Ficha Corrida

23/10/2011

Os últimos soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais

Filed under: Cuba,Democracia made in USA,Fernando Morais,Terrorismo de Estado — Gilmar Crestani @ 9:55 am
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Enviado por luisnassif, dom, 23/10/2011 – 09:07

Autor:

José Lannes

Acabo de ler o último livro do Fernando Morais. Trata-se de um documento histórico emocionante e elucidativo, sobre a saga de 14 agentes secretos cubanos nos Estados Unidos, de 1990 a 1998, reunidos na Rede Vespa e infiltrados em organizações de exilados cubanos que combatiam o governo de Cuba por meio de estratégias de terror: as bombas detonadas nos equipamentos de turismo do país, como forma de minar a nova base econômica cubana após o fim da União Soviética e a queda nas exportações de açúcar.

As informações da Rede Vespa permitiram evitar novos ataques terroristas, de forma similar a que os agentes da CIA fazem em várias regiões do  mundo para evitar ataques ao país. Descobertos por volta de 1995 pelo FBI, foram presos em 1998 dez agentes. Cinco fizeram acordo de delação premiada e outros cinco se negaram, esses últimos tendo sido processados e condenados pela Corte de Miami.

O emocionante consiste em acompanhar a saga de agentes secretos pobres, bem ao contrário do estereótipo do 007 holliwoodiano, com seus apertos financeiros e seus problemas familiares, pois todos entraram nos EUA como desertores e exilados.

O elucidativo é ver um caso claro de como a justiça não é cega. As acusações principais eram: espionagem, atuação como agentes estrangeiros sem registro junto ao governo, falsificação de documentos e perjúrio no preenchimento dos papéis de imigração. Acrescentou-se para o chefe da Rede e seus auxiliares diretos a acusação de homicídio, pelo abate de dois aviões Cessnas que haviam invadido o espaço territorial de Cuba. Das acusações gerais, a primeira consistia em que os agentes espionavam o governo dos Estados Unidos, o que não se provou, pois a ação da Rede era conhecer as estratégias de combate dos grupos de cubanos exilados e não dados secretos governamentais. As demais acusações gerais eram reais, pois os agentes ou entraram nos Estados Unidos com identidade falsa ou sob falso pretexto. A acusação ao chefe da expedição e seus auxiliares de culpabilidade sobre atos de defesa aérea de Cuba também não procedia.

A defesa tentou mudar a sede do julgamento de Miami para outra cidade da Flórida, indeferida pela juíza da comarca. Os agentes foram condenados unanimemente pelo júri popular por todas as acusações, mesmo as infundadas. Após seis meses, a juíza definiu as penas: a Gerardo Hernández, chefe da Rede, duas penas de prisão perpétua mais quinze anos de reclusão; a Ramón Labañino, a pena de prisão perpétua mais dezoito anos; a Tony Guerrero, prisão perpétua mais dez anos; a Fernando González, dezenove anos; e a René González, quinze anos.

O livro termina com o sentenciamento e uma boa dose de aturdimento, pelas pesadas sentenças proferidas em Miami, as primeiras condenações perpétuas por espionagem nos Estados Unidos, e sem a existência de obtenção e transmissão de um único documento secreto estatal. Como diz René Gonzalez, um dos agentes condenados, ao criticar as sentenças “porque nenhum país deve condenar os filhos de outro povo pelas mesmas razões que fariam heróis seus próprios filhos”. Quando se compara com outras condenações similares, a mão da justiça americana foi muitíssimo mais pesada para os cubanos. Em treze anos de prisão, os condenados que possuem família não a encontram, pois o governo americano não concede visto aos familiares que vivem em Cuba. A cegueira da justiça é uma utopia pela qual devemos lutar, mas não a realidade.

O livro torna-se um documento histórico para se aprender que fazemos a história, não como queremos, mas segundo as condições do momento.

Maiores informações do caso em www.freethefive.org e www.thecuban5.org

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