempre está ali.”

Alex Thomas ainda não completara 17 anos. “Não houve um motivo” – consta no processo.

“No primeiro Natal recebemos mais de duzentos cartões de todas pessoas e todos lugares possíveis, até de um presidiário. Mas o nosso Natal nunca mais foi o mesmo e nunca mais passei a data com minhas irmãs e seus filhos. Tudo perdeu o sentido.”

O julgamento aconteceu no dia  13 de junho de 1988 e durou 24 horas.

Bolívar Canabarro Tróis Netto – 9 anos de prisão em regime semi-aberto.

Daniel Sanches Hecker – absolvido, em tratamento na Clínica Pinel.

Carlos Alberto Fiad do Amaral – 8 anos de prisão em regime semi-aberto.

Cid Olivério Borges – 12 anos de prisão.

Logo, logo, todos estariam em liberdade e tocando suas vidas.

“Nunca os pais de qualquer um deles nos procurou. Nunca.

Nem os Direitos Humanos. Nunca.

Perder um filho é horrível, mas ser mãe de um assassino…”

25 anos atrás: o mais triste dos nossos verões.

“O Alex  era torcedor do Inter, mas jogava no Greminho do Tiro e Caça. Aqui, as luvas de goleiro… As medalhas… A camiseta… A gente tem que aprender a conviver com a saudade.”

Entrevista: Nersi Thomas.

Fonte: “O Caso Alex”, de Lígia Steigleder, Ed. Sagra.

VARAL DA LAURA: ALEX THOMAS: 25 ANOS DE DOR

4 Comentários »

  1. […] Eu colocaria, ainda, como exemplo, o caso do estuprador de Florianópolis. O menor que teria estuprado uma menina, colega de colégio, não apareceu nas telas dos telejornais da rede de comunicação dos pais. Tudo foi devidamente abafado. Em Porto Alegre as pessoas bem informadas ainda devem lembrar da Gangue da Matriz e do Caso Alex Thomaz. […]

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  2. […] 25 anos depois do assassinato de ALEX THOMAS, a intolerância retorna às ruas de Porto Alegre. Aquela que já foi a capital do Fórum Social […]

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