Ficha Corrida

04/02/2013

Ricúpero se recupera

Filed under: Bancos,Crise Financeira Européia,Rúbens Ricúpero — Gilmar Crestani @ 8:15 am

Depois do escândalo da Parabólica, este é um dos primeiros artigos do Rubens Ricúpero que assinaria embaixo. E digo porque. Ficam claras algumas questões que vem sendo discutidas nos espaços fora dos grandes grupos mafiomidiáticos. Ricúpero cita o documentário “grande demais para quebrar”. Por este sabe-se que o processo de transferência de poder do Executivo para os bancos (auto regulamentação) deu-se no auge do neoliberalismo. No Brasil sempre que alguém fala em “autonomia do Banco Central” está com a língua presa no tempo de Bush. Mora nessa filosofia o desejo tucano de se desfazer de todos os bancos públicos, a qualquer preço, literalmente. Salvaram-se Caixa e Banco do Brasil. Depois, com a Crise de 2008, ao invés de fazer como a Finlândia, que puniu os bancos, a Europa e os EUA deram ainda mais poder. Para mais escândalos. 

Pois foi com a CEF e BB que Dilma conseguiu reduzir os juros, contra o Financial Times e The Economist, Globo, Folha, RBS, Veja, Estadão, e as tarifas bancárias a níveis civilizados. É sintomático também que o FMI continua atacando a Argentina pela tentativa de tentar domesticar o sistema bancário. A censura que Lagarde tentou impor à  Argentina deveria ter sido imposto ao Fundo que ela dirige, o FMI, que nada fez e nada faz para melhorar os sistema. Antes pelo contrário. Tivesse Lula seguido o FMI e teria adotado austeridade, com mais juros e cada vez  mais altos, para segurar a Crise de 2008. Lula desonerou, forçou o empréstimo consignado, e com isso transformou o que lá fora é crise medonha em marolinha doméstica. Dilma deu sequência na domesticação do paleolítico sistema bancário, e aí mora a perseguição a Guido Mantega. Eles, EUA & Europa, não aprenderem, e isso explica porque os vira-bosta, com complexo de vira-lata também não.

Para entender o atrelamento da linhagem dos vira-latas basta ler o artigo do candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves, nesta segunda, aqui, na Folha. Igual aos Bourbons, Aécio abre o texto citando a bíblia dos larápios financeiros: “O jornal "Financial Times", um dos mais respeitados no mundo na área financeira…” Respeitado, sim, mas só por ventríloquos como ele!

RUBENS RICUPERO

Iguais aos Bourbons

Como a realeza do Antigo Regime, governos dos EUA e da Europa pouco ou nada aprenderam com a crise

"Os Bourbons", escreveu Napoleão no começo dos Cem Dias, "não esqueceram nada e não aprenderam nada." Referia-se às lições da Revolução Francesa e tinha razão: com a queda de Carlos 10º, 15 anos depois, os Bourbons desapareciam para sempre da história da França.

Os governos dos EUA e da Europa são iguais aos Bourbons: pouco ou nada aprenderam com a crise financeira. Quando provocaram a crise, os cinco bancos "grandes demais para quebrar" possuíam ativos correspondentes a 43% da economia americana. Inexplicavelmente, o governo deixou que chegassem agora a 55%, aumentando ainda mais o risco sistêmico!

Em cada aniversário da crise, a tônica dos comentários é de surpresa com o tempo que está durando essa incerta superação. A mim o que espanta é outra coisa: a ausência quase total de mudanças significativas, como as realizadas por Franklin Roosevelt durante a Grande Depressão dos anos 30. As poucas reformas introduzidas na lei bancária dos EUA se encontram em permanente perigo de revogação devido ao poder do lobby financeiro.

No âmbito internacional, o G20 se viu condenado à irrelevância pela recusa de americanos e ingleses de permitir que ele se ocupe de sua razão de ser: a regulamentação de derivativos e produtos financeiros tóxicos, a reforma da arquitetura financeira com vistas a evitar a repetição de crises similares.

Como nada se fez para eliminar os incentivos aos bancos para assumirem riscos excessivos, os escândalos se repetem a cada dois ou três meses. Já não se trata dos esqueletos escondidos de antes da crise; agora, as estafas nascidas da inesgotável criatividade criminosa dos bancos pertencem todas ao período pós-crise. Uma das últimas, inimaginável até sua recente exposição, consistiu na conspiração de alguns dos maiores bancos mundiais para manipular a taxa Libor em escala planetária!

Nenhum dos celerados foi julgado e enviado à prisão; nenhum dos bancos admitiu culpa. Todos se safaram pagando multas bilionárias que não será difícil recuperar. Os governos de Washington e Londres, palmatórias do mundo em matéria de hipócrita condenação seletiva de delitos alheios, rivalizam no zelo suspeito de enterrar os escândalos sem julgamento público!

Os Bourbons sonhavam em voltar à "doçura de viver" pré-Revolução. Seus sucessores sonham com a "normalidade" pré-crise. Esquecem que, da mesma forma que a "doçura" do Antigo Regime, a "normalidade" do atual se ampara em três monstruosidades: desigualdade crescente, desemprego maciço e destruição do equilíbrio climático.

Um quarto dos empregos nos EUA paga salários abaixo da linha de pobreza. O desemprego na Europa atingiu 12%, 25% na Espanha e na Grécia, 60% entre os jovens!

Não é só o aquecimento global que constitui a maior falência de mercado da história, nas palavras do relatório Stern. A desigualdade e o desemprego não ficam atrás.

Querer resolver com maiores doses de mercado três problemas derivados de falhas de mercado é repetir a suicida incapacidade bourbônica de esquecer privilégios e aprender com as lições da história.

1 Comentário »

  1. […] Ricúpero se recupera […]

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